Deus Pai. Deus Filho

Uma visão acadêmica e legislativa em dois trabalhos de fôlego

Amazônia Redividida:
elementos para a compreensão dos processos em curso de
redivisão territorial do Estado do Pa[1]

Prof. Dr. Gilberto de Miranda Rocha

Universidade Federal do Pará

INTRODUÇÃO

Uma viagem ao passado da Amazônia demonstra o quanto a redivisão territorial tem sido uma questão que se renova e muitas vezes se amplia, em diferentes momentos da vida política brasileira e com diferentes significados e justificativas. Algumas dessas justificativas fazem parte dos argumentos de praticamente todos os movimentos emancipacionistas de âmbito regional tais como: a grande dimensão territorial, o que inviabiliza a administração e prestação adequada dos serviços públicos, a desigual distribuição e alocação de recursos, o controle e a defesa do território e das fronteiras e, portanto, a necessidade de ampliação da presença do Estado, defesa nacional, ampliação da representatividade política regional, a estadualização como alavanca para o desenvolvimento regional, etc....E, outras recentemente incorporadas como a necessidade de controle do narcotráfico, as guerrilhas fronteiriças.
No presente trabalho procuramos refletir sobre a redivisão territorial da Amazônia, e particularmente sobre as propostas de divisão do Estado do Pará, focalizando dois aspectos subjacentes a esse processo de partilha territorial: a dimensão econômica da redivisão, i. e. o que estimula essencialmente em termos dos recursos existentes nos territórios e a dimensão simbólico – cultural através da qual se fundamenta a apropriação coletiva do espaço. Antes porém, refletimos sobre o reordenamento espacial do território, sobre as mudanças nas formas de apropriação e uso dos territórios induzidas pelas políticas públicas federais para a região nas ultimas três décadas. Ainda visando criar bases para a melhor compreensão das propostas, procuramos focalizar as mudanças sócio – culturais – emergência de novas territorialidades - e político-institucionais – alteração nas formas e mecanismos de gestão - desfechadas no Estado nas últimas décadas. Além desses aspectos, o presente trabalho pretende contribuir para aprofundar a reflexão sobre alternativas a divisão territorial assim como as atuais formas de gestão territorial: uma terceira via ?

1.O ParÁ sob intervenção : a federalização e a reestruturação espacial do território estadual

1.1. A estrutura espacial do território estadual ate a década de 1960

A compreensão dos processos de emancipação político – territorial – criação de novos estados – a partir da redivisão do Pará implica o resgate dos processos recentes de reordenamento espacial do território estadual. Nas ultimas três décadas, os processos de intervenção federal induziram a mudança da estrutura espacial herdada e construída a partir do período colonial.

Até a década de 60 a dinâmica espacial regional espelhava o funcionamento da economia baseada na exploração extrativista e alicerçada no sistema de aviamento e tendo como suporte a existência do produto, uma rede de núcleos e a circulação fluvial. A bacia hidrográfica desempenhava papel fundamental na estruturação da vida econômica como eixo de penetração, circulação e povoamento.

Entre o final do século XIX e primeira metade do século XX, o boom da borracha, e as sucessivas fases de exploração extrativa (caucho, castanha, borracha), a economia extrativista estimulou a produção de uma estrutura espacial que articulava os locais de extração / produção no interior do território com os centros exportadores de Belém através de uma rede de localizações, pequenos núcleos urbanos de povoamento cuja função primordial era, além de servir de moradia para a força de trabalho, pontos de comércio e concentração da produção na bacia hidrográfica, extrair o excedente econômico gerado(Correa,1992). Essa estruturação espacial na Amazônia se iniciou com a fundação de Belém, cidade estratégica e excentricamente localizada em relação a hinterlândia, a cidade primaz. Como ponto de abertura e penetração do território, constituía a sede das principais funções políticas e econômicas, do comercio atacadista e exportador, possibilitando a participação da região na divisão internacional do trabalho.

No Estado do Pará, esse sistema espacial condicionou o processo de produção, circulação da borracha (1890-1910), da castanha do para(1926-1964), de povoamento e de estruturação das principais cidades(Belém, Santarém e Marabá), concentrando a população na calha dos principais rios – Amazonas, Tocantins, Xingu e Tapajós. No âmbito desse sistema espacial, o controle sobre o território, sobre a produção, circulação, sobre a forca de trabalho envolvida assim como o excedente econômico gerado,era alicerçado em uma estrutura de poder oligárquico (Emmi,1988).

1.2. O reordenamento espacial do território estadual

A segunda metade da década de 60, representa um marco do ponto de vista do reordenamento político – institucional assim como das transformações espaciais e territoriais na Amazônia oriental. No âmbito das mudanças de ordem política e institucional do Estado brasileiro pós – golpe militar de 1964, são lançadas as primeiras medidas de política com o objetivo de assegurar a ação federal na região de forma efetiva. A “operação amazônica”, em 1968, redefiniu o arcabouço institucional regional ao criar a Sudam e o Incra. Posteriormente, em 1971, através do Dec. Lei n. 1164 / 71, são federalizados cerca de 66% das terras do território do Estado do Pará.

No período entre 1971 a 1987 o processo de distribuição e de regularização da apropriação das terras ocorreu sob a égide do Incra. Ao federalizar o território, o governo federal alijou as oligarquias regionais do poder de distribuição de terras, dado que retirou do controle estadual a regularização das terras, suprimiu a existência de terras comunais e devolutas para a instauração da propriedade privada e negou as posses imemoriais dos grupos indígenas, caboclos e ribeirinhos e ainda obstruiu o processo de ocupação não – controlada de terras devolutas. A ocupação seletiva das terras constituiu no principal mecanismo de gerencia territorial do Incra. Somente 26% do território permaneceu sob o controle do governo estadual.

No mesmo período, através de políticas de integração nacional e planejamento do desenvolvimento regional, (Pin, Proterra, Polamazonia e Programa Grande Carajás) abriu a região ao integrá-la através de eixos rodoviários, ao criar mecanismos institucionais de incentivo a apropriação privada das terras, a diversificação das atividades econômicas – agropecuária, mineração e industrialização – e ao desestimular a economia extrativista que assegurava o funcionamento da economia regional.

O estimulo a migração através de políticas de atração populacional constituiu mecanismo em vistas a formação de um mercado de trabalho regional. Somente no Estado do Para, ao longo da rodovia transamazônica, instituiu três projetos integrados de colonização através de uma concepção urbanística de base rural.

Em vinte anos de intensas transformações, as políticas públicas reordenaram espacialmente o território estadual. Em 1970, existiam cerca de 83 municípios no Estado do Para. Como parte desse processo de reordenamento, a ocupação seletiva da terra estimulou a urbanização do território. Novos núcleos urbanos surgiram, seja como expressão planejada dos grandes projetos, as company towns, as agrovilas, agrópoles e rurópolis, seja como fruto do povoamento espontâneo e das contradições das políticas de desenvolvimento implementadas. Até 1996, havia sido criado cerca de 60 novos municípios, totalizando hoje 143 unidades político – administrativas.

O que é relevante nesse processo de reordenamento espacial do território estadual é o fato de que as novas formas de apropriação e de uso do território e de dominação política deram ao Estado do Pará uma nova configuração. A magnitude e a intensidade da intervenção federal transformou a estrutura e a dinâmica espacial estadual, posto que alterou a base material – geográfica anterior e afetou os circuitos de produção e acumulação tradicionais, desestruturando os atores sociais pré-existentes e seu poder político. O território estadual se reestruturou na medida em foram introduzidas novas atividades, novos padrões demográficos, o surgimento de novas cidades, transformando o padrão de hierarquização do sistema espacial e da rede urbana regional.

Em outro plano, as formas capitalistas de divisão técnica do trabalho que se implantaram, junto com a chegada dos fluxos migratórios de caráter heterogêneo desde o ponto de vista de sua composição demográfica, social e econômica, trouxeram como conseqüência à reestruturação do sistema de classes sociais e a complexificação sociedade civil. O especifico a reter é que, as modificações econômicas e sócio – políticas desencadeadas, levaram ao declínio os arranjos espaciais e as formas de dominação política construídas historicamente, demandando a construção de novos de novos pactos e o estabelecimento de novos laços entre os atores partícipes da nova realidade em formação ou mesmo demandar a construção de novas identidades territoriais. No sentido político do termo, essas mudanças, no atual contexto histórico, pode se associar às novas necessidades de remodelagem das estruturas político – administrativas. A complexificação das estruturas de classe sociais, os conflitos pelo poder, os movimentos sociais podem demandar novas figuras político – institucionais que produziriam novas normas, ordens e legitimações, para dar organicidade à nova estrutura espacial e territorial construída através do processo intervencionista. a transformação político – institucional.

2.O ParÁ dividido

2.1. O contexto histórico de emergência dos movimentos emancipacionistas

As propostas de criação de novos estados – Tapajós e Carajás - a partir da redivisão do território paraense, surgiram em um contexto histórico marcado pelo processo de redemocratização da sociedade brasileira, um contexto, a um só tempo, de crise e reestruturação das relações entre o estado e a sociedade. No âmbito nacional, na década de 80, de um lado, ocorre o aprofundamento da crise fiscal do Estado que vem a contribuir para a obsolescência econômica do Estado Nacional, expressa na ineficácia do governo federal no controle inflacionário e em tornar efetiva a sua ação planejadora . Ocorre uma retração significativa das políticas publicas regionais. Por outro lado, o país vivenciava, a falência do regime militar cuja expressão é perda progressiva de legitimidade frente a sociedade brasileira.

Na Amazônia, a intervenção federal que durante o regime militar, promoveu mudanças substanciais na base econômica e nas formas de organização sócio – política regional enfraquece. Intensos conflitos em torno do acesso a terra, o acirramento dos movimentos sociais frente a seletividade social, a concentração espacial e setorial dos investimentos e o depauperamento das obras de infra-estrutura e dos serviços públicos são expressões da falência da gestão estatal – nacional no espaço regional. Frente a instabilidade, o Estado procurou redefinir suas formas de ação regional.

A federalização do território, as poucos, é substituída por um processo de ação compartilhada entre os níveis de governo, para a qual se buscou o revigoramento do poder local e regional. O fortalecimento dos municípios – pólos, centro sub-regionais e a municipalização do território constituíram medidas de política que visaram, entre outros aspectos, a implementação de uma nova ordem política e institucional. Segundo Rocha (1999), o município constituiu instrumento tanto para o restabelecimento dos sistemas hegemônicos locais, redefinindo assim as alianças entre os atores políticos no âmbito do novo cenário econômico, político e territorial do estado do Pará quanto uma tentativa de restabelecer o controle e a regulação social. Um momento ímpar na busca da re-legitimação do Estado frente a sociedade regional.

Ressalta-se que, conforme Rocha (1999:76) “é em meio a esse revigoramento do poder local e regional e de mudanças na base econômica e política local que emerge os movimentos separatistas dos estado do Carajás e do Tapajós ”. O movimento constituinte de 1986/87 vem igualmente constituir o mecanismo institucional através do qual buscar-se-á a autonomia política.

2.2. A dimensão econômica do(s) território(s)

Os movimentos emancipacionista representam a expressão política e territorial do reordenamento espacial, econômico e sócio – político do território estadual. As mudanças processadas ensejaram o reordenamento dos sistemas hegemônicos locais e regionais com implicações no realinhamento das alianças entre os atores presentes na região. Trata-se de movimentos que almejam a apropriação política do território, como meio para tingir objetivos e interesses subjacentes as suas praticas espaciais.

