Cuba: Especial Correio Braziliense - Parte IX: Abertura econômica deve levar cinco anos

Avanço do capital privado e investimentos serão cruciais

A renúncia de Fidel Castro à presidência de Cuba não significará uma rápida abertura econômica daquele país. O processo de integração será lento e acontecerá aos poucos, devendo levar de três a cinco anos. É esse o consenso entre especialistas que se debruçam sobre os indicadores da economia latino-americana. "Por mais poder que Raúl Castro, irmão e sucessor de Fidel venha a ter, não haverá mudanças a curto prazo. A economia cubana permanecerá fechada por um bom período. A transição exigirá a construção de instituições sérias e confiáveis, que sigam preceitos importantes para que o capital veja Cuba como uma economia de mercado Entre esses preceitos está o direito à propriedade privada", diz Ítalo Lombardi, chefe do Departamento de Pesquisas para a América Latina da consultoria IDEAGlobal, com sede em Nova York.

A tendência, segundo Vitória Saddi, economista da consultoria RGE Monitor, também com sede em Nova York, é de que se repita, em Cuba, o movimento registrado na Rússia logo depois do fim da Guerra Fria, que resultou no desmembramento da União Soviética. "Foram necessários cinco anos para que o Estado começasse a reduzir seu tamanho na economia e o capital privado ocupasse seu espaço. Mas o importante é avançar na abertura econômica, reduzindo a burocracia e a corrupção, mesmo que lentamente, pois os ganhos no futuro serão enormes", afirma.

Vitória lembra que, em 1997, Raúl Castro tentou promover mudanças na economia de seu país. Mas foi cerceado pelo irmão presidente. Raúl voltou a adotar o discurso mais pró-mercado, com Fidel afastado do poder devido a graves problemas de saúde. Para aumentar a eficiência da economia, ele prometeu promover reformas graduais nos sistemas fiscal, cambial e monetário. Também destacou a importância de se atrair investimentos estrangeiros para projetos que vão além do turismo, da energia (exploração e refino de petróleo), da mineração e do transporte portuário, nos quais o capital externo já se faz presente.

Estatísticas mostram que os estrangeiros já participam de 362 empreendimentos em Cuba, sendo 237 empresas de capital misto (com controle acionário do Estado) e 125 arranjos contratuais. Juntos, movimentaram, em 2007, quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) cubano, próximo de US$ 50 bilhões. Os maiores investidores são a Espanha e o Canadá, seguidos pelos Estados Unidos — a despeito do embargo comercial a Cuba — e por Israel. "Quando o capital estrangeiro se sentir mais seguro, aquele será o país de maior crescimento mundial, devido às oportunidades de negócios e à mão-de-obra qualificada", avalia Ricardo Amorim, chefe do Departamento de Pesquisas do banco alemão WestLB.

Para o presidente da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Alessandro Teixeira, o Brasil pode ser beneficiado. "Temos um amplo mercado a explorar nos setores de alimentos, de máquinas e de bens de consumo", frisa. Desde a posse de Lula, em 2003, o comércio entre o Brasil e Cuba cresceu 348%, de US$ 91,9 milhões para US$ 412,6 milhões.

"Jamais me aposentarei da política, da revolução ou das idéias que tenho. O poder é uma escravidão e sou seu escravo"
Setembro de 1991

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