O
blogger está de férias e não podia deixar de relatar uma história estarrecedora direto de uma fonte com fé pública: um deputado federal, depois mais um que, por enquanto, preferem não ter os seus nomes revelados.
Foto: Correio do TocantinsOdair Pereira Barro morto. O último abraçoOdair Pereira Barros era um líder comunitário em Marabá (PA). Foi assassinado e os delegados, inclusive o Geral do Interior nada fez para evitar a morte do que, teroricamente, seria "um companheiro da história política da governadora".
Odair Pereira Barros organizava a nada fácil vida de sem tetos que perambulam pela região.
Inicialmente, o trabalho de Barros foi em bairros da periferia de Marabá. Mas foi numa invasão próximo à do aeroporto da maior cidade do sul do Pará que sua vida desaguou em seu assinato, graves ferimentos em sua mulher e filho.
As coisas não andavam. A regularização da área da invasão próximo ao aeroprote de Marabá passa por domínio constituicional do arco da Infraero (empresa estatal que administra os aeroportos brasileiros) que por questões de segurança de vôo não podem abrigar no perímetro qualquer concentração de moradias ou comércios. Portanto, era quase impossível manter o contigente de sem-tetos lá.
Barros atreveu-se a buscar uma solução de própria iniciativa. Um pistoleiro o aguardava no lugar.
Resolveu com seu grupo invadir a área próxima à Fábrica da engarrafadora local do refrigerantes Coca-Cola, do Grupo Simões do Amazonas e que fora adquirido do remanescente de uma das fazendas do ex-deputado estadual Vavá Mutran.
No embalo, o grupo de Barros adentrou outra área privada que pertence a uma propriedade de um dos herdeiros de um dos pioneiros da pecuária marabaense Almir Moraes: a Fazenda Bandeira. A fazenda ficou como herança para um de seus filhos: Manoel Moraes.
Articulado, o líder comunitário dos sem-tetos erigiu rapidamente a sede da associação a qual presidia e tocou o trabalho, aumentou o número de postulantes à terrenos na área e foi ficando.
O jornal Correio do Tocantins diz que a morte de Odair Pereira Barros
foi anunciada há pouco mais de um mês, quando Genildo Galdino da Silva e outros sem-teto ocupantes da então Fazenda Bandeira, hoje bairro Nossa Senhora Aparecida, também conhecido como “Invasão da Coca-Cola”, em Marabá, avisaram que iriam matá-lo caso ele colocasse os pés mais uma vez na área. A ameaça velada foi cumprida à risca.
Esse grupo dissidente tocou fôgo na sede construída por Odair Pereira Barros e expulsou-o do lugar. Juntos, perderam o teto a mulher do ativista e seu filho menor de idade.
Na reportagem publicada pelo jornal marabaense, o repórter Ulisses Pompeu apurou que
por volta de meio dia desta quarta-feira (2), Odair voltou à invasão, onde era presidente destituído da Associação de Moradores, em companhia da mulher dele, Devanira Júlia de Paula e de um filho de 16 anos de idade, de iniciais F.R.F. Em menos de meia hora no local, ele foi surpreendido por um dos moradores, que disparou três tiros contra ele, um na perna de Devanira e outro na mão direita do filho do casal. Segundo uma testemunha ocular do crime, Aline Santos Silva, ao receber os três tiros, Odair disse apenas “me apóia, me apóia, não consigo me mexer”. Caiu e desfaleceu nas mãos do filho, que gritava “meu pai, meu pai! Mãe, vamos tirar ele daqui, mãe”.
Levado para o Hospital Municipal de Marabá, Odair chegou morto e os médicos se concentraram em atender Devanira e F.R.F., que estavam baleados. À reportagem do CORREIO DO TOCANTINS, a mulher de Odair justificou que ela e o marido tinham voltado à invasão para fazer fotos dos escombros do prédio da Associação de Moradores, que havia sido destruída há cerca de um mês por outros invasores que não queriam mais seu marido na direção da entidade.
“O Odair fez de tudo por esse lugar. Foi a Brasília pedir apoio para desapropriação da fazenda Bandeira, conseguiu verba de R$ 10 milhões para urbanização e agora eles retribuíram tudo acabando com a vida dele”, protestou a viúva.
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Odair com ajuda de amigos veio à Brasília. Procurou alguns deputados. Um o recebeu e ouviu sua história.
Explicou toda a situação e relatou de maneira dramática que a partir dali sua vida não valia mais um real furado.