“representam em outro patamar conflitos pelos meios, pela implantação de recursos de exploração e pela apropriação dos benefícios e dos excedentes econômicos ali gerados, assim como apontam para a necessidade de estabelecimentos de novas formas (e reafirmação de antigas) de dominação político – social através da difusão de novos valores, símbolos e de afirmação de novas territorialidades. Trata-se de um processo de consolidação de territórios legitimadores das novas redes econômicas e / ou dos novos (e, em certas situações, também os velhos) interesses políticos”(Rocha,1999:229).

e, ainda enfatiza o autor, “igualmente, apontam para a recomposição das relações de forcas emergentes na área, em que a divisão do território seria um meio de legitimação / legalização da apropriação e da definição de domínios territoriais por essas mesmas forças dominantes”(Rocha,1999:230).

Em que pese as dimensões culturais e sócio - espaciais – expressões das mudanças processadas na estrutura espacial do território estadual - subjacentes as propostas, a emancipação, a rigor, vem a se constituir um pretexto, tanto como forma de captação de recursos – instrumento de barganha política da(s) elite(s) regional(is) (o mito da necessidade) - quanto a possibilidade de construção de canais legais de legitimidade da apropriação dos recursos territoriais por essas mesmas elites.

Tab. N. 01. Para, Tapajós e Carajás: Os recursos e os Territorios

Os recursos e os Territórios

Para

Tapajós

Carajás

Área territorial

249.000 km2

708.868 km2

289.799 km2

População

4.000.000

958.860

1.100.000

Áreas de uso restrito (unidades de conservação e terras indígenas)

13

22

14

Icms (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços)

79,49 %

7,0 %

13,51 %

Fpe (Fundo de participação do estado)

491.597.016[2]

115.365.280

137.629.573

Recursos

Industria, serviços e agropecuária

Minérios e agropecuária

Minérios e agropecuária

Fonte: Governo do Estado do Pará: Indicadores Sócioeconômicos, 2000.

2.3.O uso político do território: a produção política do consenso em torno da emancipação

A territorialização envolve sempre, ao mesmo tempo, mas em diferentes graus de correspondência e intensidade, uma dimensão simbólico – cultural, através de uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais como forma de “controle” simbólico sobre o espaço onde vivem, e uma dimensão mais concreta, de caráter político-disciplinar: o domínio do espaço pela definição de limites e fronteiras visando a disciplinarização dos indivíduos e ao uso / controle dos recursos ali presentes[3]. No âmbito do processo político de projeção territorial, essas duas dimensões se entrecruzam dando a cada uma das propostas uma singularidade que se substantiva na diferença contida no território, na projeção sobre o espaço “de estruturas especificas de um grupo humano, que inclui a maneira de repartição, de gestão e de ordenamento desse espaço”(Brunet et al,1992:436 apud Claval,1999:11) e, ao mesmo tempo, na cristalização de representações coletivas, dos símbolos que se encarnam em lugares nos quais estão inscritas as existências humanas (Claval, 1999:11).

2.3.1.O poder disciplinar: o controle, a defesa e o estímulo a ocupação efetiva do território.

A divisão territorial da Amazônia, ao longo do presente século, tem sido uma questão recorrente não somente no marco da discussão e de propostas como igualmente na efetivação da divisão. Pode-se mesmo dizer que a atual configuração político administrativa é recente e fora moldada a partir de 1911 com a questão acreana. Naquela ocasião a apropriação do excedente econômico gerado pela economia extrativa da borracha mobilizou parlamentares e as elites tanto do Pará como do Amazonas. A federalização do território foi a solução à época encontrada. Na década de 40, novamente partilhar a amazônia foi objeto de ampla discussão no âmbito da organização do Estado brasileiro e da integração e de manutenção da integridade do território nacional. Os anseios geopolíticos de controle territorial e das fronteiras elevariam a divisão territorial como medida visando estimular a ocupação e ao povoamento regional. A criação de postos de vanguarda nas fronteiras, ampliar a presença do estado federal, de federalizar parte dos territórios estaduais justificava-se.

Getúlio Vargas estimulado pelo Conselho de Seguraça Nacional, através do decreto-lei n. 5.812, de 13 de setembro de 1943 cria os Territórios Federais: Guaporé (Rondônia), Amapá e Rio Branco (Roraima) na Amazônia. A preocupação com a imensidão territorial e o vazio demográfico amazônico sempre foi ponto de convergência entre ideólogos e geopolíticos e os militares. A divisão territorial tem sido assim um meio de indução da civilidade, da apropriação real e efetiva do território pela nação-estado, parte integrante da construção territorial do Estado Nacional. Como mecanismo jurídico e político, a divisão do território era (e é) parte integrante da organização geográfica do Estado, do controle, da administração e da gestão territorial.

Esses mesmos princípios recentemente foram ressucitados, revividos em parte pelas recentes propostas. A leva de movimentos emancipacionistas nos quatro cantos do Brasil durante o processo constituinte de 1986/87, (somente no Pará foram dois: estado do Carajás e estado do Tapajós) induziu a criação, após a promulgação da Constituição Federal de 1988, de uma Comissão de Estudos Territoriais(1989). O Relatório Final foi apresentado em janeiro de 1990. Foi recomendada a redivisão da Amazônia com a criação dos Territórios Federais do Rio Negro, Território Federal do Alto Solimões (dividindo o Amazonas), o Território Federal do Araguaia (dividindo o Mato Grosso) e a criação do Estado do Tapajós (dividindo o Estado do Pará).

2.3.2.a dimensão simbólico – cultural e a construção da identidade territorial

Os lugares, as regiões são “freqüentemente fontes de identidade coletiva e também de atividades econômicas”(Brunet et al.,1992:232), fontes de recursos, de possibilidades de reprodução biológica e sócio – cultural. Como suporte material e base simbólica, o território constitui instrumento indispensável a construção das identidades coletivas.

Dessa forma, freqüentemente, ao nos referirmos ao Oeste do Para e Baixo amazonas(Tapajós) e ao Sul e Sudeste do Para(Carajás), nos referimos a espaços diferenciados, singulares no âmbito do território estadual. As propostas de criação de novos estados são projeções territoriais, são manifestações coletivas – coordenadas ou não - que acenam distintamente para a apropriação política do seu espaço de vivencia e produção – apropriação e uso dos recursos contidos. O espaço e a cultura participam desse processo dado que representam o suporte material (legado ou construído) e a base simbólica sobre os quais são forjadas e construídas as identidades territoriais através da difusão de uma ideologia territorial.

A idéia de tradição e de cultura local e regional (presente no baixo amazonas, no tapajós) ou de pioneirismo dos desbravadores (presente no sul e sudeste do Para) contribui para elaborar a re – construção peculiar da historia local, conferindo-lhe unidade imaginaria. A idéia complementar de região, presente no ambiente construído ou não – nos lugares memoráveis, a terra natal, o espaço de vida e produção – “terra conquistada com esforço e trabalho, canaã”, “região em que todos tem um lugar ao sol” (sul e sudeste do Para) produz a noção de unidade territorial. A eficácia simbólica dessas idéias mobilizam a sociedade regional em torno do projeto emancipacionista. O uso político do território passa a ser, indiscutivelmente um instrumento de grande eficácia para atingir a unidade e o consenso em torno da região.

2.3.3.da alocação de recursos, da produção do território e do estimulo ao desenvolvimento regional

A alocação de recursos de forma mais eqüitativa tem sido a outra fonte de reivindicação para emancipação de territórios, em Estados ou mesmo em Territórios. No caso do Tapajós se releva a ausência de uma política específica para a região oeste do estado do Pará, exemplificada pela carência de infraestrutura. Enfatiza igualmente a fragilidade administrativa e a retirada de recursos do Oeste do Pará sem uma contrapartida real para a região. E, conclui, referindo-se às vantagens de representatividade política que a criação de novas unidades político-administrativas traria para o desenvolvimento regional e a ampliação da consciência política.

3. Pará, capital Belo Monte : a proposta de transferência da capital como instrumento geopolítico para conter a redivisão !

Nos anos oitenta, época de eclosão dos movimentos, conforme Rocha(1999), a partilha territorial representava uma forma peculiar de captação de recursos frente ao depauperamento das infraestruturas e do descalabro da oferta dos serviços públicos. “A projeção e a tentativa de apropriação política do novo território representou, grande instrumento de barganha que se traduziu na definição de investimentos de infraestrutura por parte do governo estadual, para neutralizar o movimento e promover a efetiva integração e manutenção da unidade política do território paraense” (Rocha,1999:77)

O ressurgir das propostas de criação dos estados do Carajás e Tapajós, estimulou o governo do estado a busca de alternativas à redivisão territorial. A Fundação Getúlio Vargas foi contratada na forma de consultoria para a realização de diagnóstico sobre a estrutura espacial e econômica e necessidades de recomposição. No diagnóstico, Belém se assevera como um problema para o comando da estrutura econômica e espacial do território estadual. A excessiva concentração das atividades em no entorno de Belém e a baixa integração estadual apresentava-se, de fato, como estímulo a desagregação territorial.

A partir de clássicos preceitos geopolíticos o governador Almir Gabriel propõe a transferência da capital do Estado do Pará para a localidade de Belo Monte (parte do município de Anapú, parte do município de Vitória do Xingu, na volta grande do Xingu. Ao centralizar geograficamente o poder político do Estado do Pará, a exemplo do Brasil ao construir Brasília, visava interiorizar a economia estadual, reordenando a distribuição das atividades econômicas e produtivas, redirecionando os fluxos e parte dos aportes demográficos concentrados em Belém, enfim estimulando como no passado recente a reestruturação espacial do território. A crença do governador residia no fato de que reordenando novamente a espacialidade estadual poderia conter o processo de redivisão territorial.

4. Considerações FINAIS: Para além da redivisão, por um projeto político REGIONAL!

As propostas de redivisão do Estado do Pará expressam processos de reconfiguração espacial e de rearranjo das relações de poder no âmbito estadual. Não são processos artificiais, são produtos legítimos de territorialidades emergêntes e que reivindicam a apropriação política do território, sobre os quais têm domínio. No entanto, é lícito considerar o fato de que a existência da diferença e da singularidade não necessariamente pressupõe a separação. Ao contrário do que ao longo desse século norteou a construção dos Estado-Nação, a homogeneidade linguística e étnica – cultural, o Estado pós – moderno deve operar pela diferença, pelo respeito a diversidade cultural e étnica existente. Nesse contexto, tanto as propostas de divisão como a transferência da capital do Estado do Pará, formulada pelo Governo do Pará, estão na contramão de uma gestão territorial que der conta da complexidade que hoje é o Pará. A sua unidade política e territorial somente poderá ser alcançada frente a uma ampla redefinição conceitual da identidade paraense, fundada na diversidade e não na homogeneidade.

Ademais, é importante ainda frisar que para tanto, refazer o processo de gestão territorial é urgente e indispensável. Um novo processo que seja tomado como princípio fundamental o poder popular, a participação da sociedade civil nos processos de decisão sobre o futuro de cada região do Estado do Pará. Uma espécie de federalismo à escala estadual. O governo do território não se resumiria às instituições locais (ainda que estas sejam fundamentais), mas a todas as formas de organização em níveis escalares distintos e da sociedade civil que, de forma negociada e interativa, participariam e competiriam na resolução dos problemas que envolvem determinado âmbito local e sub - regional. A tomada de decisão tende a ser concebida como resultado de um processo de interação entre atores individuais e/ou coletivos, atores esses que dispõem de representações diferenciadas no contexto da negociação. Isto quer dizer que tanto em nível interno a um determinado território como no seu relacionamento com outros níveis escalares de poder, a participação compartilhada passa a ser o norteador nas novas formas de governo do território. Os territórios organizados, assim, passam a exercer um papel completamente novo atualmente (Boisier,1996).

