Depois de Cháves e Obama, Lula vai ao encontro de Ahmadinejad

Foi por pouco
Na verdade, foi apenas um detalhe técnico que impediu o presidente Mahmud Ahmadinejad, personagem para lá de discutido, de visitar o Brasil em setembro. Ele esteve na Bolívia, depois de ter discursado na ONU, em Nova York, e só não esticou até Brasília porque não havia vôo disponível na janela de oportunidade que a agenda oferecia. O encontro fora combinado durante breve encontro entre Lula e Ahmadinejad na posse do presidente do Equador, Rafael Correa, em janeiro de 2007.

Do ponto de vista iraniano, o Brasil seria a “jóia da coroa” de uma ofensiva diplomática sustentada na América Latina. Com Hugo Chávez no papel de cicerone, Ahmadinejad coleciona amigos na região: o boliviano Evo Morales, o nicaragüense Daniel Ortega. E reaquece a amizade com Cuba. Do ponto de vista de Brasília, lembra essa fonte do Itamaraty, o Irã é a relação mais antiga no Oriente Médio, mantida desde 1903. E, mais importante nos dias de hoje, uma parceria promissora: o comércio bilateral chegou a US$ 1,8 bilhão em 2007.

...e de Bagdá para cá
Mas a política “Lawrence da Arábia” do presidente Lula também insufla a brasa adormecida no conflagrado Iraque, com quem o Brasil manteve nos anos 1970 e 1980 uma parceria especialmente lucrativa para ambas as partes. Apesar das dificuldades incessantes no país, três ou quatro ministros iraquianos virão a Brasília ainda este ano, começando pelo titular do Comércio. Em 2005, o presidente Jalal Talabani, então recém-eleito, foi uma das atrações da primeira cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa).
Por ironia, o Iraque tem sido laboratório involuntário para uma espécie de joint venture política entre Estados Unidos e Irã, ambos empenhados na sustentação do frágil governo do premiê Nuri Al-Maliki. A experiência pode se repetir no Líbano, na forma de uma coalizão entre o Hezbollah e a maioria parlamentar pró-ocidental.

Só no ano que vem

A coluna apurou, em primeira mão, que foi adiada para o início de 2009, possivelmente, a segunda cúpula da Aspa, prevista originalmente para o próximo semestre. O Catar, sede do encontro, prefere realizá-lo o mais próximo possível da cúpula da Liga Árabe, para garantir maior freqüência de chefes de Estado e governo. Fica adiada também a visita que o presidente Lula está determinado a fazer a Israel e Palestina — a idéia é aproveitar a viagem a Doha também para uma escala na Arábia Saudita, tirada da agenda em 2003, a pedido do reino, que estava passando por uma onda de ações terroristas voltada contra estrangeiros.

Agora faltam dois

Assim como tem ocorrido na África, a investida brasileira no Oriente Médio se faz acompanhar pela instalação de novas embaixadas com residência. A última delas foi a de Omã, inaugurada no início do mês. Agora, nas contas do Itamaraty, faltam apenas Iêmen e Barein para completar o quadro das representações na região, que incluem também o consulado em Beirute, que teve o batismo de fogo na miniguerra de 2006 entre Israel e o Hezbollah. Desde 2003, com o empurrão dado pela cúpula da Aspa, os negócios com o mundo árabe crescem ano a ano. Para o conjunto da região, o saldo acumulado representa um aumento na casa de 100%.

Desaniversário

Paz foi a palavra mais ouvida na sessão promovida quinta-feira pela Sociedade Árabe-Palestina para lembrar os 60 anos da fundação de Israel, dia que os árabes batizaram de An-Nakba (“catástrofe”), em referência aos milhares de palestinos que perderam suas casas. A sessão foi aberta pelo embaixador do Sudão, Rahamtalla Mohamed Osman, decano dos diplomatas árabes em Brasília. O embaixador palestino, Ibrahim Mohamed Alzeben, fechou o encontro com um discurso pedindo a unidade de “todos os grupos que lutam contra a ocupação, inclusive nossos irmãos do Hamas”, em torno da Autoridade Nacional Palestina. Participaram nove embaixadas, entre elas a de Cuba e África do Sul. (Pedro Paulo Rezende para o Correio Braziliense)

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