Entrevista com o velho professor

Entrevista

São Paulo - Aos 81 anos, lúcido e com saúde, Aziz Nacib Ab'Sáber, o geógrafo e professor brasileiro. É um dos mais respeitados geomorfologistas do Brasil, sendo o primeiro a classificar o território brasileiro em domínios morfoclimáticos e a desenvolver a teoria dos redutos seguindo a linha de pensamento da teoria da evolução das espécies, do biólogo inglês Charles Darwin. Concedeu a seguinte entrevista em São Paulo, onde abordou com precisão o problema das queimadas, Amazônia...dentre outros assuntos.
Aziz Ab’Sáber afirma que nessa idade não poderia fazer tantas viagens à Amazônia.

"Mas faço e farei até morrer."

E é dele, um dos principais estudiosos da maior floresta tropical do mundo, que vem duras críticas à política ambiental do governo Lula. Não só pela recente divulgação de mais um recorde na taxa de desmatamento, mas também pela falta de planejamento para combater o problema.

"Como pensar otimistamente nos próximos tempos se tudo está em dinâmica desastrosa, devastadora e à custa de uma ignorância generalizada."

Nessa entrevista, o professor da Universidade de São Paulo chama atenção para o "governo paralelo" que se criou na Terra do Meio, no sul do Pará.

Há algum tempo, visitou a região e viu como fazendeiros e madeireiros desfilavam durante horas pela Transamazônica com bandeiras em grupos numerosos para amedrontar a população.

"Aqueles mesmos que dizem a propriedade é minha, e eu faço com ela o que quiser, como quiser e quando quiser pensando já no futuro do processo devastador." Para Ab’Sáber, o governo precisa agir já.
Leia abaixo os melhores trechos:

O Ministério do Meio Ambiente (MMA) justifica que a taxa de desmatamento foi contida, já que poderia ter sido muito maior porque houve um ano de crescimento econômico da ordem de 5%. O sr. se convence com a explicação?

Não posso discutir as desculpas e os argumentos que o MMA tem em relação ao gravíssimo problema da ampliação da devastação da Amazônia. Eu fico psicologicamente muito arrasado de falar da Amazônia na atual conjuntura. Quem não tem ética com o futuro e capacidade de pensar o futuro em diferentes níveis e profundidades de tempo, deixa que a devastação aconteça. E aí ficam justificando: "Ah, estatisticamente aconteceu isso, por isso." Só que o "por isso" é a conjuntura da economia de fazendeiros, madeireiros e agricultores em ganhos rápidos e imediatos e o futuro que se dane.

Onde o governo erra nessa questão?

Em primeiro lugar há que se pensar num governo capaz de ter um pensamento e um conjunto de estratégias para as questões nacional, regional e setorial. No caso do Brasil, estamos tendo um esforço para pensar o internacional, mas com excesso de visitas e pouco cuidado com o regional. Acharam que era possível fazer viagens custosas, levando um grande número de pessoas para conhecer outro país distante, que pode ou não ofertar vantagens econômicas. Enquanto isso deixam acontecer tudo o que as circunstâncias internas permitem.
Gostaria de dizer também que os membros do segundo escalão do governo Lula deveriam ter um melhor conhecimento com os fatos relacionados à tropicalidade. No caso da Amazônia, é uma área quente e úmida e está sob aquilo que muitos pesquisadores chamam de invasão capitalista. Os cientistas, jovens geógrafos e promotores sabem que nosso tempo todos os espaços viraram mercadorias. É preciso pôr isso na cabeça dos governantes brasileiros. Houve uma invasão permitida pela ignorância dos governos que sucederam desde o início da construção da Belém-Brasília, depois a Transamazônica e as outras estradas que rasgaram o coração das selvas.

Quem vem promovendo a invasão da floresta?

Foram vários ciclos sucessivos. Primeiro a agropecuária, depois as madeireiras, logo agora a soja e no intervalo de tudo isso os negócios amazônicos. Um político que enriqueceu muito rapidamente e outros grupos que estão até nos governos estaduais, filhos deles, eles justificam suas riquezas pelos negócios da Amazônia. E o governo não tem noção do que seja isso. Está acontecendo no centro sul do Pará, naquela chamada Terra do Meio, um verdadeiro governo paralelo por parte dos fazendeiros, madeireiros, dos que estão preocupados com devastação para eventual produção da soja.

