Seremos duas São Paulo em três décadas

A respeito do post A análise de um tapajônico que o blog do Hiroshi reproduz do artigo assinado pelo jornalista Manuel Dutra, foi publicado originalmente no Blog do Jeso.

Entro no debate com os seguintes argumentos:

Somos a maior locomotiva da Terra

O ensaio do eminente jornalista Manuel Dutra nos traz um erro de origem: o pessimismo carregado de tinta em várias passagens. O professor-doutor Dutra coloca o vagão a frente do trem da história.

Qualquer cidadão que acompanha o inadiável debate sobre a imperiosa necessidade da revisão geopolítica do Brasil a partir da Amazônia, entende que a questão remete ao interesse soberano da nação brasileira.

Há muito que não se discute nas salas de aula, quer do ensino primário, quer na cátedra, o DNA do nosso nacionalismo. O que afinal somos, para onde queremos ir.

Recomendo a todos a leitura do livro "Fundamentos para o Desenvolvimento da Amazônia", editora FGV, organizado por Rodolfo Grandi, Andréa Rente e Fernando Costa.

Trata-se de uma coletânea de artigos assinados por notáveis representantes dos mais variados extratos sociais.

Fica claro a preocupação com o depauperamento a que está submetido a região mais estratégica do planeta.

Para leitores destreinados do pesado e complexo tema, o livro coaduna-se a outras obras de fôlego que constatam a leniência em que a Amazônia é lamentávelmente tratada por nossas autoridades.

A demanda reprimida virou uma piada de humor negro.

As tentativas até então má aplicadas para reverter o quadro endêmico de falta de recursos para pesquisa de modo a permitir o desenvolvimento do conhecimento sobre o ente Amazônia é patente.

Os países que mantém com o Brasil e alguns dos Estados que compõem a chamada Amazônia brasileira, é assunto de segurança nacional, portanto, prioritário. Porém, a realidade arrasta-se na incapacidade de resposta a necessária formulação que deve vir acompanhada do compromisso nacionalista aos nossos interesses.


São vários os diagnósticos, e confesso-me um otimista, ao contrário de meu colega Manuel Dutra.

A contumaz incompetência de nossa capacidade de reação, leia-se governo federal, não deve ser o leitmotiv do desânimo dos fracos.

A criação de novos Estados, a partir da Amazônia, e fundamentalmente, a partir do Pará, cujos números e análises técnicas, permitirão uma acelerada aplicação de oxigênio para as ações que está em compasso de espera, é ser nacionalista.

Um passo corajoso é rever de imediato a configuração geopolítica da região.

O Carajás somado ao Tapajós que multiplicado ao Pará remanescente, promoverá na década vindoura, uma revolução nunca antes vista no atual quadro de letargia e agravamento dos problemas inerentes as particularidades da Amazônia brasileira.

Digo mais, os tratados multilaterais que o Brasil é signatário, caminham em direção de uma seara promissora. Há de se criar um ambiente favorável para o seu fortalecimento.

A integração dos países da Amazônia é “um imperativo geográfico”. A avaliação é da secretária geral da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), Rosalía Arteaga Serrano. A organização lançou, aqui em Brasília, seu segundo relatório de gestão, relativo ao período de novembro de 2005 a outubro de 2006.

As questões ambientais não têm fronteiras e, portanto, os oito países que formam a chamada Amazônia Continental (e que compõem a OTCA) –Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela – devem buscar a integração. Ela explica que a região compartilha recursos e devem buscar soluções para os problemas em comum.

“Nós temos um rio [o Amazonas] cujas águas vêm do longe, das alturas, dos Andes e vão para o mar”, comenta. “As águas não reconhecem limites, as águas vão... Em termos de saúde, os mosquitos não reconhecem fronteiras. Se você faz a política de um país para eliminar uma doença, mas não faz no país fronteiriço você vai ter problema.” Temos populações indígenas que não conhecem fronteiras como os Ashaninka no Brasil e os Asháninka [muda a entonação] no Peru; temos os Xuar no Equador e os Xuar no Peru. São grupos nômades que estão caminhando”, explica.

