Editorial Folha de S. Paulo

Péssimo exemplo
É PREOCUPANTE a reação da direção da Universidade de São Paulo diante de um caso de suposto plágio que envolve o diretor do Instituto de Física e o vice-diretor da Fuvest. Os dois lideram grupo que assinou ao menos três estudos com trechos copiados de trabalhos de outros pesquisadores, sem a devida citação da fonte.

Foi criada uma comissão para investigar o incidente, mas não há resultados conhecidos até o momento. A USP diz que não pode revelar as conclusões da sindicância antes de sua Comissão de Ética se pronunciar. Nada justifica que uma suspeita simples de elucidar como essa permaneça sem solução há 14 meses. O fato é de conhecimento público desde junho de 2007.

Além do jogo de interesses paroquiais, o caso coloca em dúvida os procedimentos da universidade, que deveriam ser pautados pelo rigor, pela isenção e pelo respeito à produção intelectual.

A evolução das comunicações multiplica as possibilidades de fraude acadêmica, mas também aumenta a vigilância. A pressão crescente sobre os pesquisadores, para que aumentem sua produtividade, coincide com a escalada das suspeitas de plágio. O tema incomoda atualmente algumas das mais prestigiosas universidades do planeta, e a capacidade de combater tais abusos passa a ser um requisito para a preservação do seu status.

No caso das suspeitas envolvendo a Física da USP, o desfecho do episódio é o que menos importa. Grave é a possibilidade de que o mais importante centro universitário do Brasil deixe de tomar as medidas necessárias para defender o seu maior ativo: o mérito acadêmico.

Prestígio e credibilidade não se adquirem com manobras de gabinete, mas mediante rigorosa apuração. Falta de clareza e acertos corporativos fazem mal para a imagem de uma instituição que é referência nacional em ensino e pesquisa.

A demora e a falta de transparência com que a Universidade de São Paulo trata uma investigação de plágio são um péssimo exemplo transmitido para instituições de ensino superior em todo o Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas