Analistas não acreditam que Lula e Dilma revertam "guerra fiscal" em Seul
Entrevista: Gustavo Loyola
Apesar de todos os esforços que o presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, estão dispostos a fazer na reunião do G-20, que começa depois de amanhã na Coreia do Sul, para conter a guerra cambial que atormenta o mundo, as chances de sucesso são mínimas. Na avaliação do economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Consultoria Tendências, os dois principais polos dos problemas — os Estados Unidos e a China — manterão as suas posições, pois as prioridades são as suas economias. Ele ressalta que por trás do que todos chamam de guerra cambial pode estar uma guerra comercial, com efeitos nocivos para todos os lados. O pior, acrescenta o economista, é que o Brasil não tem muito o que fazer e continuará atraindo capitais e convivendo com a supervalorização do real e uma enxurrada de importados, um problemão para a indústria nacional. “Não temos como construir um dique suficientemente grande para proteger o país”, afirma. A seguir os principais trechos da entrevista que Loyola concedeu ao Correio. (VC)
Como o senhor está vendo a guerra cambial que
atormenta ao mundo?
Está claro que não estamos diante de uma guerra em torno do câmbio. Os países desenvolvidos estão querendo se livrar da fatura da crise de 2008. Cada um está fazendo o possível para jogar a conta no colo do outro, o que resulta em toda a confusão atual. Todos estão querendo jogar o ônus do ajuste no vizinho. Mas o problema pode ficar pior. A situação pode se deteriorar para uma guerra comercial.
Como o Brasil está enfrentando essa guerra cambial? Os
estragos já são visíveis na economia no país, apesar da adoção de medidas como o aumento do IOF de 2% para 4% sobre o capital estrangeiro.
Infelizmente, o Brasil não tem muito o que fazer. Na realidade, está pagando o preço de estar crescendo mais do que o resto do mundo. Os países desenvolvidos estão querendo jogar o pepino nas nossas costas.
O que isso significa?
Estamos fadados a absorver a produção externa via valorização do real. E as indústrias locais estão sofrendo o ônus disso, pois não têm como competir com os importados mais baratos. Com o resto do mundo em situação pior, somos o destino natural da produção dos países desenvolvidos. E o Brasil não tem uma economia que possa enfrentar a avalanche de produtos vindos de fora.
Vários economistas estão defendendo um rígido controle cambial, com prazo para o dinheiro que entrar no país
voltar ao país de origem. O senhor compartilha dessa opinião?
Não, pois controle cambial não funciona. Ou melhor, funciona durante um tempo, depois não mais. Não é a melhor política. Os mercados financeiros hoje são muito eficientes. Eles criam maneiras para driblar as restrições. O governo proíbe determinada operação e o mercado, imediatamente, inventa outra para continuar operando. Vira um processo circular. O governo se vê obrigado a ficar criando cada vez mais novas proibições. Chega uma hora que nada mais funciona.
Qual o melhor caminho para fugir das atuais armadilhas?
O ideal seria se tivéssemos uma política global, com todos os país atuando conjuntamente. É isso que o G-20 está tentando. Mas não será fácil. O Banco Central dos Estados Unidos, por exemplo, deve satisfação aos norte-americanos e vai continuar agindo apenas para favorecer a economia daquele país.
Fonte: Correio Braziliense
Giovanni Queiroz e Zenaldo Coutinho, deputados, debatem a divisão do Estado do Pará
Assisti a gravação do programa Pinga-Fogo, da Rádio Câmara, sobre o debate entre os deputados Giovanni Queiroz (PDT-PA), autor do projeto que autoriza a consulta popular, em plebiscito a ser realizado, para consultar, democráticamente, se a população interessada quer o não a criação do Estado do Carajás (Sul/Sudeste) e do Tapajós (Oeste).
Ao contrário que pode transparecer nos artigos publicados aqui, neste blog, o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), tem e sempre terá o meu respeito, visto que se trata de um parlamentar sério, competente, inteligente e, sem dúvida, preparado.
O debate é de alto nível. O blog, cala a boca de certos cidadãos que não tem qualquer profundidade sobre o complexo e inadiável tema.
É espetacular a revelação dos números do produto interno bruto do Estado do Pará e do pretenso Carajás.
Coutinho revela que nosso PIB é maior ou igual ao do Pará. É o fator Vale.
O fator Vale não pode ser considerado um fator qualquer.
Com a Lei apresentada pelo seu colega Kandir, tramitada e sansionada na era do reinado do presidente FHC, do mesmo partido de Zenaldo, um dândi intelectual do partido do nobre deputado belemense, desonerou, criminosamente a possibilidade de cobrança do ICMS na fonte e não no destino, como hoje ocorre.
Coutinho contradiz-se. Na votação da urgência ele afirmou, veja post aqui publicado, que os dois pretensos estados, ficarão pobres e condenados, salvo ajuda federal (injeção de recursos), à miséria.
Ouçam e reflitam sobre o primeiro bloco do programa.
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Aviso.
O blog orienta os leitores que tiverem o interesse de ouvir o programa a clicar no player acima.
É possível, também, baixar o arquivo de áudio em extensão MP3, clicando na opção Share, no próprio tocador.
Nosso guia muda de idéia e diz que não quer mais o fim da reeleição
A declaração é sintomática, visto que Lula desistiu de trabalhar pelo 3.o mandato, lançando ao eleitorado uma candidata estranha ao meio popular.
Vale a pena ler o que nosso "guia" pensa do processo político brasileiro que ajudou a construir.
Entrevista - Luiz Inácio Lula da Silva - Presidente não abre mão da reeleição
Denise Rothenburg, Josemar Gimenez e Sílvia Bessa
"Lula considera quatro anos insuficientes para fazer obras estruturantes. Segundo ele, o discurso recente de José Serra, favorável ao mandato único, seria uma forma de atrair o ex-governador de Minas Aécio Neves para a chapa tucana na disputa pela Presidência"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi procurado pelo PSDB há algum tempo para tratar do mandato presidencial. A proposta era unir PT e PSDB em torno da ampliação do período de quatro para cinco anos e incluir no pacote o fim da reeleição. O relato foi feito ontem pelo próprio Lula, durante entrevista aos Diários Associados, concedida na Biblioteca do Palácio da Alvorada. “Eu disse ao interlocutor que não queria mais o fim da reeleição”, contou.
O presidente explica que mudou a opinião porque percebeu que “para se fazer uma obra estruturante nesse país, o sujeito, até fazer o projeto básico, executivo, conseguir a licença ambiental e vencer o Judiciário, já terminou o mandato”. Em quase uma hora de conversa, acompanhado do ministro da Secretaria de Comunicação, Franklin Martins, Lula deixou claro que conversará com Ciro sobre a não candidatura, enquadrou o PT de Minas, dizendo que a prévia para escolher candidato do PT acirrará os ânimos, e, ainda, sugeriu ao PT do DF que converse com o PMDB na hora de compor o palanque de Agnelo Queiroz ao governo local. “O PMDB é peça importante na aliança nacional”, afirmou Lula, certo de que Michel Temer será o vice capaz de levar o partido para Dilma Rousseff.
“O PT não precisa provar para ninguém que tem 30% dos votos em São Paulo. Precisamos arrumar os outros 20%. Eu disse ao Mercadante: ‘É preciso que você arrume o teu José Alencar’.”
“O Temer dará a segurança de um homem que tem a seriedade comprovada no Congresso. Se ele for o indicado pelo partido para vice de Dilma, dará a tranquilidade de que nós não teremos problemas de governabilidade”
Eles (PSDB) ganharam em 1994 e aprovaram a reeleição em 1996. Em política não vale ingenuidade. Ninguém vai acreditar que o mesmo partido que criou a reeleição venha querer acabar com ela. É promessa para quem? Ninguém está pedindo isso. Só o Aécio (Neves) está pedindo”
Quando eu deixar a Presidência, vou ser uma pedra no calcanhar do PT para que o PT coloque a reforma política como prioridade, com 365 dias por ano falando de reforma política”
O senhor acha que o brasiliense tem o que comemorar hoje nesses 50 anos?
O povo de Brasília tem que comemorar. O significado de Brasília como capital não pode ser confundido com os administradores que cometeram absurdos. Muitas vezes, os erros são cometidos porque as pessoas acham que ficarão impunes. Brasília, de um lado, tem que estar de luto, porque aconteceu essa barbaridade, mas, ao mesmo tempo, tem que ter orgulho. É uma cidade extraordinária, que tem crescido muito acima do que foi previsto por Niemeyer e JK. Em alguns aspectos, cresceu um pouco desordenada. Acho até que houve irresponsabilidade em alguns momentos, mas Brasília é isso: tem um lado humano, o Plano Piloto, o centro das cidades satélites, e o lado desumano, daqueles que vivem no Entorno, em situações adversas. Ainda assim, acho que o povo tem que comemorar porque foi uma epopeia o nosso Juscelino cumprir e ter coragem de fazer uma coisa pensada em 1823. Não era fácil tirar a capital do Rio de Janeiro.
Tivemos uma eleição indireta em que o candidato indicado pelo PMDB ganhou. O senhor acha que ainda cabe a intervenção?
Essa é uma coisa que depende exclusivamente do Judiciário. Não cabe a um presidente dizer se cabe ou não intervenção. O Judiciário, em função das informações que tem, deve tomar a decisão. Minha preocupação era a paralisação das obras. Não podemos, em função de uma crise política, ver o povo ser prejudicado. No mês passado, pedi para a CGU uma investigação porque era preciso mostrar para a sociedade como estava o andamento de cada obra. No levantamento, detectamos coisas graves, como R$ 300 milhões da saúde depositados numa conta bancária para fazer caixa, quando o dinheiro deveria ser usado para pagar salário de médico, comprar remédio.
O PT terá uma chapa em Brasília: Agnelo candidato ao governo, Cristovam Buarque (PDT) e Rodrigo Rollemberg (PSB) para o Senado. O senhor fará campanha aqui?
Primeiro, o presidente da República não defende chapa dentro do PT em cada estado. O presidente geralmente acata aquilo que os companheiros do estado fizeram. Se o Agnelo, como candidato a governador, e a direção do partido entendem que é necessário fazer essa composição para ganhar as eleições, eles que sabem. Agora, nessa chapa toda está faltando um componente, que é o PMDB. Para onde vai? Não sei se o PT do Distrito Federal está conversando com o PMDB, mas acho importante conversar. O PMDB é peça importante na aliança nacional. De qualquer forma, o Agnelo é um homem de muita respeitabilidade, de dignidade incomensurável. Acho que ele irá empolgar os eleitores.
E, em Minas, cansou, já chegou no limite? Como vai ficar aquilo ali?
