Carta aberta, de Eliane Sinhasique, para Renato Aragão, o Didi
Carta aberta, de Eliane Sinhasique, para Renato Aragão, o Didi.
Quinta, 23 de maio de 2009.
Querido Didi,
Há alguns meses você vem me escrevendo pedindo uma doação mensal para enfrentar alguns problemas que comprometem o presente e o futuro de muitas crianças brasileiras. Eu não respondi aos seus apelos (apesar de ter gostado do lápis e das etiquetas com meu Nome para colar nas correspondências)...
Achei que as cartas não deveriam sem endereçadas a mim. Agora, novamente, você me escreve preocupado por eu não ter atendido as suas solicitações. Diante de sua insistência, me senti na obrigação de parar tudo e te escrever uma resposta.
Não foi por 'algum' motivo que não fiz a doação em dinheiro solicitada por você. São vários os motivos que me levam a não participar de sua campanha altruísta (se eu quisesse poderia escrever umas dez páginas sobre esses motivos). Você diz, em sua última Carta, que enquanto eu a estivesse lendo, uma criança estaria perdendo a chance de se desenvolver e aprender pela falta de investimentos em sua formação.
Didi, não tente me fazer sentir culpada. Essa jogada publicitária eu conheço muito bem. Esse tipo de texto apelativo pode funcionar com muitas pessoas mas, comigo não. Eu não sou ministra da educação, não ordeno e nem priorizo as despesas das escolas e nem posso obrigar o filho do vizinho a freqüentar as salas de aula. A minha parte eu já venho fazendo desde os 11 anos quando comecei a trabalhar na roça para ajudar meus pais no sustento da minha família. Trabalhei muito e, te garanto, trabalho não Mata ninguém. Muito pelo contrário, faz bem! Estudei na escola da zona rural, fiz Supletivo, estudei à distância e muito antes de ser jornalista e publicitária eu já era uma micro empresária.Didi, talvez você não tenha noção do quanto o Governo Federal tira do nosso suor para manter a saúde, a educação, a segurança e tudo o mais que o povo brasileiro precisa. Os impostos são muito altos! Sem falar dos Impostos embutidos em cada alimento, em cada produto ou serviço que preciso comprar para o sustento e sobrevivência da minha família.
Eu já pago pela educação duas vezes: pago pela educação na escola pública, através dos impostos, e na escola particular, mensalmente, porque a escola pública não atende com o ensino de qualidade que, acredito, meus dois filhos merecem. Não acho louvável recorrer à sociedade para resolver um problema que nem deveria existir pelo volume de dinheiro arrecadado em nome da educação e de tantos outros problemas sociais.
O que está acontecendo, meu caro Didi, é que os administradores, dessa dinheirama toda, não têm a educação como prioridade. Pois a educação tira a subserviência e esse fato, por si só não interessa aos políticos no poder. Por isso, o dinheiro está saindo pelo ralo, estão jogando fora, ou aplicando muito mal. Para você ter uma idéia, na minha cidade, cada alimentação de um presidiário custa para os cofres públicos R$ 3,82 (três reais e oitenta e dois centavos) enquanto que a merenda de uma criança na escola pública custa R$ 0,20 (vinte centavos)! O governo precisa rever suas prioridades, você não concorda? Você pode ajudar a mudar isso! Não acha?
Você diz em sua Carta que não dá para aceitar que um brasileiro se torne adulto sem compreender um texto simples ou conseguir fazer uma conta de matemática. Concordo com você. É por isso que sua Carta não deveria ser endereçada à minha pessoa. Deveria se endereçada ao Presidente da República. Ele é 'o cara'. Ele tem a chave do Cofre e a vontade política para aplicar os recursos. Eu e mais milhares de pessoas só colocamos o dinheiro lá para que ele faça o que for necessário para melhorar a qualidade de vida das pessoas do país, sem nenhum tipo de distinção ou discriminação. Mas, infelizmente, não é o que acontece...
No último parágrafo da sua Carta, mais uma vez, você joga a responsabilidade para cima de mim dizendo que as crianças precisam da 'minha' doação, que a 'minha' doação faz toda a diferença. Lamento discordar de você Didi. Com o valor da doação mínima, de R$ 15,00, eu posso comprar 12 quilos de arroz para alimentar minha família por um mês ou posso comprar pão para o café da manhã por 10 dias.
