O "Irrevogável" Mercadante
“Um discurso envergonhado” define a atitude do senador Aloisio Mercadante de não renunciar à liderança do PT
A manobra deve custar-lhe caro pois, parte da aguerrida militância do partido, enxergava nele a possibilidade real de sacudir o partido e colocá-lo num caminho de resgate às convicções que levaram seus fundadores na construção de um partido focado num socialismo moderno. A social democracia que o PSDB jamais construirá.
Reproduzo reportagem do Correio Braziliense sobre o enterro político de Mercadante que, em 23 minutos, fez malabarismo de oratória para justificar permanência no cargo de líder da bancada petista no Senado. No fim, pediu desculpas aos militantes que cobraram a saída dele do cargo.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) subiu à tribuna do Senado com uma missão difícil de cumprir. Precisou de 23 minutos para explicar ao eleitorado como, em 24 horas, havia desistido de deixar o cargo de líder da bancada petista na Casa em caráter irrevogável. Fez uma costura complexa para mandar seu recado. Iniciou o pronunciamento dizendo-se desiludido e frustrado, enumerando erros cometidos pelo PT e pelo governo. Disse que era um sacrifício permanecer na liderança e reconheceu que havia perdido interlocução com outras correntes do plenário, como o presidente José Sarney (PMDB-AP). Depois, colocou nas costas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a culpa pela desistência.
Leu uma carta enviada pelo presidente na manhã de ontem, pouco antes de iniciar seu pronunciamento. No documento, Lula pede a Mercadante que permaneça no cargo. “Mais uma vez na minha vida, o presidente Lula me deixa numa situação em que eu não tenho como dizer não. Não tenho. Não tenho, como não tive muitas vezes”, justificou, por fim.
A notícia já era esperada. Antes de Mercadante chegar ao plenário, o senador João Pedro (PT-AM) — que chegou a ser cotado para ficar na vaga do paulista na liderança — havia adiantado em seu Twitter o recado. “O Mercadante fica”, escreveu.
Na prática, a permanência do senador paulista na liderança no PT é uma boa saída tanto para ele quanto para a legenda. Com o apoio do Planalto, Mercadante poderá trabalhar para refazer alianças, e garantir um palanque para 2010. O partido, por sua vez, pacifica os rumores sobre um racha interno. “Eu apoio a posição dele. Foi uma medida acertada. Temos que ter uma unidade em torno da candidatura da Dilma e temos que ter unidade para auxiliar o governo. Recuperamos isso”, avaliou o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Solidariedade
Mas Mercadante mandou recados a membros da legenda. Disse, por exemplo, que era petista antes de o PT existir. Ressaltou sua participação na criação e trajetória do partido e do próprio presidente Lula. Enumerou os pares da bancada que lhe foram solidários. Deixou de fora o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que lhe fez críticas públicas, após desavenças por conta da crise de José Sarney. “Ali, naquele momento da história (na fundação do partido), ninguém foi para o PT para ter um cargo. Não foi fácil chegar aonde nós chegamos. Eu estou desde a primeira hora”, disse. Delcídio se filiou ao PT nas eleições de 2002, e chegou a cogitar uma adesão ao PSDB.
Ao final do pronunciamento, Mercadante pediu desculpas aos militantes que cobravam a sua saída. Mas a resposta veio no mesmo veículo que ele usou para dizer que iria deixar a liderança. A página do senador no Twitter foi o púlpito escolhido pelo eleitorado para debater o recuo do senador. “Suas palavras não me sensibilizaram. Onde está a sua dignidade?”, cobrou um internauta.
Comentários
Que decepção !!!