Artigo – Quando o país dorme

Por Rubem Azevedo Lima

A sucessão de escândalos políticos e negociais no país não tem fim. Com denúncias de envolvimento de figurões do governo, um dos últimos era o da Varig, vendida, na calada da noite, por US$ 24 milhões a um grupo cujos recursos eram de origem desconhecida. Após 10 meses, o comprador revendeu-a por US$ 320 milhões. Um negócio da China.

Igual negócio deve ser a Transoceânica, na Amazônia, do Acre (Rio Branco) ao Pacífico, via Bolívia e Peru. Seu custo? US$ 1 bilhão, conforme denúncia do engenheiro Flávio Garcia, na Tribuna da Imprensa.

Segundo a Federação Nacional de Engenheiros, a rodovia cruzará os Andes a 5 mil metros do nível do mar, à altura de Cuzco, para chegar aos portos peruanos Ilo, Materani e San Juan. Além de outros problemas, havia projeto de menor distância e a pouco mais de 3 mil metros de altitude, para ligar Cruzeiro do Sul (Acre) a Pucalpa (Peru), no Pacífico.

A nova estrada escoará produtos da biodiversidade amazônica do Brasil, Peru e Bolívia, de interesse dos importadores asiáticos — madeiras, minérios e outros —, mas sem sistema de proteção da floresta nem de controle das exportações, isentas de tributos e taxas, pela Lei Kandir.

De nossa Amazônia, sabe-se que as devastações, no começo, dão lucro, nas áreas de fronteira. Mas, após 10 anos, em geral, “os indicadores socioeconômicos pioram e esses municípios entram em colapso social, econômico e ambiental”, como contou Adalberto Veríssimo, no Correio Braziliense (9.6.2008). Que será da Amazônia, sob exploração globalizada por mais uma década, pela ganância de poderosos grupos internacionais?

Portugal fez as contas de sua globalização nos últimos 10 anos: 356 empresas ali instaladas, findas as chances de bons lucros, foram para outros países, deixando 90 mil desempregados. É a lógica da globalização.

Os feitos materiais desses hunos globalizadores deram-lhes ganhos fabulosos, e alguns portugueses enriqueceram. Hoje, o país está em crise e começa a ficar difícil manter os avanços sociais. Resultado: os pobres, os trabalhadores e os jovens estão a ver navios. Mas Portugal, globalizado, não teve, em 10 anos, escândalos como os nossos, algo que está virando praxe e já não dá folga aos cofres públicos, nem quando o país dorme.

Publicado no Correio Braziliense

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