Didi, você pode até me chamar de muquirana, não me importo, mas R$ 15,00 eu não vou doar. Minha doação mensal já é muito grande. Se você não sabe, eu faço doações mensais de 27,5% de tudo o que ganho. Isso significa que o governo leva mais de um terço de tudo que eu recebo e posso te garantir que essa grana, se ficasse comigo, seria muito melhor aplicada na qualidade de vida da minha família.
Você sabia que para pagar os impostos eu tenho que dizer não para quase tudo que meus filhos querem ou precisam? Meu filho de 12 anos quer praticar tênis e eu não posso pagar as aulas que são caras demais para nosso padrão de vida. Você acha isso justo? Acredito que não. Você é um homem de bom senso e saberá entender os meus motivos para não colaborar com sua campanha pela educação brasileira.
Outra coisa Didi, mande uma Carta para o Presidente pedindo para ele selecionar melhor os ministros e professores das escolas públicas. Só escolher quem, de fato, tem vocação para ser ministro e para o ensino. Melhorar os salários, desses profissionais, também funciona para que eles tomem gosto pela profissão e vistam, de fato, a camisa da educação. Peça para ele, também, fazer escolas de horário integral, escolas em que as crianças possam além de ler, escrever e fazer contas possa desenvolver dons artísticos, esportivos e habilidades profissionais. Dinheiro para isso tem sim! Diga para ele priorizar a educação e utilizar melhor os recursos.
Bem, você assina suas cartas com o pomposo título de Embaixador Especial do Unicef para Crianças Brasileiras e eu vou me despedindo assinando... Eliane Sinhasique - Mantenedora Principal dos Dois Filhos que Pari.
P.S.: Não me mande outra carta pedindo dinheiro. Se você mandar, serei obrigada a ser mal-educada: vou rasgá-la antes de abrir.
PS2: Aos otários que doaram para o criança esperança. Fiquem sabendo, as organizações Globo entregam todo o dinheiro arrecadado à UNICEF e recebem um recibo do valor para dedução do seu imposto de renda. Para vocês a Rede Globo anuncia: essa doação não poderá ser deduzida do seu imposto de renda, porque é ela quem o faz.
PS3: E O DINHEIRO DA CPMF QUE PAGAMOS DURANTE 11(ONZE) ANOS?
MELHOROU ALGUMA COISA NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE DURANTE ESSES ANOS?
BRASILEIROS PATRIOTAS (e feitos de idiotas) DIVULGUEM ESSA REVOLTA...
Isto deveria chegar em Brasília.
Comentários
Como se não tivéssemos a maior carga tributária do planeta, esses bacanas e organizações ainda se arvoram de tentar tirar-nos os parcos recursos que quando sobram, ninguém sabe muito bem para onde vai.
Eles adoram fazer caridade com o chapéu dos outros e isto está virando moda no Brasil.
O que me incomodou durante a briga globo x record é que foi coincidentemente antes do lançamento show "criança esperança" e ao longo dos anos a arrecadação só vem diminuindo mesmo com ampla divulgação da maior rede televisiva do Brasil, com seus astros de maior grandeza apelativa.
Acho que a globo está perdendo sim a sua grandeza e de acordo com o livro a arte da guerra as vezes voce tem que atacar para que seu oponente mostre a sua fragilidade.
Só que neste caso o tiro saiu pela culatra. A recordo acabou de fechar a compra do documentario "cidadão kane" da decada de 90 produzida pela nada mais nada menos que a BBC de Londres.
Acho que o Didi é só um meio que a globo tem para arrecadar estes milhoes de alguns otarios.
Tem instituições mais serias que cuidam de crianças abandonadas com cancer, aids e outras doenças congenitas. Estas as vezes tem mais respeito e precisam mais.
Vamos aguardar o documentário!!
Veja as informações sobre quem produziu e meu comentário sobre essa questão clicando nesse link:
http://blogdovalmutran.blogspot.com/2007/06/rede-globo-e-democracia-da-informao.html
Gráças á JORNALISTAS SÉRIOS Como você essa tal DEMOCRACÍA existe!!!
UM ABRÁÇO!
