Império em decadência
O efeito colateral da globalização, quem diria, atingiu em cheio o maior Império econômico do mundo.
Quem poderia imaginar que a alguns meses atrás as instituições financeiras do todo poderoso Tio Sam, aceitariam a ajuda internacional, inclusive do Banco Central brasileiro, para os banqueiros americanos sairem da encrenca em que se meteram, as voltas com a especulação de empréstimos de alto riso, sem garantias reais, para manter a "bolha" imobiliária que mantém 2 de cada 10 empregos americanos?
A paranóia americana reflete-se em ações protecionistas num país que sempre se orgulhou de ser a Meca da livre iniciativa.
Um dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos, o Bear Stearns, recebeu na última sexta-feira fundos de emergência, no mais recente sinal de que a crise de retração de crédito está afetando seriamente corporações financeiras americanas {BBC}.
O Citi Corp, maior instituição financeira do globo -- americana -- com faturamento em 2007 de US$ 81,7 bilhões, amargou um prejuízo operacional que desabou seu lucro líquido no mundo para irrisórios US$ 3,6 bilhões. O interessante, no entanto, é que as operação do Citi no Brasil, apesar de representarem 1% dos negócios do conglomerado, obtiveram a 4.a posição mundial e a 1.a em lucro líquido do banco.
Segundo o diretor-executivo do Bear Stearns, Alan Schwartz, os recursos para salvar-lhe a pele, virão, em parte, de um rival, o JP Morgan Chase, e do New York Federal Reserve Bank. O montante da ajuda não foi revelado.
Segundo o cientista político americano Parag Khanna, especializado nas relações entre os Estados Unidos e os países emergentes. Em entrevista esta semana para a revista EXAME a respeito de como os candidatos americanos à Presidência estão abordando o comércio exterior na atual campanha eleitoral. O especialista revela nas entrelinhas que o eleitor americano está "paranóico" com o que consideram, agora, as duas maiores ameaças ao American Way of Life. “China e Índia são vistas como ameaças aos empregos dos americanos”, destaca Khama em sua análise.
Em entrevista o especialista esclareceu os seguintes tópicos:
1 - O que mais tem chamado sua atenção no debate econômico dos candidatos?
Há um tom protecionista nos discursos dos candidatos. É uma resposta às pesquisas que mostram que os eleitores estão com medo da globalização. Para muitos americanos, ela é responsável pela perda de postos de trabalho no país.
2 - Quais seriam as características dessa nova onda protecionista?
O protecionismo hoje não se resume a impor barreiras econômicas, como é o caso dos subsídios à agricultura. Basta lembrar o caso do fundo soberano do governo de Dubai, que comprou em 2006 uma empresa que administrava terminais nos Estados Unidos. Para os americanos, seria um erro deixar uma empresa importante do setor de infra-estrutura cair nas mãos dos árabes. Por isso, o negócio acabou sendo desfeito. Foi um caso de protecionismo gerado por pressões políticas, algo que tende a se tornar cada vez mais freqüente.
3 - Quais os riscos de uma nova onda protecionista para o Brasil e os demais países da América Latina?
A região não é o alvo principal. O sentimento "anti" alguma coisa é muito mais contra a Índia e a China. A América Latina tende a ser vista mais como parceira. Investir na região torna os Estados Unidos mais competitivos contra a Ásia.
4 - Uma questão especialmente sensível ao Brasil é a do etanol, com as taxas cobradas pelos Estados Unidos para a importação do produto e os subsídios concedidos aos americanos para a fabricação do combustível. Há chances de isso mudar com a eleição de um novo presidente?
Acho que os subsídios continuarão porque o lobby por trás disso -- incluindo certas empresas de agribusiness bem como grandes investidores e especuladores -- está lucrando alto com a atual política.
5 - Qual seria a política econômica ideal dos Estados Unidos para a América Latina?
O próximo presidente deveria investir em programas de ajuda econômica e social dos Estados Unidos para os países da América Latina, em áreas como infra-estrutura, indústria e agricultura.
6 - Considerando os discursos e as propostas da campanha atual, esse cenário pode mudar com a eleição do próximo presidente?
Ainda não vi proposta nenhuma. Até agora, a América Latina é citada por eles apenas no contexto de debate dos problemas de imigração.
7 - Há poucas semanas, noticiou-se um encontro entre Samantha Power, uma das principais assessoras de Barack Obama para assuntos internacionais, com Antonio Patriota, embaixador brasileiro nos Estados Unidos. É um sinal de que a América Latina pode começar a entrar na pauta das eleições americanas?
Ainda é muito cedo para afirmar o que vai acontecer. O importante é que o novo presidente não repita o erro de George W. Bush, que chegou ao poder prometendo novas políticas para a região, mas pouco fez de prático.