As possibilidades de desenvolvimento local e regional estariam ligadas à capacidade de organização que cada âmbito espacial tenha de acumular poder político, algo que se obtêm mediante o consenso político, o pacto social, a cultura de cooperação e a capacidade de criar, coletivamente, um projeto de desenvolvimento. A criação de poder político e de busca do consenso e pacto social local e regional torna-se relevante para a construção de um projeto político regional, instrumento indispensável na formulação de estratégias em vistas o alcance do desenvolvimento local e regional.

BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, R. S. e RIBEIRO, M.A. Os Sistemas de Transportes na Região Norte: Evolução e reorganização em redes. In: Revista Brasileira de Geografia. Vol. 51, n. 2. Abr / jun. Rio de Janeiro: IBGE, 1987. BECKER, B. Amazônia: Questões sobre Gestão do Território. Rio de Janeiro: UNB / UFRJ, 1992. BOISIER,S. A Caixa Preta. O Esquivo Desenvolvimento Regional. Políticas Públicas. Brasília: IPEA,1996. BRASIL. Comissão de Estudos Territoriais. Relatório Final. Brasília: Congresso Nacional,1990. BRUNET, R. ET ALL. Territoire et Identitê. Paris: Centre nationale de Recherce Cientificique, 1992. CAMARGO, I. O Urbanismo Rural. Brasília: INCRA, 1973. CLAVAL, P. O Território na Transição da Pós – Modernidade. Niterói: GEOgraphia, Depto de Geografia, UFF, 2000. CORREA, R. L. A Organização Urbana. In: Geografia do Brasil – Região Norte. Rio de janeiro, IBGE, 1992. EMMI,M. A oligarquia do Tocantins e o Domínio dos castanhais. Belém: Ed. Ufa, 1988. GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ. Indicadores sócio-econômicos. Belém, 2000. GOODLAND, R. e ERWIN, H. A Selva Amazônia : do inferno verde ao deserto vermelho ? São Paulo: Edusp, 1975. Haesbaert, R. Os Gaúchos no Nordeste.Desterritorialização – reterritorialização. Tese de doutoramento. Universidade de São Paulo,1995. MACHADO, L. O. The Intermitent Control of Amazon Territory. In: Urban Planning, 1990. MIRANDA, M. Colonização Oficial na Amazônia: ocaso de Altamira. In: Becker, B. et all. Questões sobre Gestão do Território. Rio de Janeiro: UNB / UFRJ,1992. OLIVEIRA, A.E. A Ocupação Humana. In: Salati, E. Amazônia: desenvolvimento, Integração, Ecologia. São Paulo: Brasiliense / CNPq. 1983. ROCHA, Gilberto de Miranda. A Construção da Usina Hidrelétrica e a Redivisão Político-territorial da Área de Tucuruí. Tese de Doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999. ROGERS, Alisdair. Los espacios del multiculturalismo y de la ciudadania. School de Geography. University of Oxford. Reino Unido, 2000.



[1] Reflexões desenvolvidas a partir do projeto Municipalização do Território na Amazônia. Proint-2001/UFPA. [2] Valores em reais. HAESBAERT,R. Os Gaúchos no Nordeste: Desterritorialização – Reterritorialização. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 1995.

Impacto de Nova Redivisão Territorial na Geração e Riquezas,

Desenvolvimento e Administração

Cláudia Cristina

1 INTRODUÇÃO

A criação de novas unidades federativas constitui a mais nova

tendência do federalismo brasileiro e envolve temas cruciais como

representação política, sistema eleitoral, construção de identidades territoriais, repartição de receitas tributárias e descentralização fiscal e administrativa.

A distribuição espacial dos estados brasileiros é, freqüentemente,

vista como um obstáculo ao desenvolvimento econômico do País e, em particular, do Norte e do Centro-Oeste. O artificialismo da divisão territorial teria gerado, em alguns casos, unidades federativas inviáveis economicamente e, em conseqüência, dependentes do governo federal para o atendimento das necessidades básicas de suas populações.

Desta forma, ao longo da história brasileira, muitas foram as

tentativas de estabelecer novos contornos aos limites interestaduais, sobretudo nos períodos de elaboração e/ou revisão das constituições. Quase sempre, as tentativas são no sentido de redividir territorialmente o Brasil por meio de desmembramentos de estados ou criação de territórios federais.

Entretanto, embora de mais difícil concretização, já houve propostas no sentido oposto, o de fundir estados, a fim de fortalecer a identidade regional, compartimentando-se as regiões por menor número de estados. O princípio da equipotência estadual/regional presidiria a redivisão, impedindo que, em cada região, algum estado adquirisse primazia absoluta.

A Constituição Federal de 1988 também tratou da questão, instituindo mudanças no ordenamento geopolítico-administrativo brasileiro ao transformar os Territórios Federais de Roraima e do Amapá em Estados Federados (art. 14 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT) e ao criar o Estado do Tocantins, por desmembramento de área pertencente ao Estado de Goiás (art. 13 do ADCT). Ademais, a Assembléia Nacional Constituinte criou a Comissão de Estudos Territoriais (art. 12 do ADCT), com a finalidade de apresentar estudos relativos a novas unidades territoriais, notadamente na Amazônia Legal.

A Amazônia Legal encontra-se no centro das discussões sobre redivisão territorial por representar 60% do território nacional, com 5.060.266 quilômetros quadrados, e por abrigar uma população de 13 milhões de habitantes em menos de um terço das unidades federadas.

A Comissão, em seu Relatório Final, estabeleceu uma série de critérios para a aprovação dos projetos de desmembramento, entre os quais, destacam-se:

– homogeneidade geo-sócio-econômica no espaço considerado para a divisão;

– preservação das fronteiras atualmente desguarnecidas, dada a sua distância e seu acesso para a capital do Estado;

– possibilidade de sua autodeterminação;

– preservação dos espaços homogêneos, de adequados tamanhos e configuração para constituir o território remanescente da atual unidade;

– manutenção dos municípios atuais.

Atualmente, tramitam, no Congresso Nacional, vários projetos visando dar nova configuração ao mapa geopolítico brasileiro. Os projetos de decreto legislativo que prevêem plebiscito para criação dos Estados do Tapajós (desmembramento do Pará) e dos Territórios do Rio Negro, Juruá e Solimões (a partir do desmembramento do Amazonas), após aprovação no Senado Federal, estão em discussão na Câmara dos Deputados. O projeto que cria o Estado do Araguaia (desmembramento do Mato Grosso) ainda está em fase de discussão no Senado Federal, assim como o projeto sobre a criação do Estado do Juruá (a partir do desmembramento de municípios do Acre e do

Amazonas) vem sendo discutido na Câmara dos Deputados.

Estes projetos refletem, em relação à Amazônia Legal, a preocupação crescente com a integração e ocupação dos imensos espaços físicos, a redução dos vazios demográficos, o aproveitamento das reservas de matérias-primas, a interiorização das ações governamentais e o fortalecimento da segurança nas áreas de fronteira. Mas, sobretudo, demonstram o desejo de maior autonomia por parte de regiões que se sentem em situação de abandono por parte dos governos federal e estadual.

De um lado, os defensores da idéia de desmembramento alegam que os governos estaduais não revertem o resultado da arrecadação de impostos em benefícios para as áreas arrecadadoras, como investimentos em transportes e energia, tornando subaproveitadas suas potencialidades naturais e econômicas. A única forma de reverter o quadro de ausência governamental e propiciar o desenvolvimento mais harmônico dos estados seria, então, dotar as áreas carentes de autonomia para que pudessem, com a separação, investir os recursos gerados em seu próprio proveito ou, ainda, criar territórios federais, que receberiam maior atenção por parte do governo federal.

De outro lado, os que têm posicionamento divergente relacionam, entre outros aspectos, a inexistência de estudos específicos que

comprovem a viabilidade econômica da criação de novos estados, os altos custos para implantação das novas máquinas administrativas e a necessidade de implementação de projetos de desenvolvimento e de pesados investimentos em infra-estrutura estratégica, sem os quais não há como garantir o desenvolvimento econômico dos novos estados.

No que tange aos gastos com a estrutura administrativa e institucional das novas unidades federadas seriam necessários investimentos para a instalação de uma nova máquina burocrática estadual, representada por novos governantes estaduais e novos Poder Judiciário, Assembléia Legislativa (mínimo de vinte e quatro deputados estaduais) e Poder Executivo (secretarias, órgãos auxiliares para as áreas de saúde, educação, saneamento, habitação, etc). Em nível federal, recursos orçamentários deverão ser alocados para os novos gastos com a representação política estadual (mínimo de oito deputados federais e três senadores).

Em vista das diversidades de argumentos pró e contra envolvidos

na questão da criação de novas unidades federativas, faz-se conveniente examinar as experiências de criação dos Estados do Mato Grosso do Sul e do Tocantins, tidas como bem sucedidas.

2 FUNDAMENTOS PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS ESTADOS Para a criação dos Estados do Mato Grosso do Sul e do Tocantins

concorreram fatores semelhantes aos que atualmente fundamentam o

desmembramento dos estados da Amazônia Legal. Estavam presentes argumentos como antecedentes históricos, a construção de forte identidade sócio-territorial do povo da região, fatores administrativos, econômicos, políticos, sociais e culturais.

Os antecedentes históricos incluem a ocorrência de movimentos emancipacionistas e divisionistas alicerçados em forte identidade sócio-territorial do povo da região, contrastante com a das demais áreas do estado.

Em termos administrativos, as enormes distâncias dentro de uma mesma unidade federada dificultam demasiadamente as ações da administração pública estadual, resultando na impossibilidade de implantação e gerenciamento de programas de interiorização do desenvolvimento. A presença mais próxima do governo do novo estado traria maior racionalidade à administração pública, bem como a melhoria da qualidade de vida das populações interioranas, que seriam mais bem assistidas.

Os fatores econômicos mais importantes são o reduzido volume

de investimentos em obras públicas nas regiões carentes, o que ocasiona o subaproveitamento de suas potencialidades econômicas e a conseqüente estagnação econômica.

Sob o aspecto político-administrativo, a representação política geralmente conta a favor de regiões de maior desenvoltura econômica, com a eleição de reduzido número de deputados estaduais e federais e de senadores originários das regiões mais pobres. Ademais, na formação da administração estadual e na ocupação de cargos administrativos, os quadros dirigentes provêm das áreas mais desenvolvidas economicamente, restringindo o poder

de influência das regiões menos favorecidas nas decisões federais e estaduais.

A redivisão territorial expressaria maior democratização das forças regionais na medida em que implicaria aumento da representatividade político-regional e o fortalecimento do sistema federativo do País. Com a eleição de maior número de representantes da região na Câmara Federal e no Senado, seria dado maior peso aos interesses regionais, garantindo-se, assim, a cidadania de seus habitantes.

3 CRIAÇÃO DO ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL

As porções norte e sul do antigo Estado do Mato Grosso apresentavam diferenças substanciais em relação à base econômica, com a presença do extrativismo e da agricultura de subsistência ao norte, enquanto o sul apresentava atividade agropecuária ligada a São Paulo e aos estados do sul devido às facilidades de comercialização de sua produção. As diferenças políticas, decorrentes de particularidades na formação da estrutura econômica,

social e cultural das duas regiões, também se faziam sentir há longo tempo, com a deflagração de movimentos separatistas.

A parte norte teve expansão econômica mais lenta, somente consolidando seu crescimento nos anos 70, com a abertura de importantes eixos viários, já existentes ao sul desde 1916, quando da chegada da Estrada de Ferro Noroeste a Campo Grande.

