Distrito Federal: O Faraó contra seu pupilo
Entre o moderno e o arcaico
Mais uma vez, Joaquim Roriz quer voltar ao governo do Distrito Federal
AFONSO LOPES
Joaquim Roriz é o retrato de uma forma mumificada de fazer política
O governador José Roberto Arruda, do DEM, é favorito à reeleição para o Governo do Distrito Federal. Mas sua situação não é totalmente confortável. O ex-governador e ex-senador Joaquim Roriz quer voltar ao poder. O peemedebista não se cansou da vida palaciana. Há problemas sérios na sua pretensão: o PMDB, seu partido, majoritariamente prefere se aliar a Arruda, que tem realizado um governo bem estruturado, planejado e que vem recuperando aos poucos o enorme estrago causado pelas populistas administrações de Roriz.
A briga é feia. Joaquim Roriz tem trabalhado nos bastidores para levar a direção nacional do PMDB a intervir na filial do DF, tirando o deputado Tadeu Filipelli do comando da sigla. Os dois eram aliados antigamente, mas agora Filipelli entende que Arruda deve continuar no comando do Palácio das Águas Claras. O presidente do PMDB do DF devolveu ao partido sua antiga importância política, e talvez seja isso que incomoda tanto os rorizistas.
Prestígio — Filipelli é arrojado e tem crescido na Câmara dos Deputados, onde preside a CCJ, Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante comissão temática do parlamento. Além disso, tem livre trânsito junto ao comando do PMDB, em nível nacional, e com os demais partidos bem situados no tabuleiro brasiliense, como o DEM e o PT. Sua situação é tão confortável que poderá escolher o cargo numa eventual coligação com Arruda, de vice-governador ou senador.
É essa tranquilidade dentro do PMDB que Roriz vem ameaçando ao tentar quebrar a aparente harmonia existente no cenário principal da política do DF. Sua tentativa de retorno ao Palácio, mesmo contra as lideranças peemedebistas, não tem grandes simpatias fora do seu próprio eixo de atuação. Por incrível que possa parecer, Joaquim Roriz precisou do apoio do PMDB de Goiás, que sonha com o apoio dele a Iris Rezende na Região do Entorno nas eleições do ano que vem, até para pedir a intervenção nacional no PMDB do DF. Ou seja, Roriz vive um isolamento quase total internamente.
De Goiás, Adib Elias, presidente em exercício do PMDB regional, atendeu ao pedido de Roriz, mas é pouco provável que a direção nacional opte pela intervenção e afastamento de sua principal estrela em ascensão, que é Filipelli. O clima entre as duas filiais do PMDB, no entanto, não anda nada bom.
Para Arruda e os demais partidos que lhe garante governabilidade, o pedido de intervenção representa tudo aquilo que se imaginava definitivamente afastado da prática política na capital do Brasil: o modelo antigo e autoritário de agir politicamente. E esse é exatamente o risco de se ter mais uma vez Joaquim Roriz no comando do GDF.
Nas outras vezes em que comandou o Palácio, Joaquim Roriz implantou o maior pólo de atração de populações migrantes do Brasil, doando lotes urbanos aos milhares. O resultado dessa política é a que se observa hoje nas cidades satélites de Brasília e na região goiana do Entorno: populações imensas, demandas incontáveis e incapacidade de o Estado bancar a festa da migração descontrolada promovida pelo peemedebista.
Já Arruda é uma das grandes estrelas nacionais do DEM pela forma arrojada e planejada com que montou sua equipe administrativa. O GDF, com ele, valorizou a modernização das relações institucionais, ao contrário do que ocorria nos tempos de Roriz. Uma de suas primeiras medidas, por exemplo, foi adotar o ambiente coletivo para as secretarias. Antes, era cada um no seu galho, sem qualquer possibilidade de conexão administrativa.
Mas é exatamente pela inflexibilidade no campo do populismo que torna a disputa entre Roriz e Arruda tão apertada. O democrata sobra na disputa contra o peemedebista nas cidades e no Plano Piloto, mas perde quando o confronto ocorre nos bairros resultantes da migração dos anos 90, como o Samambaia, ou nas cidades goianas do Entorno, onde Roriz permanece muito forte por controlar todos os partidos de sua influência sob rédeas curtas.
Nem as inúmeras denúncias contra Joaquim Roriz afetaram sua popularidade entre os mais carentes. Para se ter uma idéia, Roriz deve ter sido o senador da República de mandato mais curto de toda a história, ao renunciar após denúncias apuradas através de grampos telefônicos sobre fraudes no BRB, o banco estatal do GDF, em julho de 2007, pouco mais de cinco meses após tomar posse no cargo. O presidente do BRB durante oito anos de sua administração chegou a ser preso.
Enquanto as administrações de Roriz favelizaram o DF, Arruda cortou 22 Secretarias de Estado, demitiu 16 mil funcionários comissionados e colocou as contas em dia. Desde o primeiro ano de administração, Arruda estabeleceu algumas metas, como a derrubada de edifícios construídos de forma irregular, e o início da legalização de condomínios.
As diferenças entre Roriz e Arruda são imensas. Ambos renunciaram a mandatos de senador. Roriz, por causa de denúncias de fraudes no BRB. Arruda, por ter visto uma lista de votação de senadores. A motivação da saída dos dois do Senado foi totalmente diferente. Roriz renunciou e se calou sobre as denúncias contra ele. Arruda não apenas admitiu ter tido acesso à lista de votação como reconheceu ter errado. Renunciou ao mandato, foi eleito deputado federal mais bem votado de Brasília dois anos depois, e disputou o governo do DF em 2006, sendo eleito com mais de 50 por cento dos votos.
Na política de Brasília, José Roberto Arruda vem representando o novo, o moderno. Joaquim Roriz, ao contrário, não emite qualquer demonstração de que se reciclou politicamente. O DF, portanto, vive previamente um drama: manter o planejamento estratégico do governo ou retornar ao modo improvisado de administrar sobre ações populistas. O pior nisso tudo é que o retorno de Roriz implica diretamente riscos de mais problemas até para as cidades goianas do Entorno, vitimizadas ao longo dos três mandatos dele pela crescente favelização, que transformou a região num barril lotado de pólvora social prestes a explodir de vez.
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