Jazz: o elogio da diversidade
Foi na França, sob os dedos do guitarrista de origem cigana Django Reinhardt, que nasceu, nos anos 30, a idéia de um jazz original, libertado do modelo americano.
Sete décadas depois, o jazz continua em plena forma na França e seu único problema é a diversidade e a extensão de sua oferta estética.
Julien Lourau
Especialidades: Acreditávamos estar acabada a época em que o jazz francês resumia-se à guitarra manouche (cigana) e ao acordeão swing. Eis que eles estão de novo nos palcos. Nas mãos de gerações que cresceram na tradição, porém expostas à diversidade do mundo moderno refletida na obra polimórfica de Bireli Lagrène: a guitarra manouche tirou proveito das afinidades com a canção francesa (Sanseverino) e da irrupção, ao seu lado, de um acordeão totalmente descomplexado para reivindicar sua herança popular, com o estilo New Musette de Richard Galliano. Este último mostrou a seus numerosos discípulos o caminho para um acordeão cosmopolita, trilhando de novo as estradas que percorreu o instrumento, no inicio do século XX, quando se dispôs a conquistar o mundo, do Brasil aos Bálcãs.
Mestiçagens: Paris é o lugar onde todos os caminhos se cruzam. Vem gente dos quatro cantos da Europa e dos Estados Unidos para recrutar baixistas, bateristas e percussionistas africanos, antilheses ou magrebinos, enquanto outros vêm confrontar suas raízes com outros ritmos (como o guitarrista Nguyen Lê, de origem vietnamita, com seu conjunto Maghreb & Friends). É nessa capital musical acolhedora que se encontram o italiano Paolo Fresu, o húngaro Gabor Gado, o belga Davide Linx ou o pianista bósnio Bojan Z (de Zulfikarpasic), que iniciou nos ritmos balcânicos o saxofonista Julien Lourau. Este último acaba de lançar, em 2007, Vs Rumbiaberta, um disco de rumba cubana gravado com músicos latinos que se encontraram na capital francesa.
Padrinhos: Entre os veteranos que mantêm contato com as novas gerações, encontramos um italiano (Ricardo del Fra) e um suíço (Daniel Humair). O primeiro, ex-baixista de Chet Baker e atual diretor do curso de jazz do Conservatório Nacional Superior de Paris, reuniu, no âmbito do Jazzoo Project, alguns dos mais brilhantes de seus ex-alunos. O segundo mergulha sua bateria na fonte da juventude de seu Baby Boom: o guitarrista Manu Codja , o contrabaixista Sébastien Boisseau, os saxofonistas Mathieu Donarier e Christophe Monniot são representantes de uma nova guarda que, seguindo o modelo do padrinho, privilegia a elegância do gesto e a exigência da forma, longe dos dogmas vanguardistas e da timidez dos tradicionalistas.
Capital: As casas noturnas parisienses são locais de confrontos e confraternização entre os herdeiros dos grandes modelos do jazz americano (Pierrick Pédron), liberados (irmãos Belmondo) e meio malucos (Le Sacre du Tympan). Recentemente, surgiram as mulheres, como maestrinas ou virtuoses de instrumentos de reputação viril como o trompete (Airelle Besson) ou a bateria (Anne Paceo). Numa noite, podemos descobrir ao acaso a saxofonista Géraldine Laurent tocando entre as mesas de um bar de bairro. No dia seguinte, seu nome corre de boca em boca. Em janeiro de 2007, ela partiu para Nova Iorque como representante da França em encontros internacionais e está no sumário do New York Times.
Géraldine Laurent
Regiões: Outros preferem manter-se distantes das pressões da capital com o objetivo de preservar sua independência. Foi na qualidade de filho da região de Gex (Jura, no leste da França) e de freqüentador da cena eletro-hip-hop de Lausanne que Erik Tuffaz criou, longe de Paris, o quarteto que se tornou uma das locomotivas do legendário selo Blue Note. Assim, da mesma forma foram criados cenários originais em Marselha, Lyon, Mâcon, Lille, etc. Nantes é um verdadeiro viveiro, que vem crescendo há dez anos em torno do saxofonista Alban Darche e das várias ramificações de seu conjunto, o Gros Cube. Em 2006, ele lançou, em trio, o CD Trickster, um dos discos mais tranquilamente groovy da temporada.
Franck Bergerot, redator-chefe adjunto da revista Jazzman
Onde ouvir jazz em Paris?
No coração de Paris, a rua dos Lombards é absolutamente inevitável. Vai-se do Duc des Lombards, o mais clássico, ao Baiser Salé , o mais mestiço, sem esquecer os Sunset e Sunside, os mais na moda. Seria um erro, no entanto, restringir-se a essas quatro casas: os futuros astros do Lombards apresentam-se freqüentemente no Franc Pinot (o mais be-bop), na Île Saint Louis, o 7 lézards (mais audacioso) no Marais ou o Autour de Minuit na rue Lepic (o mais clássico e ao mesmo tempo o mais eclético). Sempre em Paris – e para os que gostam de se arriscar – há o Voûtes, no bairro da Grande Biblioteca (Biblioteca Nacional da França, no 13o distrito), o Olympic, ao norte do Goutte d’Or o Zèbre em Belleville , ou o Atelier du Plateau, nas Buttes Chaumont. É possível aventurar-se até as portas de Paris – sempre perto de uma estação de metrô – no Jazz Club Lionel Hampton do Hotel Méridien da porte Maillot, no Trabendo do Parque de La Villette (onde está a orquestra residente Paris Jazz Big Band), no Triton da Porte des Lilas, (alternativa ao consenso da rua dos Lombards) ou então no Instants Chavirés (refúgio do radicalismo), em Montreuil.
Rádio
Hoje, graças a Internet, podemos ouvir, no mundo todo, as estações de rádio que colocam o jazz francês em evidência France Musique (http://www.radiofrance.fr/) permite ouvir suas transmissões em arquivo depois da transmissão ao vivo. Le Jazz probablement (programa temático), Jazz de pique jazz de cœur, (encontro semanal com um músico), À l’improviste (em torno da improvisação), Jazz Club ( transmissão ao vivo das casas noturnas parisienses), Jazz sur le vif (transmissão das apresentações de Radio France). Para ouvir transmissões ao vivo é bom não esquecer de TSF (http://www.tsfjazz.com/) que transmite jazz 24 horas por dia, todos os dias da semana.
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