Eles sempre se entendem ou o conto da raposa
por *Val-André Mutran Pereira
Em tempos de radicalizações e rompimentos políticos, muitos neófitos que agora começam a experimentar as fortes emoções do mundo político, tem dificuldades para entender que nessa arte mais se esconde do que se mostra.
Uma das principais qualidades dos políticos que há décadas sustentam-se no poder é repetir o mantra: “Política não se faz com o fígado.”
Qual a imagem tradicional que temos do político?
O sujeito astuto, esperto, loquaz, que dá nó em pingo de água, diz uma coisa e faz outra.
Quando alguém o "aperta de jeito, garante que não mentiu. Apenas omitiu.
Qual animal associamos ao político? A raposa.
Vemos o político como alguém sinuoso, escorregadio, que negaceia, negocia, escapole, se safa. Quase todos os partidos brasileiros se parecem e contam com raposas nos seus quadros. Alguns, contudo, se destacam mais que os outros e isso é diretamente proporcional a “qualidade” de seus quadros.
Os políticos que se perpetuam no poder é raposa velha, matreira, escolada, pelo liso e fofo.
Nunca fazem inimigos, eventualmente tem adversários.
Como uma raposa neutraliza um adversário?
––Acuando sua vítima. Quer seja com o oferecimento de vantagens, dinheiro, de preferência ou cargos, se for possível.
Muitos tolos afoitos, defendem o seu político predileto como a um Deus. “Quebra o pau” quando alguém fala mal; “põem a mão no fogo” por sua lisura e honestidade. É deste tipo de tolice e ingenuidade que mais agrada a raposa.
O Raposão, malandro, nunca espanta ninguém, afinal a concorrência é dura para sobreviver nessa selva de profissionais. Enquanto os militantes adversários “matam-se”, a felpuda raposa se acerta “por debaixo dos panos” com seus opositores. Se não diretamente, através de “pombos correios”. Há um grande número de pombos correios próximos as raposas.
Governos
Há governos em nome de raposas mais ou menos peludas. Há novas e talentosas raposas despontando na área, outras, descendo a ladeira.
Há raposas de todos os tipos no Brasil: honestas, desonestas, ardilosas, sofisticadas, rústicas… A estratégia de uma raposa para chegar ao poder é pura "raposice". Esconde-se o programa de governo durante toda a campanha. Questionada a raposa, respondem com seu mantra: “Vamos dialogar”.
O programa, porém, pode existir ou não. Na maioria das vezes, contrata-se alguém para escrevê-lo e o candidato passa os olhos por cima.
Raposas calejadas, dependendo da situação, tem um apetite especial para: privatizar, esquartejar o Estado, lipoaspirar o mamute, dentre outros planos obscuros. Se eleito, é posto a cabo a segunda parte da raposice": se receber o Estado em crise, culpa o governo anterior. Se a situação for péssima, deixa a crise se ampliar, hiperdimensionando-a, e em seguida, prepara o espírito da mídia e de boa parte da população para a necessidade do remédio amargo, caso contrário, o paciente morre. Depois, é só dar o bote. Transparência zero. E você, militante, pode ser a próxima vítima.
*Val-André Mutran Pereira - é jornalista, analista de sistemas e engenheiro de software.