Excesso de açúcar e adição de conservantes e corantes são os principais problemas apontados pela pesquisa realizada pelo Idec
Pesquisa realizada pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) com 12 bebidas à base de fruta, comprados em supermercados da cidade de São Paulo, avalia a qualidade nutricional das bebidas, baseando-se na presença ou não de açúcar, aromatizantes e corantes, e as informações contidas nas embalagens, conforme a legislação vigente do setor.
Na análise do Idec, o poder da publicidade e do marketing é tão grande que uma simples embalagem pode nos levar a crer que determinada bebida é tão saudável quanto a fruta in natura que originou o produto. Mas, conforme explica Vera Barral, sanitarista e coordenadora da pesquisa, apenas o consumo de frutas in natura pode proporcionar o aproveitamento total dos nutrientes.
"Os processos de fabricação dos sucos eliminam nutrientes. As fibras, por exemplo, raramente são encontradas em sucos", explica ela.
As bebidas industrializadas tendem a conter altos teores de açúcar. É o caso dos néctares (os sucos devem respeitar um limite de adição de sacarose). Tão práticos, os néctares, geralmente vendidos em embalagens de 1 litro, são diluições açucaradas de sucos concentrados. "Chegam a ter cerca de 20 gramas de açúcar por porção de 200 ml, o equivalente a duas colheres de sopa cheias", alerta Vera Barral.
Outro detalhe importante é que um dos corantes contidos nas bebidas, tartrazina, pode causar reações de natureza alérgica, entre as quais asma brônquica, especialmente em pessoas alérgicas ao ácido acetil salicílico, e por isso, em 18/01, por decisão da Justiça Federal de São Paulo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve editar em até 30 dias uma norma obrigando que seja mencionado, com destaque, os efeitos adversos do corante.
Avaliação e Resultado da Pesquisa
Adição de Açúcar:
O único suco adoçado, o suco tropical de manga Jandaia, traz essa informação apenas na face da caixa escrita em inglês, contrariando o Decreto nº 6.871/09, que determina que a palavra "adoçado" seja acrescentada no rótulo principal do produto, junto ao seu nome. O mesmo deve ocorrer quando o adoçante utilizado for artificial.
Além disso, segundo esse mesmo Decreto, a quantidade de sacarose adicionada à bebida deve ser expressa à parte (separado da frutose). Por exemplo, o suco Jandaia de manga informa apenas que uma porção de 200 ml do suco contém 23 g de açúcar (ou seja, são 115 g por litro). No entanto, é impossível saber quanto dessa quantidade é proveniente da própria fruta e quanto foi adicionado.
Para o Idec a presença dessa informação em local visível ajuda o consumidor na hora da escolha. Segundo Vera Barral, consultora técnica do Idec, "É importante conferir se os açúcares adicionados estão discriminados na tabela de nutrientes, para que seja possível avaliar qualidade nutricional do produto".
O Idec não o reprovou nesse quesito porque a bebida foi produzidas antes de 2 de dezembro de 2009, antes da aprovação do decreto e não precisava seguir tal determinação. Mas vale a dica para o consumidor estar atento às bebidas fabricadas depois dessa data.
O excesso de açúcar causa prisão de ventre, dificulta a digestão e favorece a obesidade. Portanto, deve ser consumido com parcimônia.
Aromatizantes Corantes e Conservantes:
Em relação aos aromatizantes - aditivos que realçam ou conferem aroma aos alimentos, já que os processos de fabricação podem fazer com que o sabor e a cor desapareçam ou fiquem menos acentuados - três bebidas foram reprovadas por não informar a presença desses aditivos no rótulo, o que contraria o Informe Técnico 26/2007 da Anvisa: suco tropical de manga Su Fresh fit, néctar de uva Disfrut e, novamente, o suco Jandaia de manga. As duas primeiras têm aromas naturais em sua fórmula e a terceira tem aroma idêntico ao natural (isto é, sua molécula é quimicamente idêntica à do aroma natural, mas obtida por síntese).
