Crack, funk e frieza
Renato Alves
Barbárie em Goiás
Mohamed D’Ali, 20 anos, diz ter assassinado a britânica Cara Marie Burke, 17, depois de usar drogas por quatro dias. Defesa prepara alegação de insanidade. Ao ser preso, jovem tentou subornar PMs
Goiânia — Em seu primeiro depoimento formal, o goiano Mohamed D`Ali Carvalho dos Santos, 20 anos, confessou ter matado e esquartejado a britânica Cara Marie Burke, 17, no fim de semana passado. Durante três horas de interrogatório em uma sala da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios, em Goiânia, ele deu sua versão do crime, com detalhes. Alegou ter passado quatro dias fumando crack e cheirando cocaína e, na noite de sábado, sob o efeito das drogas, decidiu esfaquear a adolescente no momento em que ela pegou o telefone e ameaçou ligar para a polícia.
Mohamed depôs na presença de um delegado, um escrivão e dois advogados, das 16h45 às 19h55. Os defensores foram contratados ontem pela mãe do acusado. Ivanir Carvalho mora em Londres, onde trabalha como enfermeira e cuida de idosos. Os advogados usarão o vício em favor de Mohamed. Eles pedirão exames toxicológicos e de sanidade no cliente. “Se mostrarem que Mohamed não tem condições de responder pelos atos dele, vamos alegar a inimputabilidade”, adiantou o criminalista Carlos Augusto Trajano de Sousa, um dos advogados.
O acusado também negou o envolvimento de outra pessoa no crime. Contou que esfaqueou Cara na sala do apartamento onde ele morava em Goiânia. Em seguida, arrastou o corpo até o box do banheiro e saiu. Passou a noite em um show de funk. No dia seguinte, com a mesma arma do assassinato, cortou os membros da vítima, no banheiro. Fotografou o corpo em pedaços com o telefone celular. “Ele disse ter feito isso porque mandaria as imagens para um amigo goiano que mora em Londres e também queria matar Cara”, contou o delegado Ailton Costa de Ligório, que tomou o depoimento. Segundo ele, Mohamed não revelou a identidade do tal amigo. A polícia também mostrou uma gravação que mostra o jovem tentando subornar dois PMs, com a promessa de pagamento de R$ 70 mil, para que o soltassem.
Para transportar o corpo da inglesa em quatro sacolas e uma mala, Mohamed disse ter chamado um amigo, dono de um Monza vermelho. O jovem, que a polícia diz ser conhecido como Jorginho, foi ao encontro do amigo. Mas, segundo Mohamed, ele só soube o que havia nos embrulhos quando ambos estavam na BR-153, na saída para São Paulo. O amigo do acusado, segundo Mohamed, se negou a participar da desova, mas emprestou o carro. A mala com o tronco, achada segunda-feira, foi deixada na margem do Rio Meia Ponte. O restante, a cerca de 15km, perto de um ribeirão.
Membros desaparecidos
Na manhã de ontem, Mohamed foi levado a uma ponte a 3km de Bonfinópolis, município distante 25km do centro da capital goiana. Ele permaneceu no local das 10h30 às 10h45. Nesse período, desceu à margem do Ribeirão Sozinho — afluente do Meia Ponte —, conversou, riu e fez alguns gestos apontando para o matagal ao redor da água. Garantiu aos policiais que havia jogado ali, de cima da ponte, quatro sacos plásticos pretos de lixo com a cabeça, pernas e braços de Cara.
Logo após Mohamed sair escoltado no caminho de volta à Delegacia de Homicídios, os bombeiros chegaram para iniciar as buscas. Passaram o dia mergulhando e procurando sacolas de lixo pretas nas margens. Encerraram as buscas às 16h45, sem nada encontrar.
A Polícia Civil de Goiás tem peritos, mas não os equipamentos para análise das amostras de sangue recolhidas no apartamento de Mohamed. Por isso, todo o material será enviado segunda-feira para o Instituto de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília. Batista também vai enviar um relatório à PF para que os agentes federais investiguem a vida de Mohamed na Inglaterra e as duas viagens seguidas de Cara ao Brasil nos últimos quatro meses.
"Se (os exames) mostrarem que Mohamed não tem condições de responder pelos atos dele, vamos alegar a inimputabilidade"
Carlos Augusto Trajano de Souza, advogado de defesa de Mohamed.
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