No momento do desmembramento do Estado, o sul apresentava evidentes vantagens comparativas em relação ao norte, pois já possuía o importante pólo econômico de Campo Grande, secundado pelos subpólos de Corumbá e Dourados. O sul também dispunha de localização privilegiada, com integração aos corredores de exportação da área de São Paulo e Paraná.

Ao norte, era recente a formação dos subpólos de Cáceres e Rondonópolis, que se juntavam ao pólo de Cuiabá. A densidade demográfica do sul era bastante superior e enquanto Mato Grosso do Sul passou a ocupar 350.549 quilômetros quadrados, Mato Grosso passou a ser a terceira maior unidade federativa, com 881.000 quilômetros quadrados.

O norte ainda dependia da instalação de infra-estrutura básica para viabilizar o aproveitamento de suas potencialidades agropecuárias, florestais e minerais.

Estimava-se que o remanescente Estado de Mato Grosso teria participação superior na distribuição do Fundo de Participação dos Estados e que o novo estado do sul, pelo elevado potencial já existente, estaria apto a desenvolver-se dentro de uma economia auto-sustentada.

A estrutura administrativa dos dois Estados já se encontrava em nível satisfatório, pois muitas das entidades estaduais, mormente as da administração indireta, possuíam seções para cada porção do território, a exemplo da Cemat (companhia de energia elétrica), o Departamento de Estradas de Rodagem, o Banco do Estado, a empresa telefônica e as instituições universitárias.

Passados 25 anos, o desmembramento evidenciou-se vantajoso

para os dois estados. O Produto Interno Bruto (PIB) do Estado do Mato Grosso, nos anos 70, apresentava-se em nível bem inferior ao do Mato Grosso do Sul. Como se pode ver na Tabela 1, em anexo, com respeito à participação no PIB brasileiro, em 1975, a participação do Estado de Mato Grosso do Sul era o dobro da de Mato Grosso (0,82% contra 0,40%).

No entanto, Mato Grosso foi beneficiado com a inclusão de toda

a sua área remanescente nas fronteiras da Amazônia Legal, beneficiando-se dos incentivos fiscais da extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Sua expansão econômica, ainda como mostra a Tabela 1,

tem sido superior à do Estado do Mato Grosso do Sul. Em 1999, o PIB de Mato Grosso representou 1,20% do PIB nacional contra 1,12% de Mato Grosso do Sul. Além disso, sua quota parte no Fundo de Participação dos Estados (FPE), como foi previsto antes do desmembramento, é mais elevada que a do estado criado, fato evidenciado na Tabela 2 anexa.

A Lei Complementar nº 31/77, que desmembrou o Estado do Mato Grosso do Sul previu a instituição de programas especiais de desenvolvimento para os dois estados, com apoio financeiro inclusive para a cobertura de despesas correntes.

Observa-se que ambos os estados consolidaram suas economias, sendo que a arrecadação dos dois estados relativa ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) supera largamente as

transferências a título do FPE como comprovado na Tabela 4.

4 CRIAÇÃO DO ESTADO DO TOCANTINS

O Estado de Goiás contava, antes da divisão com 642.036 quilômetros quadrados. Após o desmembramento de Goiás, o Estado do Tocantins passou a ocupar a área de 286.706 quilômetros quadrados.

O movimento de emancipação do norte goiano, com a criação do

Estado do Tocantins, esboçou-se mais explicitamente a partir da década de 1940.

Mais uma vez, a diferença entre o norte e o sul do Estado de Goiás teve como fator determinante a estrutura de transportes. A partir do decênio de 30, a ocupação do sul goiano teve como grande impulso a ferrovia e, posteriormente, as rodovias, que propiciavam a drenagem da produção, sobretudo do arroz, para os mercados do Sudeste. O fluxo viário circunscrito ao sul originou forte desequilíbrio econômico entre o norte e o sul de Goiás.

A homogênea economia de subsistência e de pecuária extensiva transformou-se em um sistema de exportação interna agropecuária ao sul, permanecendo a economia do norte do território baseada na pecuária extensiva.

Além da precariedade da comunicação viária, contribuíram para as limitações às possibilidades de desenvolvimento da região de Tocantins em relação ao sul a inadequação da estrutura fundiária norte goiana, as dificuldades de intercâmbio com outras regiões mais dinâmicas, o déficit de energia e a dificuldade de armazenamento da produção. Na região sul, estava a maior densidade econômica e demográfica, enquanto no norte esses aspectos eram mais rarefeitos.

A arrecadação tributária, avaliada pela ótica do ICM (atual ICMS), anteriormente à criação do Estado do Tocantins, encontrava-se num patamar irrisório em relação aos setores de agricultura, pecuária, comércio e indústria. Em 1975 e 1980, a arrecadação de ICM do norte de Goiás representava, respectivamente, 5,33% e 5,37% do total do Estado, dado que as atividades econômicas, antes da criação do Estado do Tocantins, limitavam-se, basicamente, à pecuária tradicional, à agricultura de subsistência e ao pequeno comércio de produtos locais. Ao Estado de Goiás, sem suporte econômico para arcar com os custos envolvidos na manutenção de sua vasta extensão territorial, só restava optar pela prioridade regional que tradicionalmente beneficiava a sua parte sul.

A implantação do Estado do Tocantins, em comparação com o desmembramento do Estado do Mato Grosso, deu-se em um contexto econômico-financeiro do País menos favorável. O contexto estadual também se apresentava desfavorável, com infra-estrutura sócio-econômica inexpressiva, arrecadação tributária e recursos financeiros públicos insuficientes, carência de recursos humanos em nível local e capacidade institucional insuficiente das estruturas administrativas públicas remanescentes de Goiás.

A todos estes fatores negativos adicionou-se a falta de cumprimento pela União da previsão de recursos do Orçamento Federal para

as despesas de instalação do Estado. Excetuadas as transferências obrigatórias do FPE, FPM, FNDE, SUS e outras, durante os sete primeiros anos de sua existência, o Estado do Tocantins não se beneficiou das ajudas financeiras com as quais foram contemplados, para suas implantações, os Estados de Rondônia e Mato Grosso do Sul.

Apesar do ambiente desfavorável, o Estado apresentou algumas

conquistas. A implantação e estruturação de distritos industriais nos principais pólos de desenvolvimento foram primordiais para a consolidação industrial de Tocantins. De 1990 a 1995, houve crescimento de 26,9% no setor, passando de 1.783 estabelecimentos em 1990, para 2.274 em 1995.

Conforme mostra a Tabela 3, a arrecadação do ICMS de Tocantins, que antes do desmembramento, girava em torno de 5,3% do total

do antigo Estado de Goiás, em 2001, representou 27,6% da arrecadação goiana.

Entretanto, apesar dos patamares crescentes de arrecadação do ICMS, o que indica alargamento de sua base econômica, configura-se ainda relativa dependência em relação aos recursos transferidos do FPE, situação que difere da encontrada nos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A relativa dependência em relação ao FPE decorre, como já mencionado, do fato de que a base econômica de Tocantins, no momento da separação, era bem mais frágil que a de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

5 CONCLUSÃO

A redivisão territorial do País, muitas vezes, é vista como solução para os problemas das disparidades intra-regionais, pois muitas das carências apresentadas pelas áreas estaduais menos desenvolvidas decorreriam da impossibilidade de administrar racionalmente unidades federativas de grande extensão territorial.

No entanto, deve-se considerar que a existência de disparidades regionais é inerente ao processo de desenvolvimento, apresentando-se mais ou menos acentuada em todos os países.

Também há que se reconhecer que extensas áreas territoriais não são, necessariamente, desvantajosas na medida em que há maiores possibilidades de se encontrar uma gama variada de recursos naturais e de se dispor de território suficiente para comportar populações maiores. O grande espaço, contudo, apresenta-se pouco útil quando há má distribuição e administração deficiente e falta de aproveitamento racional de sua área.

Verifica-se que as regiões menos desenvolvidas apresentam, em comum, infra-estrutura estratégica (transportes, energia, comunicações) extremamente precária. Sabidamente, as regiões que não possuem sistema viário adequado tendem a permanecer economicamente estagnadas porque, mesmo que apresentem potencial econômico elevado, não têm como escoar e comercializar sua produção de forma eficiente.

Em vista da extrema carência de infra-estrutura, notadamente de transportes e energia, apresentada pela Região Norte em comparação com o Centro-Sul surge a questão do que seria mais viável: proceder à nova divisão territorial ou integrar a região a um sistema de planejamento e desenvolvimento regional que investisse pesadamente na instalação de obras de infra-estrutura, visando ao aproveitamento das suas potencialidades latentes.

O atual quadro de extrema escassez de recursos públicos na área federal certamente não assegura que os investimentos necessários poderão ser viabilizados, mas, em compensação, os recursos espendidos com a instalação da estrutura político-administrativa dos novos estados poderiam ser alocados aos investimentos em infra-estrutura.

Igualmente, pode-se pensar se não seria menos dispendioso e, ao

mesmo tempo, mais eficaz proceder-se à redivisão municipal, uma vez que muitos municípios da Amazônia possuem extensão erritorial maior que a de alguns estados brasileiros, a exemplo do município de Oriximiná, no Pará, cuja área é de 109.122 quilômetros quadrados.

Outro aspecto da criação de novas unidades federativas relaciona-se ao argumento de que a redivisão territorial fortalece o pacto federativo. A assertiva não é necessariamente verdadeira, pois a criação de estados e territórios que não dispõem de autonomia financeira aponta para o enfraquecimento da federação na medida em que estas novas unidades apresentariam grande dependência de recursos transferidos pelo governo federal. Ademais, a criação de novos estados diminui a receita de FPE redistribuída entre os antigos estados, podendo agravar a situação dos que apresentam maior dependência das transferências federais.

É indispensável, então, que as novas unidades federativas apresentem viabilidade financeira para fazer face às novas despesas, além de viabilidade econômica para garantir melhor qualidade de vida a sua população, pois, caso contrário, já nascerão em situação de extrema dependência em relação às transferências de recursos federais, o que, no atual contexto de sucessivas crises econômicas, dificilmente poderá ser revertido.

Como asseverou Manoel Gonçalves Ferreira Filho, “a existência

real de autonomia depende da previsão de recursos, suficientes e não sujeitos a condições, para que os Estados possam desempenhar suas atribuições. Se insuficientes ou sujeitos as condições, a autonomia dos Estados só existirá no papel em que estiver escrita a Constituição”.

Consultoria Legislativa, 07 de novembro de 2002.

Cláudia Cristina Pacheco Moreira

Consultora Legislativa


Ei mané!? Vota nim mim

Tapajós

Matéria da Agência Estado reproduzida em alguns jornais do Pará, coloca em evidência o que o titular deste blog considera uma das questões centrais sobre o assunto: A Indecisão parlamentar.

“Que a criação do Estado do Tapajós encontra enorme resistência na Assembléia Legislativa paraense não é nenhuma novidade. Historicamente a Casa sempre se posicionou assim. Mas uma consulta publicada em O Liberal no início da semana revelou um dado novo. A maioria dos deputados eleitos na região não tem posição firmada sobre o assunto. Apenas um, Antônio Rocha (PMDB), destoa dos demais.

Assinada pelo repórter Josué Costa, a reportagem explicita o voto de 39 dos 41 membros da Assembléia sobre a redivisão territorial do Pará. A maioria repudia a idéia. Entre os parlamentares da região, Paulo Roberto Matos (PMDB) foi quem causou maior surpresa. Ele se disse "indeciso" sobre a criação do novo estado, e que precisa consultar suas bases para tomar uma decisão.

Quando deputado federal constituinte, Paulo Roberto defendeu com entusiasmo em Brasília uma das primeiras versões do projeto Estado do Tapajós, que acabou sendo derrotado no Congresso. O petista Airton Faleiro, agora com domicilio eleitoral em Santarém, também se declarou "indeciso". Só depois de ouvir "liderança regionais e prefeitos" decidiria.

