Para especialistas, reforma econômica de Raúl Castro deve adiar abertura política por meia década
Com a possível nomeação de Raúl Castro como presidente de Cuba no próximo domingo, o regime ganha fôlego para os próximos cinco anos. Até lá precisará resolver, ou pelo menos minimizar, o déficit de emprego e a escassez de alimentos na ilha caribenha, além de problemas crônicos, como a dupla monetarização. O "boom" do turismo, na década de 1990, deixou um rastro de mazelas, inclusive a desigualdade social. Especialistas consultados pelo Correio foram cautelosos em prever uma abertura política a curto prazo. Para uns, Raúl comandará uma transição lenta, focada na oferta controlada de novos negócios para os investidores estrangeiros. Para outros, é preciso que a comunidade internacional mantenha pressão no regime.
"Este é o começo do fim da ditadura de Castro", disse à reportagem o embaixador Roger Noriega, ex-subsecretário de Estado norte-americano para Assuntos Latino-Americanos e inimigo declarado de Fidel. Pouco otimista sobre o futuro da ilha, ele garante que "a política do Estado permanece intacta". "Raúl provou ser incapaz de promover uma mudança democrática real em qualquer sentido. Ele não tem futuro", avalia. Para Noriega, "a comunidade internacional deve continuar buscando reformas políticas e econômicas reais para que os cubanos construam seu próprio futuro".
A tutela de cinco décadas minou a capacidade de mobilização popular em Cuba. Em países como Síria e Coréia do Norte, dinastias ditatoriais empreenderam a sucessão de seus líderes sem maiores constrangimentos. O norte-americano Mark Falcoff, do conservador American Enterprise Institute (AEI), aponta particularidades no caso cubano. "A transferência de poder de um irmão para outro revela um processo mais complexo e interessante", observa. Autor do livro Cuba, a manhã seguinte: confrontando o legado de Castro, Falcoff acha que a transição em Cuba começou há cinco anos. "Ela ocorre em câmera lenta e sem incidentes". Raúl se antecipou à aposentadoria do irmão e remanejou pessoas de sua inteira confiança para agências e ministérios estratégicos.
"Raúl também esteve no comando das Forças Armadas Revolucionárias, que desde o fim da aliança com a União Soviética se transformaram em fator de poder mais importante que o Partido Comunista", alerta. O especialista destaca que Raúl ocupava o cargo de ministro do Interior, com controle da polícia, do exército e do sistema prisional. "O sucessor de Fidel tem uma vantagem adicional. Está perfeitamente ciente de suas próprias limitações. Ele não é seu irmão e sabe disso", completa Falcoff. Caso Raúl suspenda certas restrições ao comércio e à produção, poderá se tornar rapidamente bastante popular em Cuba. No entanto, há dúvidas sobre se uma abertura econômica flexibilizaria a face política do regime.
Clima favorável
Hélio Doyle, estudioso do governo cubano e professor da UnB, concorda. "Mudanças são inevitáveis, porque o regime tem sempre que se adaptar às novas situações. A questão é saber se isso será o fim do regime ou se darão continuidade a ele", alerta. Doyle lembra que, com o fim da União Soviética, a ilha teve de atrair investimentos e conseguiu novo fôlego por mais 17 anos. Agora, Cuba se vê enfrentada por um mundo globalizado, com a crescente rede de comunicação. "Há um clima favorável para mudanças, mas não acho que haverá nada radical", ressalta. Para ele, Raúl é um líder respeitado e preparado. "É um dos sobreviventes do primeiro núcleo do ataque ao Quartel Moncada. Ele já era da Juventude Comunista quando o Fidel ainda estava ligado à centro-esquerda", sintentiza.
Nelson Cunningham, que foi assessor do ex-presidente Bill Clinton para a América Latina, acredita que Raúl será um líder passageiro, por causa de sua avançada idade — 76 anos. "Não lhe restarão muitos anos. Isso iniciará um processo de transição real", afirmou. Para o especialista Jaime Suchlicki, do Instituto de Estudos Cubanos da Universidade de Miami, a substituição do comando do regime cubano é "uma sucessão de fato", mas não deve trazer mudanças estruturais. "Raúl não é um reformista". "A lição de Fidel é que as mudanças econômicas na Europa do Leste levaram à queda do comunismo. Raúl será cuidadoso nisso", estima. Ele lembra que "os militares controlam até 60% das grandes empresas em Cuba. Não vão querer abrir mão desse poder econômico facilmente".
Cuba: Especial Correio Braziliense - Parte VI: Transição será lenta
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