Turbulências na campanha
Eleições 2010
Estratégia de Lula de transformar disputa pelo Planalto em plebiscito entre Dilma e o PSDB é colocada em xeque por causa das possíveis candidaturas de Marina e Ciro, além da rebeldia do PMDB
Dilma: base aliada cobra de Lula preço mais alto para referendar candidatura da ministra
A candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, atravessa o momento mais delicado de campanha. Com a opção do PSB pelo lançamento do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) ao Palácio do Planalto e a quase certa candidatura da senadora Marina Silva (PT-AC), pelo PV, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi colocado em xeque. Os aliados aproveitaram um momento de estagnação da candidata para cobrar mais caro o apoio nos estados e na aliança presidencial.
A mudança do cenário favorável a Dilma Rousseff ocorreu em meio à crise no Senado e às dificuldades do PT (1)em avançar nas conversas sobre as alianças estaduais. A missão de retirar a candidata do marasmo está nas costas de Lula. A primeira é a aliança com o PMDB, que sofre com falta de entendimento em Minas Gerais, Pará, Ceará, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. A segunda é amarrar todos os aliados em torno de Dilma e evitar as candidaturas de Marina e Ciro Gomes. Lula quer transformar a eleição de 2010 em um plebiscito entre o seu governo, representado pela ministra da Casa Civil, e a eventual candidatura do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), representante dos oito anos da administração Fernando Henrique Cardoso. Para os petistas, Serra seria mais fácil de bater do que o também tucano Aécio Neves, governador de Minas Gerais.
Os acordos estaduais são vitais para a sobrevivência do apoio do PMDB. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), um dos defensores da candidatura de Dilma Rousseff, faz um alerta. “Se deixar o jogo solto nos estados, vai ter briga.” Os sintomas das desavenças estão à mostra. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que chegou a ser cotado como vice de Dilma, ameaça se lançar ao governo baiano contra Jaques Wagner (PT). No Pará, o deputado Jader Barbalho deve sair para o Senado com apoio da oposição e contra a governadora Ana Júlia Carepa (PT-PA).
Até mesmo entre alguns parlamentares do PMDB o ceticismo é grande sobre a capacidade de Dilma absorver os votos e a popularidade do presidente Lula.
“Ela se esforça para fazer gestos e cenas, mas não tem o carisma do presidente”, avaliou um parlamentar peemedebista.
O presidente Lula terá hoje reunião com os socialistas sobre o futuro político de Ciro Gomes. O deputado pelo Ceará já disse que decidiu se lançar à Presidência. Mesmo não sendo um dos maiores entusiastas da empreitada, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, prometeu bancar a proposta do colega na reunião com Lula.
Resistência
“A intenção do Lula é fazer um plebiscito, mas o PSB não vai rifar a candidatura do Ciro pelo interesse dos outros partidos”, afirmou o deputado Beto Albuquerque (RS), vice-presidente da legenda. O nome do socialista ganha força diante da resistência da base aliada em acreditar no fôlego da mãe do PAC”. “Ela ainda é uma incógnita”, avaliou o deputado Márcio França (SP). “A nossa prioridade era ter dois candidatos (à Presidência) do bloco do governo”, emendou.
O PSB viu na proposta do PV a Marina Silva uma maneira de se cacifar nas negociações pela disputa presidencial. A avaliação corrente é que a candidatura da senadora à Presidência enfraquece a projeção de Dilma. “Tem candidaturas que são naturais porque trazem um valor simbólico e têm também aquelas que são construídas, que é o caso da Dilma. É uma candidatura sólida, mas tem muito trabalho pela frente. Não vejo ela ter a confiança da base”, diz o presidente do PV, José Luiz Penna.
Enquanto cuida da aliança, Lula mandou Dilma intensificar o esforço de exposição e divulgação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Ela cumpriu agenda no Rio Grande do Norte e no final de semana estará em São Paulo para participar, em Osasco, a quinta maior cidade do estado, de um fórum de tecnologia social. O ato também serve para prestigiar o prefeito da cidade, Emídio de Souza, pré-candidato petista ao governo paulista.
1 - “BALÃO DE ENSAIO”
Com os nomes do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) e da senadora Marina Silva (PT-AC) ventilados para a disputa presidencial, o PT já trabalha com a hipótese de ter a corrida diluída com outros concorrentes. “De repente é até melhor mais candidatos para forçar um segundo turno”, avaliou o ex-senador José Eduardo Dutra, candidato a presidente do PT. “Ainda não sei se é melhor polarizar com o PSDB.” Para a senadora Ideli Salvatti (PT-AC), as defecções na base aliada não passam de balão de ensaio.
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