O deputado Júnior Ferrari (PTB), alegando estar ocupado, não atendeu ao repórter. José Megale (PL) não foi encontrado. O único que defendeu a emancipação foi Antônio Rocha (PMDB).

A redivisão territorial do Pará voltou à imprensa, sendo destaque inclusive na mídia nacional, depois da eleição do deputado Severino Cavalcante (PP) à presidência da Câmara Federal. Ao assumir o cargo, o parlamentar pernambucano prometeu colocar em pauta o projeto de realização de plebiscito sobre criação de novos estados no pais (AE)”.

O quê declaram os candidatos

Ana Júlia é contra, Almir Gabriel é contra, Edmilson Rodrigues era a favor, mas, no outro dia, mandou a assessoria desmentir, José Priante, postou-se em cima do muro mais alto que conseguiu alcançar. Portanto, essa é a posição dos mais cotados candidatos ao governo paraense.

Em outra reportagem, assinada pelo experiente jornalista Frank Siqueira o assunto vem novamente à baila, na edição nº 31.457, Domingo, 23/07/2006, publicada em O liberal.

Divisão territorial agitará campanha

Estratégia - Tema será usado para sensibilizar eleitor de regiões que querem se desgarrar do Pará

Frank Siqueira
Da Redação

Muito embora os dirigentes partidários evitem, pelo menos por enquanto, assumir de público essa posição, o fato é que o discurso pela redivisão territorial do Pará vai subir de tom na campanha eleitoral deste ano. Não como itens claramente expressos dos programas de governo, para partidos e coligações, nem como bandeira de luta para seus candidatos. O tema, porém, vai ser utilizado como estratégia de marketing para sensibilizar a população, em áreas onde ele conta com forte apelo eleitoral, dentro de uma visão ao mesmo tempo pragmática e oportunista, segundo a qual o que conta, mesmo, é o voto. O resto será mero detalhe.

O discurso separatista ditará o tom da campanha, sobretudo, para o PT e para o PMDB, aliados tácitos, embora com candidatos diferentes, nas eleições de outubro. Como a estratégia foi montada para minar as bases políticas e eleitorais do ex-governador Almir Gabriel, a coligação 'União pelo Pará' está excluída desse plano de ação. Por uma questão tática, foi mantido também de fora o PSOL de Edmilson Rodrigues. Primeiro porque o PSOL já definiu posição contrária ao divisionismo territorial do Estado. E em segundo lugar porque, em termos práticos, considera-se que ele será muito mais útil à oposição tirando votos de Almir em Belém e na região metropolitana.

Pela estratégia já traçada, o Partido dos Trabalhadores vai concentrar suas baterias no endurecimento do discurso em prol da criação do Estado de Carajás. Para isso serão mobilizadas intensamente as bases construídas na região da Transamazônica pelos deputados Zé Geraldo, atual presidente estadual do partido, e Aírton Faleiro, líder da bancada petista na Assembléia Legislativa. A mesma linha de atuação será desenvolvida pelo PMDB na região oeste do Pará, mas em defesa da criação do Estado do Tapajós. Subsidiariamente, os dois partidos, através de seus porta-vozes, candidatos e cabos eleitorais, vão atuar juntos em ambas as regiões na disseminação da tese divisionista.

O discurso separatista foi concebido, dentro do plano estratégico das oposições, como peça do mesmo marketing que pretende apresentar os seus candidatos como sendo os novos, em contraposição tanto à idade do candidato da situação, Almir Gabriel, quanto ao tempo de permanência do PSDB à frente do poder no Estado, já às vésperas de completar 12 anos. A definição desse discurso representará um claro apelo à renovação, ainda que ele próprio tenha lá seus pontos falhos. A começar pela óbvia constatação de que caras e discursos, ainda que rotulados como novos, já são bem conhecidos e não necessariamente do agrado do público eleitor.

Outra questão que ainda divide os principais caciques da oposição é o grau de comprometimento a ser assumido pelos candidatos - Ana Júlia (PT) e José Priante (PMDB) - com a tese separatista. Há o temor de que um discurso mais estridente de ambos, em favor da divisão territorial, possa levá-los a perder votos preciosos no nordeste paraense e na região metropolitana, regiões que juntas respondem por mais de 58% do universo eleitoral do Estado.

Duas outras reportagens, com minha assinatura, uma publicadas à época em que era correspondente do Diário do Pará, em Brasília; a outra, para Agência Opinião, em que continuo atuando, o leitor poderá analisar alguns lances dos fatos, sob o prisma dos bastidores, em dois lances ocorridos na Capital Federal.

Debates sobre Carajás prometem esquentar o clima pré-eleitoral

Reportagem: Val-André Mutran
Data: 10/09/2005

Brasília - Mesmo que o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP/PE) seja afastado do cargo, a possibilidade – em tese – não está sendo vista com preocupação pela coordenação dos trabalhos que retomou o processo de criação do Estado do Carajás e Tapajós, ambos no Pará.

As organizações que defendem a redivisão territorial querem que os Projetos de Decreto Legislativo sejam encaminhados ao Plenário para votação dos deputados autorizando a realização de um Plebiscito, onde a população do Estado a ser dividido escolha sim ou não pela criação das novas unidades federativas.

Em caso de afastamento, o vice-presidente José Thomaz Nono (PFL/AL), assumirá a direção dos trabalhos da Casa durante cinco sessões consecutivas, como manda o Regimento. Foi Thomaz Nono quem recebeu em audiência um grupo de mais de 120 vereadores, deputados estaduais e federais da região sudeste do Pará para discutir a questão.

Parlamentares e vereadores, empresários e moradores, justificam a medida “pela necessidade de integração dos espaços amazônicos, situados distantes das capitais e que sofrem com o descaso e abandono político-administrativo dos governos estaduais”. Um outro decreto está pronto para votação, o que autoriza o Plebiscito para a criação do aranhão do Sul.
As três proposições (Carajás, Tapajós e Maranhão do Sul) devem ir num mesmo bloco para votação, o que diminuiria os custos para o Tribunal Superior Eleitoral.

Os debates emocionados prometem voltar à tona em Marabá no próximo dia 16/09; enquanto que no Oeste do Estado, a discussão do Tapajós tem sido permanente.

Segundo coordenadores do encontro, questões como os conflitos entre elites locais, a velha batalha entre Capital x Trabalho, acusações de interesses políticos pela criação de cargos e amplas divergências sobre como combater as desigualdades e trazer desenvolvimento a regiões isoladas do país serão a tônica do debate.

No Oeste paraense o pretenso estado de Tapajós é criticado pelo tamanho de sua área. Possui território maior do que o da França ou da Espanha. Com arrecadação em virtual crescimento e potencial invejável, os investimentos de contra-partida são pífios.

O déficit de infra-estrutura e de serviços públicos é a principal queixa do Tapajós e de Carajás.
As longas distâncias amazônicas, associadas à baixa presença do poder público, mostram como o exercício da vida cívica pode ser uma tarefa bem mais complicada do que imaginam os que vivem nos grandes centros urbanos do país, justificam os defensores da divisão territorial.

“É simples. Como um cidadão que mora em Belém e em seu entorno pode saber como a vida dos moradores dessas duas regiões sofrem”, disse o deputado federal Zequinha Marinho (PSC).

Faço um desafio: “Me apontem um juiz, um promotor, um advogado, dentista ou profissional liberal, empresário ou dona-de-casa que quando vai morar numa dessas regiões não ficam revoltados e imediatamente abraçam a causa separatista?”, questionou o parlamentar.

Quem se der ao trabalho de ler a Constituição Federal, observará que de acordo com o artigo 18, § 3º, e art. 48, Inciso VI, existe a possibilidade de transformação de Estados por incorporação entre si, por subdivisão ou desmembramento para se anexarem a outros ou para formarem novos Estados ou Territórios Federais; da mesma forma nos Art. 48 e 49.

PARALIZADOS – No governo militar (1964-1985), houve um “redesenho” do mapa da Amazônia, sob os auspícios da necessidade de se estabelecer uma nova geopolítica nacional conduzida pelos generais e seus tanques. Quatro Territórios Federais foram criados.

“A instabilidade de nossas fronteiras justifica tudo”, disse o presidente Médice, à época, aos seus comandados. Somente de 1940 até os dias atuais, o país sofreu 17 alterações na configuração de suas unidades político-administrativas através da criação e extinção de estados e territórios federais. As últimas modificações do gênero ocorreram com a Constituição de 1988, que deu origem ao Tocantins, elevou os territórios de Amapá e Roraima à categoria de estados e anexou o território federal de Fernando de Noronha a Pernambuco.

Independente das paixões daqueles a favor ou contra a criação de novos Estados, “é necessário o debate de como faremos isso com a sociedade”, disse o então candidato à presidência da República Luis Inácio Lula da Silva, que em seu programa de Governo, no capítulo 19, previa a criação de novas unidades federativas, mas, até agora, passados quase três anos de governo, a possibilidade está circunscrita ao papel e à aprovação dos nobres deputados e senadores na primeira fase do processo.

Convidados ilustres estão sendo esperados no encontro de Marabá entre senadores, deputados, prefeitos, vereadores, empresários e lideranças de todos os setores da sociedade civil organizada.

Passo-a-passo para criação de novos Estados

São duas fases no legislativo federal, com quatro etapas, no mínimo, cada uma.
Primeira Fase:
1ª etapa: Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) do Senado Federal (SF)
2ª etapa: Plenário do Senado Federal
3ª etapa: Comissão de Constituição e Justiça e Redação (CCJR) da Câmara dos Deputados
4ª etapa: Plenário da Câmara dos Deputados (CD)

Nesta fase o projeto não pode ser terminativo e no caso de criação de novos estados, tem que ser de consulta plebiscitária.

O projeto precisa ser aprovado, é claro, em todas as etapas e se sofrer alguma emenda, voltará a Casa de origem para ser avaliada e votada, a emenda, na comissão de origem e plenário, ou seja, acrescem duas etapas.

Passando por todas as etapas o plebiscito está aprovado. O povo poderá decidir o futuro do seu Estado, através do voto, exercitando a cidadania e oxigenando a democracia.

A Câmara dos Deputados devolve o projeto de lei para a Casa de origem, o Senado Federal.
O Senado Federal Oficia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O Tribunal Superior Eleitoral oficia ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), que marca a data do plebiscito, notificando aos poderes executivo e legislativo do Pará, desta realização.
Os custos de realização deste plebiscito são da esfera federal.

Se o povo votar contra a criação do novo estado, o TRE oficializará o resultado aos mesmos órgãos que antes lhe provocara, acabando o processo.

Caso o povo decida-se a favor da criação do novo estado, o processo continua.
O TRE notificará a Assembléia Legislativa dos Deputados do Pará que no prazo da lei se pronuncie a respeito da decisão popular; bem como ao Governo do Estado e ainda, solicitando um relatório sócio-econômico das duas regiões: a emancipada e a tradicional.
O TRE informa, através de relatório, o resultado das eleições ao TSE.

O TSE notificará o Senado Federal do resultado do plebiscito.

O Senado Federal iniciará a segunda fase, sendo desta vez como decreto legislativo terminativo, de novo em quatro etapas.

Segunda Fase:
1ª etapa: 1º turno no Senado Federal.
2ª etapa: 2º turno no Senado Federal.
3ª etapa: 1º turno na Câmara dos Deputados.
4ª etapa: 2º turno na Câmara dos Deputados.

Sendo aprovado em todas as etapas irá para sanção Presidencial. Caso o Presidente vete o decreto, este voltará ao Congresso Nacional para que seja aprovado ou rejeitado o veto. Caso o Congresso Nacional derrube o veto presidencial, estará então criado um novo Estado brasileiro.

