Vale estuda compra da Xstrata

A Vale estuda a compra da mineradora anglo-suíça Xstrata numa transação que pode chegar a US$ 90 bilhões.

O bilionário negócio depende de financiamento de um pool de bancos; ontem suas ações caíram mais de 10% na Bovespa, parte em razão da crise americana que contaminou as bolsas em todo o planeta, parte porque a Vale, apesar de ter suas contas em dia após a compra no ano passado por US$ 38 bilhões da canadense Inco, ficaria altamente endividada, o que em tempos de crise, pode ser visto pela agências de risco como um negócio temerário.

Em nota, a Vale informou que, "no contexto do processo de consolidação global da indústria de mineração, tem mantido entendimentos com a Xstrata". Ressalvou, porém, que as negociações não "chegaram, até o momento, a nenhum resultado concreto".

Ou seja, a companhia brasileira não fez ainda uma oferta formal pela rival Xstrata, a sexta maior mineradora do mundo, com forte atuação nas áreas de cobre, níquel e carvão.

Mesmo assim, a empresa já estrutura uma operação para financiar a aquisição. "A Vale também tem discutido com instituições financeiras formas de apoio na eventualidade de se concretizar alguma das opções que estão sendo avaliadas."

Na nota, a Vale diz que considera outras possibilidades de aquisições e que não negocia apenas com a Xstrata.

Segundo reportagem do jornal "Valor Econômico", a Vale planeja fazer uma emissão de ações preferenciais para pagar parte da aquisição da Xstrata. Do valor total de até US$ 90 bilhões, US$ 30 bilhões poderiam vir do lançamento dos papéis.

O restante seria financiado por um empréstimo de um "pool" de bancos estrangeiros, como Merrill Lynch, Lehman Brothers, HSBC, Credit Suisse, Citigroup e Santander. Procurada, a Vale não confirmou o valor do negócio nem o modelo de financiamento em estudo.

Se o negócio prosperar e a Vale emitir ações preferenciais, a empresa não correrá o risco de mudar de mãos -a mineradora é controlada por Previ, Bradesco, BNDES e a trading japonesa Mitsui. É que esses papéis não dão direito a voto.

Hoje, as ações preferenciais representam 40% do capital total da Vale, contra 60% de ordinárias. Com a possível emissão, a participação das preferenciais subiria para cerca de 50%.

A própria Vale enxerga, porém, um obstáculo ao negócio: a crise nos mercados mundiais com a provável recessão norte-americana. Em nota, a mineradora afirmou que "as condições do mercado internacional de capitais representam um grande desafio no contexto de qualquer movimento estratégico [aquisição] de porte". Segundo a Vale, a empresa manterá uma "postura de prudência".

Para o analista Rodrigo Ferraz, do banco Brascan, o cenário "pessimista" pode atrapalhar os planos da Vale, já que a demanda mundial por minério de ferro e outros metais pode ser afetada numa eventual recessão nos EUA.

Ontem, em meio às perdas generalizadas que afetaram o mercado acionário brasileiro, as ações da Vale tiveram baixas expressivas. A ação preferencial "A" caiu 11,35%, e a ordinária perdeu 10,40%.

Segundo Ferraz, o negócio "faz sentido" dentro do atual movimento de concentração do mercado mundial de mineração. Outro interesse da Vale, diz, é ampliar seu leque de produtos, muito concentrado em minério de ferro. Na visão de uma analista que não quis se identificar, a aquisição é uma necessidade neste momento de forte concentração do setor. Ou seja, se não for às compras, a Vale corre o risco de ser engolida por alguma concorrente.

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