Gary Dymski, diretor do Centro da Universidade da Califórnia em SacramentoCom anos de estudo dos mercados imobiliário e de crédito, Gary Dymski, professor da Universidade da Califórnia, esteve ontem em Porto Alegre a convite do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFRGS. Antes de fazer palestra, deu entrevista a Zero Hora em que considerou “grande” a ameaça de quebra em cascata no sistema financeiro – o chamado risco sistêmico –, mas criticou o programa de ajuda do governo americano. Veja os principais trechos:
Zero Hora – Qual é o risco de uma quebradeira?
Gary Dymski – Neste momento, o risco sistêmico é muito grande, especialmente de derretimento dos mercados de ativos.
ZH – O pacote do governo Bush pode resolver?
Dymski – Não, eles erraram o alvo totalmente. Esse programa pretende remover dos balanços das instituições créditos de má qualidade, a seu critério. É para salvar as instituições. Ainda que a quantidade de dinheiro seja enorme, não é suficiente. A economia americana gera ao redor de US$ 3 trilhões de novos créditos a cada ano. A maior parte vem sendo gerada por instrumentos inovadores (do tipo que está no centro da crise). Se a troca se der pelo valor real, não vai ajudar as instituições, e se for pelo valor de face, não haverá punição. Enquanto isso, o mercado imobiliário sequer é abordado.
ZH – Que medidas poderiam ser efetivas?
Dymski – Algo tem de ser feito. As hipotecas subprime (de alto risco) foram criadas para explorar pessoas pobres, especialmente latinos. É preciso criar um sério programa de acesso à moradia. Quando vemos os tensos debates no Congresso, há um pedido para que se faça algo pelas pessoas. E, quando vamos procurar alguém que se defina como vítima, que acredite merecer compensações, é difícil achar. Ninguém admite que foi enganado. Na questão financeira, é necessário fortalecer a regulação. O setor deve se recapitalizar sozinho. As pessoas de Wall Street – entre as quais estão velhos amigos, mas eles são canalhas agressivos – vão reclamar, mas é o único jeito.
ZH – O que pode ser feito antes de um novo sistema regulatório ser definido?
Dymski – Precisamos de um líder nacional capaz de ganhar a confiança do país, que explique passo a passo um plano de recuperação. O que Bush tem dito não funciona mais. O sistema financeiro pode sobreviver até fevereiro (logo após o presidente eleito em novembro tomar posse, o que ocorrerá em janeiro).
ZH – Como o senhor vê o Brasil nesse cenário?
Dymski – Tenho lido e ouvido que o Brasil está muito bem, isolado desses problemas. Eu não iria tão longe. O país está melhor do que já foi, mas não atingiu a etapa de tirar a roupa e ir à praia. Não neste momento. Há um padrão complexo de interdependência de mercados externos, e a China está desacelerando, a Índia também. A Europa está mais frágil, falta capacidade para coordenar uma reação. Então o Brasil está bastante vulnerável.
Fonte: Zero Hora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário