Analistas não acreditam que Lula e Dilma revertam "guerra fiscal" em Seul
A situação pode piorar
Entrevista: Gustavo Loyola
Apesar de todos os esforços que o presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, estão dispostos a fazer na reunião do G-20, que começa depois de amanhã na Coreia do Sul, para conter a guerra cambial que atormenta o mundo, as chances de sucesso são mínimas. Na avaliação do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Consultoria Tendências, os dois principais polos dos problemas — os Estados Unidos e a China — manterão as suas posições, pois as prioridades são as suas economias. Ele ressalta que por trás do que todos chamam de guerra cambial pode estar uma guerra comercial, com efeitos nocivos para todos os lados. O pior, acrescenta o economista, é que o Brasil não tem muito o que fazer e continuará atraindo capitais e convivendo com a supervalorização do real e uma enxurrada de importados, um problemão para a indústria nacional. “Não temos como construir um dique suficientemente grande para proteger o país”, afirma. A seguir os principais trechos da entrevista que Loyola concedeu ao Correio. (VC)
Como o senhor está vendo a guerra cambial que
atormenta ao mundo?
Está claro que não estamos diante de uma guerra em torno do câmbio. Os países desenvolvidos estão querendo se livrar da fatura da crise de 2008. Cada um está fazendo o possível para jogar a conta no colo do outro, o que resulta em toda a confusão atual. Todos estão querendo jogar o ônus do ajuste no vizinho. Mas o problema pode ficar pior. A situação pode se deteriorar para uma guerra comercial.
Como o Brasil está enfrentando essa guerra cambial? Os
estragos já são visíveis na economia no país, apesar da adoção de medidas como o aumento do IOF de 2% para 4% sobre o capital estrangeiro.
Infelizmente, o Brasil não tem muito o que fazer. Na realidade, está pagando o preço de estar crescendo mais do que o resto do mundo. Os países desenvolvidos estão querendo jogar o pepino nas nossas costas.
O que isso significa?
Estamos fadados a absorver a produção externa via valorização do real. E as indústrias locais estão sofrendo o ônus disso, pois não têm como competir com os importados mais baratos. Com o resto do mundo em situação pior, somos o destino natural da produção dos países desenvolvidos. E o Brasil não tem uma economia que possa enfrentar a avalanche de produtos vindos de fora.
Vários economistas estão defendendo um rígido controle cambial, com prazo para o dinheiro que entrar no país
voltar ao país de origem. O senhor compartilha dessa opinião?
Não, pois controle cambial não funciona. Ou melhor, funciona durante um tempo, depois não mais. Não é a melhor política. Os mercados financeiros hoje são muito eficientes. Eles criam maneiras para driblar as restrições. O governo proíbe determinada operação e o mercado, imediatamente, inventa outra para continuar operando. Vira um processo circular. O governo se vê obrigado a ficar criando cada vez mais novas proibições. Chega uma hora que nada mais funciona.
Qual o melhor caminho para fugir das atuais armadilhas?
O ideal seria se tivéssemos uma política global, com todos os país atuando conjuntamente. É isso que o G-20 está tentando. Mas não será fácil. O Banco Central dos Estados Unidos, por exemplo, deve satisfação aos norte-americanos e vai continuar agindo apenas para favorecer a economia daquele país.
Fonte: Correio Braziliense
Entrevista: Gustavo Loyola
Apesar de todos os esforços que o presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, estão dispostos a fazer na reunião do G-20, que começa depois de amanhã na Coreia do Sul, para conter a guerra cambial que atormenta o mundo, as chances de sucesso são mínimas. Na avaliação do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Consultoria Tendências, os dois principais polos dos problemas — os Estados Unidos e a China — manterão as suas posições, pois as prioridades são as suas economias. Ele ressalta que por trás do que todos chamam de guerra cambial pode estar uma guerra comercial, com efeitos nocivos para todos os lados. O pior, acrescenta o economista, é que o Brasil não tem muito o que fazer e continuará atraindo capitais e convivendo com a supervalorização do real e uma enxurrada de importados, um problemão para a indústria nacional. “Não temos como construir um dique suficientemente grande para proteger o país”, afirma. A seguir os principais trechos da entrevista que Loyola concedeu ao Correio. (VC)
Como o senhor está vendo a guerra cambial que
atormenta ao mundo?
Está claro que não estamos diante de uma guerra em torno do câmbio. Os países desenvolvidos estão querendo se livrar da fatura da crise de 2008. Cada um está fazendo o possível para jogar a conta no colo do outro, o que resulta em toda a confusão atual. Todos estão querendo jogar o ônus do ajuste no vizinho. Mas o problema pode ficar pior. A situação pode se deteriorar para uma guerra comercial.
Como o Brasil está enfrentando essa guerra cambial? Os
estragos já são visíveis na economia no país, apesar da adoção de medidas como o aumento do IOF de 2% para 4% sobre o capital estrangeiro.
Infelizmente, o Brasil não tem muito o que fazer. Na realidade, está pagando o preço de estar crescendo mais do que o resto do mundo. Os países desenvolvidos estão querendo jogar o pepino nas nossas costas.
O que isso significa?
Estamos fadados a absorver a produção externa via valorização do real. E as indústrias locais estão sofrendo o ônus disso, pois não têm como competir com os importados mais baratos. Com o resto do mundo em situação pior, somos o destino natural da produção dos países desenvolvidos. E o Brasil não tem uma economia que possa enfrentar a avalanche de produtos vindos de fora.
Vários economistas estão defendendo um rígido controle cambial, com prazo para o dinheiro que entrar no país
voltar ao país de origem. O senhor compartilha dessa opinião?
Não, pois controle cambial não funciona. Ou melhor, funciona durante um tempo, depois não mais. Não é a melhor política. Os mercados financeiros hoje são muito eficientes. Eles criam maneiras para driblar as restrições. O governo proíbe determinada operação e o mercado, imediatamente, inventa outra para continuar operando. Vira um processo circular. O governo se vê obrigado a ficar criando cada vez mais novas proibições. Chega uma hora que nada mais funciona.
Qual o melhor caminho para fugir das atuais armadilhas?
O ideal seria se tivéssemos uma política global, com todos os país atuando conjuntamente. É isso que o G-20 está tentando. Mas não será fácil. O Banco Central dos Estados Unidos, por exemplo, deve satisfação aos norte-americanos e vai continuar agindo apenas para favorecer a economia daquele país.
Fonte: Correio Braziliense
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att.