A próxima semana promete ser "quente" para o presidente Lula. Três frentes de batalha terão a maior atenção do mandatário. A primeira e mais urgente é internacional, com a crise agora aprofundada com o Equador em razão das últimas declarações do presidente "mui amigo" Rafael Correa que insiste em dar um calote de mais de US$ 1,8 bilhões em empréstimo contraído ao BNDES para construção de uma hidrelétrica.
A obra teve concorrência vencida pela empreiteira brasileira Odebrecht. Problemas nessa obra seria a justificativa de Correa para o bilionário "calote".
Noutro flanco, local, os nomes de Lula para a sucessão da Câmara e do Senado estão em dificuldades e se a eleição fosse hoje sofreriam uma "surra com galho de goiabeira" para os candidatos do Baixo Clero.
Isso sem falar que o presidente está entalado e ainda não engoliu o bôlo que o presidente do senado Garibaldi Alves (PMDB-RN) serviu ao devolver a PEC das chamadas entidades "Pilantropas".
Daniel Pereira reopórter do Correio Braziliense conta os detalhes abaixo da guerra para a sucessão no Congresso Nacional.
CONGRESSO
Preferidos do presidente, Tião Viana e Michel Temer perderiam as eleições se a disputa fosse hoje, dizem articuladores políticos do governo
Discurso
“Eis o maior derrotado das eleições (municipais): o poder nas mãos de um só. O eleitor decidiu que deve haver um equilíbrio no jogo de forças”
Ciro Nogueira, deputado do PP-PI
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende as eleições de Tião Viana (PT-AC) e de Michel Temer (PMDB-SP) para as presidências do Senado e da Câmara, respectivamente. Apesar disso, articuladores políticos do governo dizem que os dois parlamentares não despontam como favoritos na disputa. Pelo contrário, figurariam na lista de azarões se a votação fosse realizada hoje. O motivo é a insistência da bancada do PMDB do Senado de continuar à frente da Casa até 2011. Para assessores de Lula, o grupo peemedebista só não elegerá o sucessor do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) caso não queira, principalmente se o candidato escolhido for o ex-presidente José Sarney (AP).
Se Viana for atropelado no processo, ressaltam os articuladores, a tendência é o PT, em retaliação, desistir do apoio a Temer, e outras legendas também desembarcarem da candidatura do deputado do PMDB, a fim de impedir que uma única sigla comande as duas casas do Congresso. Isso tornará ainda mais espinhosa a tarefa de Temer, que já estaria em desvantagem atualmente em relação ao deputado Ciro Nogueira (PP-PI), segundo integrantes do Palácio do Planalto. Desde o início das negociações sobre a sucessão, Lula alega que as vitórias de Tião e Temer são fundamentais para manter o equilíbrio de poder entre PT e PMDB no Legislativo.
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Semana será de desafios para o presidente Lula
Acompanho fatos relevantes a partir de abordagem jornalística, isenta e independente
Guerra nos bastidores para a presidência do Senado
Como era de se esperar, pode sobrar para o senador José Sarney a missão de ser o "pacificador" na guerra silenciosa que se passa nos bastidores do Senado Federal. Em disputa, a presidência da Casa.
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Sucessão da Câmara e do Senado
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Bancada complica plano de Temer
Parlamentares peemedebistas deixam claro que ainda resistem ao nome de Tião Viana à Presidência do Senado e dificultam acerto com PT para confirmar o deputado do PMDB como comandante da Câmara
Num jantar reservado à cúpula do partido, o PMDB decidiu na noite de segunda-feira que a prioridade a partir de outubro será a eleição de Michel Temer à presidência da Câmara em fevereiro de 2009. Os senadores presentes à reunião, no entanto, deram um recado indigesto ao deputado: a bancada do Senado não cederá fácil a Presidência da Casa ao petista Tião Viana (AC). Essa é a moeda de troca que o PT coloca em jogo para apoiar Temer na Câmara.
Os caciques peemedebistas vieram a Brasília na noite de segunda apenas para discutir o assunto, deixando a cidade no dia seguinte. Querem lançar a candidatura de Temer, que hoje preside o PMDB, logo após o primeiro turno das eleições municipais, marcado para 5 de outubro. É uma estratégia para barrar o avanço de Ciro Nogueira (PP-PI), o candidato do baixo clero que ameaça as pretensões do PMDB.
O jantar ocorreu na casa de Temer e contou com a presença de lideranças da legenda no Congresso, entre elas o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR). Eles assumiram a missão de manifestar apoio à candidatura do deputado ao comando da Câmara, mas ressaltaram a dificuldade em convencer a bancada do PMDB em ceder a Presidência do Senado ao PT.