O governo tem medo, interesses particulares ou não sabe como atuar em áreas de conflito como no sul do Pará? O que fazer na Terra do Meio?

No Brasil só se esboçaram dois Estados paralelos, perigosíssimos e que precisam de uma atenção estratégica. A região do narcotráfico no Rio de Janeiro e a Terra do Meio. Não posso dizer (o que fazer). Se disser, alguém vai dizer que está tudo errado. Eles (o MMA) só respeitam o planejamento estratégico pagando e pagando muito para imbecis. Não vou dizer quais são as soluções, porque não adianta coisa nenhuma perante o ideário vigente na administração federal.

Este governo criou 7,7 milhões de hectares de unidades de conservação, boa parte para frear a fronteira agrícola. É uma boa solução ou só vai criar novas frentes em outras partes da Amazônia?

O grande problema que o governo não entendeu é o seguinte: no caso de algumas reservas particulares que foram pensadas em termos de uma exploração auto-sustentável, a situação mudou muito porque elas estavam inseridas dentro de um corpo territorial contínuo. Com a devastação que houve, aqui e acolá, a coisa mudou muito. As reservas extrativistas que tentaram ser organizadas sozinhas não valem muito. Nem para a economia regional, nem para o futuro.

Qual a sua avaliação da equipe do MMA?

Não posso dizer mais para um jornal da importância do Estado, porque teria de me referir a nomes de pessoas, a ignorantes que foram colocados dentro do MMA, e não conhecem a Amazônia e ficam projetando coisas. Fazer concessões de Flonas (Florestas Nacionais) para ONGs estrangeiras... Deus meu, que ignorância. Alugar por 30 ou 60 anos é uma das mais terríveis propostas contra a soberania brasileira na Amazônia. Poucos dos que fizeram essa estupidez de propor aluguel de florestas nacionais para particulares de qualquer instância estarão vivos para responder por seus projetos esgarçados.

Qual é o risco?

Em 30 ou 60 anos, as Flonas poderão ser exploradas em qualquer nível sem que haja gerenciamento real, da maneira pela qual vão trabalhar explorando madeiras e podendo explorar tudo aquilo que fizeram, porque alugaram e pagaram. Estamos numa situação desesperadora. A conjuntura internacional está de olho numa região de um país imenso como é o Brasil e parece que os governantes não têm idéia disso.

Até que ponto a chamada internacionalização da Amazônia o preocupa?

Lá fora, quando qualquer membro do governo faz algumas pressões no sentido de ter alguma presença internacional, eles respondem com as seguintes frases: "O governo brasileiro não tem condições de gerenciar a Amazônia." Isso é muito triste, muito dramático. Se não houver um nível de esclarecimento e conhecimento integrado, se não existir uma política estratégica para gerenciar a Amazônia e impedir qualquer embrião de Estado paralelo, estaremos com a nossa soberania ameaçada permanentemente.

O governo tem cerca de 30 grandes projetos de infra-estrutura na Amazônia legal. O sr. teme os impactos dessas obras na região?

Como construir isso linearmente esquecendo as regiões que formam o todo? Existe uma preocupação com velhos projetos no Brasil. Primeiro a transposição das águas do São Francisco. Dizem: "Vai resolver o problema do semi-árido brasileiro." Sobre isso não digo mais nada, porque já chamei a atenção rigorosamente científica e as respostas são rigorosamente políticas. Outro projeto é fazer a ligação do Acre com o Pacífico. Projeto mal-estudado por todos e no presente momento desastroso, porque seria apenas uma rota da madeira para o Oriente.

Falta ética com o futuro...

Essa ética com o futuro tem de ser melhor colocada na cabeça dos governantes, do primeiro, segundo e terceiro escalões. Houve um rapaz que está dentro do MMA que perguntado numa TV se conhecia a Amazônia, porque estava forçando o problema dos aluguéis das Flonas e da concessão para ONGs estrangeiras, ele respondeu assim: "Ah, eu fui até o Amapá." A Amazônia com 4,2 milhões de quilômetros quadrados, e a justificativa dele é que foi até o Amapá? Por acaso estava pesquisando com pessoas muito importantes que queriam conhecer um pouco da Amazônia, dos grupos indígenas remanescentes do Amapá, e vi onde essa pessoa esteve. Era uma reunião de ONGs. É assim que se conhece a Amazônia?

O sr. tem alertado o governo?