A política seria fácil se as pessoas a percebessem como o leito de um rio: a água desce normalmente se ninguém resolver fazer uma barragem. As coisas em Minas tinham tudo para ocorrer normalmente, sem trauma, sentar PT e PMDB e tentar conversar. Tínhamos e temos chance de ganhar na medida em que o Aécio Neves (ex-governador de Minas) não é candidato e ninguém pode transferir 100% dos votos. De repente, o PT resolve fazer uma guerra interna. Essas guerras não resolvem o problema. As pessoas pensam que podem fazer insultos, provocações e, depois, botar um papel em cima. No PT não volta à normalidade.
Mas como faz? No momento em que escolhe um candidato a governador, como é que tira?
Se o PT precipitar as decisões, vai ficar cada vez mais num beco sem saída. A prévia é importante, mas não pode ser usada para resolver problemas que os dirigentes criaram e não conseguem resolver. Se eu criei uma confusão, em vez de resolver, falo: “Vamos para uma prévia”? Na história do PT já tivemos guerras fratricidas nessas prévias. Minas é um estado importante, interessa muito ao PT, ao PMDB e ao PSDB. É o segundo colégio eleitoral e muito sofisticado, porque você tem a Minas carioca, a Minas Bahia, a Minas Brasília, a Minas São Paulo, a Minas Minas . É preciso trabalhar isso com carinho.
Minas, pelo jeito, se o senhor não intervir, não resolve.
Se as pessoas fizeram isso achando que tenho que resolver, não é uma boa atitude. Não sou eleitor de Minas, não estou lá no embate cotidiano. Pimentel e Patrus (pré-candidatos do PT ao governo mineiro) são experientes, conhecem bem o PMDB de Minas. Já deveriam estar conversando entre eles e com o Hélio Costa (pré-candidato do PMDB) para trazer uma solução sem mágoas.
Por falar em mágoas, e Ciro Gomes?
Pretendo conversar com Ciro na medida em que a direção do PSB entenda que já é momento. Achei interessante quando ele transferiu o título para São Paulo porque era uma probabilidade. No primeiro momento, houve certa reação do PT, depois todos os quadros importantes passaram a admitir que era importante o Ciro ser candidato a governador de São Paulo. Depois, o PSB lançou o Paulo Skaf. O problema não era dentro do PT. Disse para o Ciro que jamais pediria para uma pessoa ou partido não ter candidato a presidente se não tiver argumento sólido. Ser candidato significa a possibilidade de fortalecer os partidos, mas também a possibilidade de perder uma eleição. Eu estou convencido de que essa deveria ser uma eleição plebiscitária. Fazer o confronto de ideias, programas, realizações.
E como fica a disputa pelo governo de São Paulo?
O PT não precisa provar para ninguém que tem 30% dos votos em São Paulo. Precisamos arrumar os outros 20%. Eu disse a Mercadante: “É preciso que você arrume o teu José Alencar”. O Alencar teve importância para mim que não é a da quantidade de votos, mas da quantidade de preconceito que quebrou. Se um cara com 15 mil trabalhadores na fábrica, a maior empresa têxtil do país, estava sendo meu vice, um cidadão que tinha dois empregados e tinha medo do Lula perdia o argumento. O discurso do José Alencar quebrou barragem maior do que a de Itaipu. O PT de São Paulo precisa arrumar esse Alencar.
Nesse conceito de vice, Michel Temer não teria esse perfil para a chapa de Dilma?
Deixa eu contar uma coisa: a Dilma tem cartão de crédito de oito anos de administração bem-sucedida no Brasil. Ela foi uma gerente excepcional. O Temer dará a segurança de um homem que deu a vida pública já de muito tempo, tem uma seriedade comprovada no Congresso e hoje está mais fortalecido dentro do PMDB. Se ele for o indicado pelo partido, dará a tranquilidade de que nós não teremos problemas de governabilidade.
A oposição já percebeu essa questão da eleição plebiscitária e começou agora a trabalhar com o slogan “Pode ficar melhor”. Isso muda alguma coisa com relação à candidatura da ministra Dilma?
Não. Mudaria se eles fizessem a campanha “pode ficar pior”. Eu acho que eles têm que prometer fazer mais coisas. O que é importante e que me dá prazer de falar desse assunto, com humildade, é o seguinte: eu mudei o paradigma das coisas neste país. Quem não queria enxergar, durante meus oito anos de mandato, vai enxergar já daqui para frente.
O senhor disse recentemente que se ressentia de não ter feito a reforma política. O Serra disse que, se eleito, proporá os cinco anos de mandato sem reeleição. Como o senhor avalia isso?
Em política não vale você ficar falando para inglês ver. A história dos cinco anos eles já tiveram. É importante ter em conta que eles reduziram o mandato de cinco para quatro anos pensando que eu ia ganhar as eleições em 1994. Eles ganharam e, em 1996, aprovaram a reeleição. Aí, para tentarem convencer o Aécio a ser o vice, vieram até me propor que, se o PT e o PSDB estivessem juntos numa reforma política para aprovar cinco anos, seria o máximo, a gente aprovaria. Eu falei para meu companheiro interlocutor: “Olha, eu era contra a reeleição, agora eu quero que tenha a reeleição mesmo se você ganhar, porque em quatro anos você não consegue fazer nenhuma obra estruturante, nenhuma”. Entre você pensar uma grande obra, fazer projeto básico, executivo, tirar licença ambiental, enfrentar o Judiciário, enfrentar o Tribunal de Contas e vencer todos os obstáculos, termina o mandato e você não começa a obra, sabe? Então eu falei: “Não quero mais o fim da reeleição”.
Essa conversa aconteceu quando, presidente? Com quem?
Faz algum tempo. Não, porque era a tese do ex-presidente para convencer o Aécio a ser vice. Então, em política não vale ingenuidade. Ou seja, ninguém vai acreditar que o mesmo partido que criou a reeleição venha querer acabar com ela. É promessa para quem? Ninguém está pedindo isso. Só o Aécio está pedindo.
O senhor já está trabalhando com a hipótese de o Aécio ser o vice?
Sinceramente, acho que o Aécio está qualificado para ser o que quiser. Se ele for vice, vai se desgastar. É só pegar o que o Estado de Minas escreveu sobre as divergências de Aécio com Serra para perceber que o Aécio vai colocar muita dúvida na cabeça do povo mineiro.
O senhor tem uma segurança grande com relação ao partido. A ministra Dilma não veio da base do partido. A preocupação é a seguinte: será que a ministra tem condições de ter um poder sobre o partido? Não será monitorada por ele?
Não, não existe hipótese, gente. Primeiro porque uma coisa é a relação de respeito que você tem de ter com o partido. Não é uma relação de medo. Eu vou poder ajudar muito mais a Dilma dentro do PT não sendo presidente. Estarei mais nos eventos do PT, estarei participando mais das coisas do PT.
O senhor acha que vai transferir quanto de sua popularidade para a ministra?
É engraçado porque as pessoas que acham que eu não vou transferir voto para a Dilma acham que o Aécio vai transferir para o Serra. É engraçadíssimo porque as pessoas olham o seu umbigo o dizem “o meu é o mais bonito de todos”.
Mas essa transferência seria automática?
Não, não seria automática. Não existe um automaticismo em política.
E o que lhe dá, então, uma segurança tão grande?
O que me dá segurança é que ao mesmo povo que me dá o voto de confiança há sete anos vou pedir para dar um voto de confiança a Dilma. Vou fazer campanha. Não pensem que vou ficar parado vendo a banda passar. Eu quero estar junto da banda, até porque acho que a campanha da Dilma é parte do meu programa de governo para dar continuidade às coisas que nós precisamos fazer no Brasil.
Há tempo suficiente para torná-la conhecida em alguns lugares do país, como os grotões do Nordeste?
Lá eu não vou nem chegar, lá eles são Lula. Lá estou representado. Eu quero ir é aos outros lugares.
O Nordeste, então, não lhe preocupa?
Lógico que me preocupa. Não existe eleição ganha antes da apuração, mas o carinho que o povo nordestino e do Norte têm por mim é de relação humana forte. Vou pedir o apoio desses companheiros para a minha candidata e vou trabalhar em outros estados. O meu trabalhar é o sinal mais forte que posso dar à sociedade brasileira de que não estou pensando em 2014. Quando o político é canalha, ele não quer eleger o sucessor. O velhaco quer voltar.
Essa eleição da Dilma, parece que o senhor tem mais garra com a campanha dela do que com a sua reeleição. É uma questão de honra eleger a Dilma?
Em política não se coloca questão de honra. É de pragmatismo. Estou muito mais animado com a campanha da Dilma do que com a minha. Meu governo já foi avaliado com a minha reeleição. Ele será biavaliado se eleger a Dilma. Daí a minha responsabilidade.
Presidente, nesses oito anos o que o senhor olhou para trás e pensou: que pena que eu não fiz isso?
Uma coisa eu digo: quando eu deixar a Presidência, vou ser uma pedra no calcanhar do PT para que o PT coloque a reforma política como prioridade, com 365 dias por ano falando de reforma política, procurando aliados para a gente fazer. Sobretudo porque eu acho que o fundo público para financiar as eleições, com a proibição de dinheiro privado, seria uma chance que a gente teria de moralizar o país.
Qual a quarentena que o senhor dará com relação ao futuro governo?
Não tem quarentena. Pretendo não dar palpite no próximo governo se pedirem alguma opinião (falava de Dilma), porque sinceramente acho que quem for eleito tem o direito de governar e de fazer o que entender que deva ser feito. Depois vai ser julgado. Não cabe a mim julgamento e ficar cobrando, como se fosse ex-marido ou ex-mulher, dizendo como o outro tem de ficar vivendo.
Em relação ao seu projeto internacional?
Esse negócio da ONU, vamos ter claro o seguinte: a ONU não pode ter como secretário-geral um político. Tem que ter um burocrata do sistema porque, caso contrário, você entra em confronto com outros presidentes. Vamos melhorar a ONU, mas acho que a burocracia tem de continuar existindo para manter certa harmonia. Eu tenho vontade de trabalhar um pouco a experiência acumulada no Brasil tanto para a África quanto para a América Latina. Não tenho projetos. Só penso agora em terminar o mandato e animar os meus ministros porque vai chegando o fim do mandato e, sabe aquele negócio, vai dando 2h da manhã, você está num baile e já começa a procurar uma cadeira para sentar. Eu quero que todo mundo continue animado e dançando porque eu quero continuar muito bem até 31 de dezembro.
E o PAC 2? Não vai dar tempo de ser começado, presidente...
