Cuba: Especial Correio Braziliense - Parte X: Transformação silenciosa

Ao protagonizar o movimento que levou à queda da ditadura de Fulgêncio Batista em 1º de janeiro de 1959, Fidel Castro assumiu a liderança do país não apenas em uma, mas em várias revoluções que marcaram os cubanos ao longo dos 49 anos em que governou. Encontrou uma Cuba cheia de desigualdades sociais, as reduziu e agora deixa outras contradições para serem resolvidas por seu sucessor.

Quando tornou-se presidente, Cuba era praticamente um balneário dos Estados Unidos. Tinha a economia restrita à produção açucareira e aos cassinos. "Fidel pôs os cubanos em um lugar digno, com direito à educação e à seguridade social", diz o historiador Pedro Cosme Baños, diretor do Museu do Memorial Lenin, da cidade de Regla. Ao longo dos anos, no entanto, a tarefa de levar desenvolvimento à ilha foi se tornando árdua demais.

A tábua de salvação do país foi a entrada, em 1972, para o Conselho de Ajuda Econômica Mútua (Caem), órgão de integração dos países do bloco socialista. Em 1985, as relações com o Caem correspondiam a 83,2% do comércio exterior cubano. Diante desse cenário de dependência, a queda do regime soviético não poderia ter deixado de provocar o desastre que causou à economia de Cuba. Em 1993, o Produto Interno Bruto (PIB) da ilha já era 35% menor do que o registrado quatro anos antes. Naquele ano, o sinal vermelho acendeu.

A resposta de Fidel chegou em julho, quando estabeleceu um regime de dupla moeda, que perdura até hoje. A introdução do CUC (peso conversível) na economia, que antes era restrita ao peso cubano, permitiu a entrada de divisas estrangeiras no país. Com isso, em 1995, 50% das receitas vinham do turismo. Mas a solução cambial, que permitiu que a crise econômica fosse controlada, hoje é geradora de novas contradições. Um CUC vale 24 vezes o valor de um peso cubano. Por esta última moeda, a população é remunerada e é possível comprar apenas os itens básicos. Os produtos importados, cotados em CUC, enchem os olhos dos cubanos. Todos buscam meios de obter a moeda dos turistas. Esta é a nova revolução silenciosa que Cuba tem de enfrentar — desta vez, sem Fidel.

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