Imigração
União Européia lança ofensiva na América Latina para “esclarecer mal-entendidos” sobre nova lei que prevê detenção de ilegais por até 18 meses. Lula volta a exigir que brasileiros “sejam tratados com respeito”
A União Européia (UE) continua seu esforço de relações públicas para esclarecer o que considera “um grande mal-entendido” na rejeição da América Latina à nova política definida pelo bloco para tratar os imigrantes ilegais. A “diretiva de retorno”, aprovada no mês passado pelo Parlamento Europeu, define que os estrangeiros em situação irregular fiquem detidos por até seis meses — ou 18, “em casos excepcionais” — e que sejam asseguradas a eles assistência jurídica e “condições humanas” de alojamento. A diretiva, que precisa ser incorporada à legislação dos 27 países membros e prevê prazo até 2010 para que sejam feitas as adaptações necessárias, foi recebida como “xenófoba” pelos governos latino-americanos e duramente criticada na recente cúpula do Mercosul, na Argentina.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que dias atrás condenou o “vento frio da xenofobia e do preconceito” na Europa, voltou à carga ontem de manhã. Comentando as discussões que manteve com líderes europeus na semana passada, no Japão, durante a cúpula do G-8, Lula afirmou que “fez questão” de pedir para os brasileiros tratamento similar ao dispensado pelo país aos imigrantes europeus, ao longo da história. “Que sejam tratados com respeito, levando em conta os direitos humanos, e não como se fossem delinqüentes”, afirmou.
“A Europa não é uma fortaleza e não quer se tornar uma fortaleza — ao contrário, necessitamos da mão-de-obra dos imigrantes e queremos ser um território aberto”, disse à tarde, em videoconferência com jornalistas de quatro países sul-americanos, o vice-presidente da Comissão Européia (CE) Jacques Barrot, encarregado de Justiça e Proteção das Liberdades no braço executivo da UE. Barrot enfrentou uma barragem de questões sobre as condições severas impostas aos ilegais em vários países — inclusive na recente crise de deportações entre Brasil e Espanha —, e reiterou que a diretiva pretende “harmonizar os procedimentos” nos países membros. “Hoje, em sete deles, não existe prazo-limite para a detenção”, exemplificou. “E, com a diretiva, desde já visitarei os centros para alojamento de estrangeiros para verificar as condições, e poderei controlar de perto como a política comum é aplicada.”
Barrot evitou prudentemente, no entanto, responder a questões sobre a sensação comum, na América Latina, de que a Europa está endurecendo o tratamento aos imigrantes. Não comentou, por exemplo, o projeto de legislação enviado ao Parlamento italiano pelo novo governo de direita, cujo texto classifica a imigração ilegal como crime. De acordo com o vice-presidente da CE, a diretiva do retorno “não obriga nenhum país a deportar todos os ilegais, nem a estender os prazos-limite para detenção”, se forem menores que os 18 meses previstos na diretiva. “A prioridade continuará a ser estimular o retorno voluntário (dos irregulares)”, afirmou o vice-presidente da CE. “E a norma é que a detenção seja por até seis meses, ou 18 meses apenas em casos excepcionais.”
Jogo político
O discurso oficial da UE ressalta o progresso representado pela diretiva em relação à situação atual, mas funcionários admitem que, de maneira inversa, se abre a possibilidade de que países com normas mais brandas, como Espanha e França, possam vir a adotar medidas mais severas. “Isso é do jogo político de cada país”, disse um deles. O exemplo italiano é considerado extremo, e o próprio governo espanhol criticou publicamente o projeto de criminalizar a imigração irregular.
“Se um país membro da UE tratar mal os irregulares, se as condições de detenção e processo não forem respeitadas, esse governo poderá ser acionado nos tribunais europeus”, explicou Barrot. Ele apontou três riscos principais representados pela ausência de normas claras sobre o tema no âmbito do bloco: “Primeiro, o aumento da xenofobia; segundo, mais dificuldades para a integração dos imigrantes legais; terceiro, os estrangeiros que preenchem as condições para imigrar não conseguem”. O vice-presidente da CE lembrou que, em 2007, cerca de 2 mil ilegais se afogaram na tentativa de chegar à Europa, e apontou o tráfico de pessoas como um dos alvos da nova política. Barrot lamentou que a diretiva tenha sido aprovada antes que os chefes de Estado e governo do bloco discutam, em outubro, “o pacote completo” sobre o tema, prevendo estímulo à imigração legal e assistência ao desenvolvimento nos países de origem dos migrantes”.