Por que eu tive de fazer o PAC 2? Para facilitar a vida de quem vai entrar depois. Se não quiser fazer, não faça. Foi eleito presidente, tem o direito de pegar tudo, rasgar e não fazer. O que eu quero? Quero deixar uma prateleira de projetos que não recebi. Deixar a estrutura semeada.
Fonte: Correio Braziliense.
Entrevista do presidente Lula ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes » Blog do Planalto
É o presente de aniversário de quatro anos de existência do blog aos seus leitores.
10 perguntas para Dilma Rousseff
John Maynard Keynes, que a senhora admira, dizia alguma coisa equivalente a "se a realidade muda, eu mudo minhas convicções". Como sua visão de mundo mudou com o tempo e com a experiência de ajudar a governar um país? O Brasil superou uma ditadura militar e está consolidando sua democracia. A realidade mudou, e nós com ela. Contudo, nunca mudei de lado. Sempre estive ao lado da justiça, da democracia e da igualdade social.
Henry Adams, outro autor que a senhora lê com assiduidade, escreveu que "conhecer a natureza humana é o começo e o fim de toda educação política". A senhora acredita que conhece o bastante da natureza humana, em especial a dos políticos, mesmo sem ter disputado eleições antes? Conheço bem o pensamento de Henry Adams para saber que nessa citação ele se refere à política no seu sentido amplo. Falando no sentido estritamente eleitoral da sua pergunta, acredito que minha experiência de mais de quarenta anos de militância política e gestão pública permite construir um relacionamento equilibrado com as diferentes forças partidárias que participarão desse processo eleitoral.
Os brasileiros trabalham cinco meses do ano para pagar impostos, cuja carga total beira 40% do PIB. Em uma situação dessas, faz sentido considerar a ampliação do papel do estado na vida das pessoas, como parece ser a sua proposta? O que defendemos é a recomposição da capacidade do estado para planejar, gerir e executar políticas e serviços públicos de interesse da população. Os setores produtivos deste país reconhecem a importância da atuação equilibrada e anticíclica do estado brasileiro na indução do desenvolvimento econômico. Sem a participação do estado, em parceria com o setor privado, não seria possível construir 1 milhão de casas no Brasil.
Não fosse a necessidade de criar slogans e conceitos de rápida assimilação popular nas campanhas, seria o caso de superar esse debate falso e improdutivo sobre "estado mínimo" e "estado máximo", correto? Afinal, ninguém de carne e osso com cérebro entre as orelhas vive nesses extremos fundamentalistas. Qual o real papel do estado? Nos sete anos de nosso governo, ficou demonstrado o papel que vemos para o estado: induzir o desenvolvimento dos setores produtivos, priorizar os investimentos em infraestrutura em parceria com o setor privado, fortalecer e impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento científico-tecnológico, assegurando ganhos de produtividade em todos os setores econômicos. Modernizar os serviços públicos buscando responder de forma eficaz às demandas da população nas áreas da saúde, educação, segurança pública e demais direitos da cidadania. Chamo atenção para a comprovada eficácia dos programas que criamos. O Bolsa Família, o Luz para Todos, o Programa Minha Casa Minha Vida, as obras de sanea-mento e drenagem do PAC, entre outros, produziram forte impacto na melhoria de vida da população e resultaram também no fortalecimento do mercado interno. Finalmente, gostaria de destacar o papel do setor público diante da crise recente, o que permitiu que fôssemos os últimos a entrar e os primeiros a sair dela. Garantimos crédito, desoneração fiscal e liquidez para a economia.
O presidente Lula soube manter aceso o debate ideológico no PT, mas rejeitou todos os avanços dos radicais sobre o governo. Como a senhora vai controlar o fogo dos bolsões sinceros mas radicais do seu partido - em especial a chama da censura à imprensa e do controle estatal da cultura? Censura à imprensa e controle estatal da cultura estão completamente fora das ações do atual governo, como também de nossas propostas para o futuro.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso definiu a senhora como uma lua política sem luz própria girando em torno e dependente do carisma ensolarado do presidente Lula. Como a senhora pretende firmar sua própria identidade? Não considero apropriado discutir luminosidade com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
A oposição certamente vai bater na tecla da personalidade durante a campanha, explorando situações em que sua versão de determinados fatos soaram como mentiras. Como Otto von Bismarck, o chanceler de ferro da Alemanha, a senhora vê lugar para a mentira na prática política? Na democracia não vejo nenhum lugar para a mentira. Como já disse em audiência no Congresso Nacional, em situações de arbítrio e regimes de exceção, a omissão da verdade pode ser um recurso de defesa pessoal e de proteção a companheiros.
Qual o perfil ideal de vice-presidente para compor sua chapa? Um nome que expresse a força e a diversidade da nossa aliança.
O presidenciável Ciro Gomes, aliado do seu governo, afirma que a aliança entre o PT e o PMDB é um "roçado de escândalos semeados". A senhora não só defende essa aliança como quer o PMDB indicando o vice em sua chapa. Não é um risco político dar tanto espaço a um partido comandado por Renan Calheiros, José Sarney e Jader Barbalho? Não se deve governar um país sem alianças e coalizões. Mesmo quando isso é possível, não é desejável. O PMDB é um dos maiores partidos brasileiros, com longa tradição democrática. Queremos o PMDB em nossa aliança.
O Brasil está cercado de alguns países em franca decomposição institucional, com os quais o presidente Lula manteve boas relações, cuidando, porém, de demarcar as diferenças de estágio civilizatório que os separam do Brasil. Como um eventual governo da senhora vai lidar com governantes como Hugo Chávez ou Evo Morales? Lidaremos com responsabilidade e equilíbrio com todos os países, respeitando sua soberania e sem ingerência em seus assuntos internos. É esse, também, o tratamento que exigimos de todos os países, em reciprocidade.
'O Brasil tem que ser mais agressivo nas negociações, diz ex-ministro da Agricultura
Entrevista - Roberto Rodrigues - Ex- ministro da Agricultura
A fala mansa e o jeito simpático não encobrem as opiniões fortes de Roberto Rodrigues sobre a condução da política agrícola no País. Entusiasta do agronegócio, Rodrigues foi ministro da Agricultura no primeiro governo Lula e hoje é coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas (FGV) e presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, além de produtor de cana e grãos. Defensor da agroenergia como meio de reafirmação do Brasil no cenário internacional, Rodrigues combate a falta de um olhar mais amplo do governo para a agricultura e de uma postura mais rígida do País nas negociações bilaterais. “Política agrícola existe; o que não existe é a sua implementação.” Leia a entrevista à DINHEIRO:
Dinheiro – No período em que esteve no Ministério da Agricultura, o sr. implementou políticas importantes, como o seguro rural. Depois disso, houve certa estagnação dos esforços políticos para o desenvolvimento do agronegócio? Que avanços ainda faltam?
Roberto Rodrigues – Há muita gente que reclama do fato de o Brasil não ter uma política agrícola, mas isso não é verdade. O País tem hoje o seguro rural, bons mecanismos de comercialização, legislação moderna nas áreas de biossegurança, defesa sanitária, orgânicos e armazenagem. Política existe; o que não existe é a sua implementação. Falta uma estratégia agrícola.
Dinheiro – Que entraves o sr. destaca?
Rodrigues – O orçamento para a Defesa Sanitária é estabelecido por um burocrata do Ministério do Planejamento, que não conhece o reflexo nas exportações brasileiras da febre aftosa, por exemplo. Já a liberação do recurso cabe ao Ministério da Fazenda, que estabelece também os preços mínimos dos produtos agrícolas e não o Ministério da Agricultura. A taxa de câmbio e os juros são definidos pelo Banco Central. A logística cabe ao Ministério dos Transportes. A política de biocombustível é estabelecida pelo Ministério de Minas e Energia. O Ministério de Meio Ambiente cuida das áreas de florestas. E há ainda o Ministério de Pesca e o de Reforma Agrária. As decisões são muito pulverizadas. No mundo todo, existe um ministério que engloba agricultura, floresta e pesca. Aqui, são quatro ministérios para isso. Sem dizer que é o Itamaraty que cuida das negociações internacionais.
Dinheiro – O que atrapalha então é a burocracia?
Rodrigues – A burocracia ajuda a piorar, mas o que falta ao Brasil é uma política de Estado para a agricultura. O Parlamento, o Judiciário e toda a sociedade têm que participar desse processo.
Dinheiro – O sr. vê possibilidade de avanços a partir do próximo governo, considerando que estamos em ano eleitoral?
Rodrigues – Tenho preocupações porque sei que as atenções dos candidatos costumam se concentrar na zona urbana, que tem o maior número de votos, e não no campo. Mas o País precisa avançar para dar impulso ao agronegócio.
Dinheiro– Que aspectos são mais urgentes?
Rodrigues – Primeiro, uma política de renda para o produtor, que o mundo inteiro já desenvolveu e da qual o seguro rural é a coluna de sustentação. Eu fiz a lei em 2003, o regulamento em 2004 e o primeiro orçamento em 2005, mas ainda falta acabar o projeto, com o fundo de catástrofe e o resseguro funcionando plenamente no Brasil. E a decisão sobre isso tudo está pulverizada em diferentes órgãos do governo.
Dinheiro – O que mais o sr. aponta?
Rodrigues – A necessidade de reforma do crédito rural. A lei brasileira para essa área é de 1965. Desde então, o Brasil mudou muito e não houve nenhuma modernização na lei. Temos discutido isso com o Banco do Brasil e com o Ministério da Fazenda e estamos caminhando para uma reforma profunda para que os mecanismos de comercialização dos produtos agrícolas associados à bolsa possam funcionar com muito mais transparência e volume.
Dinheiro – E quanto aos problemas de logística?
Rodrigues – Infraestrutura e logística são gargalos brutais no Brasil. Costumo dizer que existem dois tipos de produtores no País: os costeiros e os fronteiros. Aqueles que estão a até 500 quilômetros de distância dos portos – os costeiros – acabam se virando, com câmbio desfavorável ou não, e mantêm os custos um pouco mais controlados. Mas quem está mais longe que isso tem uma desvantagem logística tremenda, seja para levar os insumos, que vêm de fora, seja para escoar a produção.
Dinheiro – Como o sr. avalia a postura do Brasil na negociação internacional dos produtos agrícolas?
Rodrigues – A abertura de mercados é outro ponto crucial e que exige uma atuação muito mais vigorosa. Defendo a necessidade de termos um Ministério de Comércio Exterior para valer. Embora o Itamaraty seja um dos organismos mais bem preparados do Brasil, ainda não há uma cultura de negociação agressiva como é preciso ter. Isso porque, no comércio, não dá para empatar: quem não ganha morre. Nós perdemos a Alca e o Mercosul ainda é algo romântico.