Quem poderia imaginar que a alguns meses atrás as instituições financeiras do todo poderoso Tio Sam, aceitariam a ajuda internacional, inclusive do Banco Central brasileiro, para os banqueiros americanos sairem da encrenca em que se meteram, as voltas com a especulação de empréstimos de alto riso, sem garantias reais, para manter a "bolha" imobiliária que mantém 2 de cada 10 empregos americanos?
A paranóia americana reflete-se em ações protecionistas num país que sempre se orgulhou de ser a Meca da livre iniciativa.
Um dos principais bancos de investimento dos Estados Unidos, o Bear Stearns, recebeu na última sexta-feira fundos de emergência, no mais recente sinal de que a crise de retração de crédito está afetando seriamente corporações financeiras americanas {BBC}.
O Citi Corp, maior instituição financeira do globo -- americana -- com faturamento em 2007 de US$ 81,7 bilhões, amargou um prejuízo operacional que desabou seu lucro líquido no mundo para irrisórios US$ 3,6 bilhões. O interessante, no entanto, é que as operação do Citi no Brasil, apesar de representarem 1% dos negócios do conglomerado, obtiveram a 4.a posição mundial e a 1.a em lucro líquido do banco.
Segundo o diretor-executivo do Bear Stearns, Alan Schwartz, os recursos para salvar-lhe a pele, virão, em parte, de um rival, o JP Morgan Chase, e do New York Federal Reserve Bank. O montante da ajuda não foi revelado.
Segundo o cientista político americano Parag Khanna, especializado nas relações entre os Estados Unidos e os países emergentes. Em entrevista esta semana para a revista EXAME a respeito de como os candidatos americanos à Presidência estão abordando o comércio exterior na atual campanha eleitoral. O especialista revela nas entrelinhas que o eleitor americano está "paranóico" com o que consideram, agora, as duas maiores ameaças ao American Way of Life. “China e Índia são vistas como ameaças aos empregos dos americanos”, destaca Khama em sua análise.
Em entrevista o especialista esclareceu os seguintes tópicos:
1 - O que mais tem chamado sua atenção no debate econômico dos candidatos?
Há um tom protecionista nos discursos dos candidatos. É uma resposta às pesquisas que mostram que os eleitores estão com medo da globalização. Para muitos americanos, ela é responsável pela perda de postos de trabalho no país.
2 - Quais seriam as características dessa nova onda protecionista?
O protecionismo hoje não se resume a impor barreiras econômicas, como é o caso dos subsídios à agricultura. Basta lembrar o caso do fundo soberano do governo de Dubai, que comprou em 2006 uma empresa que administrava terminais nos Estados Unidos. Para os americanos, seria um erro deixar uma empresa importante do setor de infra-estrutura cair nas mãos dos árabes. Por isso, o negócio acabou sendo desfeito. Foi um caso de protecionismo gerado por pressões políticas, algo que tende a se tornar cada vez mais freqüente.
3 - Quais os riscos de uma nova onda protecionista para o Brasil e os demais países da América Latina?
A região não é o alvo principal. O sentimento "anti" alguma coisa é muito mais contra a Índia e a China. A América Latina tende a ser vista mais como parceira. Investir na região torna os Estados Unidos mais competitivos contra a Ásia.
4 - Uma questão especialmente sensível ao Brasil é a do etanol, com as taxas cobradas pelos Estados Unidos para a importação do produto e os subsídios concedidos aos americanos para a fabricação do combustível. Há chances de isso mudar com a eleição de um novo presidente?
Acho que os subsídios continuarão porque o lobby por trás disso -- incluindo certas empresas de agribusiness bem como grandes investidores e especuladores -- está lucrando alto com a atual política.
5 - Qual seria a política econômica ideal dos Estados Unidos para a América Latina?
O próximo presidente deveria investir em programas de ajuda econômica e social dos Estados Unidos para os países da América Latina, em áreas como infra-estrutura, indústria e agricultura.
6 - Considerando os discursos e as propostas da campanha atual, esse cenário pode mudar com a eleição do próximo presidente?
Ainda não vi proposta nenhuma. Até agora, a América Latina é citada por eles apenas no contexto de debate dos problemas de imigração.
7 - Há poucas semanas, noticiou-se um encontro entre Samantha Power, uma das principais assessoras de Barack Obama para assuntos internacionais, com Antonio Patriota, embaixador brasileiro nos Estados Unidos. É um sinal de que a América Latina pode começar a entrar na pauta das eleições americanas?
Ainda é muito cedo para afirmar o que vai acontecer. O importante é que o novo presidente não repita o erro de George W. Bush, que chegou ao poder prometendo novas políticas para a região, mas pouco fez de prático.
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