Não podemos aceitar que criminosos explorem a miséria dos que tentam ingressar na Europa
Jacques Barrot, vice-presidente da Comissão Européia
O número
2.000
estrangeiros se afogaram em 2007 viajando clandestinamente para a costa européia, segundo Barrot
Mas o que é a Diretiva de retorno?
O que é a diretiva de retorno?
É a primeira de três diretivas para harmonizar as legislações nacionais dos países da União Européia a uma política comum de imigração. Estabelece o regresso de nacionais de terceiros países em situação irregular.
Quando passa a valer?
Os países membros terão 24 meses após publicação no Jornal Oficial da UE para transpô-la para o direito nacional. Por isso, ela não entrará em vigor antes de 2010.
Quem aprovou essa diretiva?
O Parlamento Europeu. A diretiva foi votada em 18 de junho de 2008 e aprovada com 369 votos a favor, 197 contra e 106 abstenções.
Como vai funcionar?
Em duas fases: na primeira, uma decisão de regresso voluntário (entre 7 e 30 dias) e, numa segunda fase, se o imigrante ilegal não regressar de forma voluntária, uma medida de afastamento.
Os imigrantes ilegais podem ser presos?
A prisão preventiva só será utilizada se não for suficiente a aplicação de medidas coercivas menos severas, como a decisão de regresso voluntário. Os ilegais não ficarão em prisões comuns, mas em centros de imigrantes.
Quanto tempo pode durar a detenção?
O período de detenção não poderá exceder seis meses. Em casos específicos, esse período poderá ser prorrogado por mais 12 meses. Hoje, o prazo varia de 32 dias na França a 20 meses na Letônia, com duração ilimitada em sete países-membros.
O imigrante ficará proibido de visitar novamente a União Européia?
A interdição de readmissão na UE não deverá exceder cinco anos, exceto se a pessoa em questão representar uma ameaça grave à segurança pública ou à segurança nacional.
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Imigração: "não é bem assim!", esclarecem líderes europeus
Acompanho fatos relevantes a partir de abordagem jornalística, isenta e independente
100 anos da imigração japonesa – poderes simbólicos
No Japão, a figura do imperador é quase divina, intocável. Segundo a Constituição do Japão, ele é o símbolo do Estado e da unidade do povo. Parte do caráter mítico do Império do Sol se deve ao fato de ele ser a mais antiga monarquia hereditária do mundo. Desde a ascensão do imperador Jimmu, em 11 de fevereiro do ano 660 a.C., a Casa Imperial reconheceu a existência de 125 monarcas legítimos, incluindo o atual imperador Akihito, pai do príncipe Naruhito. A história só teve conhecimento da origem da linhagem imperial japonesa por meio da análise de tumbas antigas (kofun) dos monarcas. Ainda que não seja tecnicamente um chefe de Estado, o atual imperador Akihito freqüentemente é tratado como tal em viagens e dentro do próprio país.
A família real japonesa possui 22 integrantes, e parte deles exerce tarefas de caráter social, além de obrigações cerimoniais. A ordem de sucessão ao chamado Trono do Crisântemo — o selo da Casa Imperial é representado pela flor amarela — determina que Naruhito seja o herdeiro natural, se Akihito morrer ou for considerado incapaz para o cargo. O príncipe Akishino, o segundo filho do imperador, vem em seguida. Caso nenhum dos dois possa exercer a função e como Naruhito não tem filhos homens, o império seria assumido por Hisahito, filho mais velho do príncipe Akishino. No entanto, o futuro da dinastia pode mudar caso Naruhito e a princesa Masako tenham um filho varão.
O imperador Akihito ascendeu ao trono em 7 de janeiro de 1989, com a morte de seu pai, Hirohito. O papel do imperador do Japão tem historicamente se alternado entre um posto de clérigo supremo com amplos poderes simbólicos e entre a administração imperial. Até 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, os monarcas eram oficialmente os comandantes-em-chefe das Forças Armadas do Japão. Akihito exerce seu império a partir do Kokyo, como é conhecido o Palácio Imperial, situado no centro de Tóquio. (RC)
A família real japonesa possui 22 integrantes, e parte deles exerce tarefas de caráter social, além de obrigações cerimoniais. A ordem de sucessão ao chamado Trono do Crisântemo — o selo da Casa Imperial é representado pela flor amarela — determina que Naruhito seja o herdeiro natural, se Akihito morrer ou for considerado incapaz para o cargo. O príncipe Akishino, o segundo filho do imperador, vem em seguida. Caso nenhum dos dois possa exercer a função e como Naruhito não tem filhos homens, o império seria assumido por Hisahito, filho mais velho do príncipe Akishino. No entanto, o futuro da dinastia pode mudar caso Naruhito e a princesa Masako tenham um filho varão.