Dinheiro – Sobre as perspectivas para a agricultura brasileira em 2010, qual a sua avaliação?
Rodrigues – Vejo este ano com muita preocupação, principalmente por causa do câmbio. Nós compramos os insumos para plantar esta safra com o dólar perto de R$ 2. E tudo indica que vamos colher com a moeda por volta de R$ 1,70, o que representa uma defasagem entre custo e valor da produção. Além disso, o dólar nessa faixa tira a competitividade de vários produtos brasileiros, como a carne bovina. Outro ponto preocupante é em relação à soja, commodity mais exportada pelo País. É safra recorde nos Estados Unidos, no Brasil e na Argentina, o que aumenta demais a oferta, pressionando os preços para baixo. Sem contar que esse mercado vive pendurado na China, que compra metade de toda a soja produzida no mundo. Qualquer atitude chinesa de contenção de importações derruba os preços.
Dinheiro– E quanto ao café?
Rodrigues – O café, que é outra commodity importante para nós, curiosamente, não deveria ter preços baixos porque a oferta e a demanda estão bem ajustadas no mundo. Mas, há quase três anos, o preço está defasado, abaixo do custo de produção, que é pressionado pelos gastos com a colheita. E 2010 é um ano de safra cheia, o que pode perturbar ainda mais esse mercado. Já o suco de laranja – nós exportamos quase tudo o que produzimos – ainda sofre os efeitos da crise, porque o consumo nos países desenvolvidos despencou. Começa a haver uma recuperação dos preços agora, mas ela vai depender do que o mercado vai consumir mais à frente.
Dinheiro – Então o cenário internacional para as commodities brasileiras segue preocupante?
Rodrigues – Sim. A grande exceção é o açúcar porque a Índia continua sem exportar de maneira significativa este ano, de modo que os preços permanecem favoráveis ao produtor brasileiro. Não conseguimos aproveitar os preços altos no ano passado porque choveu demais e a safra de cana de açúcar foi ruim. A perspectiva é de que a situação seja melhor este ano.
Dinheiro – E o mercado interno?
Rodrigues – Nossa grande força vem da demanda interna crescente, inclusive em relação às carnes. Seja porque a economia vai bem no Brasil, seja porque os programas sociais do governo acabam estimulando o consumo. Mas a situação das commodities depende muito de como o mundo vai se comportar. Não acho que 2010 será um ano risonho. Por isso, as eleições no Brasil podem representar a possibilidade de plantio de uma estratégia agrícola definitiva, voltada ao futuro.
Dinheiro– E a bioenergia é parte importante desse futuro?
Rodrigues – O mundo todo vê o Brasil com olhos gulosos, tanto em relação à produção de alimentos quanto de agroenergia. O País tem terra disponível, a melhor tecnologia tropical do planeta – que o mundo inteiro inveja e quer copiar – e um agricultor muito competente, que sobreviveu à falência das políticas públicas nos anos 1990. Esses fatores transformaram o Brasil numa espécie de meca dos investimentos em agricultura. A FAO (Food and Agriculture Organization, órgão da ONU), em novembro de 2009, projetou que, em 2050, a produção mundial de alimentos vai precisar ser 70% maior que a atual para atender à demanda, sendo que uma fatia de 30% desse aumento virá de novas áreas de cultivo, que estão na América do Sul e na África. Mas a África não tem estrutura nem tecnologia, enquanto nós estamos preparados.
Dinheiro– Mas, ainda falando de bioenergia, o sr. acredita que os esforços serão mantidos no Brasil mesmo com o pré-sal?
Rodrigues – O pré-sal minimiza a importância do biocombustível, que era questão central do governo brasileiro até a um ano atrás. Eu me lembro de o presidente Lula dizer que o pessoal do Oriente Médio tinha as mãos sujas de petróleo, enquanto nós estávamos limpos com o etanol e o biodiesel. Agora, mudou um pouco. Mas o governo ainda se dá conta de que o nosso negócio não é meramente exportar álcool, mas tecnologia para usinas e mesmo vender álcool misturado à gasolina, por exemplo. É possível mudar a geopolítica mundial por meio da agroenergia. A questão ambiental pesa cada vez mais na demanda. E o biocombustível, diferentemente de comida, só pode ser produzido com sol, que incide entre os trópicos em países como o Brasil. Vejo a agroenergia como o novo paradigma agrícola. E nós temos o conhecimento de todo o processo de fabricação: desde a produção agrícola até a industrial, passando pela legislação.
Entrevista Shimon Peres
“O Brasil chegou à elite mundial”
O presidente de Israel disse ao Jornal Opção que apoia o Brasil como integrante do Conselho de Segurança da ONU “sem pré-condições”, que vai conhecer o Maracanã e fala de paz e amor
HERBERT MORAES - De Jerusalém, Israel
Switzerland
Shimon Peres: “Até a paz é fria. Queria que houvesse mais amor entre as nações”
Na terça-feira, 9, o presidente de Israel, o prêmio Nobel da Paz Shimon Peres, do Kadima, desembarca no Brasil para uma visita de seis dias. É a primeira visita de um presidente israelense nos últimos 40 anos. Shimon Peres vai passar por Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. A visita tem a ver com o reconhecimento, por parte do governo de Israel, de que o Brasil é uma potência econômica e que está se tornando, ao mesmo tempo, uma potência política no contexto internacional. Os judeus querem o Brasil mais próximo de Israel e mais distante do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, uma espécie de Hugo Chávez do Oriente. O correspondente da TV Record em Israel e editor da coluna Direto do Oriente, do Jornal Opção, Herbert Moraes, entrevistou o histórico líder de 86 anos com exclusividade. Shimon Peres é, seguramente, a principal figura política viva do Estado judeu.
Um dos mais atentos repórteres do País, Herbert esperava um Shimon Peres circunspecto. Descobriu um presidente risonho, falando de futebol, aberto ao diálogo e que até discorre sobre o amor.
O que o sr. espera dessa viagem ao Brasil?
No mundo globalizado você tem de estar em contato com todos os países. Principalmente os países que formam o novo mundo, como o Bric — Brasil, Rússia, Índia e China. E o Brasil vem se destacando cada vez mais como líder mundial. Há muito o que fazer e aprender por lá. Nossa relação com o Brasil é longa e muito boa. Mas este é o novo Brasil. Vocês fizeram uma reforma econômica e atingiram a elite da economia mundial, com um líder de destaque [Lula]. Queremos apresentar nossa posição à liderança brasileira. E há também os aspectos de cooperação. Não se mede um país pelo tamanho, mas pelo desenvolvimento. E há um campo fértil para cooperação entre Israel e o Brasil.
Eu ouvi que o sr. vai visitar o Maracanã, o maior estádio de futebol do mundo. É fã de futebol?
Sou fã do ponto de vista político. O futebol é uma boa via para se ensinar as crianças o caminho para a paz. Futebol é uma guerra sem vítimas. É uma competição em que se pode perder uma vez, mas não todas. É uma escola, uma linguagem conhecida pelas crianças. Nós temos em Israel muitos jogadores, inclusive do Brasil, e todos falam a linguagem da paz — que é a língua que as crianças gostam. Os olhos delas brilham quando estão jogando. Futebol é uma mensagem. Eu prefiro que os países joguem futebol do que se preocupem com o enriquecimento de urânio. Temos de começar a pensar na paz educando as crianças.
Nos últimos sete anos, o Brasil sempre votou contra Israel na ONU. O sr. acredita que é possível mudar a posição brasileira nas Nações Unidas. E o sr. apoiaria o Brasil para uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU?
Eu apoio o Brasil como integrante do Conselho de Segurança da ONU sem pré-condições. O Brasil é uma potência importante do nosso tempo e pode liderar negociações de paz. Lamento que o Brasil ainda não tenha tido esta oportunidade. Se existe um país que está lutando pela paz e pela democracia é Israel. E nós nunca pedimos para que lutassem por nós. Nem por nossa democracia, muito menos pela nossa segurança. Já tivemos nove guerras e vencemos todas. E mesmo assim não abrimos mão da paz. Devolvemos todos os territórios que conquistamos — do Egito, da Jordânia, do Líbano — e vamos devolver as terras dos palestinos. Já deixamos Gaza. Portanto, acho que não se pode igualar terrorismo e democracia. Se não diferenciarmos os países que fazem opção pela democracia ou pelo terrorismo, então não há como distinguir o que é certo do que é errado.
O sr. deve estar informado que o presidente Lula da Silva já esteve três vezes no Oriente Médio, mas nunca esteve em Israel. O sr. pretende reiterar um convite para que ele visite o seu país?
Vou convidar Lula para visitar Israel não só como presidente do Brasil mas como líder mundial. Nós temos um passado socialista em comum e conheço suas posições. Acho que ele deveria nos visitar. Sobre a ONU há um problema: existe uma maioria que é contra Israel. E não tem nada a ver com justiça nem com política. Se você juntar o bloco árabe e o bloco muçulmano, além dos afiliados, há uma maioria que sempre vai votar contra nós. Então, Israel não tem a mínima chance de ter maioria em qualquer assunto que seja votado por lá. E, com todo o respeito, não acredito que o sr. Ahmadinejad ou o sr. Muammar Kadafi [líder da Líbia] podem nos julgar com relação a direitos humanos. Eles não são os maiores defensores dos direitos humanos no mundo. Mas têm a maioria. Eles não investigariam, portanto, outros eventos como a Chechênia, o Iraque, o Afeganistão. O único lugar que querem investigar é Israel. Até mesmo no Irã, onde enforcam pessoas, não há investigação nenhuma. Em Israel não há discriminação contra as mulheres. Então, na ONU há uma contradição entre a Carta das Nações Unidas e a política que se sobrepõe a esta Carta. Por exemplo: existe um comitê de Direitos Humanos. Se têm dez debates, os dez serão sobre Israel. É injusto, não é razoável. E quem são os juízes? Que eles tenham direitos humanos em suas próprias casas. Em primeiro lugar, libertem as mulheres. Até os escravos de hoje têm uma certa liberdade. Se há escravidão no mundo, é a escravidão das mulheres. Em alguns países são escorraçadas pelos maridos e escravas deles. E onde estão os direitos humanos? Se alguém quer nos matar, é nosso direito nos defendermos.
O líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad confirmou uma visita ao Brasil também neste mês. Pode-se dizer que a sua visita ao Brasil e à Argentina é estratégica para a política externa israelense?
Não acho. A minha visita tem como objetivo e tema principal a relação entre Brasil e Israel. Não vou conduzir debates com o sr. Ahmadinejad no Brasil. Isso, nós podemos fazer no Oriente Médio.
