Retirada do bloqueio econômico é condicionada a eleições livres e libertação de presos políticos
A renúncia de Fidel Castro ao cargo de presidente do Conselho de Estado e de comandante-em-chefe das forças armadas do país, anunciada ontem, não vai suspender o embargo econômico imposto à ilha pelos Estados Unidos desde 1962, ano da consolidação da revolução socialista em Cuba. Em visita a Ruanda, o presidente dos EUA, George W. Bush, declarou que a saída de Fidel "deveria constituir o início de uma transição democrática para o povo cubano". Washington tinha prometido suspender o isolamento somente em caso de realização de eleições livres para todos os cargos públicos em Cuba.
Bush sugeriu que, após o afastamento de Castro, o governo cubano deveria dar o "primeiro passo para a democracia e libertar os prisioneiros políticos. O presidente americano pediu à comunidade internacional que contribua para instalar instituições democráticas em Cuba. "Os Estados Unidos vão ajudar o povo cubano a construir uma democracia", afirmou Bush, repetindo o argumento que utilizou para invadir o Iraque. "Finalmente haverá um debate interessante. Alguns vão sugerir a promoção da estabilidade. Claro que, enquanto isso, os prisioneiros políticos seguirão apodrecendo em suas celas, e a condição humana continuará patética em muitos casos", comentou o presidente dos EUA.
O segundo homem no Departamento de Estado dos EUA, John Negroponte, descartou a suspensão imediata do embargo imposto à ilha comunista. "Não posso imaginar que isso aconteça num futuro próximo", declarou.
Durante seus dois mandatos como presidente, Bush destinou muitos recursos para pressionar Cuba. Em 2003, ele criou uma comissão para tentar derrubar o regime marxista cubano e reforçou o embargo no ano seguinte. Em 2006, quando Fidel Castro já estava gravemente doente, a Casa Branca rejeitou a idéia de utilizar a doença para alimentar uma crise em Cuba, limitando-se a reiterar suas exigências de eleições livres e mudanças democráticas.
Europa
Dirigentes da União Européia reiteraram a oferta de diálogo político com Cuba para um progresso pacífico de transição para uma democracia pluralista. "Reiteramos nossa predisposição para ter um diálogo político construtivo com Cuba e alcançar os objetivos da posição comum da União Européia em suas relações com a ilha", declarou, em Bruxelas, John Clancy, porta-voz do comissário europeu de Desenvolvimento e Ajuda Humanitária, Louis Michel. O Reino Unido saudou a renúncia de Fidel como uma "oportunidade para avançar para uma democracia pluralista", declarou um porta-voz do primeiro-ministro Gordon Brown.
França e Espanha acreditam que Cuba passará por um processo de mudanças, com mais democracia. "A França espera que a decisão de Fidel Castro de renunciar à presidência abra um novo caminho e que exista mais democracia no país. O castrismo tem sido o símbolo do totalitarismo", afirmou o secretário de Estado francês para Assuntos Europeus, Jean-Pierre Jouyet. A Anistia Internacional afirmou que a renúncia de Fidel deve ser aproveitada pela "nova liderança cubana" para introduzir "as reformas necessárias que garantam a proteção dos direitos humanos na ilha".
Aliados
O presidente da Venezuela, Hugo Chaves, um dos mais próximos aliados do regime cubano, afirmou que Fidel Castro e Cuba "demonstraram ao mundo e principalmente aos Estados Unidos que a revolução marxista na ilha não depende de uma pessoa". Chavez não considerou a atitude de Fidel uma renúncia: "Renúncia, que renúncia?", ironizou. Outro afilhado de Fidel, o presidente da Bolívia, Evo Morales, chamou de dolorosa a renúncia do presidente de Cuba. "Para mim, é doloroso que o presidente, o comandante Fidel, peça à Assembléia Nacional para deixar a presidência. Sinto muito, aprendi muito com ele, trabalhando pela unidade e pela solidariedade", declarou.
O governo da China, que sempre manteve boa relações com Cuba, saudou o "dirigente revolucionário e velho amigo" Fidel e manifestou o desejo de que ambos os países comunistas mantenham as boas relações. "O presidente Castro é um dirigente revolucionário profundamente amado pelo povo cubano e também um velho amigo do povo chinês", indicou o Ministério das Relações Exteriores chinês.
O Vietnã, outro fiel aliado de Cuba, expressou sua convicção de que Fidel continuará "consagrando sua inteligência e força à causa revolucionária cubana", esteja onde estiver. Na Rússia, o líder do Partido Comunista, Guennadi Ziuganov, afirmou que Fidel renunciou à presidência de Cuba como um "político genial", guiado pelos interesses do país.
Cuba: Especial Correio Braziliense - Parte VII: EUA mantêm embargo
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