Lideranças querem aprovar plebiscito para a criação de Carajás na Câmara

REPORTAGEM: Val-André Mutran
Brasília: 29/08/2005

AGÊNCIA OPINIÃO (BRASÍLIA) – Lideranças políticas do sul/sudeste do Pará e entidades da sociedade civil organizadas serão recebidas hoje em audiência pelo vice-presidente da Câmara dos Deputados, João Thomaz Nono, pela impossibilidade do presidente da Casa, deputado Severino Cavalcante ter se submetido ontem a uma cirurgia. Oitenta vereadores da região, Associação dos Municípios do Araguaia-Tocantins (AMAT), União dos Vereadores do Sul e Sudeste do Pará (UVESPA), entidades empresariais e deputados federais irão pedir à presidência da Câmara dos Deputados em Brasília, a entrada na pauta do Plebiscito que autoriza a criação do Estado de Carajás.

O deputado Federal Zequinha Marinha (PSC), autor da solicitação da audiência, acredita que não existe mais impedimentos para que entrem na pauta do Plenário, os projetos que autorizam o plebiscito que prevêem a criação dos Estados de Tapajós (Oeste), Carajás (Sudeste), ambos no Pará e Maranhão do Sul.

“Ao contrário dos que muitos imaginam, estamos permanentemente mobilizados para tornar este que é o sonho dos sulparaenses seja trensformado em uma realidade”, disse Wenderson Azevedo Chamon, vereador tucano, presidente da UVESPA.

Esta é mais uma etapa do trâmite dos projetos que estão há mais de uma década na Casa e que, por um motivo ou outro nunca entraram na pauta de votação. “Não podemos como homens públicos impedir que a população possa ter o direito de democraticamente demonstrar nas urnas se quer ou não a criação destes dois novos Estados”, reforçou Zequinha Marinho.

Região estratégica e abandonada – Dentro do contexto da região amazônica, Zequinha Marinho destaca que a criação do Estado de Carajás, por desmembramento das regiões sul e sudeste do Estado do Pará, que possui uma área territorial de 1.248.000 km², com problemas de toda ordem, com um governo centralizado na região norte do Estado, não tendo ao longo de séculos as condições necessárias de atendimento de demandas de infra-estrutura, políticas sociais dentre outras mazelas, não podendo mais, portanto, “ser submetida toda uma região de um potencial gigantesco ao atraso infra-estrutural, econômico e social”, bradou.

De acordo com o deputado Zequinha Marinho (PSC), a exploração das margens do Tocantins e Araguaia data de mais de 400 anos, mas o primeiro povoado definitivo da região foi fundado em 1892, apenas um pouco mais de um século atrás. Desde esses tempos remotos, a ocupação de Carajás veio do sul do País e não do norte. Esta característica deixou desde os primórdios, o sul e o sudeste do Pará, ligados economicamente, socialmente e politicamente à região centro-sul do País, não significando, no entanto que, os laços com o as demais regiões não seriam fortalecidos.

A criação de Estados e Territórios Federais é amparada pela Constituição Federal nos Art. 18, 48 e 49, atinge, entre outros, o objetivo de satisfazer os anseios de determinada população em busca de melhores condições para a conquista do progresso e do seu bem-estar social.

Neste sentido, a bandeira do Brasil poderá ganhar em breve mais três estrelas, caso sejam aprovados o projeto em tramitação no Congresso para a criação dos Estados do Carajás, Tapajós e Maranhão do Sul. Os projetos, já foram aprovados pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e sugere o plebiscito, exigido pelo artigo 18 da Constituição, para que a população decida se quer ou não a divisão do Estado.

Plebiscito emperrado – No caso específico do Carajás, o projeto foi apresentado pela primeira vez pelo deputado Federal asdrúbal Bentes (PMDB/PA) sendo arquivado. O ex-deputado Giovanni Queiroz (PDT/PA), o reapresentou como Emenda Modificativa do Projeto Nº 159-B/92, que propõem ao art. 1º do projeto a seguinte redação: “Art. 1º - O Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Pará realizará no prazo de seis meses, a contar da publicação deste decreto legislativo, plebiscito sobre a criação do Estado do Carajás, a ser constituído por 38 municípios do sul/sudeste do Pará, de acordo com o Art. 7º da Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998”. A proposta, porém, está perdida nas gavetas dos trâmites legislativos intermináveis do Congresso Nacional, e que os deputados e lideranças sulparaenses querem tirar a poeira já.

Berço Esplêndido

O Projeto de Decreto Constitucional No. 1217/2004, da lavra do deputado federal José Roberto Arruda (PFL/DF), que dispõe sobre a realização de plebiscitos para a criação dos Estados do Aripuanã, do Araguaia, do Xingu, de Tapajós, de Carajás, dentre outros, está na “geladeira” da Comissão da Amazônia e Desenvolvimento Regional.


Da mesma forma, “repousa” em “berço encantado” o PDL No. 156/92, de autoria do ex-deputado federal Giovanni Queiroz.

A criação do Estado do Carajás e Tapajós, a partir da divisão do Pará, é uma dentre as diversas propostas contemporâneas de divisão territorial postas como solução para os problemas de desenvolvimento regional de algumas unidades federativas do país, especialmente as da região amazônica.

Os defensores da divisão territorial utilizam-se com freqüência de fatores geográficos para fundamentarem suas propostas. A grande extensão de algumas unidades federativas, o distanciamento geográfico de regiões dessas unidades com o centro do poder político, a necessidade de melhor aproveitamento de recursos naturais, são argumentos que dão suporte a diversos projetos políticos. Dessa forma, se estabelece a relação entre fatores geográficos e estratégias políticas, objeto de análise da Geoestratégia (Martins, 2001, p.86).

Identificar os princípios geoestratégicos utilizados nos processos de divisão territorial na Amazônia, a partir da análise sobre o caso de Carajás e Tapajós, comparando-os com o do Tocantins é a premissa dos comitês regionais que tratam da questão. A comparação se justifica em virtude da proximidade das regiões, ligadas umbilicalmente pelo Rio Tocantins e Tapajós respectivamente, e em razão das semelhanças sócio-econômicas existentes entre elas, o que por vezes mereceu a adoção de programas federais comuns, tais como os que visavam o incentivo ao desenvolvimento regional, praticados pela SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), a regularização fundiária, como forma de contenção da violência no campo, tratados pelo Grupo Executivo para as Terras do Araguaia- Tocantins (GETAT) e o Projeto Grande Carajás. O fato de o Tocantins ser utilizado como modelo para a defesa da criação de Carajás é discutível.

DIVISÃO TERRITORIAL

A discussão sobre gestão territorial relativa à delimitação de território político-administrativo é uma questão que historicamente acompanha a trajetória política do Brasil, mesmo quando a área que o compreende não tinha esta denominação. As propostas, movimentos e mudanças relacionados a esse tema foram colocados em cada época por motivações diversas, como forma de adequar os limites do território às necessidades econômicas e políticas de cada período histórico: ocupação territorial, independência da Coroa Portuguesa, expansão de fronteira, separação do Brasil, integração nacional, dentre outras (Andrade, 1997).

Com as fronteiras nacionais definidas, hoje a discussão sobre os contornos territoriais no Brasil se apresenta no âmbito de novas delimitações das áreas internas. As motivações alegadas nos discursos dos atuais defensores das divisões territoriais se convergem, em quase todos os casos, na argumentação da necessidade de redução das grandes áreas de algumas unidades federativas para promover o desenvolvimento sócio-econômico de regiões esquecidas pelo poder público.

A região amazônica é objeto da maioria dos Projetos de Decreto Legislativo em trâmite no Congresso Nacional, os quais visam à realização de plebiscito popular, pré-requisito legal para divisão territorial. O Estado do Pará, onde se localiza a região objeto deste trabalho é matéria de dois projetos em andamento no Congresso, cujas áreas compreendem a parte Sudeste, para criação de Carajás, e a Oeste, para o Estado de Tapajós.

A presença do aparelho estatal é reivindicada nas propostas de divisão territorial como forma de dar sustentação e fomentar o desenvolvimento regional. Contudo, essa tendência apresenta contradição com a dinâmica verificada no cenário político e econômico mundial, que se define nesta questão pela remodelação organizacional das economias nacionais, pondo em crise o ideário de funcionalidade do próprio Estado-Nação (Adorno, 2000, p. 11).

MOVIMENTOS EMANCIPACIONISTAS

Tocantins

O Estado do Tocantins é a unidade federativa mais nova do país, criado em 05 de outubro de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, através do Artigo 13º das Disposições Transitórias. Seu surgimento foi à concretização do ideal do movimento emancipacionista do norte goiano, cujas raízes datam do século XVIII, no período da exploração mineral pela coroa portuguesa.

A trajetória do movimento “... prosseguiu ao longo dos séculos XIX e XX, com manifestações ora organizadas e contínuas ora isoladas e esporádicas.” (Cavalcante, 1999, p.149). Alguns fatos desse percurso merecem destaque: a declaração de independência da Comarca do Norte em 1821, o lançamento em 1956 do Movimento Pró-Criação do Estado do Tocantins; a campanha pró-Estado do Tocantins deflagrada pela Casa do Estudante do Norte Goiano (CENOG), em janeiro de 1964; e a fundação em 1981 da CONORTE (Comissão de Estudos do Norte Goiano), com atuação importante no desfecho vitorioso do movimento (Cavalcante, 1999).

A atuação do movimento a partir de 1956, em seus momentos mais organizados, foi marcada pela participação de vários setores sociais: políticos, estudantes, profissionais liberais, dentre outros, que atuaram em atividades diferenciadas: comícios, passeatas, Congresso de Prefeitos, veiculação de periódicos, formação de fóruns de organização e discussão – a Comissão de Estruturação Jurídica do Estado do Tocantins – CEJET, em 1956, e o CONORTE –, campanhas com distribuição de boletins e cartazes, pesquisa de opinião pública, conferências, seminários e discussões na Assembléia Legislativa, Câmaras Municipais, Universidades e escolas (Cavalcante, 1999). O esforço do movimento culminou com a apresentação à Constituinte da Emenda Popular com aproximadamente 80 mil assinaturas, propondo a criação do Estado do Tocantins.

As condições de organização e articulação política do movimento emancipacionista aliadas ao momento histórico vivido pelo país no fim da década de 1980 – processo de redemocratização e a instalação da Assembléia Nacional Constituinte – possibilitaram a concretização da emancipação do norte de Goiás.

Carajás

Para compreender o movimento emancipacionista pró-Carajás é necessário entender as condições de ocupação e exploração econômica da região Sudeste do Pará.

O início da exploração das margens dos rios Tocantins e Araguaia ocorreu há mais de 400 anos (o primeiro povoado da região foi fundado em 1892). Contudo até a década de 1970 havia na área apenas 8 municípios. Na década de 1980 foram criados outros 14 e, nos anos 90, 17 municípios. O aumento do fluxo migratório ocorrido nas últimas três décadas decorreu de vários fatores e o “... elemento fundamental da organização do espaço econômico no Sudeste do Pará (...) foi à descoberta da grande jazida ferrífera na serra do Carajás (...) em 1967.” (Valverde, 1989, p.115).

A execução do plano para construção de rodovias ligando Norte-Sul o país, iniciada no Governo JK, abriu as fronteiras da região amazônica. No Sudeste do Pará, a instalação das rodovias Belém-Brasília/BR-153 e Trasamazônica/BR-230 influenciaram a abertura de outras estradas, promovendo a valorização das terras contíguas e facilitando a penetração de posseiros, seguido por grileiros e fazendeiros, dando início a um processo desenfreado de ocupação, que posteriormente se definiu na concentração fundiária e em inúmeros conflitos agrários existentes na atualidade.