O fato de a Venezuela ter sido aprovada como um dos integrantes do Mercosul e de apoiar o Irã coloca em perigo a relação de Israel com o bloco, já que Israel é o maior parceiro do Oriente Médio para o Mercosul?
O problema é da América Latina— não é nosso. Se assumir o comando do Mercosul, um líder extremista pode mudar a América Latina, que já alcançou mais ou menos um status democrático e uma democracia econômica. Agora tem de se tornar uma democracia política. Mas é um problema se a economia passa a ser governada pela política para servir aos ideais do sr. Hugo Chávez [presidente da Venezuela]. A propósito, há coisas que Chávez diz com as quais eu simpatizo, como evitar cantar no chuveiro. É uma ótima idéia [risos]. Muito menos numa Jacuzzi [risos]. Ele diz que isto é antissocialismo e eu concordo. Não sou contra tudo o que diz, mas sou contrário a idéias mirabolantes de como governar o mundo.
O sr. tem um passado socialista. É fundador do Avodá, o Partido Trabalhista de Israel. O que acha desta onda socialista que varre a América do Sul?
Não acredito que a América do Sul vá se tornar socialista. A América do Sul é tolerante. Há tolerância entre brancos e negros, entre pobres e ricos e entre sociedades desenvolvidas e não desenvolvidas. Tudo isso vai ser jogado fora em nome de uma ditadura? Temos de distinguir o que é socialismo e o que é ditadura. Há muitos líderes que se dizem socialistas mas, na verdade, são ditadores. A América do Sul já sofreu com a ditadura. Não acredito que as pessoas querem isso de volta. Além do que não há como competir com o resto do mundo sob uma ditadura. Se você não tiver uma economia livre não vai desfrutar de um mercado livre. A força da Venezuela é o petróleo. Mas o petróleo tem suas limitações e coloca em perigo o pensamento dos povos que o possuem. Além de poluir o mundo, torna a economia instável. O barril de petróleo custa em torno de 140 dólares. Para quem vai esse dinheiro? Para os pobres da África? O petróleo não é produzido — é descoberto. Essa riqueza mundial é usada para fins políticos. O Brasil, por exemplo, possui alternativas não poluentes. O petróleo não é o futuro, e sim o passado. Há outras energias alternativas. Israel não tem petróleo, não temos água, não temos terras. O Oriente Médio está dividido em dois tipos de países: os que têm petróleo e os que são sagrados. Nós somos do grupo dos sagrados. Mesmo sem petróleo, nossa economia está num nível muito mais alto do que os que possuem. Há muitos judeus que dizem: “Por que Deus não nos levou para um lugar que tivesse petróleo? Por que não nos levou para onde é a Arábia Saudita e sim para um lugar onde não há nada?” Eu digo: graças a Deus. Porque o petróleo mina, estraga as pessoas. Para nós, é melhor pensar e trabalhar. E desfrutarmos de nossas conquistas e talentos.
O sr. tem uma visita agendada na Petrobrás. Pretende negociar o petróleo brasileiro?
Com relação ao petróleo brasileiro temos de ver como o Brasil vai se comportar. Se o Brasil usar o petróleo como o Irã ou a Venezuela, com o intuito de conquistar outras nações, vai estar errado. Se ajudar a combater a pobreza de outros países e sua própria desigualdade, estará agindo com justiça. Se Lula buscar eliminar a pobreza e a ignorância com a força do petróleo, o pré-sal terá sido uma bênção. O petróleo não faz política. Povos que têm petróleo fazem política. E se mesmo assim o Brasil continuar na luta contra a poluição do meio ambiente, então o achado é uma dádiva.
Presidente diz que Israel “não” vai atacar o Irã
O Irã insiste em não negociar o seu projeto nuclear. O sr. ainda acredita num acordo diplomático? Se não houver, Israel atacaria o Irã sozinho?
Israel não vai atacar ninguém. Há outras soluções e, enquanto existirem, serão preferidas. As opções diplomáticas, políticas e econômicas são as que estão valendo nesse momento. Não acredito que quando há uma situação de perigo a solução é pegar uma pistola e sair atirando.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, diz que não vai negociar com Israel enquanto a expansão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia não for interrompida. Israel também já disse que não negocia com pré-condições. Como avançar em direção a um acordo de paz entre isralenses e palestinos? Ainda há chances para a paz?
Acredito 100% numa solução de paz com os palestinos. Tenho certeza de que isso vai acontecer em breve. Não acredito que será resolvido em dois anos, como espera a administração americana, mas esse prazo pode ser um começo. Talvez seja vagaroso ou até mesmo mais rápido. Mas temos de começar de alguma maneira. E o melhor é negociar do que ameaçar um ao outro. As negociações vão começar em breve.
Como o sr. vê a atuação de Binyamin Netanyahu como primeiro-ministro e o governo de direita na política israelense?
O bloco de direita continua sendo de direita, mas sem o bloco [risos]. No momento em que o primeiro-ministro aceitou a solução para dois Estados foi o fim da direita. Porque o verdadeiro debate entre a direita e a esquerda israelense era justamente a solução para dois Estados. A divisão das terras com os palestinos. No momento em que a direita abandonou a idéia do “Grande Israel” e aceitou a solução de dois Estados, o mapa mudou. Netanyahu já deixou isso claro em discurso. Acredito que ele quer a paz. Nós somos bons amigos e conversamos ontem à noite sobre isso. Ele é muito sério.
O sr. acredita que Barack Obama pode fazer a diferença no Oriente Médio? Como ganhador do Prêmio Nobel da Paz, como recebeu a notícia de que ele também ganhou o mesmo prêmio? Acha que mereceu?
Não há muito e não há pouco. Os novos ventos não podem ser medidos por pouco ou muito. Ele iniciou um processo cujo nome é esperança e boa vontade. E num curto espaço de tempo, de maneira impressionante. Ele deu um novo tom. Ele mereceu o prêmio. Ele é jovem, brilhante, veio do nada, não tem tradição política, nem experiência e mesmo assim conquistou o mundo. E de uma forma correta. Por exemplo, ele não tem as mesmas ambições do sr. Chávez. Porque o sr. Chávez quer determinar quem está certo e quem está errado no mundo e tornar-se um juiz supremo. Barack Obama disse: “Todos nós estamos certos”. Mesmo com os que estão errados, ele quer sentar e discutir de uma forma justa. Num mundo tão confuso e cheio de tensão, suspeitas e armas terríveis, onde as pessoas mal escutam umas as outras, onde prevalecem as guerras, confrontos e ameaças, o que está fazendo é um começo. Deve ser entendido como coragem. Um novo começo. Não acredito que vá resolver todos os problemas do mundo, mas pode amenizar. Aumentar a esperança. As pessoas são mais emotivas do que racionais. E as emoções e impressões têm uma grande influência nos novos tempos. A mídia tem tanta força que pode até mesmo criar situações. As ações de Obama são positivas. Se você quer ter a paz, é preciso compromisso. E temos de entender que não há quem esteja totalmente certo ou errado. É preciso o debate. A paz é como o amor: não se pode ter nenhum dos dois sem fechar um pouco os olhos. Deixe a imaginação participar. Estou aqui desde o começo deste país [Israel foi criado em 1948]. Nós passamos por momentos extremamente difíceis. Quase perdemos guerras. Eu disse ao sr. Obama: vocês são tão grandes que podem cometer qualquer erro e vão continuar grandes. Nós somos tão pequenos que, se cometermos um erro, poderá afetar toda a nossa vida. Não queremos cometer erros — até mesmo o de perder uma guerra. Se cometermos esse erro, então estamos fora do jogo. Temos de acreditar num mundo sem medo, sem armas de destruição em massa e evitar que elas caiam nas mãos de fanáticos.
Depois de 15 anos do acordo de paz entre Israel e Jordânia, os dois países ainda vivem uma relação fria. Há uma falta de perspectiva de paz com os países árabes. O sr. ainda acredita na sua visão para “o novo Oriente Médio”?
Acredito 100% na minha visão de um “novo Oriente Médio”. Não há amor nos dias de hoje. Eu gostaria que houvesse pelo menos amor entre as nações. Até mesmo na América Latina. A paz não é romântica. A paz não é perfeita. Mesmo assim, prefiro uma paz sem romantismo do que uma guerra romântica. Prefiro uma paz imperfeita do que uma guerra perfeita. O mundo árabe, emocionalmente, é contra Israel, mas de uma forma pragmática sabe que tem de fazer a paz com Israel. Eles têm de aceitar essa oferta pragmática, mesmo que não haja amor. Todas as guerras aconteceram por causa de terras. São histórias escritas com sangue, até mesmo na América Latina. Hoje, as pessoas entenderam que a ciência e a tecnologia são mais importantes do que a guerra. Exércitos não conquistam sabedoria e não podem deter a disseminação do conhecimento. Vejo isso também entre os árabes. São seres humanos como nós, que não podem deter o avanço do conhecimento e não podem se manter excluídos da nova era. Muitos jovens me perguntam o que vai acontecer nos próximos 100 anos? Em 100 anos, vai haver um novo mundo árabe e ninguém pode deter isso. Em Israel, há 1,2 milhão de árabes. A maioria era de agricultores e agora há pelo menos 60 mil acadêmicos. Não há hospitais em Israel que não tenham médicos e pacientes árabes. E o hospital continua o mesmo. Todos os problemas começam fora dos hospitais. Quando estamos doentes, vivemos em paz. Por que não podemos viver em paz quando estamos saudáveis? Tenho certeza de que a paz com os árabes vai acontecer.
O sr. está com 86 anos e em ótima forma. Viveu e participou de toda a história de Israel. Ainda espera ver a paz no seu tempo de vida? Quais são os seus planos para o futuro?
Acredito que vou ver a paz ainda em vida, até porque não pretendo morrer tão cedo [risos].Vejo mudanças profundas no futuro. Educação é a chave da luta contra as trevas. Nossos antepassados não eram idiotas. Mas não tinham nossa tecnologia. Mas, mesmo com todo o nosso avanço, os maiores desafios da humanidade ainda são um mistério. Ainda não sabemos como o nosso cérebro funciona, porque o nosso corpo muda o tempo todo, nossas células são renovadas a cada duas semanas. Quem garante que, quando as nossas células se modificam, a tradição permanece? Ainda não conhecemos o nosso cérebro porque ele é tão delicado e ainda não temos instrumentos capazes de estudá-lo de fato. Agora, com a nanotecnologia, teremos essa capacidade. Nos próximos 50 anos, nós vamos entender o nosso cérebro e alcançaremos um conhecimento que jamais imaginamos. Gostaria de estar aqui para ver tudo isso e muito mais acontecer. O mundo e o ser humano são fascinantes.
Jornal Opção.
O Senado é necessário?
