5/jul/07 (AER) – O presidente Lula aproveitou a Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, que se realiza em Bruxelas, para defender o etanol brasileiro das críticas costumeiras sobre degradação ambiental, trabalho 'escravo' e outras usualmente destiladas por ONGs e entidades governamentais européias que as apóiam, às vezes, com recursos financeiros e outros.
Por uma estanha coincidência, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura ) emitiram, simultaneamente, relatórios e declarações centradas em riscos ambientais e de segurança alimentar no plantio de cana-de-açúcar. Uma das afirmações foi que o aumento da produção de etanol e biodiesel em países como o Brasil acarretaria um aumento de 10 a 20% no preço internacional de alimentos prejudicando diretamente os países mais pobres da África e da Ásia. Para diplomatas brasileiros que acompanham o presidente Lula na Europa, tais divulgações foram propositais.
Oportunamente, o governo brasileiro anunciou a elaboração de uma certificação própria para garantir a procedência e a qualidade do etanol brasileiro. O problema, apontado por um dirigente de uma das maiores usinas do setor no Brasil, é que o efeito pode ser o inverso do esperado por excesso de critérios nas certificações: "Não somos contra a certificação. Mas o perigo é que a União Européia faça exigências absurdas para tentar mascarar práticas de protecionismo também nesta área", disse ele. [1]
A artilharia européia foi disparada por Peter Mandelson, comissário da UE para o Comércio, para quem "a Europa tem que agir para evitar que um boom de biocombustíveis ameace destruir florestas tropicais para produzi-lo" e que "a União Européia (UE) não pode permitir que a mudança para os biocombustíveis se transforme em um estouro ambientalmente insustentável no mundo em desenvolvimento...Os europeus não pagarão um prêmio pelos biocombustíveis se o álcool que abastecerá seus carros for produzido de maneira insustentável devido a sistemáticas queimadas após a colheita ou à custa das florestas tropicais". Realmente comovedor.
No Brasil, o ministro da Agricultura Reinhold Stephanes declarou que o governo brasileiro pretende impor restrições ambientais para o plantio de cana-de-açúcar que poderiam afetar inclusive áreas onde o produto já está presente hoje, leia-se, 'Amazônia'.
"Queremos evitar o discurso contrário ao desenvolvimento do etanol como energia limpa. Temos muitos adversários no mundo que não têm interesse (nesse desenvolvimento) e muito menos que isso aconteça no Brasil", afirmou o ministro, acrescentando que "Agricultores que recebem subsídio nos EUA ou na Alemanha evidentemente vão dizer que o Brasil está derrubando a floresta amazônica para plantar cana, e nós queremos mostrar que não estamos fazendo isso." [2]
É louvável a iniciativa do governo em criar essa certificação própria (desde que o aparato ambientalista fique fora do processo), mas seria inaceitável que venha, eventualmente, a ceder à imposições externas de proibir o plantio de cana na 'Amazônia'. Explica-se as aspas: uma das principais peças da propaganda enganosa da rede de ONGs e seus apoiadores é confundir a opinião pública mundial que a Amazônia Legal equivale ao bioma de mesmo nome. Assim, qualquer pé de cana plantado em Mato Grosso, por exemplo, é imediatamente arrolado como 'predador' da floresta Amazônica.
Mas, qual seria o problema se existem condições de solo e clima favoráveis ao cultivo de cana no Pará? Entende-se que empresas prefiram, por questões de marketing, propagandear a consumidores europeus elitistas que seus produtos não vêm da 'Amazônia' (por mais equivocado que isso seja), mas o mesmo não se pode admitir do governo brasileiro. Uma vez estabelecido o precedente, qualquer outro produto da região sofreria enormes pressões para entrar na 'lista negra', fortalecendo o funesto ambientalismo geopolítico.
Notas:
[1]'Foi coincidência a divulgação de relatórios negativos?, O Estado de São Paulo, 06/06/07
[2]Plantio de cana pode sofrer restrições ambientais, Agência Estado, 05/07/07
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