A atuação da SUDAM influenciou a ocupação. No seu primeiro plano qüinqüenal, 1967-1971, definia a estratégia agrícola do governo:

“... uma combinação de segurança com ocupação – citando a necessidade de salvaguardar a área em face um possível movimento de guerrilha local, da insegurança crônica de seus vizinhos e da ameaça sempre presente do comunismo. (...) A ocupação seria levada a cabo por intermédio de uma série de planos de colonização segundo os quais os pobres sem terra dos Estados do Sul e do Norte seriam encorajados a implementar projetos agrícolas em pequena escala em áreas específicas de assentamento para as quais o governo forneceria as necessárias infra-estrutura e assistência técnica.” (Breton, 2002, p. 61).

Em 1974, o Governo Ernesto Geisel, muda radicalmente a política de ocupação da Amazônia e deixa de financiar “minifúndios”, pois, segundo o Governo Federal, “... esgotavam o solo, aceleravam a erosão e não aumentavam significativamente a produção agrícola, mormente de produtos de exportação...” (Valverde, 1989, p.100). Optou-se pelas grandes empresas rurais. O Governo, através da SUDAM, as financiariam, pois elas “... aplicariam técnicas mais avançadas, iriam gerar cerca de 30.000 empregos e forneceriam divisas ao país.” (Valverde, 1989, p.100)

Posteriormente, a implantação do Projeto Ferro Carajás, a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins, e a intensificação do garimpo associaram os processos de aceleração econômica, de aumento do fluxo migratório e de grandes impactos ambientais. O auge da mobilização de mão de obra ocorreu em 1982 quando o Projeto Ferro Carajás concentrou 27 mil pessoas, a garimpagem em Serra Pelada mais de 50.000 pessoas e o Projeto Tucuruí cerca de 63.000. (Valverde, 1989, p.133)

As condições de ocupação do Sul do Pará fazem com que a maioria de sua população seja constituída de migrantes de várias localidades do país, tornando a construção de uma identidade regional, necessária ao movimento emancipacionista, um processo demorado. Assim, quando em 1987 a discussão sobre a criação de Carajás surgiu, no âmbito do Assembléia Legislativa do Pará, o tema não envolveu a maioria dos setores sociais daquela região.

Em 1989 tramita na Câmara Federal a primeira proposta de criação de Carajás, de autoria do deputado Asdrúbal Bentes, que foi dissuadido a retirar seu projeto por parte de lideranças políticas do Pará. (Dutra, 1999, p.163).

Em 1992 é apresentado à Câmara Projeto de Decreto Legislativo 156/92 (ver abaixo).

Em 1997 o movimento ganha o apoio da Associação dos Municípios do Araguaia-Tocantins (AMAT), quando a entidade insere em seu estatuto a defesa de Carajás (até então os prefeitos não apoiavam abertamente a proposta)[2].

Com participação decisiva da AMAT, o movimento em 2000 investe em uma grande campanha na defesa do novo Estado, instala comitês em todos os municípios da região para discussões e distribuição de material de propaganda a população. Em Marabá, é promovido o Seminário Regional “O Sul do Pará no Novo Milênio”.

A intensificação em nível parlamentar é retomada em 05/05/2004 com o debate público ocorrido na Câmara, retomando a discussão da divisão territorial no Brasil.

O Projeto de Decreto Legislativo nº 152/92

Apresentado em 1992 pelo deputado Giovanni Queiroz, em sua primeira legislatura, o PDL propõe que o Tribunal Regional Eleitoral do Pará realize no prazo de 6 meses, a contar da data da publicação do Decreto Legislativo, plebiscito nos municípios da região Sudeste do Pará para que a população se posicione sobre a criação do Estado de Carajás, a partir do desmembramento desses municípios. No prazo de 2 meses, contados da proclamação do resultado, se favorável à criação do Estado de Carajás, a Assembléia Legislativa do Pará procederá ao questionamento dos seus membros sobre a medida, sem caráter vinculativo e fornecerá ao Congresso Nacional os detalhamentos técnicos concernentes aos aspectos administrativos, financeiros, sociais e econômicos da área geopolítica afetada, para que então seja apresentado ao Congresso Lei Complementar visando à criação do Estado. Se não for efetuada a deliberação pela Assembléia ou feita a comunicação nos prazos estabelecidos, o Congresso considerará atendida a exigência constitucional.

Na mesma legislatura de sua apresentação, o Projeto foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça. Porém, passada uma década, ainda está em tramitação na Câmara. Desde então, esteve para ser colocado em votação várias vezes, porém não o foi ora em virtude de obstrução de pauta, ora por esvaziamento do plenário e, também, pelo risco de derrota no primeiro ano das legislaturas. Nesta fase, os defensores consideram difícil promover o convencimento maciço dos novos parlamentares.

Em 1998 Queiroz conseguiu que o então candidato a governador do Pará Senador Almir Gabriel apoiasse seu Projeto. Gabriel (PSDB) foi eleito defendendo a criação de Carajás. Porém, em 2000 já fazia pressão junto aos prefeitos para que não atuassem na defesa do novo Estado.

Em 2001, a discussão sobre o Projeto foi intensificada no Congresso. O PDL 152/92 foi colocado em pauta para votação e retirado por três vezes, devido ao esvaziamento do plenário promovido pelo PSDB. Na ocasião o Presidente da Câmara, Aécio Neves, do mesmo partido político, confidenciou ao deputado Giovanni Queiroz que a posição da bancada do PSDB era em atenção a pedido do governador Almir Gabriel[3].

Na eleição de 2002, Giovanni Queiroz (PDT) candidatou-se a vice-governador após o candidato a governador Hildegardo Nunes (PTB), assumir compromisso público de apoiar a proposta de criação do novo Estado (na história recente da política paraense, essa foi à única chapa que assumiu como bandeira de campanha a possibilidade de discutir o processo de separação do estado).

Simão Jatene (PSDB) ganhou o pleito. (Mesmo sendo contra a divisão, Jatene, no processo de campanha, sempre na região de Carajás se colocou favorável ao plebiscito).

1 recuo estratégico, ocorrido na primeira fase do governo do Presidente Luís Inácio da Silva, os defensores de Carajás retomam, em nível parlamentar e em conjunto com outros movimentos, o debate sobre a redivisão territorial no país, buscando articulá-lo com o projeto de desenvolvimento do país que inclui a implantação do sistema multimodal de transportes e outras obras de grande porte (o fato ocorreu antes do assassinato da irmã Dorothy Stang, relevante pois, mudou radicalmente, o relacionamento do governo federal com o Pará).

TOCANTINS E CARAJÁS

Os defensores de Carajás apontam Tocantins como exemplo bem sucedido de Estado criado pelo desmembramento de outras unidades federativas, e freqüentemente traçam um paralelo entre as atuais condições sócio-econômicas do Sudeste paraense e as do Norte goiano antes da criação do Tocantins. Ambas regiões abrangem grandes áreas: o antigo Norte goiano ocupava 287.645 Km2 e a região de Carajás compreende 289.799 Km2, maiores que várias unidades federativas brasileiras. Um número reduzido de núcleos urbanos marcam a ocupação das regiões: Carajás com 39 municípios e o Norte de Goiás com 60, apesar de nesta área o processo de ocupação econômica ter iniciado nas primeiras décadas do século XVIII.

Mesmo com grandes áreas, elas são apontadas pelos movimentos como economicamente subaproveitadas. Em 1988, o Estado de Goiás, excluído o Norte, apresentou o Produto Interno Bruto de 15.893.743.040,00 e a região de Tocantins, 1.331.046.138,00, respectivamente 92,3% e 7,7%. O Pará (exceto a região Sudeste) em 1996 teve o PIB de 14.318.354.515,00, Carajás 2.332.706.228,00, respectivamente, 86% e 14%[4].

Destacam que a base econômica das localidades tem a desvantagem de serem vinculadas ao setor primário. A agricultura e a pecuária se sobressaem no Norte goiano, e a exploração mineral, madeireira e a pecuária, no Sudeste paraense. As condições naturais para desenvolvimento dessas atividades são significativas. Em Carajás encontra-se uma das maiores reservas ferríferas do mundo e a pecuária nas duas localidades também é constituída por grandes rebanhos bovinos: mais de 3,5 milhões de cabeças, estimados em 1984, na região Norte de Goiás (Costa, 1985, p.42) e mais de 9 milhões no Sudeste do Pará, segundo dados da AMAT.

As redes viárias, existentes ou planejadas, de ambas as localidades, são apontadas como elementos potencializadores do desenvolvimento sócio-econômico das regiões em seus processos de emancipação, pois estabelecem ligações necessárias para o escoamento da produção para outras unidades federativas. Algumas delas, inclusive, possibilitam a criação de corredores de exportação. O movimento pró-Tocantins apontava a importância da Hidrovia Tocantins-Araguaia, da Transamazônica/BR-230, Belém-Fortaleza/BR-020 e BR-153. O movimento pró-Carajás, além das duas primeiras vias, levanta os 1.537 Km de rodovias estaduais e 1.073 Km de rodovias federais de que dispõe. A execução da eclusa na barragem de Tucuruí no Rio Tocantins também é apontada, permitiria a passagem de barcos de 15.000 toneladas, com capacidade de navegar até o porto de Itaqui, no Maranhão. (Costa, 1985, p. 30-31), beneficiando ambas as regiões.

Além do subaproveitamento do potencial econômico, os representantes dos movimentos denunciam em seus discursos que o distanciamento das sedes administrativas estaduais também gera a desatenção dos governos dos estados em relação a políticas públicas ligadas à saúde e educação, dentre outras, deixando parcelas significativas da população desassistidas de serviços públicos básicos. Nesse aspecto, o movimento do Sudeste do Pará se apropria do conceito de cidadania para justificar a necessidade da divisão territorial. Com a criação de Carajás, 11 vagas no Congresso Nacional estariam destinadas a representantes da região, eleitos democraticamente com o compromisso de defender o atendimento das demandas daquela população esquecida pelos poderes públicos.

Há ainda outro aspecto particular de Carajás, o processo de degradação da floresta. Produzido em função de sua exploração depredatória, o desmatamento, as queimadas e até o uso dos desfolhantes são práticas utilizadas pelos setores que atuam na extração de madeira e na agropecuária. O movimento aponta como solução para este problema a elaboração do zoneamento econômico-ecológico-social do novo Estado e a adoção de políticas voltadas à sustentabilidade dos recursos naturais.[5]

O movimento emancipacionista de Carajás tem Tocantins como modelo, não apenas no discurso, utiliza a experiência histórica do movimento do norte goiano como instrumento para sua atuação política: “O economista Célio Costa e o ex-senador João Rocha, tocantinenses, que trabalharam no processo de criação do Tocantins, foram convidados e aceitaram a nova missão: coordenar o processo de criação do novo Estado ...”.[6]

Por outro lado, a criação de Carajás também é observada como medida positiva para o Estado do Tocantins:

“Uma das vantagens para o Tocantins é que com o surgimento de Carajás, melhora a correlação de forças da Região Norte com o restante do país’, diz o economista Célio Costa. (...) ‘As eclusas de Tucuruí interessam tanto a Carajás, como a Tocantins, a Ferrovia Norte-Sul também, e a busca de recursos incentivados do FNO é de interesse comum’, ilustra o economista para dizer das vantagens para os dois Estados.”[7]

A conclusão da autora deste artigo, Eloisa Arminda Duarte Batista, em sua tese de mestrado orientada pelo Prof. Dr. Lúcio Flavo Marini Adorno, da CEULP/ULBRA, discorre que: O movimento emancipacionista pró-Carajás, em especial, utiliza Tocantins como modelo em seu projeto político. No discurso em prol do desenvolvimento regional dependente da divisão territorial, usa argumentos ligados a princípios geoestratégicos tradicionais, comuns ao caso de Tocantins: existência de grandes áreas ricas em recursos naturais e com enormes potenciais produtivos, nas quais já se encontraria instalada uma rede viária facilitadora do escoamento da produção. No entanto, as regiões estariam subaproveitadas e até mesmo esquecidas pelos poderes públicos, em razão do distanciamento espacial da sede dos governos estaduais. Assim, buscam o convencimento da opinião pública através de manifestos que apelam (forjam) por uma identidade sócio-regional.

