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De férias para refletir

Oficialmente o ministro das Comunicações Hélio Costa, arregaça as mangas em Minas pedindo votos a seus aliados.

Mas na realidade o ministro, senador licenciado aceitou na hora concorrer à presidência do Senado em esquema montado pelos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL) que têm horror a Tião Viana (AC), o candidato do PT, segundo a Folha de S. Paulo de hoje.

Foi dada a largada para a sucessão de Chinaglia

Um cargo estratégico

Por Gustavo Krieger

A disputa na Câmara pode impactar a sucessão presidencial de 2010. E um papel fundamental está reservado ao PMDB

O mandato de Arlindo Chinaglia (PT-SP) na Presidência da Câmara só termina em fevereiro do ano que vem, mas as articulações por sua cadeira já correm soltas nos bastidores. A quem assiste de fora, pode parecer uma disputa menos importante, que afete apenas os 513 deputados, mas seu alcance é bem maior. De fato, pode impactar até a sucessão presidencial de 2010. E nela, como costuma acontecer, um papel fundamental está reservado ao PMDB.

O partido foi decisivo para a eleição de Chinaglia, no ano passado. À época, dividia-se entre a candidatura do petista e a reeleição do então presidente, Aldo Rebelo (PCdoB). Ambos eram da base governista e tinham a simpatia do Palácio do Planalto. O que levou o PMDB a escolher o lado de Chinaglia foi a promessa dos petistas de retribuir o apoio em 2009. Pelo acordo, o PMDB ganhou uma promissória: “Vale a presidência da Câmara”, a ser resgatada em 2008. O candidato já está colocado: é o presidente do partido, Michel Temer (SP).

Mas acordos parlamentares não sobrevivem sem sustos a dois anos de conversas, desacertos e pequenas traições. Hoje, há dois problemas na Mesa. O primeiro é o Senado. O PMDB tem a maior bancada na Casa e teria o direito a indicar o presidente. Tem até candidato — o atual líder do governo, Romero Jucá (RR). Mas o PT quer eleger o senador Tião Viana (AC) e cobra o apoio do PMDB como “retribuição” ao acerto da Câmara. Mas o acordo do ano passado passava longe do Senado. E a história recente mostra que nem sempre é fácil unir os interesses de deputados e senadores peemedebistas.

O segundo problema é o deputado Ciro Nogueira (PP-PI). Ele está em campanha aberta para eleger-se presidente da Câmara, à margem dos grandes partidos. Aposta em repetir a jogada que elegeu seu amigo e padrinho político Severino Cavalcanti ao comando da Casa. Surge como candidato do baixo clero. Esse tipo de candidatura surge a cada eleição e normalmente acaba servindo para barganhar um cargo na Mesa Diretora. Mas Ciro vem acumulando forças há um bom tempo e não pode ser descartado.

Michel Temer assiste ao jogo com a expressão impassível que marca sua atuação política. O presidente do PMDB é um parlamentar discreto, que prefere a conversa ao pé do ouvido e as negociações nos bastidores à briga aberta e aos discursos fortes. Mas tem se provado um adversário duro de vencer. Finca pé, marca sua posição e é difícil movê-lo.

Basta lembrar sua última recondução à presidência do partido. O governo apoiava Nelson Jobim, que tinha deixado o Supremo Tribunal Federal. Era o nome do coração do presidente Lula, que chegou a tentar colocá-lo como candidato a vice-presidente. Recém-reeleito, o presidente estava no máximo de seu poder de influência. Além disso, Jobim tinha o apoio dos ministros do PMDB e dos senadores do partido, entre os quais estavam caciques como José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL).

Mas Temer resistiu, costurou acordos dentro do partido e chegou às vésperas da convenção com uma maioria tão expressiva que Jobim retirou a candidatura. Hoje, Temer, Jobim e Sarney articulam juntos movimentos do partido.

Além disso, Temer tem uma carta importante na mão. Se for eleito presidente da Câmara, deixará o comando do PMDB. E esse é um cargo estratégico. Afinal, o partido é a maior legenda do país, dispõe de uma enorme estrutura política e um enorme espaço de tempo para propaganda no rádio e televisão. Será o aliado mais disputado para as eleições de 2010. E não será uma decisão nada fácil, pela tradicional divisão entre os líderes regionais. Nesse quadro, a história mostra que o presidente tem um enorme poder. Convoca e desconvoca reuniões, estabelece regras e calendários.

O cargo pode acabar nas mãos de José Sarney, numa composição que agradaria muito a Lula e poderia servir de ponte para envolver a bancada do Senado em um grande acordo que inclua o comando das duas casas do Congresso e a presidência nacional da legenda. As conversas, mesmo tímidas, já estão em andamento.

Por outro lado, se for atropelado na disputa da Câmara, Temer acabará permanecendo no comando do partido. E, por trás da mesma expressão calma de sempre, poderá ter acumulado sentimentos nada amistosos com relação ao PT e ao governo.

Por tudo isso, ele é personagem fundamental nessa disputa.

Comentário do Blog: Um outro fator que influência nos bastidores a pressão pelo nome de um candidato ou outro para presidir a casa apesar de não possuir direito à voto são os funcionários e os contratados que trabalham na Câmara.
Michel Temer e Inocêncio Oliveira já presidiram a Câmara e os funcionários aponta-os como dois dos melhores presidentes da história da casa.

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