Dallari: crise mostra que Senado é desnecessário
Ricardo Galhardo SÃO PAULO
Jurista defende extinção da Casa e adoção de um sistema unicameral, além de reforma do processo eleitoral
ENTREVISTA Dalmo Dallari
Considerado um dos maiores especialistas em Direito Constitucional do país, o jurista Dalmo de Abreu Dallari defende a extinção do Senado e a adoção do sistema unicameral, por meio de um plebiscito. Segundo ele, a crise atual evidencia que o Senado é desnecessário. Em pesquisas para o livro “A Constituição na vida dos povos”, a ser lançado este ano, Dallari descobriu evidências de que o Senado dos EUA, modelo do brasileiro, foi criado para evitar a abolição da escravatura.
O GLOBO: O senhor viu o bateboca entre Tasso Jereissati e Renan Calheiros? DALMO DALLARI: Deprimente.
Em termos de imagem do Brasil como país civilizado é comprometedor.
A chamada Câmara Alta, senadores da República, numa discussão de moleques de rua. O impacto para a democracia é muito negativo. Ainda que não haja muita consciência da importância das instituições, há algum respeito. A partir daí, não haverá mais qualquer respeito.
Qual a solução para a crise? DALLARI: É preciso uma mudança em profundidade em nosso sistema político. Por isso, defendo a adoção do sistema unicameral e também a reforma do sistema eleitoral. Com uma câmara só, alguns estados como São Paulo teriam muito mais parlamentares do que outros.
Por isso temos que tentar um sistema que não leve a um domínio de alguns estados.O GLOBO: O senhor viu o bateboca entre Tasso Jereissati e Renan Calheiros? DALMO DALLARI: Deprimente.
Em termos de imagem do Brasil como país civilizado é comprometedor.
A chamada Câmara Alta, senadores da República, numa discussão de moleques de rua. O impacto para a democracia é muito negativo. Ainda que não haja muita consciência da importância das instituições, há algum respeito. A partir daí, não haverá mais qualquer respeito.
Qual a solução para a crise? DALLARI: É preciso uma mudança em profundidade em nosso sistema político. Por isso, defendo a adoção do sistema unicameral e também a reforma do sistema eleitoral. Com uma câmara só, alguns estados como São Paulo teriam muito mais parlamentares do que outros.
Por isso temos que tentar um sistema que não leve a um domínio de alguns estados.
"Deve ser objeto de um grande debate nacional"
Como fazer essa mudança proposta pelo senhor?
DALLARI: Com um número mínimo de representantes de cada estado, que a gente já tem, mas que pode ser readequado. Precisamos de um processo eleitoral que impeça o desequilíbrio e traga uma representação melhor. O importante é que essa câmara seja democrática e dê preferência ao interesse público.
Legalmente é possível extinguir o Senado?
DALLARI: Entre os princípios fundamentais da Constituição estão o sistema democrático e a separação dos poderes. A organização dos poderes não é princípio fundamental da Constituição.
Deve ser objeto de um grande debate nacional, para que no fim se faça um plebiscito.
Qual sua opinião sobre a aliança entre Lula e Sarney?
DALLARI: Para mim isso ainda não está explicado. No começo do primeiro governo (2003), Lula vinha a São Paulo uma vez por mês para se reunir com intelectuais amigos, que deveriam falar com franqueza. Ele trazia o José Dirceu. Eu era um dos convidados e perguntei sobre o acordo com Sarney, o símbolo de tudo aquilo que sempre combatemos.
O Lula, um homem extremamente inteligente, falou: “Explique aí, Zé Dirceu”. Aí o Zé disse que o Sarney manda no Senado e que, se o governo não se entender com ele, não passa nada no Senado.
Então o governo teve que engolir um sapo e fazer o acordo.
Pode ser que Lula realmente dependa da força do Sarney ou que seja grato porque o Sarney sempre quebrou os galhos dele e do governo.
Mas pode haver razão que a gente desconheça. Qual a verdadeira razão desse ataque ao Sarney? Ninguém sabia que ele era corrupto? Como é a experiência em outros países ?
DALLARI: No livro que estou lançando constatei que há três modelos básicos de constituições: o americano, o francês e o inglês. O modelo inglês está evoluindo no sentido do unicameralismo.
Está em vias de extinção a Câmara dos Lordes. Não há mais lordes hereditários.
Mas a Constituição brasileira é baseada no modelo americano.
DALLARI: Nas pesquisas para o novo livro colhi elementos, cartas e outros documentos, que mostram que a verdadeira razão para a criação do Senado como ele existe hoje no Brasil e que foi calcado no modelo dos EUA foi para evitar a abolição da escravatura.
Analisando documentos da Convenção de Filadélfia de 1787, que criou os EUA, descobri troca de correspondência entre convencionais dizendo que muitos eram senhores de escravos, do Sul dos EUA. O Sul era agrícola e escravocrata, o Norte vivia do comércio, início da industrialização, e não usava mão de obra escrava. Os estados do Norte teriam muitos eleitores, e os do Sul, poucos. Escravos não votavam. Surgiu a ideia de criar uma segunda câmara, revisora, na qual todos os estados teriam representação igual. Durante 80 anos o Senado dos EUA impediu a abolição da escravatura.
Mangabeira Unger fala sobre a política brasileira
O ex- ministro extraordinário de Assuntos Estratégico do governo Lula, Roberto Mangabeira Unger, 62, concedeu entrevista ao UOL Notícias na última terça-feira. Ele deixou o cargo no final do mês passado para retomar sua função de professor na Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Na entrevista, falou sobre seu trabalho no governo, preservação da Amazônia e política. Confira os principais trechos.
Paulo Vannuchi no Roda Viva
Desde então, o documento tem sido colocado à prova em várias regiões do mundo, com segregação, genocídios, torturas, prisões ilegais, conflitos internacionais, trabalho infantil, intolerância religiosa e pobreza.
No Brasil, o último levantamento apresentado pelo relatório Nacional sobre Direitos Humanos no país aponta violações nos direitos dos brasileiros que abrangem crianças, jovens, e idosos, além de minorias, como homossexuais, índios e negros.
O ministro Paulo Vannuchi aponta que avanços nos direitos humanos passam por ações do Governo Federal, estados, poderes legislativo e judiciário e sociedade civil.
Paulo de Tarso Vannuchi cursou medicina no final da década de sessenta, m as trocou a área biológica pelas humanas. Formou-se em jornalismo e depois fez mestrado em Ciência Política, na USP. Na faculdade, iniciou a sua militância política, na época clandestina, no movimento estudantil. Foi preso político durante o regime militar e trabalhou com assessoria política para entidades sociais e para a Direção Nacional do PT até 2005, quando assumiu a Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Participam como convidados entrevistadores:
Gilberto Nascimento, editor da revista Carta Capital; Oscar Vilhena, professor da escola de direito da FGV e diretor-jurídico da C onectas, organização internacional de defesa dos direitos humanos; Mario Cesar Carvalho, repórter especial do jornal Folha de S. Paulo; Glenda Mezarobba, cientista política, pesquisadora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp.
Perguntas dos telespectadores: Luiza Moraes.
Apresentação: Lillian Witte Fibe
Transmissão especial pela Internet a partir das 21:00
O Roda Viva é apresentado às segundas a partir das 22h10.
Você pode assistir on-line acessando o site no horário do programa.
http://www.tvcultura.com.br/rodaviva
Jimmy Wales no Roda Viva
Perguntas pelo site do programa: http://www.tvcultura.com.br/
Presidente do STJ diz que escutas não podem ser início de investigação
Mesmo diante das denúncias de que pode haver uma proliferação de grampos no país, o novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Cesar Asfor Rocha, demonstrou tranqüilidade. Disse que há pessoas que ficam “psicóticas” – o que, garantiu, não é o caso dele. “Pode ter pessoas que ficam psicóticas ao falar ao telefone. Eu até já tentei controlar um dia, mas é difícil”, declarou. No entanto, o magistrado deixou claro que tem preocupação em evitar algumas palavras ou termos que possam ser mal interpretados. “Procuro ser explícito, evitar usar expressões tipo ‘como é que está aquele negócio?’ porque a pessoa pode achar que estou negociando alguma coisa”, afirmou o ministro.
Asfor Rocha foi a primeira autoridade da cúpula do Judiciário a admitir que pode haver um excesso de grampos legais no país. Ao tomar posse, no último dia três, o ministro disse que o Judiciário deveria fazer um mea-culpa e admitir que pode haver um excesso de escutas autorizadas por juízes no Brasil. O tribunal começou a reagir essa semana. Na última terça-feira, o STJ anulou dois anos de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal (PF) durante uma investigação contra o Grupo Sundown, do Paraná. Por unanimidade, a Sexta Turma do STJ entendeu que os grampos foram ilegais por terem sido prorrogados sem justificativa razoável. Em entrevista ao Correio, Asfor Rocha voltou a alertar para o risco de banalização. E disse que contra os “livre grampeadores” o Judiciário não pode fazer nada.
A psicose do grampo
“Pode ter pessoas que ficam psicóticas ao falar ao telefone”
No dia da posse, o senhor falou que o Judiciário tem que fazer um mea-culpa sobre o excesso de grampos. Há descontrole?
Temos que distinguir o grampo legal do clandestino. Contra os grampos ilegais, feitos por iniciativa do livre atirador, ou melhor, do livre grampeador, não podemos tomar nenhuma medida, não há nenhuma medida judicial que pode ser tomada. Isso é um caso policial. No âmbito do Poder Judiciário, pode até haver certos grampos ilegais. O juiz pode autorizar a quebra do sigilo com relação a dez telefones e ser enxertado um número diferente. O grampo não pode ser o início de uma investigação. Isso, muitas vezes, conduz a uma banalização.
O STJ anulou dois anos de grampos por considerar que houve abuso. A decisão vai servir de orientação para outros tribunais?
Sim, porque o STJ definiu ser possível a quebra do sigilo telefônico, mas feita com sensatez. Há um dado preocupante, que é a perpetuação da quebra do sigilo. A lei fala em 15 dias, mas não diz quantas vezes podem haver renovações. E temos comprovações de que há quebras que duram mais de dois anos. Isso é devassa.
Como o Judiciário pode agir? A resolução do CNJ pode ajudar?
Nós vivíamos num estado letárgico. Todo mundo sabia que estava havendo excessos, mas não sabíamos a intensidade disso. Precisamos voltar a usar a quebra do sigilo telefônico como prova suplementar e não como início de prova. E que seja concedida mediante justificativa convincente e para um prazo determinado mesmo, sem ficar indefinidamente renovando. Com relação à medida do CNJ, é necessário haver um órgão que possa saber pelo menos quantas quebras de sigilo existem no Brasil. Só podemos saber se alguma coisa está funcionando direito fazendo um diagnóstico.
