CANA-DE-AÇUCAR NA AMAZÔNIA
Blog do Altino Machado
Lula erra em Bruxelas ao dizer que a plantação do país "fica muito distante da Amazônia, região que não se presta à cultura"
Caso lessem os relatórios do seu próprio governo, conhecessem as ações de seus próprios ministérios e dos governos estaduais administrados por seu próprio partido, os assessores poderiam contribuir para dar ao presidente Lula e ao Brasil mais credibilidade quando ele fala no exterior. Não foi o que ocorreu ontem, em Bruxelas, quando Lula fez um pronunciamento na Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, para uma platéia formada por ministros, empresários e ONGs do mundo inteiro.
Lula disse que o cultivo da cana-de-açucar no Brasil ocupa menos de 10% da área cultivada do País, ou seja, menos de 0,4% do território nacional. "Essa área – é bom que se diga – fica muito distante da Amazônia, região que não se presta à cultura da cana", afirmou, tendo acrescentado que "se a Amazônia fosse importante para plantar cana-de-açúcar, os portugueses que introduziram a cana-de-açúcar no Brasil, há tantos séculos, já o teriam feito na Amazônia". Lula chegou a agradecer aos antepessados de uma dupla portuguesa presente na solenidade "por não terem utilizado a Amazônia para produzir álcool nem açúcar".
Mal assessorado, Lula gera constrangimento com declarações desencontradas quando repete frases de assessores da Casa Civil. Na Amazônia, já existem usinas de porte expressivo em Presidente Figueiredo (AM), Ulianópolis (PA), Arraias (TO), além de meia dúzia no Mato Grosso. De acordo com o último levantamento oficial da Conab, um órgão do Ministério da Agricultura, de maio deste ano, na safra passada houve mais de 19 milhões de toneladas de produção de cana-de-açucar na Amazônia Legal, entre Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Amazonas e Pará.
Ainda não consta no documento a produção do Acre, isto é, da agroindústria Álcool Verde, pertencente ao Grupo Farias, que os políticos petistas do "governo da floresta" consideram como o grande trunfo de investimento. Uma antiga usina, que jamais havia produzido álcool, foi revitalizada com dinheiro público e privado. O investimento já atinge mais de 2 mil hectares de cana-de-açucar plantados ao longo da BR-317. O ex-governador Jorge Viana, que preside o Fórum Empresarial do Acre, já anunciou que uma segunda usina será instalada na região.
É falso o mito de que o cultivo da cana-de-açúcar é inviável na Amazônia. De acordo com o relatório da Conab, a produtividade média na região amazônica é de 70 toneladas por hectare, bastante próxima à media nacional de 79 toneladas, e muito superior àquela de estados como Alagoas e Pernambuco, que são grandes produtores tradicionais de cana, e que apresentam, respectivamente, produção de 63 e 52 toneladas por hectare.
Um dia antes de afirmar que o cultivo de cana fica muito distante da Amazônia e que a região não se presta à cultura da mesma, o jornal Diário do Pará noticiou a assombrosa quantidade de pessoas libertadas numa única operação de repressão ao trabalho escravo no país. Blitz do Grupo Especial Móvel encontrou 1.108 trabalhadores em condições degradantes de trabalho em uma fazenda de propriedade da empresa Pagrisa (Pará Pastoril e Agrícola S.A.), em Ulianópolis. Os trabalhadores dormiam em alojamentos superlotados e trabalhavam na colheita de cana-de-açúcar.
◙ Uma matéria do jornal espanhol El Mundo diz nesta sexta-feira que a União Européia não quer "etanol sujo" do Brasil. Leia no site da BBC.
Um comentário:
Produzir etanol de cana-de-açúcar na Amazônia é pura asneira.
Um hectare de floresta nativa produziria 7500 litros etanol da celulose contra apenas 2500 litros da cana-de-açúcar, podendo-se ainda retirar toda a madeira nobre para a exportação dobrando esse faturamento.
Nas áreas degradadas, pode-se restaurar a floresta nativa ou plantar florestas cultivadas de eucaliptos ou pinus, como fez a International Paper no Amapá, que plantou cerca de 100.000 hectares e produz nessa área 1,7 milhões de toneladas de cavacos para a exportação, com mercado nacional e internacional líquido e certo.
A hora que quiser transforma essa produção de cavacos em 400 milhões de litros de etanol de celulose para consumo interno na região norte ou para exportação, tornando o Amapá auto-suficiente em álcool combustível e um dos mais produtores de etanol do Brasil.
Apenas para se ter uma idéia do potencial econômico da região norte nesse setor energético, o porto de Santarém exportou em 2006, cerca de 226.000 toneladas em toras de madeira e poderia produzir com essa produção de madeira, mais cerca de 70 milhões de litros de etanol apenas com os rejeitos de madeira abandonados na floresta ao relento. Existem inúmeras teses e trabalhos científicos sobre esse aproveitamento dos rejeitos florestais.
Em todo o Estado do Pará, essa movimentação de madeira chega facilmente a 2 milhões de toneladas e outros 2 milhões equivalentes de rejeitos, que daria para produzir cerca de 600 milhões de litros de etanol de celulose.
Acredito que a declaração da Ministra de Lula de que não se produzirá etanol na região norte é mera retórica diplomática para agradar os gringos, pois, não se sustenta na realidade econômica.
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