Surpresas marcam o novo cenário musical francês

Lá onde menos se esperava

Ainda segundo a Label France, a menos que se considere o rock, como em todo o mundo, como um termo genérico ao qual agreguem-se todas as formas de música popular. Nesse caso, o melhor do rock francês estaria lá onde menos se esperava: na famosa música eletrônica, hoje mais aberta, graças a bandas como Phoenix ou Air. Os primeiros, autores de três álbuns que oscilam entre o pop ultra-melódico inspirado pelos anos 70 americanos e um rock diferente no estilo de The Strokes, conseguem ocupar um espaço no cenário internacional, onde suas origens francesas encontram-se totalmente dissipadas.

Idem para o duo Air, que pertence à mesma turma e cujos álbuns e diversos projetos paralelos (músicas, filmes ou balés) chegam a uma espécie de universalismo que faz deles os herdeiros de Serge Gainsbourg – ainda mais depois de terem composto e produzido um álbum com sua filha, Charlotte, em 2006 [ver Label France n° 65] – e de Pink Floyd.

Em menor medida, um outro duo, batizado de Aaron, que acaba de lançar seu primeiro álbum na esteira de um inesperado sucesso, o single U-Turn (Lili), também faz um tipo de mistura de identidade ao flertar com o trip-hop.

Outro duo, desta vez misto, o Cocoon propõe um folk-pop despojado, também em inglês, que o levou a conquistar o cobiçado prêmio do concurso “Aqueles que precisamos descobrir” (Ceux qu’il faut découvrir – CQFD) organizado todo ano pela revista Les Inrockuptibles.

A dupla AaRONLirismo literário e rock visceral
A mais sólida e duradoura tendência do rock francês continua sendo a que deve seu surgimento à banda Noir Désir, ou seja, o encontro, ou até mesmo colisão, de um certo fraseado literário e lírico com as energias renováveis do rock, do folk e do punk.

A banda Luke, com seu segundo álbum (La Tête en Arrière, 2004), que vendeu na França 200.000 cópias, inscreve-se nessa linha, com os amplificadores no volume máximo e as vozes rasgadas. Em turnê com a banda amiga, o Deportivo, cujo primeiro trabalho também fez muito sucesso, comprovaram juntos, em 2006, a possibilidade de existência de um rock visceral francês, livre das revoltas pós-adolescentes e cuja verdade sem máscara está no palco.

Os tablados nos quais saltam feito um exército de molas enlouquecidas também é o lugar preferido do Dionysos – banda francesa inigualável no palco – para dar destaque às canções já turbulentas de seus CDs, esse folk-rock de inspiração americana, mas alimentado pela loucura poética francesa à Raymond Queneau.

Mais realistas e ao mesmo tempo utópicos, os textos de Mickey 3D são de uma dinâmica musical em que se combinam com muita habilidade de maneira um tanto astuta o nervosismo do rock e as luzes do pop com o rigor tradicional da canção francesa.

Quanto às mulheres, enquanto a Rita Mitsouko, banda de referência dos anos 80 liderada por Catherine Ringer, volta à cena, a emancipação do rock revela-se, com a radiante Grande Sophie (Et Si C’était Moi, 2004) e a nervosa Mademoiselle K (Ça Me Vexe, 2006). Duas alforriadas, mais mandonas do que obedientes, respectivamente inspiradas em Chrissie Hynde (The Pretenders) e PJ Harvey.

No setor dos solitários, Benjamin Biolay, que foi precipitadamente identificado como parte da nova canção francesa (por causa de suas inspiradas colaborações com Keren Ann, Henri Salvador e Françoise Hardy), cria, por sua vez, um rock sofisticado que se inspira tanto em Gainsbourg quanto na new wave sintética de Taxi-Girl, pioneira do gênero na França. Em seus dois últimos trabalhos (À l’Origine, 2005, e o lançado em setembro de 2007 Trash Yéyé) encontram-se alguns toques hip-hop perfeitamente integrados aos seus textos. Por si só, ele já bastaria para desmentir hoje John Lennon.

Texto original de Christophe Conte, jornalista da revista semanal Les Inrockuptibles

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