A Amazônia Continental ocupa 40% do território da América do Sul e tem uma população estimada em 30 milhões de habitantes e um terço da biodiversidade de animais e plantas de todo o planeta. Com cerca de 7,5 milhões de quilômetros quadrados, é a maior extensão de floresta tropical do mundo. Na bacia hidrográfica, que alcança 6,5 milhões de quilômetros quadrados está a quinta parte das reservas mundiais de água doce.

O Tratado de Cooperação da Amazônia foi assinado há mais de 25 anos. Desde de dezembro de 2002, funciona em Brasília a Secretaria Permanente da OTCA. Na avaliação da secretária-geral, Rosália Arteaga Serrano, os últimos dois anos foram fundamentais para montar a estrutura permanente da organização, formar equipe técnica e assim criar meios para tocar 18 projetos estratégicos nas áreas de meio ambiente; saúde; ciência, tecnologia e educação; assuntos indígenas; transporte, infra-estrutura, comunicação e turismo.

Os projetos têm priorizado o monitoramento da qualidade da água, o combate à malária e epidemias nas fronteiras, o conhecimento de experiências que resultaram na preservação do meio ambiente, o controle do desmatamento e o aproveitamento das potencialidades econômicas sustentáveis da região, como o ecoturismo.

No ano passado, a OTCA mobilizou mais de US$ 25 milhões em recursos de diversas fontes, tais como a Agência Brasileira de Cooperação, a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e os fundos ambientais de países da Europa como a Alemanha e a Holanda.

A monumental movimentação econômica em curso por empresas de porte como a Companhia Vale do Rio Doce, a permanente estruturação do Grupo Bertin e a chegada do Grupo Opportunity à região do Carajás é a prova inconteste do que afirmo.

A possibilidade que os avanços preconizados pelo projeto em curso de implantação do Distrito Sustentável do Carajás e do Distrito Sustentável da BR-163 é a salvação do Norte brasileiro.

A injeção de recursos privados esperando parcerias internacionais, transformará o Carajás e o Tapajós num dos mais dinâmicos Centros Industriais do Mundo.

Isso não é conversa fiada. É factível, realizável, portanto.

Os esforços empreendidos pelos atuais governos da Amazônia são louváveis, mas insuficientes. A possibilidade, desde que haja real garantia do Governo (sempre temerário não é mesmo?) para a aplicação efetiva das parcerias públicas e privadas, nos colocará no desejável posto do grupo das oito nações mais ricas do mundo.

A recriação da SUDAM gera controvérsias. Há artigos draconianos para os empresários. Mas é assunto para outro comentário.

Por tudo e muitas outras coisas, sou um otimista de largo costado. Pordoe o amigo Manuel Dutra, mas somos a mais veloz locomotiva da terra. Quem viver verá esse bom presságio e trabalho duro para que este cenário saia do campo dos sonhos e formulações e trone-se uma realidade.

4 comentários:

Roberto C. Limeira de Castro disse...

Excelente trabalho, Val!

Comporta uma análise mais aprofundada, que farei com mais calma.

Val-André Mutran  disse...

Vindo, como virá de sua cêpa, será querozene no debate. Envie.
Abs

P.S. tardio: Li a sua opinião no blog do Hiroshi. Foi sua contradita que inspirou esse cabôclo que vós escreve.

Ricardo Rayol disse...

Como sempre faz uma análise cabal dos fatos. mas o unico acordo que vigora ali na região é o do tráfico, do resto é cada um por si.

morenocris disse...

Excelente comentário, jornalista Val-André Mutran. Pela prontidão da resposta. E pelo mérito da questão levantada pelo jornalista e professor Manoel Dutra. O debate é importante nesse processo. E o nível que está sendo mantido é impecável.

Abraços.

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