Dono do maior número de cadeira nas duas Casas, o PMDB tem o direito, regimental e por tradição, de indicar os respectivos presidentes. O PT é a segunda maior bancada na Câmara e a quarta no Senado. Os peemedebistas precisam dos votos petistas para eleger Temer, mas relutam em apoiar Tião Viana no Senado.
O comando das duas Casas é estratégico para qualquer partido a partir de 2009. Caberá aos presidentes de Câmara e Senado conduzir o Congresso nos dois últimos anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, influenciando, inclusive, na sua sucessão.
Oposição reage
Ciente da pressão do PT, a oposição tem incitado o PMDB a não topar o acordo para emplacar o petista. PSDB e DEM já avisaram que aceitam votar em qualquer nome indicado pelo partido. Caso contrário, ameaçam lançar algum candidato para brigar com Viana.
No jantar de segunda-feira, o PMDB não definiu como esse impasse será resolvido. O objetivo agora é encontrar uma solução que garanta a vitória de Temer dentro de um contexto que agrade aos senadores do PMDB. Um desafio foi colocado à mesa do jantar.
Preocupados, os peemedebistas cobram do PT a desvinculação da eleição da Câmara da disputa do Senado. Temer carrega debaixo do braço um acordo assinado pelos petistas em que a legenda se comprometeu a apoiar um candidato do PMDB em 2009 na Câmara em troca da vitória de Arlindo Chinaglia em fevereiro do ano passado. Chinaglia venceu, e agora o PMDB cobra a reciprocidade.
O PT, entretanto, incluiu a Presidência do Senado no jogo e embolou a negociação. Tião Viana está em plena campanha. Nos últimos dias, conversou com Renan Calheiros e José Sarney (PMDB-AP), líderes da tropa de choque do PMDB no Senado e considerados obstáculos à pretensão do petista. Renan, aliás, tem sido pressionado a assumir a liderança do partido na Casa caso Viana seja eleito em 2009. Seria uma forma de mostrar força nesse jogo político.
Futuro
Na reunião de segunda-feira, o partido discutiu, por exemplo, a possibilidade de a bancada do Senado, alinhada a Sarney, assumir a presidência do PMDB em 2009, num eventual afastamento de Temer do cargo caso vença as eleições na Câmara. Seria uma forma de garantir a essa ala do partido a chance de indicar o candidato a vice na chapa com o PT para a sucessão de Lula.
Por enquanto, porém, essa discussão ficou para depois. Um acordo a longo prazo não agrada aos senadores do PMDB. Não haveria garantias de que receberiam esse poder em mãos. O que eles querem é uma recompensa imediata e poderosa politicamente para entregar ao PT a Presidência do Senado.
Análise da Notícia - Ciumeira e irritação
Por trás do jogo político do Congresso está a irritação dos aliados de Renan Calheiros (PMDB-AL) com Tião Viana (PT-AC). O petista assumiu a Presidência do Senado interinamente em outubro do ano passado quando o peemedebista se licenciou do comando da Casa em meio a processos por quebra de decoro parlamentar.
No cargo, Viana tomou medidas ligadas à transparência do Senado. Aproveitou para colocar em pauta discussões como, por exemplo, a divulgação da prestação de contas da verba indenizatória de cada senador. Renan não gostou e nunca escondeu a insatisfação com o colega. Reservadamente, critica o petista.
Agora, Viana precisa de Renan para assumir a Presidência do Senado. E também de José Sarney (PMDB-AP), outro que nunca morreu de amores pelo petista. Somente um interesse político da bancada do PMDB será capaz de selar um acordo para o PT assumir o comando da Casa. Resta saber qual será preço dessa moeda. (LC)
Num jantar reservado à cúpula do partido, o PMDB decidiu na noite de segunda-feira que a prioridade a partir de outubro será a eleição de Michel Temer à presidência da Câmara em fevereiro de 2009. Os senadores presentes à reunião, no entanto, deram um recado indigesto ao deputado: a bancada do Senado não cederá fácil a Presidência da Casa ao petista Tião Viana (AC). Essa é a moeda de troca que o PT coloca em jogo para apoiar Temer na Câmara.
Os caciques peemedebistas vieram a Brasília na noite de segunda apenas para discutir o assunto, deixando a cidade no dia seguinte. Querem lançar a candidatura de Temer, que hoje preside o PMDB, logo após o primeiro turno das eleições municipais, marcado para 5 de outubro. É uma estratégia para barrar o avanço de Ciro Nogueira (PP-PI), o candidato do baixo clero que ameaça as pretensões do PMDB.