O deputado disse que gerou a imediata indignação de sua parte fora o fato que, há semanas atrás, o líder dos sem-teto do Aeroporto e agora da Coca-Cola, logo após ser expulso do lugar e o prédio da associação havia sido incendiado e totalmente destruído, não fora-lhe permitido prestar queixa do fato.
Odair Pereira Barros relatou ao deputado que lhe atendeu uma seqüências de fatos que comprovam o retrato que pode colocar a região mais uma vez em meio de processos internacionais da maior gravidade nos Tribunais Internacionais de Direitos Humanos ao qual o Estado brasileiro é signatário.
O que o deputado ouviu diante de várias testemunhas foi que a Delegada de prenome Fernanda, simplesmente não podia fazer o Boletim de Ocorrência do fato devido à ausência do escrivão da delegacia.
Barros voltou, telefonou e desesperadamente apelou para que pelo menos a queixa fosse registrada.
A delegada Fernanda disse que um parente do escrivão tinha morrido e que ele não tinha hora para voltar e que nada de registro de coisa nenhuma.
Nesse ponto do relato. Odair Pereira Barros ouviu as primeiras providências.
O deputado telefonou de seu gabinete, na frente de Barros e ligou para o delegado do Interior, Miguel Cunha.
- Delegado estou aqui com o Odair Pereira Barros na minha frente e quero saber como vamos registrar as ocorrências que resultaram na ameaça de morte dele.
O deputado continua:
- Ele está embarcando no próximo vôo daqui e para o senhor atendê-lo, certo?
- Certo deputado. Manda o homem. (Miguel Cunha. Delegado do Interior)
Quando Odair Pereira Barros chegou à sede da Superintendência de Polícia Civil no Estado, novamente não foi recebido. O deputado, porém acompanhava-o.
- O delago não está e vou encaminhá-lo para resolver o assunto.
Era a delegada Fernanda. Que novamente nada fez.
Passaram-se alguns dias.
Ao ser questionada sobre quem matou o marido e atirou nela e no filho, Devanira disse sem titubear que o assassino de seu marido foi Genildo Galdino da Silva, um dos invasores, que há pouco mais de um mês ameaçou que iria matar Odair caso ele aparecesse mais uma vez no local. “Ele matou, mas o mandante foi João da Madeireira”, denunciou, referindo-se a João Vanderlan Souza Albuquerque.
Acusado de mandante preso
Uma equipe da Polícia Civil, chefiada pela delegada Nilde Rosa da Silva, conseguiu prender João da Madeireira, que comercializa tábuas e caibros para construção dentro da invasão, mas Galdino já havia fugido da área. Ainda na tarde de ontem, o filho de Odair e Aline Silva, foram ouvidos pela polícia, assim como João da Madeireira e reafirmaram as declarações.
Inicialmente, a advogada do acusado de mandante era Vilma Leal, mas antes de meia noite quem passou a defender João foi a jovem advogada Brenda Guimarães Santis. Ontem, em contato com a Redação, Brenda criticou o fato de a delegada Nilde Rosa ter lavrado flagrante contra João da Madeireira, alegando que não há fundamentos jurídicos para flagrante de mandante de assassinato contra o seu cliente.
Embora tenha dito em depoimento à delegada e também para repórter deste jornal que viu João da Madeireira mandando Galdino atirar em Odair, Aline Silva veio ontem no final da manhã à Redação do CT para mudar sua declaração, não se sabe para beneficiar quem. Ressaltou inicialmente que estava nervosa no dia do crime e depois alegou que “foi forçada a dizer que tinha visto João da Madeireira mandar matar seu Odair”.
Em contato por telefone com a redação, meia hora depois, a advogada Brenda Santis queixava-se do fato de Aline ter voltado à delegacia para “dar seu verdadeiro depoimento, mas nenhum delegado quis tomar sua nova versão”.
Sou inocente
Em seu depoimento à delegada Nilde, João da Madeireira alega inocência e diz que havia pedido que Odair não fosse mais à sua casa quando fosse àquela invasão, na quarta-feira, porque várias pessoas daquela comunidade ameaçavam queimar o depósito de madeira caso ele mantivesse algum tipo de relacionamento amistoso com o ex-presidente da associação.
Alegou que na hora do crime estava conversando com outra pessoa, de prenome Romário, quando ouviu os disparos, mas percebeu que o autor dos tiros foi Galdino. “Quando o matador for preso, vai confirmar que não mandei matar ninguém”, prevê.
