Protagonismo na Amazônia ― muito além da disputa interna governamental

Em entrevista concedida à BBC pelo da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, Roberto Mangabeira Unger, dois motivos o levaram às manchetes:

O primeiro foi sua indicação para coordenar o Plano Amazônia Sustentável (PAS), um projeto para desenvolver a região de forma equilibrada. O segundo foi a sugestão de que sua indicação teria levado Marina Silva a se demitir do cargo de minista do Meio Ambiente.

Em relação ao plano, o ministro diz que ninguém está preparado para uma tarefa dessa magnitude. Quanto à ministra, ele é suscinto. "Não posso especular sobres os motivos."

O ministro falou com exclusividade à BBC Brasil e à BBC inglesa na quarta-feira, em Manaus, onde esteve para discutir os primeiros passos do PAS com o governador do Amazonas, o peemedebista Eduardo Braga.
Um dia antes, Unger reuniu-se com Ana Julia Carepa, governadora do Pará ― estado que disouta o protagonismo de mais importante unidade federativa da Amazônia. Detalhe: Eduardo Braga é paraense de berço.

Mangabeira Unger disse que o modelo econômico adotado na região amazônica terá um impacto em todo o país. "O que está em jogo na Amazônia é o futuro do Brasil."

De olho no público externo, Mangabeira Unger conversou com a reportagem da BBC em inglês, com um leve sotaque americano.

BBC - A ministra Marina Silva renunciou apenas cinco dias após a apresentação do Plano de Aceleração Sustentável (PAS) para a Amazônia. O que essa renúncia significa?

Roberto Mangabeira Unger – Eu não devo e não vou especular sobre as razões da renúncia. Tudo que eu posso dizer é que estou entre os muitos admiradores da ministra no Brasil. Ela é corajosa, tenaz e uma cidadã esperançosa que dedicou a maior parte da sua vida para defender uma causa de grande importância nacional. Em segundo lugar, eu devo dizer que o compromisso fundamental do governo com o desenvolvimento sustentável na Amazônia permanece inalterado. E nós estamos determinados a continuar agora e demonstrar para o mundo como preservação, defesa e desenvolvimento podem ser conciliados na Amazônia.

BBC – Na sua carta de renúncia, a ministra Marina disse que não teve todo o apoio do governo que achava necessário para fazer seu trabalho. É possível ter diferentes ministérios trabalhando juntos neste governo em torno da Amazônia?

Mangabeira Unger – O presidente me deu essa tarefa de coordenar os programas de desenvolvimento para a Amazônia,e ele disse que uma das razões pelas quais fez isso é que não queria que a coordenação da política para Amazônia fosse feita por um ministério especializado.

É muito natural para um ministro do Meio Ambiente estar primeiramente preocupado com a preservação do meio ambiente, mesmo que enfatizando um comprometimento com o desenvolvimento. Da mesma forma que para o ministro da Agricultura é natural que ele esteja primeiramente preocupado com a produção agrícola. É muito natural que esses diferentes ministros tenham diferenças de ênfase. O presidente sentiu que a coordenação de uma questão de tamanho significado para a nação não deveria ficar na mão de um ministro especializado. Essa foi a posição dele.


BBC – Segundo alguns órgãos de imprensa, um dos motivos que motivaram saída da ministra seria sua indicação para coordenar o PAS. Foi isso que ocorreu?

Mangabeira Unger – Eu não posso especular sobre os motivos. Estive viajando o dia todo e nem li a carta de demissão. E isso não é a minha preocupação. Minha preocupação é a tarefa que me foi dada. Essa é uma grande tarefa, não apenas para o nosso país, mas para o mundo todo. Temos que nos perguntar o que desenvolvimento sustentável realmente significa e do que necessita.

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