O jantar ocorreu na casa de Temer e contou com a presença de lideranças da legenda no Congresso, entre elas o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), e o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR). Eles assumiram a missão de manifestar apoio à candidatura do deputado ao comando da Câmara, mas ressaltaram a dificuldade em convencer a bancada do PMDB em ceder a Presidência do Senado ao PT.
Dono do maior número de cadeira nas duas Casas, o PMDB tem o direito, regimental e por tradição, de indicar os respectivos presidentes. O PT é a segunda maior bancada na Câmara e a quarta no Senado. Os peemedebistas precisam dos votos petistas para eleger Temer, mas relutam em apoiar Tião Viana no Senado.
O comando das duas Casas é estratégico para qualquer partido a partir de 2009. Caberá aos presidentes de Câmara e Senado conduzir o Congresso nos dois últimos anos do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, influenciando, inclusive, na sua sucessão.
Oposição reage
Ciente da pressão do PT, a oposição tem incitado o PMDB a não topar o acordo para emplacar o petista. PSDB e DEM já avisaram que aceitam votar em qualquer nome indicado pelo partido. Caso contrário, ameaçam lançar algum candidato para brigar com Viana.
No jantar de segunda-feira, o PMDB não definiu como esse impasse será resolvido. O objetivo agora é encontrar uma solução que garanta a vitória de Temer dentro de um contexto que agrade aos senadores do PMDB. Um desafio foi colocado à mesa do jantar.
Preocupados, os peemedebistas cobram do PT a desvinculação da eleição da Câmara da disputa do Senado. Temer carrega debaixo do braço um acordo assinado pelos petistas em que a legenda se comprometeu a apoiar um candidato do PMDB em 2009 na Câmara em troca da vitória de Arlindo Chinaglia em fevereiro do ano passado. Chinaglia venceu, e agora o PMDB cobra a reciprocidade.
O PT, entretanto, incluiu a Presidência do Senado no jogo e embolou a negociação. Tião Viana está em plena campanha. Nos últimos dias, conversou com Renan Calheiros e José Sarney (PMDB-AP), líderes da tropa de choque do PMDB no Senado e considerados obstáculos à pretensão do petista. Renan, aliás, tem sido pressionado a assumir a liderança do partido na Casa caso Viana seja eleito em 2009. Seria uma forma de mostrar força nesse jogo político.
Futuro
Na reunião de segunda-feira, o partido discutiu, por exemplo, a possibilidade de a bancada do Senado, alinhada a Sarney, assumir a presidência do PMDB em 2009, num eventual afastamento de Temer do cargo caso vença as eleições na Câmara. Seria uma forma de garantir a essa ala do partido a chance de indicar o candidato a vice na chapa com o PT para a sucessão de Lula.
Por enquanto, porém, essa discussão ficou para depois. Um acordo a longo prazo não agrada aos senadores do PMDB. Não haveria garantias de que receberiam esse poder em mãos. O que eles querem é uma recompensa imediata e poderosa politicamente para entregar ao PT a Presidência do Senado.
Análise da Notícia - Ciumeira e irritação
Por trás do jogo político do Congresso está a irritação dos aliados de Renan Calheiros (PMDB-AL) com Tião Viana (PT-AC). O petista assumiu a Presidência do Senado interinamente em outubro do ano passado quando o peemedebista se licenciou do comando da Casa em meio a processos por quebra de decoro parlamentar.
No cargo, Viana tomou medidas ligadas à transparência do Senado. Aproveitou para colocar em pauta discussões como, por exemplo, a divulgação da prestação de contas da verba indenizatória de cada senador. Renan não gostou e nunca escondeu a insatisfação com o colega. Reservadamente, critica o petista.
Agora, Viana precisa de Renan para assumir a Presidência do Senado. E também de José Sarney (PMDB-AP), outro que nunca morreu de amores pelo petista. Somente um interesse político da bancada do PMDB será capaz de selar um acordo para o PT assumir o comando da Casa. Resta saber qual será preço dessa moeda. (LC)
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Sucessão da Câmara e do Senado
Acompanho fatos relevantes a partir de abordagem jornalística, isenta e independente
Sucessão na Câmara e no Senado
Fortes emoções aguardam o fim das eleições municipais. É que logo após o pleito outra disputa aguerrida tomará de assalto o palco do noticiário nacional com a sucessão para a presidência na Câmara e no Senado. Dois dois cargos mais estratégicos do Brasil e que coincidirá, ao fim da legislatura, com a sucessão do presidente Luis Inácio Lula da Silva.