Um dia a dona Marina (Silva, ministra do MMA) teria dito, segundo me contaram, que ela precisava forçar o encaminhamento da concessão do aluguel de Flonas, e alguém disse que precisavam consultar o doutor Aziz. Aí ela disse: não dá tempo de convencer o doutor Aziz. É assim que funciona assim lá em cima. Não posso ficar falando essas coisas, porque não tenho vontade de citar nomes. Se fosse citar nomes, meu Deus, (o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Paulo) Capobiancos, Tassos Rezendes (gerente de projetos) e muitos outros que estão lá. E dentro do Ibama grandes problemas também, apesar de que o presidente do Ibama (Marcus Barros) é alguém que sempre respeitei muito. Não existe política estratégica dentro do Ibama capaz de gerenciar todo esse caos.

O sr. tem mais preocupação com a pressão de grileiros, madeireiros e fazendeiros ou a de ONGs?

Tenho impressão de que as ONGs deixaram de ser organizações não-governamentais para ser governo. É o caso do MMA, que foi inundado por ONGs. O marido da dona Marina Silva (Fabio Vaz de Lima) foi presidente das ONGs amazônicas. Tenho muito receio das ONGs, tanto as internas quanto as possíveis externas que nunca entenderam o mundo tropical e dentro do tropical um país como o Brasil com um regional diferenciado. Alguém disse, lá no MMA, que esses paulistas esqueçam a Amazônia e passem a pensar na despoluição do Rio Tietê, como se o ministério não tivesse que pensar em tudo. Você está me obrigando a dizer coisas que não gostaria de dizer...

O sr. é partidário da tese de buscar desenvolvimento mantendo o máximo da floresta intacta...

Pensar um desenvolvimento com o máximo de floresta em pé significa o máximo de biodiversidade conservada e in situ. Do chão até o dossel. Passei pelo Estreito de Breves (no Pará), numa das caravanas da cidadania (organizadas pelo então candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva), quando meditei muito sobre meu País - foi inútil, aparentemente. Passei numa madeireira na região e estavam desenrolando troncos gigantes para fazer placas e vender para o exterior. Fui num estacionamento, no fundo, e comecei a olhar os cortes dos troncos pensando em quantos anos levaram para crescer aquelas árvores. Uma delas tinha 1 metro e 65 centímetros de diâmetro. Aí comecei a contar os anéis de crescimento e tive de parar. Ia dar uns 500, 600 anos. E há brasileiros que dizem "pode cortar uma árvore se plantar uma outra". Estamos no campo da ignorância.

Como estudioso da Amazônia e professor, que nota daria ao governo Lula na questão ambiental?

Olha, não quero ferir a dona Marina e não quero ferir o governo Lula, mas é claro que a nota é muito baixa.

O sr. já propôs saídas para a Amazônia para este governo?

Fiz um zoneamento da Amazônia em 23 células espaciais, sugerindo ao governo que fizesse uma reunião em Brasília para encontrar um método de estudo para cada uma dessas regiões e entender a situação delas em termos das poucas atividades urbanas, das que têm verdadeiras capitais regionais funcionando mais para os madeireiros do que para qualquer outra coisa, das doenças tropicais e das locações de cada célula espacial. Enviei uma carta ao presidente Lula logo que foi eleito. Nenhuma resposta.

Lúcio Flávio errou feio

A última análise do cenário político paraense da lavra do jornalista Lúcio Flávio Pinto, peca por uma série de retumbantes precipitações e distanciamento dos fatos. Leia a análise aqui.
Rigorosamente, as pesquisas não registradas - uma das fontes que o jornalista baseou suas elocubrações - por exemplo, apenas são acessórios para uma tomada de decisão e, componente na órbita dos arranjos e conchavos que seguem, com movimentos de todos as peças do tabuleiro. O componente da decisão de Brasília pesa, claro; mas, não leva.

Melhor ministro de Lula entrega o boné

Triste fim do governo Lula, que, em tempos de Copa do Mundo, começou com um timaço (opinião dele) e termina mais ou menos como a seleção de Togo na Copa 2006. Falta de credibilidade gera isso.
O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, pediu demissão do cargo. Alegou problemas particulares (sua mulher está doente).
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou o pedido e Rodrigues deve ficar no posto só até sexta-feira, dia 30 deste mês. A cadeira passará então a ser ocupada por um técnico, até o início do próximo mandato.
A saída de Rodrigues é um revés para Lula. Trata-se de mais um de seus ministros considerados operativos que sai do governo. O petista terminará o mandato com um grupo de assessores diretos desconhecidos do grande público, bem diferente da seleção prometida no início da administração.
Por outro lado, se Lula de fato for reeleito, estará com o ministério vazio para loteá-lo para os partidos que pretende atrair para uma grande aliança futura.