Apenas dois dos produtos avaliados continham corantes - bebida mista de frutas verdes Skinka, que continha tartrazina; e bebida de frutas sabor uva Del Valle Frut, tem os corantes amaranto, tartrazina e azul brilhante. O rótulo de ambos trazia essa informação, conforme prevê o Decreto-Lei nº 986/69.
O conservante, benzoato de sódio está presente em quatro das bebidas analisadas: suco tropical de maracujá Carrefour, suco de abacaxi Maravilha, suco tropical de manga Jandaia e bebida de frutas verdes Skinka, que ainda contém tartrazina.
Outro dado que chamou a atenção do Idec é que alguns produtos utilizam ácido ascórbico (a vitamina C) como conservante. O problema é que essa porção de vitamina C extra consta da tabela de informação nutricional, o que pode fazer o consumidor acreditar que aquela bebida é saudável. É o caso do suco tropical de manga Su Fresh fit, do suco de manga Jandaia e da bebida de frutas verdes Skinka. Além disso, os três trazem no rótulo apelos do tipo "rico em vitamina C".
Os corantes tartrazina (INS102) e amaranto (INS123) e o conservante benzoato de sódio (INS211) são apontados como causadores de reações alérgicas e estão ligados ao aumento de distúrbios de atenção e hiperatividade infantil.
Glúten:
Por fim, o suco de laranja orgânico Ecocitrus foi reprovado por não informar na embalagem que não possui glúten em sua composição.
O glúten (proteína presente no trigo, centeio, cevada, malte e aveia) acomete indivíduos com predisposição genética, que não podem ingerir qualquer quantidade de glúten, por toda a vida, sob risco de desenvolverem complicações malignas, como linfoma intestinal, assim como, complicações não malignas, como osteoporose. A dieta isenta de glúten é o único tratamento da Doença Celíaca.
Novo Decreto: Suco, néctar ou refresco?
Os produtos, classificados como suco, néctar e refresco, têm características distintas e devem seguir padronização, conforme determina o Decreto nº 6.871, de junho de 2009, válido, para as bebidas que foram produzidas a partir de 02 de dezembro de 2009.
Uma das principais diferenças entre as bebidas à base de frutas é o teor mínimo de polpa de fruta (isto é, da fruta em si) que cada uma precisa ter. O suco é o que tem a maior concentração. Em seguida vem o néctar e, por último, o refresco (também chamado de bebida de fruta). Mas esses percentuais mínimos variam caso a caso, já que cada fruta tem uma particularidade. Por exemplo, quando você faz um suco caseiro, provavelmente adiciona mais água a um de goiaba do que ao de laranja. O teor mínimo de cada fruta é previsto por Instrução Normativa do MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento.
Contudo, a legislação ainda é falha, confusa e cheia de brechas. Por exemplo, o percentual mínimo de pêssego para néctares é de 30%, mas para sucos ele não é estipulado. Um problema detectado pelo Idec na legislação é a não obrigatoriedade de se informar o teor de polpa de fruta nas embalagens.
Cuidado com os sucos de frutas que você consome
Reportagem alerta para perigo de produtos “milagrosos”
Excelente a reportagem que alerta os consumidores brasileiros para o risco de produtos que prometem a realização de milagres aos seus potenciais consumidores.
Produtos como os que garantem emagrecimento rápido e aumento do órgão sexual do homem não têm eficácia comprovada e são vendidos sem controle no país
Com a promessa de resultados em tempo recorde, muitos produtos relacionados à estética ou que têm apelo sexual são anunciados como se fossem milagrosos. Esses itens, dos mais variados, são encontrados em anúncios de revistas, programas de televisão, panfletos e em e-mails, na forma de spams(1), entupindo caixas de correio eletrônico de milhares de brasileiros todos os dias. Das fórmulas que prometem emagrecimento rápido e a extinção de celulites aos instrumentos e técnicas que garantem melhor eficiência sexual e o aumento do órgão reprodutor masculino, esses produtos têm algo em comum: são vendidos sem o menor controle no país, não há comprovação científica de sua eficácia e podem representar perigo para quem os compra. Nem por isso deixam de atrair a atenção dos consumidores.