Decifra-me ou te devoro
Ao cidadão comum, importa mais saber, afinal, se a eleição de um petista para presidir os senadores vai mudar alguma coisa ou será apenas a colocação de uma nova cereja sobre o mesmo bolo
O senador Tião Viana (PT-AC) é candidato a presidir seus pares no próximo biênio. Se conseguir, vai comandar o Congresso Nacional no período crítico da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Será uma missão e tanto. Será também um privilégio e tanto, para um parlamentar que representa um estado pequeno e nem pertence à maior bancada do Senado, a do PMDB.
Viana tem se movimentado bastante nos últimos tempos. Sua última iniciativa é tentar levar senadores da oposição para bater um papo com Lula no Palácio do Planalto sobre os grampos telefônicos imputados à Agência Brasileira de Inteligência e que capturaram uma conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demostenes Torres (DEM-GO).
Se ele conseguir fazer a oposição subir a rampa, terá sido uma grande vitória. É exatamente a oposição no Senado quem coloca os maiores obstáculos à postulação presidencial do senador acreano. Como é que PSDB e DEM vão ter cara para vetar Tião Viana depois de pisarem na sala do poder conduzidos pelas mãos dele? Vai ficar complicado.
A tática de senadores tucanos e democratas é alegar que o PMDB, como maior partido, deve ter garantida a Presidência da Casa. O próprio PMDB, porém, tem dúvidas. Prefere não brincar em serviço e assegurar o comando da Câmara dos Deputados para Michel Temer (SP). Esse é o detalhe que abre uma avenida para Viana. Avenida que ele vem percorrendo com tenacidade e boa dose de naturalidade.
Bem, por enquanto, mantivemo-nos no terreno da grande política, que o grande público, paradoxalmente, costuma entender apenas como politicagem. Os meneios e floreios da sucessão no Senado interessam aos políticos e a nós, jornalistas. Ao cidadão comum, importa mais saber, afinal, se a eleição de um petista para presidir os senadores vai mudar alguma coisa ou será apenas a colocação de uma nova cereja sobre o mesmo bolo.
O Senado Federal vem exibindo nos últimos tempos uma invejável (ainda que só para ele próprio) capacidade de ignorar a opinião pública. Tome-se como exemplo a recente série de reportagens do Correio sobre licitações suspeitas. A Casa tem preferido fingir-se de morta, na esperança de que a investigação perca fôlego e o caso acabe, como outros, arquivado.
Entretanto, o que parece ser apenas esperteza pode se provar, com o tempo, uma bomba de efeito retardado. Especialmente quando, e se, o Ministério Público decidir movimentar-se e dar continuidade ao belo trabalho desenvolvido pela Polícia Federal. Seria mais inteligente se o Senado, mesmo que silenciosamente como é de sua tradição, operasse as mudanças administrativas que gritam por acontecer. Antes que isso tenha que ser feito a quente, com a Casa de costas para a parede.
Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? Qual é a relação entre a necessidade de reformas no Senado e a candidatura de Tião Viana à Presidência da Casa? Toda. Há uma forte corrente de bastidor entre os senadores para arrastar o acreano a um acordo. Essa corrente poderia ser resumida mais ou menos como segue. “Nós o elegemos, desde que você deixe tudo como está. Ou, na pior das hipóteses, você inventa aí algumas mudanças cosméticas, desde que o essencial permaneça como está.”
A questão-chave da próxima sucessão no Senado é se Viana vai aceitar ou não essa imposição. Como político ambicioso e pragmático, ele com certeza procurará um caminho intermediário. Fará concessões para obter apoios sem os quais sua candidatura não dará nem para a largada. A dúvida é até que ponto irão essas concessões. No sutil e brutal jogo de poder do carpete azul da Câmara Alta, será curioso observar se Viana decifrará a esfinge ou será por ela devorado. E a esfinge não dorme em serviço, continua agarrada ao poder como a ostra que não desgruda do rochedo de jeito nenhum.
Eis um espetáculo para assistir de camarote. Quando sentou interinamente na cadeira, depois da saída de Renan Calheiros (PMDB-AL), Tião Viana moveu-se rapidamente para demarcar um campo, definir um estilo, buscando para si os louros da renovação e da transparência. Isso lhe conferiu musculatura, mas despertou desconfianças no establishment senatorial. Que naturalmente foge da ruptura assim como o diabo foge da cruz.
