Tensão no Pará

Madeireiros reagem
Cerca de 10 mil pessoas da região de Tailândia, no sul do estado, se postaram à frente de serrarias para impedir a remoção de 15 mil metros cúbicos de madeira ilegal. PF decide adiar operação na Amazônia

A reação de madeireiros do município de Tailândia, no sul do Pará, à remoção de 15 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente e confiscada na semana passada levou ontem a Polícia Federal a adiar o lançamento da Operação Arco do Fogo, que seria desencadeada amanhã em 11 regiões da Amazônia Legal. A ação foi concebida para combater o desmatamento e a extração ilegal de madeira. No final da tarde, o setor de inteligência da PF detectou um movimento iniciado pela manhã pelos proprietários de serrarias da região, que poderia ter reflexos sociais, como a ameaça de demissão de 15 mil trabalhadores em madeireiras da região de Tailândia.

Além disso, uma torre de telefonia celular foi derrubada e parte de uma estrada bloqueada pelos manifestantes. A intenção do movimento é pressionar os governos paraense e federal a terminar as ações contra o desmatamento, que começaram na semana passada com a apreensão da madeira ilegal — a quantidade daria para encher cerca de 500 caminhões.

"Estamos postergando a operação, mas ela irá acontecer", garantiu o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, que foi informado dos acontecimentos por um grupo de inteligência policial que já está atuando em vários estados da Amazônia. Segundo ele, os recursos estão garantidos e serão repassados no momento que a ação for desencadeada. Serão movimentados cerca de 800 homens, entre integrantes da própria instituição, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional de Segurança Pública. O governo pretende fechar parte da Amazônia, principalmente onde foram detectados os principais focos de desmatamento, como no Pará.

Ameaças
"Tivemos que deixar Tailândia só com a roupa do corpo", contou ontem, à Agência Globo, a fiscal da Secretaria de Meio Ambiente do Pará (Sema) Deuza Aquino, que ficou em cárcere privado por duas horas, com outros quatro colegas, dentro da serraria Tailaminas Plac Ltda., pertencente a Flávio Sufredini, onde foram apreendidos 822 metros cúbicos de madeira em tora. Os fiscais somente foram resgatados após a chegada do batalhão de choque da Polícia Militar e levados sob escolta policial para o município de Goianésia.

Os madeireiros ameaçavam tocar fogo nos caminhões enviados ao município de Tailândia pelo governo do Pará para transportar a madeira até a capital do estado. Insufladas por empresários, cerca de 10 mil pessoas impediram o transporte da madeira, ocupando as portarias das serrarias do município e fazendo ameaças aos fiscais que comandavam a operação de retirada das toras cortadas ilegalmente, segundo constataram o Ibama e a Secretaria de Meio Ambiente do Pará (Sema) na primeira etapa da operação Guardiões da Amazônia — ação do governo paraense que antecederia a deflagração do movimento da PF.

Populares chegaram a tocar fogo em pneus jogados sobre uma das pontes da rodovia PA-150, que corta Tailândia ao meio, para impedir que 15 caminhões contratados pelo governo do estado transportassem as toras de madeira apreendidas que estão guardadas nos pátios das próprias madeireiras.

Também foram fechados todos os acessos aos pátios das madeireiras Taiplac, Primavera e G.M Sufredini Industrial, as que sofreram as maiores baixas na operação Guardiões da Amazônia. Na madeireira Taiplac, os fiscais do Ibama encontraram mais de 5 mil metros cúbicos de toras armazenadas, todas cortadas ilegalmente.

Em operações anteriores, o Ibama apreendia a madeira, mas a deixava nos pátios das serrarias, com o próprio madeireiro como fiel depositário. Na maioria das vezes, a madeira era extraviada e muitas vezes retirada de forma legal graças a liminares obtidas na Justiça. (Correio Braziliense)

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