Meio Ambiente ― não é hora para festa...

...Nenhuma festa

Marcos Coimbra, Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

O último Dia Mundial do Meio Ambiente, que transcorreu na quinta-feira passada, foi um dos que menos comemorações merece aqui no Brasil. Praticamente tudo que tínhamos a lembrar na data era negativo, desde as ações do governo federal, às dos estados e municípios, dos outros poderes e chegando aos comportamentos da maior parte de nossa sociedade.

Claro que exceções existem, seja em iniciativas meritórias que, vez por outra, são tomadas por algum órgão estatal, seja em atos e atitudes de organizações civis e de indivíduos, que aumentam nossa esperança de ver alguma melhora no quadro desalentador que vivemos. Infelizmente, contudo, não são mais que exceções a uma regra que só tem tendido a se deteriorar.

As decisões do governo federal anunciadas na data, por exemplo, se caracterizaram por grande timidez. Novas reservas ambientais foram criadas na Amazônia, em extensões que são sempre impactantes pelo tamanho (“maior que o estado de Sergipe ou de Alagoas”, como costumam dizer alguns veículos de imprensa), mas que pouco significam se não formos capazes de protegê-las de fato.

Outras medidas impressionam apenas por ter integrado o elenco anunciado pelo presidente da República, com alarde, na solenidade no Palácio do Planalto. Proibir a comercialização do mogno, espécie fortemente ameaçada? Ampliar por um ano a suspensão da venda de soja “de origem duvidosa”, proveniente, ao que tudo indica, de áreas protegidas? Coisas tão óbvias, tão rotineiras, não deveriam sequer merecer estar em pauta como aquela.

Festa mesmo mereceria o anúncio da proibição de negociar toda madeira nobre, a não ser se obtida através de manejo ecológico. Como o dia em que o cultivo de soja e de qualquer outra cultura for definitivamente vetado em áreas de proteção. Não foi agora, porém. Ficamos com uma festa grande, para gestos pequenos.

Enquanto o governo faz pouco, o presidente fala cada vez mais alto. Repetindo uma retórica cuja freqüência tem aumentado dia a dia, Lula voltou a se entusiasmar na defesa de que “a Amazônia é nossa”, como se isso estivesse sendo questionado e se servisse de contra-argumento toda vez que o governo é cobrado, seja por atores nacionais ou de fora do país.
Há um nacionalismo questionável no ar, nos últimos tempos. Na discussão dos conflitos pela terra em áreas indígenas, ele aparece, justificando reações contra o risco de surgirem “nações indígenas autônomas” em partes da fronteira Norte. Exatamente o que elas seriam, ninguém diz. Até teorias conspiratórias nebulosas servem de “evidências” do problema.

Lula tem feito, com propriedade e competência, a defesa da produção brasileira de biocombustíveis, que são alvo de uma intensa guerra comercial. Temos interesses nacionais em jogo, contra os quais se levantam outros interesses, que nada têm de nobres. Lula faz seu papel ao definir que o tema da soberania do país está presente nessa briga.

Invocar o conceito de soberania quando se questiona a atuação do governo na Amazônia, porém, é outra coisa. É claro que o Brasil é soberano lá, como em qualquer parte de nosso território. Daí não se deduz, no entanto, que as omissões e as escolhas erradas do governo brasileiro não possam ser criticadas.

Acusar os outros, dizer que ninguém tem “moral” para cobrar do governo brasileiro, é um argumento que só funciona para quem faz seu dever de casa. Se não, brandi-lo é apenas uma forma de tapar o sol com a peneira.

Já foi dito e continua ser verdade: temos, como país e como sociedade, uma obrigação, acima de tudo com nós mesmos, de cuidar do meio ambiente e, em especial, da Amazônia.

Artigo publicado no Correio Braziliense

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