O blog recomenda a leitura do artigo do editor-chefe do jornal Correio Braziliense, Alon Feuerwerker, que resume o tom da disputa e a chance dos contendores.
Decifra-me ou te devoro
Ao cidadão comum, importa mais saber, afinal, se a eleição de um petista para presidir os senadores vai mudar alguma coisa ou será apenas a colocação de uma nova cereja sobre o mesmo bolo
O senador Tião Viana (PT-AC) é candidato a presidir seus pares no próximo biênio. Se conseguir, vai comandar o Congresso Nacional no período crítico da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva. Será uma missão e tanto. Será também um privilégio e tanto, para um parlamentar que representa um estado pequeno e nem pertence à maior bancada do Senado, a do PMDB.
Viana tem se movimentado bastante nos últimos tempos. Sua última iniciativa é tentar levar senadores da oposição para bater um papo com Lula no Palácio do Planalto sobre os grampos telefônicos imputados à Agência Brasileira de Inteligência e que capturaram uma conversa entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o senador Demostenes Torres (DEM-GO).
Se ele conseguir fazer a oposição subir a rampa, terá sido uma grande vitória. É exatamente a oposição no Senado quem coloca os maiores obstáculos à postulação presidencial do senador acreano. Como é que PSDB e DEM vão ter cara para vetar Tião Viana depois de pisarem na sala do poder conduzidos pelas mãos dele? Vai ficar complicado.
A tática de senadores tucanos e democratas é alegar que o PMDB, como maior partido, deve ter garantida a Presidência da Casa. O próprio PMDB, porém, tem dúvidas. Prefere não brincar em serviço e assegurar o comando da Câmara dos Deputados para Michel Temer (SP). Esse é o detalhe que abre uma avenida para Viana. Avenida que ele vem percorrendo com tenacidade e boa dose de naturalidade.
Bem, por enquanto, mantivemo-nos no terreno da grande política, que o grande público, paradoxalmente, costuma entender apenas como politicagem. Os meneios e floreios da sucessão no Senado interessam aos políticos e a nós, jornalistas. Ao cidadão comum, importa mais saber, afinal, se a eleição de um petista para presidir os senadores vai mudar alguma coisa ou será apenas a colocação de uma nova cereja sobre o mesmo bolo.
O Senado Federal vem exibindo nos últimos tempos uma invejável (ainda que só para ele próprio) capacidade de ignorar a opinião pública. Tome-se como exemplo a recente série de reportagens do Correio sobre licitações suspeitas. A Casa tem preferido fingir-se de morta, na esperança de que a investigação perca fôlego e o caso acabe, como outros, arquivado.
Entretanto, o que parece ser apenas esperteza pode se provar, com o tempo, uma bomba de efeito retardado. Especialmente quando, e se, o Ministério Público decidir movimentar-se e dar continuidade ao belo trabalho desenvolvido pela Polícia Federal. Seria mais inteligente se o Senado, mesmo que silenciosamente como é de sua tradição, operasse as mudanças administrativas que gritam por acontecer. Antes que isso tenha que ser feito a quente, com a Casa de costas para a parede.
Mas o que tem uma coisa a ver com a outra? Qual é a relação entre a necessidade de reformas no Senado e a candidatura de Tião Viana à Presidência da Casa? Toda. Há uma forte corrente de bastidor entre os senadores para arrastar o acreano a um acordo. Essa corrente poderia ser resumida mais ou menos como segue. “Nós o elegemos, desde que você deixe tudo como está. Ou, na pior das hipóteses, você inventa aí algumas mudanças cosméticas, desde que o essencial permaneça como está.”
A questão-chave da próxima sucessão no Senado é se Viana vai aceitar ou não essa imposição. Como político ambicioso e pragmático, ele com certeza procurará um caminho intermediário. Fará concessões para obter apoios sem os quais sua candidatura não dará nem para a largada. A dúvida é até que ponto irão essas concessões. No sutil e brutal jogo de poder do carpete azul da Câmara Alta, será curioso observar se Viana decifrará a esfinge ou será por ela devorado. E a esfinge não dorme em serviço, continua agarrada ao poder como a ostra que não desgruda do rochedo de jeito nenhum.
Eis um espetáculo para assistir de camarote. Quando sentou interinamente na cadeira, depois da saída de Renan Calheiros (PMDB-AL), Tião Viana moveu-se rapidamente para demarcar um campo, definir um estilo, buscando para si os louros da renovação e da transparência. Isso lhe conferiu musculatura, mas despertou desconfianças no establishment senatorial. Que naturalmente foge da ruptura assim como o diabo foge da cruz.
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