Rumores

Os rumores de que as pesquisas de intenção de voto à presidente da República apontarão o crescimento da candidatura de Geral Alckmin, já causou o primeiro resultado: uma crise de urticária em vários oráculos da publicidade encarnada.
Leia mais aqui.

Pisou, dançou!

PEC cria voto de desconfiança para destituir o presidente
Agência Câmara
Tramita na Câmara a Proposta de Emenda à Constituição 540/06, do deputado André Costa (PDT-RJ), que torna possível a perda do mandato do presidente da República se ele trair a confiança popular na execução do programa de governo apresentado nas eleições. Segundo a proposta, esse ato passa a ser considerado crime de responsabilidade, assim como atentar contra a Constituição, a probidade administrativa ou a segurança interna do País, entre outros. No caso especificado pela PEC, o processo de perda de mandato só poderá ser instaurado um ano depois da posse do presidente, por voto da maioria absoluta do Congresso Nacional. Além disso, a perda do mandato presidencial estará sujeita a referendo popular.
O objetivo de André Costa é instituir no regime presidencialista a figura do voto de desconfiança, que, no parlamentarismo, permite ao Parlamento destituir o primeiro-ministro e seu gabinete por desaprovar sua política de governo.
Tramitação - A proposta tramita apensada à PEC 303/04, do deputado Michel Temer (PMDB-SP), que trata de tema semelhante, e terá sua admissibilidade analisada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Caso aprovada, será criada uma comissão especial para analisar o seu mérito.

E lá se foi Cidão

Sem qualquer alarde da imprensa, faleceu no domingo, 25/6, Alcides dos Santos Diniz. Cidão, como era chamado, tornou-se muito conhecido quando resolveu se desvincular do Grupo Pão-de-Açúcar. Um dos melhores jogadores de pólo do Brasil, viu-se envolvido também em muitas polêmicas, entre elas a Operação Uruguai, que tentou livrar a cara do amigo, o então presidente Fernando Collor de Melo de denúncias de corrupção.
Deixa os filhos Luiz Felipe, Ana Paola, Ana Carolina e Alcides. A missa de 7º dia será celebrada às 11h na Igreja Nossa Senhora do Brasil, em SP.
Abílio x Alcides - O processo sucessório no Grupo Pão de Açúcar foi tão difícil que levou a família Diniz a uma crise devastadora. A estrutura começou a ruir em 1986, com problemas de gestão e mais brigas sucessórias. A disputa alcançou os tribunais e, em 1988, Alcides Diniz foi afastado da presidência. Em seu lugar assumiu o irmão mais velho, Abilio, que hoje tem o controle acionário do grupo é um dos homens mais ricos da América Latina, segundo a revista Forbes.

Assinatura básica já tem até súmula contra

Assinatura básica de telefonia
Do Site Migalhas










Há não muito tempo surgiu o debate sobre a questão da assinatura básica de telefonia. Qual seria o fundamento da cobrança ? Seria uma cobrança correta ? Teses, discussões e debates foram travados e os casos foram sendo levados, pouco a pouco, ao Judiciário. A jurisprudência balouça. Mas não na turma recursal única do TJ/PR. Lá o tema já foi até objeto de súmula.
Súmula 32
"O Juizado Especial Estadual é competente para julgamento das ações que versam sobre a legalidade da cobrança da 'assinatura básica mensal'.
32.a - A cobrança da 'assinatura básica mensal', atualmente ofertada no sistema de telefonia fixa, é ilegal.32.b - Não cabe devolução dos valores pagos a título de 'assinatura básica mensal; no período anterior à citação da empresa de telefonia, em processo que discute a legalidade de sua cobrança.32.c - A devolução de valores pagos posteriormente à citação deverá ser pleiteada em ação própria."

Quem apresenta a questão hoje ao mundo jurídico é o próprio presidente da turma, dr. J. S. Fagundes Cunha. Clique aqui e veja a novidade que vem de Curitiba, oxigenando o mundo jurídico.
O titular do blog vai ajuizar uma ação contra esta extorsão da era FHC imposta no esquemão do Serjão, à época da escandalosa privatização das Teles. Lembram?
E você? Vai deixar barato?

