Mais um elo une o lobista suspeito de intermediar licitações fraudulentas no Senado com o primeiro-secretário da Casa
O lobista Eduardo Bonifácio Ferreira, acusado de negociar o resultado das licitações no Senado, é filiado ao DEM, mesmo partido do primeiro-secretário da Casa, senador Efraim Morais (PB), responsável por esses contratos. O registro de Ferreira no partido é de 30 de setembro de 2005. No mesmo dia, a Polícia Federal monitorou seus passos por Brasília e o flagrou num encontro no Parque da Cidade com representantes das empresas Conservo e Ipanema, interessadas nas concorrências do Senado.
A filiação de Ferreira ao DEM é, pelo menos, o quarto vínculo dele com Efraim. Nos últimos dias, o Correio revelou os outros três elos do lobista com o senador. O primeiro é a nomeação dele para trabalhar na Liderança da Minoria em 2003, quando Efraim era o líder. O segundo é o flagrante feito pela Polícia Federal do lobista abrindo com a própria chave uma porta de acesso ao então gabinete do parlamentar em junho de 2006, logo após a vitória das empresas suspeitas nas concorrências do Senado. Naquela época, ele não era mais funcionário da Casa.
O terceiro vínculo é a revelação feita na quinta-feira de que Ferreira fez um contrato com o senador, registrado em cartório, para transferir cotas de capital de uma empresa de consultoria. Efraim tem se negado a explicar qual sua relação com o lobista, denunciado em março deste ano pelo Ministério Público Federal (MPF) por improbidade administrativa.
De acordo com a investigação, Ferreira agiu em nome do Senado nas negociações com os empresários. Ele teria se encontrado, pelo menos, oito vezes com os interessados nas licitações. A PF, em cima da investigação da Operação Mão-de-Obra, também captou diálogos telefônicos de Ferreira com os donos das empresas. Nas conversas, o lobista sempre cita uma “autoridade” que estaria acima dele.
Contratos
O Ministério Público acusa a Conservo e a Ipanema de fraudar essas concorrências, que somam R$ 35 milhões, destinadas ao fornecimento de mão-de-obra terceirizada ao Senado. O esquema teria contado com a ajuda de dois servidores da Casa e de Eduardo Ferreira, apontado como o intermediário das negociações. Apesar das suspeitas levantadas, Efraim prorrogou esses contratos até 2009 sem licitação.
O senador adotou a tática do silêncio depois que o Correio passou a revelar indícios da ligação dele com Ferreira. Segundo a investigação, o lobista demonstrava ter influência no Senado, principalmente porque as empresas suspeitas acabaram vencendo as concorrências. A reportagem tem procurado Ferreira na sua casa, na 112 Norte, e também por telefone. Mas nenhuma resposta foi dada até o fechamento dessa edição.
Efraim será cobrado pelos colegas de partido e de Senado na próxima semana. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), alegou que não sabia da filiação de Eduardo Ferreira ao partido. Argumentou que esse é um “fato novo” e que a legenda ainda vai discuti-lo.
Na terça-feira pela manhã, a bancada de senadores do DEM deve se reunir para debater a situação de Efraim. O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), promete ouvir Ferreira sobre as ligações com o senador paraibano. O PSol aguarda a manifestação do lobista para decidir se será entrará ou não com um pedido de abertura de processo por quebra de decoro no Conselho de Ética.
Já o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), garante que vai substituir esses contratos até o fim do ano com novas licitações. Por enquanto, as empresas suspeitas continuam atuando na Casa.
Os vínculos
Procuração
O lobista Eduardo Bonifácio Ferreira, acusado de negociar o resultado de licitações no Senado, fez um contrato com o primeiro-secretário da Casa, Efraim Morais (DEM-PB), dando ao parlamentar poderes para representá-lo como sócio da Chemonics Brasil Consultoria Empresarial, que mudou o nome para Syngular Consultoria. No inquérito da Operação Mão-de-Obra, a Polícia Federal levanta a suspeita de que a Syngular seria uma empresa de fachada.
A chave
Ferreira foi flagrado pela PF entrando no gabinete então ocupado pelo senador Efraim Morais, em 29 de junho de 2006. Segundo a polícia, Ferreira tirou a chave do próprio bolso para abrir a porta e ter acesso à sala. Nessa época, havia mais de um ano que ele não trabalhava no Senado.
Nomeação
O lobista, que teve pelo menos oito encontros com os empresários investigados, trabalhou na Liderança da Minoria do Senado entre 2003 e 2005. Efraim era o líder da Minoria em 2003.
Filiação
Ferreira se filiou ao DEM em 30 de setembro de 2005. Naquele dia, coincidentemente, o lobista estava sendo monitorado por agentes da PF. Ele foi flagrado num encontro com os empresários suspeitos no Parque da Cidade.
Nota do Blog: Até o presente momento, nem uma linha, uma fala, um protesto sequer dos obsequiosos deputados, senadores e dirigentes do DEMO.