O senhor deixa de falar ao telefone?
Pode ter pessoas que ficam psicóticas ao falar ao telefone. Eu até já tentei controlar um dia, mas é difícil. Depois de três minutos de conversa a linguagem fica coloquial. Eu recebo e tenho necessidade de fazer dezenas de telefonemas. Como vou falar cifrado? Não há como. Evidentemente que eu não vou discutir um voto, mas as minhas conversas como ministro e cidadão, mantenho normalmente.
O senhor, então, não tem essa postura psicótica?
Não tenho. Procuro ser explícito, evitar usar expressões tipo ‘como é que está aquele negócio?’ porque a pessoa pode achar que estou negociando alguma coisa.
Mas há uma preocupação com as palavras?
Só com aquelas que são muito emblemáticas. Mas quem é que não comete excesso de linguagem quando está falando ao telefone? E eu converso com amigos que não têm a menor preocupação com isso, às vezes uma palavra indevida é utilizada, uma brincadeira exagerada.
O senhor disse que quer racionalizar o andamento dos processos no tribunal. Há um inchaço?
Muito grande. Esse ano a previsão de julgarmos 360 mil processos. Além de ser absolutamente irracional, desumano mesmo, não foi para isso que o STJ foi criado. Ele foi criado para definir os grandes temas nacionais infraconstitucionais e, definidos, não se ocupar mais com eles. O que acontece hoje é que nós julgamos e rejulgamos. O mesmo tema é julgado em mais de 30 mil processos. Queremos racionalizar os procedimentos referentes aos processos, dar aplicação imediata à chamada Lei dos Recursos Repetitivos. Temos condições de, em dez julgamentos, ficar livres de cerca de 120 mil processos. O objetivo não está sendo alcançado e essa lei vai possibilitar isso, como a chamada súmula impeditiva de recursos também vai trazer o STJ ao seu curso normal. Esse instrumento se assemelha à súmula vinculante adotada pelo Supremo.
Como está essa questão?
Ainda está no Congresso Nacional. Vamos procurar de imediato os deputados e senadores para sensibilizá-los da necessidade imperiosa de fazermos isso. Com a súmula, nós vamos impedir a subida de recursos interpostos contra decisões que estão consonantes com a nossa jurisprudência. Se o tribunal julgou de acordo com jurisprudência consagrada, não há razão para o processo vir para cá. É perda de tempo e aí há um risco de cometer injustiça. A demora é prejudicial para o Judiciário porque cria a sensação de que os juízes não trabalham, para o advogado, porque deixa de haver uma crença (no Judiciário) e, sobretudo, para o jurisdicionado, que fica nessa busca interminável de encerrar a sua questão e não termina.
Maurren Maggi no Roda Viva
A campeã olímpica Maurren Maggi venceu a prova do salto em distância em Pequim e transformou-se na primeira atleta brasileira a conquistar o lugar mais alto no pódio nos esportes individuais.
Maurrem Maggi foi destaque do atletismo brasileiro nos anos noventa. O primeiro destaque internacional veio com a quebra do recorde sul-americano de salt o em distância, em Bogotá, na Colômbia, em 1999.
Na Olimpíada de Sydney, em 2000, uma contusão na coxa direita tirou a esperança de medalha. Em 2003, Maurren Maggi participava do Troféu Brasil quando foi acusada de doping, que a tirou do Pan-Americano de Santo Domingo e das Olimpíadas de Atenas.
Depois de dois anos sem treinar, ela saiu da depressão, teve uma filha e voltou às competições. Em 2006, conquistou a medalha de ouro no Sul-Americano da Colômbia em 2006 e no Pan-americano do Rio de Janeiro, no ano passado.
Agora, aos 32 anos, conquistou o ouro em Pequim.
Participam como convidados entrevistadores:
Sérgio Xavier Filho, diretor de redação das revistas Placar e Runner's World; Luiz Fernando Gomes, editor-chefe do jornal Lance!; Hélio Alcântara, diretor do programa Conquista, da TV Cultura; Antonio Prada, diretor de conteúdo do Portal Terra.
Apresentação: Lillian Witte Fibe
O Roda Viva é apresentado às segundas a partir das 22h10.
Você pode assistir on-line acessando o site no horário do programa.
http://www.tvcultura.com.br/rodaviva
Carlos Ghosn no Roda Viva
A alta do preço do petróleo faz com que executivos do setor automobilístico e empresários busquem alternativas para a gasolina, com um combustível mais barato, menos poluente e econômico.
O engenheiro brasileiro Carlos Ghosn nasceu em Rondônia, passou a infância no Líbano, estudou na França, trabalhou nos Estados Unidos, Brasil e Japão antes assumir a presidência do Grupo Renault/Nissan.
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Samantha Power no Roda Viva
A jornalista e escritora Samantha Power radicada nos Estados Unidos será a atração do programa Roda Viva, TV Cultura.
Nascida na Irlanda, aos nove anos Samantha Power foi morar nos Estados Unidos. Formou-se em Direito e depois seguiu carreira jornalística, onde acabou cobrindo, como correspondente de guerra, conflitos na Iugoslávia, Sudão, Ruanda e Timor.
amantha é uma das maiores autoridades em relações internacionais e de 2005 a 2008 trabalhou como assessora de política internacional do senador Barack Obama, candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata.
Ela acaba de lançar, em português, uma biografia de Sérgio Vieira de Mello, onde conta a trajetória do diplomata brasileiro, morto num atentado terrorista há 5 anos, em Bagdá, no Iraque.
Em 2003, Samantha Power recebeu o prêmio Pulitzer pela publicação de outro livro: "Genocídio - A Retórica Americana em Questão", onde defende a tese da incapacidade do governo americano, durante várias gestões, de impedir genocídios pelo mundo.
Samantha Power é professora da Universidade de Harvard e colunista da revista Time.
Participam como convidados entrevistadores:
José Augusto Guilhon de Albuquerque, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e professor aposentado de Relações Internacionais da Faculdade de Economia e administração da USP; Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S. Paulo; Roberto Lameirinhas, sub-editor de internacional do jornal O Estado de S. Paulo; Carlos Taquari, editor executivo do Jornal da Cultura.
Perguntas dos telespectadores: Laís Duarte.
Entrevistadores: José Augusto Guilhon de Albuquerque, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo e professor aposentado de Relações Internacionais da Faculdade de Economia e administração da USP; Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman da Folha de S. Paulo; Roberto Lameirinhas, sub-editor de internacional do jornal O Estado de S. Paulo; Carlos Taquari, editor executivo do Jornal da Cultura.
Apresentação: Alexandre Machado.
Você pode assistir on-line acessando o site no horário do programa.
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Paulinho da Força Sindical aponta quem o persegue
Rujendra Pachauri no Roda Viva
Em 2007 o IPCC divulgou o maior e mais alarmante relatório sobre as conseqüências do aquecimento global. Com o estudo, o Painel alertou sobre os riscos das mudanças climáticas no mundo e rendeu ao IPCC o prêmio Nobel da Paz, que dividiu com o ex-vice-presidente americano Al Gore.
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Deputado Giovanni Queiroz fala do engessamento do setor produtivo na Amazônia
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, mostram que no mês de março, período em que foi desencadeada a operação Arco de Fogo, houve redução de 80% no desmatamento na região em comparação com o mês de fevereiro. Mas há denúncias de que a ação é precipitada, truculenta e que está causando fuga de pequenos produtores rurais, desemprego e paralisação da economia local.
Páginas amarelas: Garibaldi Alves
Foto: Antonio Cruz/ABr
Veja – O senhor assumiu a presidência de um Congresso desgastado pelo escândalo que culminou com a renúncia de Renan Calheiros e paralisado pelo excesso de medidas provisórias do governo. Qual é o seu diagnóstico?
Garibaldi – O Congresso deixou de votar, de legislar, de cumprir sua função. É uma agonia lenta que está chegando a um ponto culminante. Essa questão das medidas provisórias é emblemática da crise do Legislativo, que não é mais uma voz da sociedade, não é mais uma caixa de ressonância da opinião pública. Está meio sem função. O Congresso está na UTI, e ninguém do mundo político percebe que esse desapreço pelo Poder Legislativo é uma coisa que está minando as suas bases de sustentação e que a qualquer hora poderá haver um momento de maior tensão, de crise entre os poderes. À medida que o Legislativo abre mão de suas prerrogativas, o Executivo invade espaços. Precisamos inverter essa tendência.
Veja – Mas o desgaste do Congresso não decorre só da questão política. Nos últimos anos, os escândalos se sucederam e o Legislativo pouco fez para punir os envolvidos. Essa aparente leniência com a corrupção não ajuda a construir uma boa imagem do Congresso...
Garibaldi – Essa leniência tira a autoridade do Legislativo. Hoje, o Congresso só quer atuar na fiscalização de outros poderes, através das CPIs, mas esquece que precisa antes fazer uma faxina dentro de casa. Por exemplo: precisamos ter coragem de encarar a opinião pública na questão dos subsídios, dos vencimentos dos parlamentares.
Veja – O que o aumento do salário dos congressistas tem a ver com isso?
Garibaldi – Se eu fosse chamado agora para uma reunião, diria: vamos definir um salário justo para os parlamentares. Na hora, poderia me desgastar pela falta de credibilidade do Legislativo. Mas o parlamentar precisa de um salário maior, com menos penduricalhos, compatível com outros poderes. Não digo nem com o Executivo, que não é modelo para isso, já que um ministro ganha 8 000 reais líquidos. Hoje, o Legislativo está emparedado, intimidado, e ninguém quer enfrentar essa questão. Mas é uma questão justa.
Veja – Em sua avaliação, a absolvição do senador Renan Calheiros foi uma decisão correta dos senadores?
Garibaldi – A absolvição de Renan penalizou o Legislativo. Mas é uma questão difícil. Quero ter todo o cuidado de falar de uma pessoa que era colega. Quer dizer, é colega. Ele anda aparecendo menos, mas ainda está lá. Pelo coleguismo, todos têm cuidado, pensam muito antes de decidir. Eu até hoje não sei qual punição ele merecia. É difícil julgar um par, é um julgamento muito político. Eu tive duas posições. No primeiro julgamento, fui a favor da cassação. No segundo, fui contra. Esse tipo de julgamento é um dilema para o Legislativo. Mas, sem dúvida, prevaleceu mesmo a imagem da impunidade.
Veja – Analistas dizem que a imagem péssima do Legislativo, principalmente em razão dos casos de corrupção, tem atraído cada vez mais pessoas desqualificadas para a política. O senhor concorda com isso?