Caráter conclusivo

Como contribuição da mais alta relevância para a Nação. Projeto de Lei de autoria do deputado Manato (PDT-ES), obriga as empresas que tenham mais de cem empregados a hastear a bandeira brasileira, a do estado - ou Distrito Federal - e do município em que se encontram. O PL 6727/06, segundo seu autor, ressalta o respeito cívico que deve ser uma responsabilidade de toda a sociedade. "Trata-se de estimular a reverência aos símbolos pátrios, como meio de fortalecer o civismo, cidadania e o espírito republicano", diz Manato.
Com tantos assuntos triviais como a saúde e a educação, a extorsiva carga tributária e os mais altos juros cobrados em um país em todo o mundo, o PL "patriótico" encontra-se em caráter conclusivo, bem diferente das reformas que deputados como o digníssimo acima, não aprovam, por uma singela razão: são gazeteiros contumazes.

O inferno é aqui

Entrevista ao Jornal O GLOBO por "Marcola"

Coluna: Arnaldo Jabor

- "Você é do PCC?"
- Mais que isso, eu sou um sinal de novos tempos. Eu era pobre e invisível... vocês nunca me olharam durante décadas... E antigamente era mole resolver o problema da miséria... O diagnóstico era óbvio: migração rural, desnível de renda, poucas favelas, ralas periferias... A solução que nunca vinha... Que fizeram? Nada. O governo federal alguma vez alocou uma verba para nós? Nós só aparecíamos nos desabamentos no morro ou nas músicas românticas sobre a "beleza dos morros ao amanhecer", essas coisas...
Agora, estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês estão morrendo de medo... Nós somos o início tardio de vossa consciência social... Viu? Sou culto... Leio Dante na prisão...
- Mas... a solução seria... - Solução?
- Não há mais solução, cara... A própria idéia de "solução" já é um erro. Já olhou o tamanho das 560 favelas do Rio? Já andou de helicóptero por cima da periferia de São Paulo? Solução como? Só viria com muitos bilhões de dólares gastos organizadamente, com um governante de alto nível, uma imensa vontade política, crescimento econômico, revolução na educação, urbanização geral; e tudo teria de ser sob a batuta quase que de uma "tirania esclarecida", que pulasse por cima da paralisia burocrática secular, que passasse por cima do Legislativo cúmplice (Ou você acha que os 287 sanguessugas vão agir? Se bobear, vão roubar até o PCC...)
e do Judiciário, que impede punições. Teria de haver uma reforma radical do processo penal do país, teria de haver comunicação e inteligência entre polícias municipais, estaduais e federais (nós fazemos até conference calls entre presídios...) E tudo isso custaria bilhões de dólares e implicaria numa mudança psicossocial profunda na estrutura política do país. Ou seja: é impossível. Não há solução.
- Você não têm medo de morrer?
- Vocês é que têm medo de morrer, eu não. Aliás, aqui na cadeia vocês não podem entrar e me matar... mas eu posso mandar matar vocês lá fora... Nós somos homens-bomba. Na favela tem cem mil homens-bomba...
Estamos no centro do Insolúvel, mesmo... Vocês no bem e eu no mal e, no meio, a fronteira da morte, a única fronteira. Já somos uma outra espécie, já somos outros bichos, diferentes de vocês. A morte para vocês é um drama cristão numa cama, no ataque do coração... A morte para nós é o presunto diário, desovado numa vala...Vocês intelectuais não falavam em luta de classes, em "seja marginal, seja herói"?
Pois é: chegamos, somos nós! Ha, ha... Vocês nunca esperavam esses guerreiros do pó, né? Eu sou inteligente. Eu leio, li 3.000 livros e leio Dante... mas meus soldados todos são estranhas anomalias do desenvolvimento torto desse país. Não há mais proletários, ou infelizes ou explorados. Há uma terceira coisa crescendo aí fora, cultivado na lama, se educando no absoluto analfabetismo, se diplomando nas cadeias, como um monstro Alien escondido nas brechas da cidade. Já surgiu uma nova linguagem.
Vocês não ouvem as gravações feitas "com autorização da Justiça"? Pois é. É outra língua. Estamos diante de uma espécie de pós-miséria. Isso. A pós-miséria gera uma nova cultura assassina, ajudada pela tecnologia, satélites, celulares, internet, armas modernas. É a merda com chips, com megabytes. Meus comandados são uma mutação da espécie social, são fungos de um grande erro sujo.
- O que mudou nas periferias?
- Grana. A gente hoje tem. Você acha que quem tem US$40 milhões como o Beira-Mar não manda? Com 40 milhões a prisão é um hotel, um escritório... Qual a polícia que vai queimar essa mina de ouro, tá ligado? Nós somos uma empresa moderna, rica. Se funcionário vacila, é despedido e jogado no "microondas"... ha, ha...
Vocês são o Estado quebrado, dominado por incompetentes. Nós temos métodos ágeis de gestão. Vocês são lentos e burocráticos.
Nós lutamos em terreno próprio. Vocês, em terra estranha. Nós não tememos a morte. Vocês morrem de medo. Nós somos bem armados. Vocês vão de três-oitão. Nós estamos no ataque. Vocês, na defesa. Vocês têm mania de humanismo. Nós somos cruéis, sem piedade. Vocês nos transformam em superstars do crime. Nós fazemos vocês de palhaços. Nós somos ajudados pela população das favelas, por medo ou por amor. Vocês são odiados. Vocês são regionais, provincianos. Nossas armas e produto vêm de fora, somos globais. Nós não esquecemos de vocês, são nossos fregueses. Vocês nos esquecem assim que passa o surto de violência.
- Mas o que devemos fazer?
- Vou dar um toque, mesmo contra mim. Peguem os barões do pó! Tem deputado, senador, tem generais, tem até ex-presidentes do Paraguai nas paradas de cocaína e armas. Mas quem vai fazer isso? O Exército? Com que grana? Não tem dinheiro nem para o rancho dos recrutas... O país está quebrado, sustentando um Estado morto a juros de 20% ao ano, e o Lula ainda aumenta os gastos públicos, empregando 40 mil picaretas. O Exército vai lutar contra o PCC e o CV? Estou lendo o Klausewitz,
"Sobre a guerra". Não há perspectiva de êxito... Nós somos formigas devoradoras, escondidas nas brechas... A gente já tem até foguete antitanques... Se bobear, vão rolar uns Stingers aí...
Pra acabar com a gente, só jogando bomba atômica nas favelas... Aliás, a gente acaba arranjando também "umazinha", daquelas bombas sujas mesmo... Já pensou? Ipanema radioativa?
- Mas... não haveria solução?
- Vocês só podem chegar a algum sucesso se desistirem de defender a "normalidade". Não há mais normalidade alguma. Vocês precisam fazer uma autocrítica da própria incompetência. Mas vou ser franco... na boa... na moral... Estamos todos no centro do Insolúvel.
Só que nós vivemos dele e vocês... não têm saída. Só a merda. E nós já trabalhamos dentro dela. Olha aqui, mano, não há solução. Sabem por quê?
Porque vocês não entendem nem a extensão do problema. Como escreveu o divino Dante: "Lasciate ogni speranza voi che entrate!" Percam todas as esperanças.
Estamos todos no inferno.
MARCOLA

