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Athos Bulcão ― o que importa é que os brasilienses o amavam

A lição de Athos

Carlos Marcelo

No início da tarde de quinta-feira, o âncora de um programa de rádio anuncia a participação de repórter com notícias de Brasília. Aguardo mais informações sobre a morte de Athos Bulcão. A notícia, porém, vem do Palácio do Planalto: “O presidente Lula disse hoje que vai a Pequim para apoiar a candidatura do Rio de Janeiro às Olimpíadas de 2014”. Nada sobre o gênio da cor, um dos maiores artistas brasileiros do século 20, falecido aos 90 anos. Depois da decepção, vem a constatação: a ausência de destaque maior no noticiário nacional reflete o fato de que o carioca Athos, em vez de se dedicar aos holofotes do eixo Rio — São Paulo e com isso galgar também o reconhecimento internacional, preferiu construir sua vida silenciosamente na capital do país. E, por isso, somente os moradores de Brasília têm condição de compreender na integralidade o alcance de sua obra. Afinal, mesmo sem perceber, há quase cinco décadas convivemos com ela.

Mesmo ocupando palácios e monumentos, a arte de Athos não é restrita às sedes do poder. Muito pelo contrário: está em toda parte. Ao caminhar no Parque da Cidade, ver um filme no Cine Brasília ou visitar um parente no Sarah Kubitschek, em todos esses momentos você está em contato com o trabalho desse artista único. A experiência cotidiana de contemplação, sem a necessidade de ir à galeria, faz muitos se referirem à cidade como um gigantesco museu a céu aberto. Mas essa idéia é insuficiente para definir a importância da monumental obra de Bulcão. Porque ir ao museu, infelizmente, está associado a contemplar algo que já foi feito, preso ao passado. Ao contrário do aspecto mais importante da obra de Athos: a cada azulejo cravado nas paredes, a cada quadro cheio de cores, ele dribla a monotonia provocada pela onipresença do branco e, assim, renova o nosso olhar. Eis a maior lição que um professor poderia passar para seus alunos, mesmo para os que não tiveram o privilégio de escutá-lo falando sobre pintura e cinema na Universidade de Brasília.

Como observou o professor da USP Agnaldo Farias, em artigo publicado ontem no Correio, “Brasília tem mesmo muita sorte. Athos Bulcão saiu de cena deixando nela a maior parte do corpo de sua obra. Obteve em vida o que poucos artistas sonham obter: que sua obra já não mais lhe pertencesse, que fosse tão comum e natural quanto os verdes, a planura e a extensão do céu da cidade que adotou para si”. Agnaldo tem toda razão: enquanto Brasília não morrer, Athos Bulcão continuará entre nós.

Morre Athos Bulcão: apaixonado por Brasília

Fotos: Google Imagens














O artista plástico Athos Bulcão, morto na manhã da quinta-feira, 31 vítima do agravamento dos sintomas do Mal de Parkinson, teve grande participação na arquitetura dos prédios que compõem Brasília e, em especial a Câmara dos Deputados. Ele estava há quatro meses internado no Hospital Sarha, onde há um conjunto de suas obras.















Athos - que completou 90 anos no último dia 2 de julho - é conhecido pelos belos azulejos que colorem monumentos de Brasília. Seus painéis e arte sobre arquitetura podem ser admirados no Teatro Nacional e na Torre de TV da cidade.















No Congresso Nacional, o artista deixou um amplo acervo de obras de arte. Na Câmara, suas obras estão distribuídas pelo Plenário, nos Salões Verde, Negro e Nobre. São painéis realizados a partir do azulejo, do mármore e granito e da madeira laqueada. Para o mais novo edifício da Câmara, do Centro de Formação e Treinamento, o artista criou um mural e o painel que compõem a parede do auditório - seus últimos trabalhos. As cores usadas pela Câmara - verde-itamarati e bege - também foram escolhas de Athos Bulcão, adotadas na década de 80.















Como lembra o arquiteto Maurício Matta, diretor da Coordenação de Projetos do Departamento Técnico e antigo colaborador de Bulcão, a obra deste artista é usada como elemento de ligação e identificação visual da Casa.


















Claudia Pereira, representante do Conselho Curador da Fundação Athos Bulcão, disse ser impossível avaliar o valor cultural da obra do artista no Congresso Nacional. "Todas as câmeras deste País, quando passam pelo Congresso, não resistem a registrar uma entrevista onde o painel esteja atrás. Avaliar uma obra de arte do ponto de vista mercadológico é fácil, mas do ponto de vista de seu valor cultural, o tempo dirá. E o tempo tem dito que Athos é a cor e o movimento desse céu aberto que é Brasília".













Já a secretária-executiva da Fundação Athos Bulcão, Valéria Cabral, ressaltou a importância da educação sobre obras do artista. "Falta chamar a atenção das nossas crianças e adolescentes para uma educação patrimonial, para que as pessoas vejam a importância de preservar a obra de arte que Athos nos legou."


















Athos Bulcão foi o profissional mais importante na produção plástica de integração arte-arquitetura no Brasil. Iniciou seus estudos com Cândido Portinari, participando na elaboração dos painéis da Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e veio para Brasília em 1958 como o principal de Oscar Niemeyer na área de integração arquitetônica.

Uma das peculiaridades do artista, que deixou uma extensa obra, entre painéis, desenhos e gravuras, é que ele não assinava suas obras, como diz Valéria Cabral. "Ele dizia que a assinatura interferia no trabalho dele."

O corpo do artista está sendo velado no Palácio do Buriti e será enterrado no Cemitério Campo da Esperança na ala dos pioneiros.

Saiba mais sobre a biografia de Athos Bulcão

(Com Agência Câmara)

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