O imperador Akihito ascendeu ao trono em 7 de janeiro de 1989, com a morte de seu pai, Hirohito. O papel do imperador do Japão tem historicamente se alternado entre um posto de clérigo supremo com amplos poderes simbólicos e entre a administração imperial. Até 1945, fim da Segunda Guerra Mundial, os monarcas eram oficialmente os comandantes-em-chefe das Forças Armadas do Japão. Akihito exerce seu império a partir do Kokyo, como é conhecido o Palácio Imperial, situado no centro de Tóquio. (RC)
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Data histórica: há 100 anos a primeira leva de imigrantes desembarcava no Brasil
Príncipe Naruhito se reúne hoje com Lula e participa de cerimônias em comemoração ao centenário. Nipobrasileiros que serão recebidos pelo herdeiro do Império do Sol falam sobre suas expectativas
``Uma oportunidade dessas é rara. A gente nem sonhava que isso pudesse ocorrer. Ser recebido pelo imperador é uma grande satisfação``
Yukio Matsunaga, único nipobrasileiro condecorado pessoalmente pelo imperador Akihito em maio passado
Nem mesmo a distância de 18 mil quilômetros foi suficiente para apagar o brilho do sol nascente em 1,5 milhão de vidas no Brasil, número estimado da colônia japonesa no país. Em Brasília, são cerca de 12 mil imigrantes e nipodescendentes. Apenas 23 deles terão a honra de serem recebidos amanhã pelo príncipe Naruhito, herdeiro do Trono do Crisântemo e filho mais velho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko. O encontro marca o centenário da imigração no Brasil. Em 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru aportou em Santos (SP), depois de 50 dias de viagem desde Kobe, trazendo 781 japoneses atraídos pelo trabalho nos cafezais de São Paulo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o príncipe Naruhito lembrarão a data com o lançamento de selo e moeda comemorativos, às 11h15 de hoje no Palácio do Planalto. Pouco depois, anfitrião e visitante devem entregar medalhas a personalidades que contribuíram para o fortalecimento das relações bilaterais e para a integração da comunidade nipobrasileira. Os outros compromissos de Naruhito incluem queima de fogos de artifício, às 20h, no Palácio do Itamaraty. Às 20h15, ele e Lula terão encontro privado no local e jantar.
Shigeru Hayashi, presidente da Comissão de Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no DF, é uma das pessoas que serão condecoradas no Planalto e recebidas por Naruhito às 17h, na embaixada do Japão. Antes, às 14h45, o príncipe faz visita de cortesia ao senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), presidente do Senado. Quinze minutos depois, participa de sessão solene aberta ao público, no plenário da Câmara dos Deputados. “A presença do príncipe é o ponto culminante das comemorações, já que a comunidade japonesa idolatra a família imperial”, afirmou Hayashi, que é nissei (filho de imigrantes chegados ao Brasil em 1937). Ele diz ser “muito fácil” falar sobre a importância do imigrante japonês no Brasil. “A gente vivenciou a luta, os sacrifícios e a obstinação de vencer em um país totalmente adverso”, comentou.
Começo difícil – As mãos do advogado Shinji Imai, de 74 anos, guardam os calos de quem ajudou a construir uma terra distante. Há meio século, ele trocou a província de Saitama por Santos (SP). O aposentado lembra que o começo de vida no Brasil não foi fácil. Imai se viu obrigado a puxar enxada em um cafezal e na lavoura de tomate, em Cotia (SP). Foram quatro anos de trabalho pesado. “O encontro com o príncipe é um marco histórico da imigração. Desde 1808, os japoneses vêm se integrando à sociedade brasileira e desenvolvendo várias atividades econômicas.”
Em 2004, Imai já tinha recebido sua recompensa: o imperador Akihito lhe entregou uma condecoração por meio da embaixada. Segundo Imai, o sistema imperial perdeu o conceito ao longo dos tempos e não tem a mesma pompa da antigüidade. “O imperador é o símbolo nacional, uma fonte da união do povo.”
