Renan escala aliados para blindar Sarney no Senado
Governistas alegam que presidente da Casa só pode ser punido por atos desta legislatura
Oposição critica composição do Conselho de Ética e diz que aliados tentam usar agora mesma tática que livrou Renan de acusações
Joedson Alves/Folha Imagem
O presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP), ontem, ao deixar o prédio da Casa
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), indicou seus aliados mais próximos para compor o Conselho de Ética com a missão de blindar o senador José Sarney (PMDB-AP), alvo de representação por quebra de decoro parlamentar e de duas denúncias que podem lhe custar o mandato.
Os governistas têm 10 dos 15 integrantes do conselho. Renan repete a fórmula que o ajudou a enterrar representações que enfrentou no conselho em 2007 quando foi acusado de ter contas pagas por lobista.
Ele indicou os peemedebistas Wellington Salgado (MG), Almeida Lima (SE), Gilvam Borges (AP) e Paulo Duque (RJ) como titulares do colegiado. Novo no grupo, Paulo Duque já deu demonstrações de fidelidade ao grupo de Renan ao impedir por três vezes a instalação da CPI da Petrobras.
Salgado já sinalizou que defenderá o presidente do Senado. "Estão responsabilizando Sarney por fatos que ocorreram antes de ele chegar ao cargo. A questão dos atos secretos envolve outros senadores."
O grupo tem feito a defesa de Sarney no plenário. Sobre a denúncia de que 15 parentes e agregados do senador estavam empregados no Senado por meio de atos secretos, Salgado afirmou: "Nós temos um problema: os nossos filhos terem os nossos sobrenomes".
A oposição criticou as escolhas. "Não tenho dúvidas de que estão usando, agora com Sarney, a mesma tática que usaram para blindar o Renan", disse a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que relatou processo contra Renan.
Por ser o maior partido, o PMDB pode indicar o presidente do conselho. O partido, porém, negocia a vaga com as siglas da base governista de forma a amarrar o apoio a Sarney.
O nome mais provável para a presidência é o do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) -um dos poucos que não se manifestaram em plenário sobre a crise envolvendo Sarney.
Valadares foi procurado por Aloizio Mercadante (PT-SP), que lhe propôs a indicação. A decisão sobre o presidente deve ser tomada na segunda, e a expectativa é que o conselho seja instalado na próxima semana.
O PSOL entrou com representação contra Sarney e Renan por quebra de decoro por causa dos atos secretos -663 deixaram de ser publicados em 14 anos. Parentes de Sarney foram nomeados e exonerados da Casa de forma secreta.
Algumas dessas medidas foram adotadas neste mandato. O conselho não pode investigar fatos anteriores à atual legislatura.
Tanto Sarney como Renan negam ter conhecimento de que os atos não eram publicados. Uma comissão de sindicância apontou o ex-diretor-geral Agaciel Maia e o ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi como responsáveis pelos atos secretos. Agaciel ficou 14 anos no cargo com o apoio de Sarney, que já presidiu o Senado três vezes.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), ingressou com mais uma denúncia no conselho e a encaminhou ao procurador-geral. Como não é assinada pelo partido, a denúncia só terá caráter de representação se acolhida pelo colegiado. Ele pede investigação sobre o suposto desvio de recursos da Petrobras repassados à Fundação Sarney. A outra denúncia numera 18 fatos envolvendo o senador em irregularidade administrativa.
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