Garibaldi – A política hoje é o seguinte: quem já entrou sem dinheiro tenta sobreviver. Mas quem é liso não tem mais vez. Só vão entrar os endinheirados ou quem está atrás de mais dinheiro.
Veja – Como fazer para resgatar a imagem do Congresso?
Garibaldi – Não quero dourar a pílula. A situação está muito difícil. A discussão das medidas provisórias pode ser uma retomada de caminho. Câmara e Senado estavam funcionando como
duas entidades distintas e, agora, começam a se reunir, a tentar falar a mesma língua. Eu gostaria de ver até o fim do meu curto mandato, em fevereiro, sinais dessa reação. Há muita gente boa no Congresso, mas a maioria está desanimada. Muita gente está lá apenas para aprovar umas emendazinhas e conseguir uns cargos para se reeleger. A maioria dos parlamentares segue a lógica de votar com o governo, liberar as emendas, emplacar um cargo para um aliado e colher os dividendos nas eleições seguintes. Os políticos se contentam com isso e, sem saber, fazem um mal danado ao Legislativo. A Casa pode desmoronar do jeito que vai.
Veja – O Palácio do Planalto utilizou um dossiê com gastos secretos do presidente Fernando Henrique para tentar intimidar a oposição e inviabilizar a CPI dos Cartões. O senhor acha que a revelação do dossiê vai fazer com que a CPI ande?
Garibaldi – O episódio do dossiê foi bom para dar um alento a essa comissão, para a investigação pegar. Tem de investigar, tem de abrir tudo. Fernando Henrique fez uma carta para Arthur Virgílio pedindo para abrir todas as suas contas. Lula devia seguir o exemplo e fazer uma carta para o Romero Jucá (líder do governo no Senado) para abrir tudo isso aí. Não há nenhum problema de segurança nacional. Não vejo como essas despesas possam ameaçar um governo. Usar argumento de segurança nacional é coisa de ditadura, de regime autoritário. Essa tese não combina com a democracia. O lixo do presidente da República não é diferente do lixo de nenhum contribuinte. A mordomia faz parte do poder. Lula como presidente da República e eu aqui como presidente do Senado temos direito a uma certa mordomia. Mas isso deve ser totalmente transparente.
Veja – A maneira mais comum de o governo do PT tentar evitar uma investigação no Congresso é apelar para a tese de que o governo anterior fez o mesmo. Essa disputa para ver quem errou primeiro não provoca uma descrença na classe política?
Garibaldi – Ajuda muito a desmoralizar os políticos. Não quero dizer que não se deva comparar uma administração com a outra. Mas comparar seus feitos, não comparar para ver quem é pior, quem fez o errado antes. Há um nivelamento por baixo. O que a população espera é que se corrija o erro, não que se faça a exaltação do errado. Lá no Nordeste, há um dito popular assim: todo mundo calça 40. Significa que são todos iguais. Quando vejo essa troca de acusações entre PT e PSDB, lembro logo da frase. Todos eles calçam 40.
Veja – Mas o senhor é do PMDB, partido que esteve ao lado dos tucanos, hoje apóia os petistas e, assim, vai se perpetuando no poder, independentemente dos governos, há vinte anos. O seu partido também não calça 40?
Garibaldi – Dentro do PMDB há uma corrente que quer nadar contra essa maré. Mas essa prática do fisiologismo termina nivelando todo mundo por baixo. A imagem hoje é a de que quem é do PMDB não presta. É uma injustiça generalizar, todo partido tem gente fisiológica e gente séria, mas o meu partido deu motivos. Para enfrentar isso, o partido precisaria oferecer a outra face, a face boa. Mas qual será essa face boa, essa ilha de excelência?
Veja – Qual?
Garibaldi – Pensando em 2010, é difícil o partido tirar um candidato dessa massa sem lideranças. O PMDB não tem candidato. Ou vai de Aécio Neves, se ele vier para o partido, ou não tem ninguém. Poderia ser o Sérgio Cabral, mas ele está encontrando muitas dificuldades no governo do Rio.
Veja – Há alguma chance real de o governador de Minas, Aécio Neves, trocar o PSDB pelo PMDB?
Garibaldi – Eu não sou um dos articuladores desse projeto. Mas, se der certo, eu embarco nessa candidatura.
Veja – O presidente Lula aposta em Dilma Rousseff como sua candidata à sucessão e deu a ela o comando do PAC, para tentar fazê-la decolar. Lula e o PAC são suficientes para fazer de Dilma a próxima presidente?
Garibaldi – Se Dilma é a mãe do PAC, a candidatura dela vai depender dos filhos. Se esse PAC crescer mesmo, se esses filhos chegarem aos 16 anos e se tornarem eleitores, com o título no bolso, ela terá chance. Agora, se Dilma permanecer apenas com esse papel de coordenadora e o PAC não for esse canteiro lindo de obras, for só uma sigla, vai ser difícil demais emplacar.
Veja – O senhor acha que o PT, na hipótese de não encontrar um candidato ideal à sucessão, pode lançar uma ofensiva para dar um terceiro mandato a Lula?
Garibaldi – Pode, sim. Cada cidadão tem sua opinião, e eu vou dar a minha: eu não acredito que Lula vá topar essa parada. Ele está com uma imagem que não foi fácil conquistar, muito melhor do que quando ele iniciou essa luta para chegar à Presidência e ouvia gente dizendo que ia sair do país se ele ganhasse. Não houve debandada, não houve crise na economia. O presidente não vai querer jogar tudo isso fora por uma aventura do terceiro mandato. O que ele pode é querer voltar na eleição seguinte.
Veja – Qual o ponto forte do governo Lula?
Garibaldi – É uma coisa óbvia. Lula é um homem que foi fiel, pelo menos no imaginário popular, às suas origens. Chegou à Presidência, manteve a política econômica e voltou-se para a população mais pobre. Expandiu as bolsas e deu mais assistência aos pobres. Não sei se no futuro esses programas vão ser considerados bons, já que no interior do Nordeste muita gente não quer mais trabalhar porque está recebendo essa Bolsa Família. Prefere o dinheiro fácil a pegar no cabo da enxada. Agora, para a fome não há outra receita a não ser encher a barriga. Por isso o Lula é popular. Por isso não há quem possa hoje subir à tribuna do Senado e dizer que o Bolsa Família não é um bom programa.
Veja – E os pontos fracos?
Garibaldi – O problema é que Lula vê as coisas com um certo maniqueísmo. Tudo o que ele faz é bom. E quem fala mal dele, até quando é uma crítica bem-intencionada, é ruim. Então, ele passou a ser um divisor de águas, um dono da verdade. É lógico que existem falhas no governo dele. A reforma agrária dele não é boa. Ele não segura a exacerbação do MST. A política de Lula para o homem do campo é muito ruim. No Nordeste não tem mais ninguém vivendo direito da agricultura. Não existe grande produtor, não existe médio e o agricultor familiar só planta para subsistência. Outra falha é a falta de política de desenvolvimento regional, de investimento nas vocações econômicas das regiões.
Veja – O senhor foi relator da CPI dos Bingos, que desvendou uma série de escândalos no governo. Como o senhor avalia a corrupção no Executivo?
Garibaldi – O governo Lula foi muito frágil com a corrupção. Adotou uma política, para mim errada, de dizer que ninguém errou, que os corruptos foram vítimas de complôs, de circunstâncias. Sempre criando atenuantes. E se você cria atenuante cria impunidade. O próprio presidente adotou essa política muito compassiva com os auxiliares. Se o presidente não pune, não manda apurar, abre a porta para mais corrupção. Lula deveria ter cortado o mal pela raiz. Como não cortou, ficou sem condição de debelar a corrupção.
Veja – O senhor deve ouvir falar de reformas tributária e política desde que entrou na vida pública. Por que elas nunca saem?
Garibaldi – O país precisa muito de reforma política, previdenciária e tributária, mas já desperdiçamos muitas oportunidades. Lula e Fernando Henrique foram eleitos e reeleitos com grandes votações, tinham condições de enfrentar as resistências, mas não se empenharam. Isso só se faz no começo do governo, quando a popularidade é alta. Eu culpo essa falta de coragem dos últimos governantes para enfrentar essas questões mais a fundo. Isso é coisa para estadista. E falta estadista em nosso país.
Veja – Há alguma chance de aprovar a reforma tributária que está no Congresso até o fim do governo Lula?
Garibaldi – Este ano parece ser péssimo no Congresso por causa da eleição. Aparentemente, ninguém aposta um real que a reforma tributária saia. Mas eu aposto que essa reforma tributária, que não é a ideal, pode sair se o governo se empenhar com ela, for tolerante e dialogar com todos os lados envolvidos.
Criação do Estado do Carajás é garantia de desenvolvimento diz Luciano Guedes
Foi ao "ar" na quarta-feira,13, na TV Eldorado – SBT de Marabá a exibição da interessante entrevista com o Vice-Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado, o pecuarista, empresário e uma das mais respeitadas lideranças políticas do Sul do Pará, Luciano Guedes.
O médico veterinário disse que apesar de não ter sido eleito, foi um dos mais bem votados de seu partido (PDT/PA) no último pleito na disputa a uma vaga a deputado estadual pela região de Redenção. Na entrevista, concedida à Markus Mutran, ele mostrou ser mesmo um dos maiores conhecedores da Amazônia no Brasil, relatando em profundidade a realidade do produtor rural e todas as dificuldades que o sudeste do Pará enfrenta com a distância sempre crescente do Governo.
Guedes falou sobre os negócios que mantém em Redenção. A revolta da população, a ponto de ocupar a PA-150 por falta de segurança prública, - e, depois, em razão do problema da Aldeia Las Casas.
Respondeu com segurança, a questão dos custos elevados, benefícios à elite política local e de Belém; a ingratidão que permeia o processo e as justificativas alegadas para a não criação do Estado do Carajás.
Disse claramente o que pensa dos deputados federais (cinco) eleitos na região e que sustentam a necessidade da criação de um novo um novo Estado, e o benefício que a curto, médio e longo prazo, será revertido para a população da área.
Analisa a renovação da Assembléia Legislativa, discorrendo em seguida, com muita propriedade sobre: reflorestamento, melhoramento genético, verticalização mineral, investimentos em Educação e Infra-Estrutura e se o PAC vai dar conta dessas faturas.
Fez uma análise do quadro político regional. Colocou o que seria um Pará ideal e concluiu:
Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados
Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados A imagem peregrina da padroeira dos par...
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O martelo já está batido: o Palácio do Planalto “deletou” a agenda trabalhista do Congresso, segundo o jornal Correio Braziliense de hoje. ...
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O SR. ARNALDO FARIA DE SÁ (PTB-SP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu queria mais uma vez cumprimentar a Comissão de S...