A integração dos japoneses ao Brasil obedece a laços afetivos. Kimiko Sambuichi, dirigente da Associação de Estudos da Língua Japonesa de Brasília, é um exemplo: nascida em Tóquio, veio para o Brasil em 1965, onde se casou. O respeito pela tradição está tão enraizado que, em 1984, Kimiko fundou uma escola de japonês em Taguatinga. Se o protocolo deixar, ela sabe o que dirá ao príncipe. “Quero que o Japão nos dê força para ensinar a língua japonesa”, disse a senhora de 68 anos. (CB)
``Uma oportunidade dessas é rara. A gente nem sonhava que isso pudesse ocorrer. Ser recebido pelo imperador é uma grande satisfação``
Yukio Matsunaga, único nipobrasileiro condecorado pessoalmente pelo imperador Akihito em maio passado
Nem mesmo a distância de 18 mil quilômetros foi suficiente para apagar o brilho do sol nascente em 1,5 milhão de vidas no Brasil, número estimado da colônia japonesa no país. Em Brasília, são cerca de 12 mil imigrantes e nipodescendentes. Apenas 23 deles terão a honra de serem recebidos amanhã pelo príncipe Naruhito, herdeiro do Trono do Crisântemo e filho mais velho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko. O encontro marca o centenário da imigração no Brasil. Em 18 de junho de 1908, o navio Kasato Maru aportou em Santos (SP), depois de 50 dias de viagem desde Kobe, trazendo 781 japoneses atraídos pelo trabalho nos cafezais de São Paulo.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o príncipe Naruhito lembrarão a data com o lançamento de selo e moeda comemorativos, às 11h15 de hoje no Palácio do Planalto. Pouco depois, anfitrião e visitante devem entregar medalhas a personalidades que contribuíram para o fortalecimento das relações bilaterais e para a integração da comunidade nipobrasileira. Os outros compromissos de Naruhito incluem queima de fogos de artifício, às 20h, no Palácio do Itamaraty. Às 20h15, ele e Lula terão encontro privado no local e jantar.
Shigeru Hayashi, presidente da Comissão de Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no DF, é uma das pessoas que serão condecoradas no Planalto e recebidas por Naruhito às 17h, na embaixada do Japão. Antes, às 14h45, o príncipe faz visita de cortesia ao senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), presidente do Senado. Quinze minutos depois, participa de sessão solene aberta ao público, no plenário da Câmara dos Deputados. “A presença do príncipe é o ponto culminante das comemorações, já que a comunidade japonesa idolatra a família imperial”, afirmou Hayashi, que é nissei (filho de imigrantes chegados ao Brasil em 1937). Ele diz ser “muito fácil” falar sobre a importância do imigrante japonês no Brasil. “A gente vivenciou a luta, os sacrifícios e a obstinação de vencer em um país totalmente adverso”, comentou.
Começo difícil – As mãos do advogado Shinji Imai, de 74 anos, guardam os calos de quem ajudou a construir uma terra distante. Há meio século, ele trocou a província de Saitama por Santos (SP). O aposentado lembra que o começo de vida no Brasil não foi fácil. Imai se viu obrigado a puxar enxada em um cafezal e na lavoura de tomate, em Cotia (SP). Foram quatro anos de trabalho pesado. “O encontro com o príncipe é um marco histórico da imigração. Desde 1808, os japoneses vêm se integrando à sociedade brasileira e desenvolvendo várias atividades econômicas.”
Em 2004, Imai já tinha recebido sua recompensa: o imperador Akihito lhe entregou uma condecoração por meio da embaixada. Segundo Imai, o sistema imperial perdeu o conceito ao longo dos tempos e não tem a mesma pompa da antigüidade. “O imperador é o símbolo nacional, uma fonte da união do povo.”
A integração dos japoneses ao Brasil obedece a laços afetivos. Kimiko Sambuichi, dirigente da Associação de Estudos da Língua Japonesa de Brasília, é um exemplo: nascida em Tóquio, veio para o Brasil em 1965, onde se casou. O respeito pela tradição está tão enraizado que, em 1984, Kimiko fundou uma escola de japonês em Taguatinga. Se o protocolo deixar, ela sabe o que dirá ao príncipe. “Quero que o Japão nos dê força para ensinar a língua japonesa”, disse a senhora de 68 anos. (CB)
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