Para Simon, Renan vai cair de maduro

Senador Pedro Simon (PMDB-RS), durante reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado.
Fotógrafo: Célio Azevedo - Agência Senado






















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NTREVISTA - Senador Pedro Simon (PMDB-RS) -

'A hora de renunciar é agora'

Carlos Marchi

Para Simon, que aponta várias erros na linha de defesa de Renan, Conselho de Ética só vai condená-lo se sentir que há 'cobrança'

'A hora de renunciar é agora', afirmou ontem o senador Pedro Simon (PMDB-RS), em entrevista ao Estado, minutos depois de pregar a renúncia do senador Renan Calheiros à presidência do Senado, em aparte feito no plenário. 'Ele tem de renunciar à presidência. Fazendo isso, estaria praticando um gesto de grandeza', afiançou Simon. 'Mesmo que a perícia o absolva, o contexto adquiriu tal complicação, a sociedade está ridicularizando de tal maneira o Senado, ele e nós todos, que passou do ponto', arrematou.

Simon enunciou seis erros que o senador Renan Calheiros teria cometido ao defender-se no Senado e o último deles foi exagerar na defesa: 'Seus aliados exageraram ao fazer a defesa, no afã de prestar serviço de vassalagem', disse o senador gaúcho, que pertence ao mesmo partido de Renan. Ele apontou a causa de tantos e sucessivos casos de corrupção envolvendo políticos: 'É por causa da impunidade, doutor.' Para ele, acabar com a impunidade é 'a primeira responsabilidade do Brasil'. Eis a entrevista:

A renúncia é inevitável ou basta Renan se afastar da presidência do Senado até que as investigações se definam?

Ele tem de renunciar à presidência. Fazendo isso, estaria praticando um gesto de grandeza. Mesmo que a perícia o absolva, o contexto adquiriu tal complicação, a sociedade está ridicularizando de tal maneira o Senado, ele e nós todos, que passou do ponto. A hora de renunciar é agora.

Quais foram os erros de Renan?

O primeiro erro foi não ter se licenciado da presidência do Senado. O segundo foi que não deveria ter escolhido um Conselho de Ética composto por pessoas da sua mais absoluta confiança, mas por pessoas com autonomia para conduzir as questões. O terceiro foi não querer, no começo, que o caso fosse para o Conselho de Ética. O quarto foi fazer seu pronunciamento de defesa sentado na cadeira de presidente do Senado. O quinto foi querer que o processo, mal chegado no conselho, fosse arquivado logo; depois, quiseram ouvir uma pessoa e arquivar; em seguida, os senadores podiam ver os papéis, mas não podiam investigar as empresas. Foi tudo muito restritivo. Tudo se transformou num desgaste desnecessário. Mas os fatos posteriores agravaram o caso inicial, que era singelo. O sexto erro foi que seus aliados exageraram ao fazer a defesa, no afã de prestar serviço de vassalagem. Aconteceu o que aconteceu.

Aquele espetáculo de segunda-feira no Conselho de Ética não foi muito edificante...

Foram os caras que eles botaram lá para 'garantir' o Conselho de Ética... Tinha de botar gente com mais independência, mais autonomia.

Por que o sr. não foi indicado para o conselho?

Porque desde que Ney Suassuna assumiu a liderança do PMDB (na legislatura passada) eu caí fora do Conselho de Ética e CPI. Não me botam mais.

O sr. é tão perigoso assim para ficar no Conselho de Ética?

Eu acho que eles pensam isso (risos). Acham que eu sou independente demais para ficar no Conselho de Ética. Eu aceitei com humildade, porque Suassuna, com seu espírito de modernidade, achou que eu estou superado, com meus 75 anos. Eu defendo umas teses que não são muito atuais - ética, moral, essas coisas do passado. Para o Suassuna, tudo isso é coisa superada...

O sr. consegue explicar por que os políticos se metem em tantos rolos?

É por causa da impunidade, doutor. Veja o exemplo das crianças na escola: se a professora não chama a atenção, não pune, vira uma anarquia. Esse aprendizado começa lá na primeira infância. Vira anarquia. Ontem li que em 40 anos o Supremo (Tribunal Federal) não puniu um político. A gente vê a Polícia Federal: 'Denunciados tantos, mais tantos e outros tantos'. Vai dar tudo em nada! A primeira responsabilidade do Brasil é acabar com a impunidade. Na Itália, dois ex-primeiros-ministros foram para a cadeia. Lá, como se vê, o negócio muda de figura. No Japão, há três semanas, um ministro se matou porque ia ser processado. Aqui não acontece nada.

À vista do espetáculo encenado no Conselho de Ética, o que o sr. espera do julgamento de Renan?

Olha, normal esse pessoal que está lá vai absolver. Mas se eles sentirem que está havendo uma cobrança da sociedade, vão pensar duas vezes. Por outro lado, se Renan renunciar, ele passa a ter chance de ser absolvido, porque vai ser julgado como um senador qualquer. Eu nunca vi um caso como esse. Todo mundo está do lado dele, gosta dele. Mas se ele insistir em ficar na presidência do Senado, a absolvição fica difícil.

O sr. põe a mão no fogo por Renan, confia nele ou já começa a desconfiar?

A coisa é muito complicada, né, tchê? Se Jesus, que é Jesus, veio para a Terra e escolheu para ministro da Fazenda um gato - gato e traidor, roubava dinheiro e ainda traía Jesus. Se Judas traiu Jesus, não se pode botar a mão no fogo por ninguém. Eu tenho Renan como um cara respeitável. Mas que ele agiu equivocadamente nesse caso, eu não tenho nenhuma dúvida.

Pedro Simon: Senador do PMDB do Rio Grande do Sul

Quem é: Pedro Simon

Elegeu-se vereador (1960), deputado estadual (1962 a 1977), e senador por quatro mandatos (1978, 1990, 1998 e 2006). Foi do PTB, do MDB e do PMDB Elegeu-se governador do Rio Grande do Sul em 1986.

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