Com seu cliente ainda preso, a advogada Brenda Santis vai esperar que a delegada envie o inquérito à justiça após dez dias do crime para pedir o relaxamento da prisão de João da Madeireira. “Ele não tinha nenhum interesse na morte de Odair. É apenas um comerciante”, ressalta. (Ulisses Pompeu)
Após a morte de Odair, clima agora é de eleição
O assassinato de Odair Barros aumentou o clima de disputa interna para a presidência da Associação de Moradores do bairro Nossa Senhora Aparecida, antiga fazenda Bandeira. No próximo dia 20, os moradores vão às urnas para escolher um novo presidente da entidade.
Odair Barros foi assassinado nesta quarta-feira, 2, depois de receber ameaças de morte provocadas por denúncias de que estaria prejudicando toda a comunidade com cobrança ilegal de dinheiro, corte de energia elétrica dos moradores inadimplentes com a associação e venda de um mesmo lote para várias pessoas.
Agora, não faltam candidatos ao cargo. Pelo menos três já se inscreveram para encabeçar chapa para disputar a presidência da entidade, onde há cerca de 600 famílias cadastradas. Moisés Soares Filho, Paulo Sérgio do Rosário Varella (Badeco) e José Ribamar (Ferrugem) estão no páreo, segundo os moradores.
Badeco é o único que não mora na invasão. Ele reside no bairro Santa Rosa, na Marabá Pioneira, e tem como trunfo o fato de já ter sido vereador por três mandatos em Marabá. Contudo, alguns moradores temem que ele tenha apenas interesse eleitoral na área.
Na mesma tarde em que ocorreu o homicídio de Odair, a reportagem percorreu várias ruas da invasão, mas ninguém se mostrava triste com a morte do antigo líder e só falavam em “novos tempos”. Para defender o “matador”, tinha gente que dizia que ele não era morador do bairro e que fora para a área como pistoleiro apenas para executar Odair. “Vamos escolher novo presidente, isso é o que importa”, comemorava Arnaldo Pereira, um dos moradores. Desde quando foram instaladas as primeiras moradias na antiga Fazenda Bandeira, o local tem sido palco de violência, com inúmeros assassinatos. A maioria fruto de desavença entre os próprios ocupantes da área, ainda desprovida de posto policial e de entidades capazes de serenar e doutrinar o espírito daqueles mais exaltados. (U.P.)
Desabafo > “Esse bairro está marcado pela maldição da invasão”
A morte de Odair foi prova de que naquela invasão reina a lei do gatilho e da “peixeira”. Embora tenha pouco tempo de existência, o bairro “Nossa Senhora Aparecida” precisa mesmo de reza forte. Vários assassinatos já foram registrados no local e o isolamento geográfico em relação a outros bairros produz a sensação de impunidade para algumas pessoas.
Dona Maria Adelaide, que está na invasão há vários anos, disse que se desiludiu com a área, que ela pensava que iria crescer com tranqüilidade. “Esse bairro está marcado pela maldição da invasão”, avaliou.
Dezenas de moradores da invasão da Coca-Coca fecharam a entrada do bairro no dia 28 de novembro do ano passado, porque estavam sem energia elétrica há dez dias. Eles se diziam enfurecidos contra Odair Barros, que seria o responsável pelo desligamento da energia para todo o bairro, que funciona em sistema de “gato”, clandestinamente.
Os moradores acusavam o presidente da associação de vender um lote várias vezes para pessoas diferentes, gerando intriga e com o intuito único de se beneficiar financeiramente. Genildo Galdino da Silva havia dito ao CORREIO DO TOCANTINS, na época, que a comunidade daquela invasão não aceitava mais a presença de Odair Pereira naquele bairro e que estavam preparados para linchá-lo caso ele aparecesse por lá. “A gente vai matar ele, a mulher dele ou os capangas, se aparecerem aqui. Nem a polícia vai impedir isso”, avisou.
As invasões têm se multiplicado em Marabá nos últimos anos, tanto na área urbana quanto na rural, enquanto as autoridades não apresentam um plano de desenvolvimento urbano para a cidade. Também no ritmo das invasões vem uma enxurrada de problemas, como falta de saneamento, segurança e ausência de escolas. (U.P.)
Outro deputado participou da articulação.
O caso deve ir às últimas conseqüências promete outras fontes ouvidas pelo blog.