Data histórica: há 100 anos a primeira leva de imigrantes desembarcava no Brasil
Príncipe Naruhito se reúne hoje com Lula e participa de cerimônias em comemoração ao centenário. Nipobrasileiros que serão recebidos pelo herdeiro do Império do Sol falam sobre suas expectativas
``Uma oportunidade dessas é rara. A gente nem sonhava que isso pudesse ocorrer. Ser recebido pelo imperador é uma grande satisfação``
Yukio Matsunaga, único nipobrasileiro condecorado pessoalmente pelo imperador Akihito em maio passado
Nem mesmo a distância de 18 mil quilômetros foi suficiente para apagar o brilho do sol nascente em 1,5 milhão de vidas no Brasil, número estimado da colônia japonesa no país. Em Brasília, são cerca de 12 mil imigrantes e nipodescendentes. Apenas 23 deles terão a honra de serem recebidos amanhã pelo príncipe Naruhito, herdeiro do Trono do Crisântemo e filho mais velho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko. O encontro marca o centenário da imigração no Brasil. Em 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru aportou em Santos (SP), depois de 50 dias de viagem desde Kobe, trazendo 781 japoneses atraídos pelo trabalho nos cafezais de São Paulo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o príncipe Naruhito lembrarão a data com o lançamento de selo e moeda comemorativos, às 11h15 de hoje no Palácio do Planalto. Pouco depois, anfitrião e visitante devem entregar medalhas a personalidades que contribuíram para o fortalecimento das relações bilaterais e para a integração da comunidade nipobrasileira. Os outros compromissos de Naruhito incluem queima de fogos de artifício, às 20h, no Palácio do Itamaraty. Às 20h15, ele e Lula terão encontro privado no local e jantar.
Shigeru Hayashi, presidente da Comissão de Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no DF, é uma das pessoas que serão condecoradas no Planalto e recebidas por Naruhito às 17h, na embaixada do Japão. Antes, às 14h45, o príncipe faz visita de cortesia ao senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), presidente do Senado. Quinze minutos depois, participa de sessão solene aberta ao público, no plenário da Câmara dos Deputados. “A presença do príncipe é o ponto culminante das comemorações, já que a comunidade japonesa idolatra a família imperial”, afirmou Hayashi, que é nissei (filho de imigrantes chegados ao Brasil em 1937). Ele diz ser “muito fácil” falar sobre a importância do imigrante japonês no Brasil. “A gente vivenciou a luta, os sacrifícios e a obstinação de vencer em um país totalmente adverso”, comentou.
Começo difícil – As mãos do advogado Shinji Imai, de 74 anos, guardam os calos de quem ajudou a construir uma terra distante. Há meio século, ele trocou a província de Saitama por Santos (SP). O aposentado lembra que o começo de vida no Brasil não foi fácil. Imai se viu obrigado a puxar enxada em um cafezal e na lavoura de tomate, em Cotia (SP). Foram quatro anos de trabalho pesado. “O encontro com o príncipe é um marco histórico da imigração. Desde 1808, os japoneses vêm se integrando à sociedade brasileira e desenvolvendo várias atividades econômicas.”
Em 2004, Imai já tinha recebido sua recompensa: o imperador Akihito lhe entregou uma condecoração por meio da embaixada. Segundo Imai, o sistema imperial perdeu o conceito ao longo dos tempos e não tem a mesma pompa da antigüidade. “O imperador é o símbolo nacional, uma fonte da união do povo.”
A integração dos japoneses ao Brasil obedece a laços afetivos. Kimiko Sambuichi, dirigente da Associação de Estudos da Língua Japonesa de Brasília, é um exemplo: nascida em Tóquio, veio para o Brasil em 1965, onde se casou. O respeito pela tradição está tão enraizado que, em 1984, Kimiko fundou uma escola de japonês em Taguatinga. Se o protocolo deixar, ela sabe o que dirá ao príncipe. “Quero que o Japão nos dê força para ensinar a língua japonesa”, disse a senhora de 68 anos. (CB)
``Uma oportunidade dessas é rara. A gente nem sonhava que isso pudesse ocorrer. Ser recebido pelo imperador é uma grande satisfação``
Yukio Matsunaga, único nipobrasileiro condecorado pessoalmente pelo imperador Akihito em maio passado
Nem mesmo a distância de 18 mil quilômetros foi suficiente para apagar o brilho do sol nascente em 1,5 milhão de vidas no Brasil, número estimado da colônia japonesa no país. Em Brasília, são cerca de 12 mil imigrantes e nipodescendentes. Apenas 23 deles terão a honra de serem recebidos amanhã pelo príncipe Naruhito, herdeiro do Trono do Crisântemo e filho mais velho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko. O encontro marca o centenário da imigração no Brasil. Em 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru aportou em Santos (SP), depois de 50 dias de viagem desde Kobe, trazendo 781 japoneses atraídos pelo trabalho nos cafezais de São Paulo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o príncipe Naruhito lembrarão a data com o lançamento de selo e moeda comemorativos, às 11h15 de hoje no Palácio do Planalto. Pouco depois, anfitrião e visitante devem entregar medalhas a personalidades que contribuíram para o fortalecimento das relações bilaterais e para a integração da comunidade nipobrasileira. Os outros compromissos de Naruhito incluem queima de fogos de artifício, às 20h, no Palácio do Itamaraty. Às 20h15, ele e Lula terão encontro privado no local e jantar.
Shigeru Hayashi, presidente da Comissão de Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no DF, é uma das pessoas que serão condecoradas no Planalto e recebidas por Naruhito às 17h, na embaixada do Japão. Antes, às 14h45, o príncipe faz visita de cortesia ao senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), presidente do Senado. Quinze minutos depois, participa de sessão solene aberta ao público, no plenário da Câmara dos Deputados. “A presença do príncipe é o ponto culminante das comemorações, já que a comunidade japonesa idolatra a família imperial”, afirmou Hayashi, que é nissei (filho de imigrantes chegados ao Brasil em 1937). Ele diz ser “muito fácil” falar sobre a importância do imigrante japonês no Brasil. “A gente vivenciou a luta, os sacrifícios e a obstinação de vencer em um país totalmente adverso”, comentou.
Começo difícil – As mãos do advogado Shinji Imai, de 74 anos, guardam os calos de quem ajudou a construir uma terra distante. Há meio século, ele trocou a província de Saitama por Santos (SP). O aposentado lembra que o começo de vida no Brasil não foi fácil. Imai se viu obrigado a puxar enxada em um cafezal e na lavoura de tomate, em Cotia (SP). Foram quatro anos de trabalho pesado. “O encontro com o príncipe é um marco histórico da imigração. Desde 1808, os japoneses vêm se integrando à sociedade brasileira e desenvolvendo várias atividades econômicas.”
Em 2004, Imai já tinha recebido sua recompensa: o imperador Akihito lhe entregou uma condecoração por meio da embaixada. Segundo Imai, o sistema imperial perdeu o conceito ao longo dos tempos e não tem a mesma pompa da antigüidade. “O imperador é o símbolo nacional, uma fonte da união do povo.”
A integração dos japoneses ao Brasil obedece a laços afetivos. Kimiko Sambuichi, dirigente da Associação de Estudos da Língua Japonesa de Brasília, é um exemplo: nascida em Tóquio, veio para o Brasil em 1965, onde se casou. O respeito pela tradição está tão enraizado que, em 1984, Kimiko fundou uma escola de japonês em Taguatinga. Se o protocolo deixar, ela sabe o que dirá ao príncipe. “Quero que o Japão nos dê força para ensinar a língua japonesa”, disse a senhora de 68 anos. (CB)
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