A reinvenção dos jornais na era da internet
The Economist
29/08/2006O primeiro objeto a "receber" os visitantes na sede do jornal norueguês "Schibsted", em Oslo, é sua imprensa manual original de 1856, agora tão limpa e polida que mais parece escultura do que máquina. Christian Schibsted, fundador da empresa, comprou-a para imprimir um jornal para terceiros, mas quando perdeu o contrato, decidiu iniciar o seu próprio. Embora Schibsted reserve lugar de honra para seu antigo maquinário, na verdade, a empresa está fugindo de seu passado impresso rapidamente. O negócio na internet, depois de ter dado prejuízo cinco anos atrás, contribuiu para 35% do lucro operacional da empresa.
A notícia do sucesso de Schibsted na internet espalhou-se no setor de jornais. A cada ano, diz Sverre Munck, o vice-presidente executivo das operações internacionais, Schibsted precisa recusar a visita de delegações de chefes de jornais estrangeiros ávidos por descobrir como os noruegueses fizeram. A empresa usou suas marcas de jornais já estabelecidas para criar sites que agora são o primeiro e o segundo mais visitados na Escandinávia. Também criou novas empresas de internet, como a Sesam, uma ferramenta de busca que concorre com o Google, e o FINN.no, um portal de anúncios classificados. Como resultado, em 2005, a empresa teve seu melhor ano de lucro e receita na história.
Infelizmente para o setor jornalístico, a Schibsted é uma rara exceção. Para a maioria das empresas de jornais do mundo desenvolvido, 2005 foi um ano miserável. À medida que as pessoas recorrem à internet para buscar notícias e que os jovens dão as costas aos jornais, a circulação paga vem caindo ano após ano. Os jornais também perdem participação nos gastos com publicidade. Os anúncios classificados avançam em direção à internet. Jim Chisholm, da iMedia, uma consultoria que trabalha com a associação internacional de jornais Ifra, prevê que 25% dos anúncios classificados migrarão para mídias digitais nos próximos dez anos. No geral, segundo a iMedia, os jornais obtiveram 36% do total dos anúncios globais em 1995 e 30% em 2005. Até 2015, poderão perder mais 5 pontos porcentuais, de acordo com a consultoria.
Mesmo o mais otimista dos donos de jornal agora sabe que somente poderá sobreviver no longo prazo se, como Schibsted, puder reinventar-se na internet e em outras plataformas de mídia, como telefones celulares e aparelhos eletrônicos portáteis. A maioria mostrou-se lenta - ou, nas palavras de Rubert Murdoch em discurso no ano passado, "notavelmente inexplicavelmente complacente" - para compreender as mudanças que afetam o mercado. Agora, essa maioria concentra grandes esforços para recuperar o terreno perdido. A publicidade na internet cresce rapidamente para muitas empresas de jornais e começa a compensar parte do declínio na área impressa.
Talvez, a complacência dos jornais não seja tão notável como sugerido por Murdoch. Em muitos países desenvolvidos seus donos gozaram por décadas de quase monopólios, grandes margens de lucro e retornos sobre o capital acima da média de outros setores. No passado, as editoras jornalísticas viam pouca necessidade para inovar ou mudar e gastavam pouco ou quase nada em pesquisa e desenvolvimento.
No começo, do fim dos anos 90 até 2002 aproximadamente, as empresas de jornais simplesmente replicavam suas edições impressas na internet. A rede mundial, no entanto, oferece tantas fontes de informação e entretenimento, que os leitores podem escolher exatamente o que querem de diferentes sites. Como resultado, as pessoas costumavam visitar os sites dos jornais com pouca freqüência, davam uma olhada em algumas poucas páginas e então partiam para algum outro site.
Após cinco anos de prejuízo, a operação on-line do jornal norueguês Schibsted contribuiu com 35% do lucro operacional
Outro erro inicial dos jornais foi poupar seus melhores jornalistas para a parte impressa. A qualidade das edições on-line, portanto, freqüentemente era baixa. Os sites contrataram pessoal jovem e mais barato. O prestígio da marca ficou com o meio antigo, que encorajou os jornalistas de meios impressos a defender seu terreno. Ainda hoje, no jornal italiano "La Stampa", controlado pelo Fiat Group, os jornalistas do meio impresso hesitam em dar suas histórias temendo que o site canibalize o jornal, segundo a diretora do site do periódico Anna Masera.
Nos últimos dois anos, entretanto, os jornais começaram a pensar mais seriamente sobre o que fazer na internet. No aspecto mais básico, isso significou noticiar fatos usando câmeras e microfones, da mesma forma que o jornal impresso. Os resultados podem ser considerados encorajadores. A Academia de Ciências e Artes da Televisão, dos Estados Unidos, lançou um novo prêmio Emmy para notícias e documentários na internet, telefones celulares ou dispositivos portáteis de mídia, que permitem assistir filmes, ver programas de TV e ouvir música. Em setembro, cinco das sete indicações foram para reportagens do nytimes.com e washingtonpost.com
Por outro lado, também significou mais criatividade. No final dos anos 90, os primeiros do site do "The Wall Street Journal", um dos jornalistas surgiu com a original idéia de colocar na internet um documento de 573 páginas para respaldar um artigo.
"Não era um conteúdo dos mais atraentes", lembra-se Neil Budde, editor fundador e agora gerente-geral de notícias do portal Yahoo!. Mas, eram os primeiros passos. Agora, os jornais têm mais idéia do que funciona ou não na internet. Não se trata sempre do jornalismo tradicional, como ensinado na faculdade de jornalismo.
Brian Tierney, que se tornou dono do "The Philadelphia Inquirer", depois de a editora Knight Ridder tê-lo vendido no ano passado, deu-se conta que um dos materiais mais acessados era um vídeo em que balas Mentos são jogadas dentro de uma garrafa de Diet Coke de dois litros e o líquido sai expelido pelo ar. "Deveríamos fazer mais coisas no estilo", observou.
Atualmente, há mais chances de que os sites dos jornais sejam vistos como prioridade. "Antes, os jornais usavam seus jornalistas de segunda ou terceira categoria para a internet", diz Edward Roussel, diretor editorial on-line do Telegraph Group, da Grã-Bretanha, "mas, agora, sabemos que temos que usar o que temos de melhor". Muitas empresas colocam os jornalistas da parte impressa e da parte virtual na mesma sala, de forma que escrevam nos dois meios. Alguns insistem em dizer que isso é um erro.
"Está completamente errado não separar as operações na internet das impressas", diz Oscar Bronner, publisher do jornal austríaco "Der Standard".
Até que ponto os resultados dessas experiências na rede são notáveis? Em muitas empresas de jornais, a publicidade na internet cresce pelo menos 30% ao ano. No jornal italiano "La Repubblica", por exemplo, o site recebe cerca de 1 milhão de visitantes por dia, quase o dobro da circulação impressa. Os anúncios nos sites de jornais dos Estados Unidos no primeiro trimestre do ano cresceram 35% em comparação ao mesmo período de 2005, somando US$ 613 milhões, segundo dados da Associação de Jornais dos Estados Unidos. Para dar uma idéia geral, no total os anúncios impressos e on-line cresceram apenas 1,8%, para US$ 11 bilhões, com a parte impressa ficando praticamente estagnada.