A prática da caridade para quem ajuda pode ser racionalizada desta forma e apesar de concordar com algumas questões de má-gestão do dinheiro público, não posso deixar de ressaltar o seguinte:
A demanda por ações sociais, em especial para crianças, não pode esperar que os governantes/políticos se concientizem e cumpram com seus deveres.
Entendo a revolta, mas não podemos apontar o dedo e acusar se alguém resolve sujar as próprias mãos e dispor de seu tempo e talento para ajudar ao próximo, tão vítima do sistema quanto nós.
O problema é que nós podemos fazer crítica de barriga cheia, com nossos filhos nas escolas, bem vestidos.
Quem depende realmente de ajuda alheia faz parte da mesma sociedade que nós. Não podemos generalizar que todos que são alcançados pela ajuda social são aproveitadores, então se crianças são ajudadas, aqueles que usam são errados sim, mas aqueles que usam bem não podem ser sacrificados por isso.
Se o governo aplica mal o dinheiro público, que é notório, a própria sociedade é corresponsável por isso. Se uma família recebe indevidamente auxílio que deveria ser apenas para os que precisam, será que o erro não é deste cidadão que se aproveita? Será que devemos abandonar os necessitados porque alguns recebem indevidamente?
Se o Didi se omitisse será que as crianças que são alcançadas pelo seu projeto não estariam nas ruas, sem destino, somando números ao já astronômico contingente de delinquentes e pessoas marginalizadas?
Será que os desmandos do governo justifica que a sociedade abandone seus pares necessitados?
Será que não sabemos discernir que ajudando o próximo estamos ajudando a nós mesmos?
Jonh Lennon já dizia:
“Eu acredito que a figura do pai e do líder são os grandes equívocos de todas as gerações. Todos nós contamos com Nixon ou Jesus ou quem quer que seja; é uma falta de responsabilidade a gente esperar que alguém faça as coisas por nós. Assim, ele nos ajuda ou nós o matamos ou votamos para que saia. Acho que este é o equívoco, ter figuras paternas. É um sinal de fraqueza, cada um tem de sujar as próprias mãos.”
E sujar as próprias mãos em prol dos necessitados é digno de aplausos e não de ironia.
Sinto muito se não me fiz entender, mas somente quem realmente necessita de ajuda é quem pode "julgar" as ações sociais e sua necessidade. A fome, a deseducação, o abandono e a falta de futuro não podem esperar que o "sistema" mude e que os políticos sejam melhores. É urgente!!!
Vou continuar ajudando no que puder. E convido todos a fazê-lo. E nem precisa ser o criança esperança. Ajude no seu próprio bairro.
Abraços a todos.
Rose Duarte
Passos/MG
Quer dizer que a rede Globo, através de seus funcionários, arrecada em nome da campanha criança esperança faz a doação, pela intermediação recebe como doação um recibo que será usado para abater IR das Organizações Globo. Que esculhambação!
Foi uma pena só agora ter tomado conhecimento destas cartas.
Sobre meu ponto de vista ambas estão corretas,embora o ãngulo seja oposto.
O que me espanta são os comentários críticos e fúteis da grande maioria.
Tudo que ambas falaram sobre as mazelas deste país é do conhecimento geral do povo brasileiro.
Somos um bando de incompetentes, incapazes de nos organizarmos a nível Brasil e mudar tudo isto que aí está.
Vejam a revolta no mundo árabe. O exemplo do Japão em devolver parte da ajuda humanitária após a recente tragédia natural.
Vejam nós: Diante de uma catástrofe como a da região serrana, rj- Não se dá dinheiro público à prefeitura pois o dinheiro vai ralo abaixo. Neste caso e assemelhados a intervenção tem que ser federal sem que os recursos passem pelos salafraios.
Por isso, temos que exigir mudanças sérias e urgentes, mas como iniciar?- Não me julgo inteligente para juntar massa popular em todas as capitais deste Brasil. Alguem tem?- Estou disposto a ajudar deixando meus parabens à Eliana Sinhasique e à Rose Duarte.
Meu email: brumnet@globo.com ou cosbarbosa@gmail.com
Escreveu: Cosme Cabral
Busco ampliar e/ou me juntar a todos os brasileiros(as) inconformados com a roubalheira existente em todos os níveis de serviços públicos deste país.
Vejam os recentes acontecimentos no mundo árabe.
Podemos fazer algo parecido?
Cosme Cabral