Datafolha protocola mais uma pesquisa para presidente no TSE

TSE
Brasília, 23/06/2006 - O Instituto Datafolha protocolou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na última sexta-feira, pedido de registro de pesquisa de intenção de voto para Presidente da República nas próximas eleições de outubro. A pesquisa foi encomendada pela empresa Folha da Manhã S/A, que publica o jornal Folha de S. Paulo.
A pesquisa vai ouvir 2.840 entrevistados em todos os estados brasileiros, menos Roraima e Amapá, nos próximos dias 28 e 29 de junho.
O registro da pesquisa atende ao determinado pela Resolução 22.143/06 (Instrução 100), do TSE, que estabelece que a partir de 1º de janeiro do ano eleitoral as empresas que realizarem pesquisas de opinião relativas às eleições ficam obrigadas a registrar, até cinco dias antes da divulgação, os dados relativos à sondagem.

Na marra!

Foto: Jane de Araújo













A candidata à presidência da República pelo PSOL, senadora Heloísa Helena afirmou nesta manhã que na primeira semana de seu governo, se eleita for, será reduzir a taxa de juros de 16,5% para 6,5% por decreto. "Quando subiram os juros de 20 para 45%, ninguém viu nada de errado. Onde é que está escrito que não posso baixá-lo para 6,5%?"

Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados

  Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados A imagem peregrina da padroeira dos par...