O desejo de ser magra e ter um corpo perfeito fez Viviane (nome fictício a pedido da entrevistada) comprar inúmeros produtos e substâncias para melhorar sua aparência física desde a infância. A moradora da Asa Norte de 36 anos admite que adquiriu o primeiro item do gênero aos 9. “Na época, comprei uma cinta elétrica que prometia queimar as gorduras localizadas na barriga. Meu corpo ficava todo marcado e ainda tinha que passar uma lama que vinha de Araxá (MG). Era engraçado, pois ficava toda suja, mas resultado que é bom, nada”, lembra. Ela só aposentou a cinta depois que uma amiga, filha de um médico, disse que o aparelho fazia mal ao fígado. Viviane comprou outros produtos, como um macacão de plástico para emagrecer e um aparelho para tonificar os músculos. Mas nunca obteve os resultados desejados. “Na propaganda, esse aparelho para fortalecer a musculatura era vendido como se fosse um instrumento utilizado por astronautas. Um dia, as correntes se soltaram e machuquei meu rosto”, conta.
A educadora física e professora de fisiologia do exercício da Universidade de Brasília (UnB) Keila Fontana diz não conhecer trabalhos científicos que comprovem o efeito de equipamentos que prometem eliminar gorduras localizadas. “É complexo definir se funcionam ou não, pois alguns associam o resultado à prática de exercícios físicos, ou seja, a mudança do corpo pode vir da prática física, e não em função do aparelho. Em outros casos, pode ser um efeito placebo. De tanto acreditar que funciona, acaba dando certo e a pessoa perde peso mesmo”, afirma. “Os sedentários, que nunca praticaram esportes, até podem sentir algum efeito. Mas não existem pesquisas sobre esses instrumentos”, alerta.
Especialistas também advertem para o uso de substâncias que prometem acabar com as celulites. O fisiologista da UnB Guilherme Molina diz que não existe princípio ativo milagroso para combater essas gorduras. “A melhor maneira de evitar as ondulações na pele continuam sendo uma boa dieta — composta de 60% de carboidratos, entre 20% e 30% de proteínas, e o restante de gorduras, segundo a Organização Mundial da Saúde —, associada à prática de exercícios físicos”, ensina. “Alguns produtos podem até apresentar resultados, mas enquanto não houver comprovação científica, não há como garantir sua eficiência”, salienta.
Sedução
Outros produtos que não têm comprovação de sua eficácia, mas ainda assim são facilmente encontrados no mercado, são os perfumes que levam feromônios (2)na composição. Diversas marcas anunciam que os produtos podem seduzir o sexo oposto, embora especialistas duvidem da promessa.
Verônica Kato, perfumista da Natura, maior empresa de cosméticos do país, garante que, em mais de 20 anos trabalhando no ramo, nunca teve notícias da inserção de feromônios em perfumes. “Troco informações com perfumarias do mundo inteiro e não existe nenhuma comprovação sobre isso”, observa.
Verônica explica que o odor, depois de ser registrado pelas células receptoras das narinas, segue até o cérebro, onde é processado. “É no sistema límbico que o cheiro é identificado. Quando sentimos um cheiro, o associamos a algum fato presente em nossa memória”, diz.
A reportagem entrou em contato com a Erótika Toys, fabricante e distribuidora da marca Feitiço. Um dos gerentes da empresa, que preferiu não se identificar, garantiu a qualidade do produto, mas não entrou em detalhes sobre como a substância age.
1 - Presunto picante
Segundo consultoria das empresas McAfee e Trend Labs, o Brasil é líder mundial no envio de spams, que são mensagem, geralmente propagandas, não solicitadas pelos internautas e enviadas em massa. Spam é uma abreviação das palavras inglesas spiced ham, que significam presunto picante. O termo foi popularizado em um episódio do programa britânico de comédia Monty Python, no qual a garçonete de uma taberna medieval repetia a palavra spam várias vezes para os clientes, referindo-se à quantidade de presunto servido nos pratos.
2 - Atração
Os feromônios são substâncias químicas que permitem o reconhecimento sexual dos indivíduos. Essas substâncias são capazes de provocar reações específicas em outros membros da espécie que estejam numa determinada área. Os feromonas, como também são conhecidos, podem ser do tipo sexuais, de agregação e de alarme, entre outros tipos.
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