Em que pese as semelhanças, o perfil dos movimentos emancipacionistas de Tocantins e Carajás apresentam algumas distinções. O primeiro tem uma trajetória histórica, com inúmeros fatos marcantes. Dele participaram ativamente diversos setores sociais. No caso de Carajás, é um movimento novo, com menos de vinte anos, e os setores sociais que o integram, com exceção da AMAT e dos representantes parlamentares, atuam como coadjuvantes.

Outra particularidade do movimento pró-Carajás é a utilização de novos princípios geoestratégicos, relacionados à defesa da cidadania e do desenvolvimento sustentável.

A possibilidade de escolher parlamentares próprios para representar no legislativo federal a população de Carajás (no caso de criação do Estado) é explorada pelo movimento como forma de exercício de cidadania, como se essa representatividade por si só assegurasse a resolução dos problemas crônicos da região.

Já a proposta de realização de um zoneamento econômico-ecológico-social, na busca do estabelecimento do desenvolvimento sustentável na região, evidencia a preocupação com uma estratégia de convencimento voltada a persuadir órgãos ambientais internacionais, mas revela-se contraditória com a estrutura econômica proposta para o futuro Estado, que teria como tripé a agropecuária, com a intensificação agrícola e agregação de alto padrão zootécnico; a indústria madeireira, facilitando a ação de grandes investidores diante do mercado mundial; e a exploração mineral ampliada, numa escala também mundial.

Há argumentos diversos sobre o assunto. Para o leitor entendê-los, com ênfase sobre o processo do Estado de Carajás, em resumo, destaco alguns tópicos sob o ponto de vista favorável à matéria:

A CONCEPÇÃO GEOPOLÍTICA

A Assembléia Nacional Constituinte de 1988 não se limitou

A criar o Estado do Tocantins e concluiu pela necessidade de

Redivisão da Amazônia e de novos Estados como o Tapajós e

Carajás. As sugestões da Comissão de Assuntos Territoriais não foram acatadas até hoje, mas o tema da redivisão do território nacional continua ocupando as atenções de um grande número de parlamentares. A área em estudo para a criação do Estado de Carajás está localizada no sudeste do Estado do Pará. Abrange 37 municípios que totalizam uma área aproximada de 280.000 Km2 e uma população de mais de um milhão de habitantes, com uma densidade demográfica em torno de 4,0 Hab/Km2. Marabá é o seu principal centro urbano, com 168.020 Hab, porto, terminal ferroviário e aeroporto. A área inclui a Represa de Tucuruí e articula-se com outras regiões pelas bacias dos rios Xingu, Araguaia e Tocantins, pela ferrovia dos Carajás e pelas rodovias BR-230, BR158 e BR 153. A economia está baseada na agropecuária,

Na extração de madeira e na exploração de minério de ferro e

Do ouro. Seu subsolo possui, ainda, um excelente potencial em manganês, níquel e cobre. Apresenta um grave problema socioeconômico em relação à situação dos garimpeiros de Serra Pelada e à extração artesanal do ouro. Em torno de 19% do seu território é constituído de terras indígenas e unidades de conservação.

PROJETO CARAJÁS.

O PAÍS DE CONSCIÊNCIA LIMPA.

Como qualquer alteração que envolva grandes interesses em jogo, as reações são movidas inicialmente pela paixão e, posteriormente pela razão, Ao se analisar os prós e contras que envolvem a questão da criação de novas unidades federativas, particularmente a que sugere a criação de mais uma unidade federativa no Pará.

PLEBISCITO. A DECISÃO SERÁ DO POVO.

O projeto já aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, sugere o plebiscito,

Exigido pelo artigo 18 da Constituição, para que a população decida se quer ou não a divisão do Estado do Pará.

DIVISÃO

Estado de Carajás, também faz surgir reações de toda natureza.

Apesar de alguns movimentos contrários e opositores ao projeto, estudos e análises frias e coerentes mostram que as conseqüências positivas são mais intensas e verdadeiras, numa prova da validade de se propor e lutar pela criação do Estado de Carajás.

REALIDADE ATUAL

Em 388 anos de existência como Ente Público, os sucessivos.

Governos do Estado do Pará, não conseguiram atender.

As demandas das regiões sul/sudeste do Estado e o que

Existe está aí, diante de todos como prova de que estas.

Regiões jamais irão desenvolver-se continuando como estão:

1 – estradas e pontes de péssima qualidade, que na sua grande maioria tornam-se intransitáveis no período chuvoso, facilitando ainda em qualquer época a prática de assaltos e violência contra seus transeuntes;

2 – energia elétrica insuficiente para alavancar o desenvolvimento nas cidades e, principalmente, no campo, onde se encontra seu grande potencial econômico;

3 – comunicação de péssima qualidade nos centros urbanos

E inexistente nas localidades mais distantes;

4 – narcotráfico, depredação ambiental e exploração desordenada das riquezas naturais;

5 – violência rural, invasões de terras produtivas, desordem agrária e fundiária, sem perspectivas de solução;

6 – ausência do Estado e grandes vazios demográficos;

7 – exclusão sócio econômica da população interiorana, aumentando as desigualdades sociais e desequilíbrio regional, apesar do grande potencial para desenvolvimento auto-sustentado;

8 – ausência de uma política sustentável de desenvolvimento

Regional que corresponda às expectativas da população;

9 – segurança pública incapaz de proteger o cidadão que as

Vez perde a vida ou vive refém da bandidagem e do crime

Organizado na região;

10 – ausência de políticas públicas de saúde, educação técnica e principalmente superior.

A DIVISÃO DO PARÁ É UMA SOMA.

Foi assim com Goiás e Tocantins, com Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Hoje, estes quatro estados produzem mais qualidade de vida para seus habitantes, mais desenvolvimento e uma melhor administração com o controle das questões básicas dessas regiões feitas pelo poder público.

O que era um abandono é agora progresso, com as riquezas e potenciais de cada estado sendo explorados de forma organizada e produtiva.

Portanto, a proposta de se criar o Estado de Carajás, não é uma utopia, uma irresponsabilidade pública ou um interesse de minorias.

Ao contrário, trata-se de transformar uma área de difícil atuação do poder público do Pará, em um Estado bem administrado e que só irá acrescentar desenvolvimento e qualidade de vida às populações da região.

Estudos de viabilidade econômica, da movimentação social e de administração governamental, mostram as vantagens de dividir o Estado do Pará, tornando-o um Estado mais fácil de governar e, com isso, mais propenso ao desenvolvimento, o mesmo acontecendo com o novo Estado de Carajás.

E essa idéia vem de políticos sérios, que baseiam as suas atuações e responsabilidades na vontade de gerar o bem social, combatendo atrasos centenários e alimentando resultados positivos para o nosso país. Carajás, será um Estado que, certamente, irá contribuir para o crescimento da nação e do povo brasileiro.

ARGUMENTOS POSITIVOS

QUANTO AO PROJETO CARAJÁS

1. Presença efetiva de um Governo na região;

2. Consolidação de políticas públicas de implantação de infra-estrutura de transportes, energia elétrica, comunicação,

Saúde, educação média e superior, desenvolvimento econômico e social;

3. Aumento da representatividade política regional;

4. Exploração ordenada dos recursos naturais;

5. Ordenamento da gestão ambiental;

6. Ordenamento efetivo da política fundiária e agrária;

7. Implementação de política de desenvolvimento regional nos setores econômicos:

Verticalização mineral;

Verticalização dos produtos agropecuários (carne, couro e outros);

Estímulo ao setor pesqueiro e sua respectiva verticalização; Verticalização da madeira; Estímulo à agricultura mecanizada e familiar; Estímulo ao setor de serviços; Estímulo ao Turismo.

CONTRA-ARGUMENTO ÀS POSIÇÕES

CONTRARIAS AO PROJETO CARAJÁS.

1. Custo de implantação. Um argumento frágil, uma vez que os custos são baixos, considerando que a Capital do novo Estado deve ser instalada numa cidade da região já dotada de infra-estrutura e que já sedia os principais órgãos das três esferas de Governo.

Isso torna desnecessário altos investimentos de implantação;

2. Diminuição da área territorial;

No feudalismo, o que gerava status eram as grandes concentrações de terras, o que no capitalismo não tem mais

sentido, o que se espera hoje é a rentabilidade e a capacidade de produção das regiões. Pequenos países, principalmente na Europa, são exemplos dessa premissa.

3. Perda da arrecadação e das reservas naturais

de minério. Ao contrário do que se pensa, muito pouco o Estado deixa de arrecadar.

A Cia Vale do Rio Doce, por lei, paga muito aquém do que deveria, deixando para o Estado uma arrecadação insignificante. E atualmente, 78% da arrecadação dos principais impostos do Estado são gerados na região Metropolitana e nordeste do Estado, ou seja, a região sudeste, onde se pretende estabelecer o Estado de Carajás, não representa uma fonte de arrecadação significativa para o Pará. Foi o próprio Governo do Estado do Pará, que buscou alternativas à redivisão territorial.


Democracia?

Reuni algumas anotações esparsas, dando-lhes alguma ordem cronológica de alguns fatos relevantes que não chegaram ao alcance do público. Confira:
Ø ÚLTIMAS AÇÕES
§ Em 2003 foi constituída a Frente Parlamentar Pró-Redivisão Territorial do Brasil;
§ Em audiência com o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, foi solicitado apoio aos projetos de criação de novos Estados já tramitando no Congresso Nacional. O ministro mostrou-se simpático à idéia e a apoiou;
§ Foi encaminhado documento solicitando a constituição de uma comissão interministerial para conduzir a política federal de redivisão territorial do país, composta pelos ministérios da: Integração Nacional, Defesa, Planejamento, Desenvolvimento Agrário e Casa Civil, porém, a iniciativa, na prática, não avançou;
§ Em 2004 foi realizada uma grande Sessão Solene no Congresso Nacional que marcou a retomada das ações para aprovação dos projetos Carajás/Tapajós;
§ Entrega de requerimento de Urgência para pautar os projetos ao Presidente da Câmara dos Deputados;
§ Em 2005 houve a retomada da elaboração do material de campanha: agora atualizado, com linguagem de marketing profissional, a ação não vingou, pois, não houve quem se dispusesse a bancar os custos;
§ Audiência com o Presidente da Câmara para que os projetos entrassem na pauta de votação; § Audiência com o presidente da república em exercício, José Alencar, solicitando apoio aos projetos;
§ Em 2006 o PDL de Tapajós e Carajás estacionaram na “geladeira” da Comissão da Amazônia e Desenvolvimento Regional, apesar das inúmeras visitas de lideranças das duas regiões pró-divisão, para pressionar a votação que será encaminha ao Plenário que autoriza a realização dos Plebiscitos no Estado.

De acordo com o relatório abaixo você confere como está à tramitação das propostas no Congresso Nacional:

PROJETO

AUTOR

EMENTA

SITUAÇÃO ATUAL

1

PDC 439/1994

Deputado Paes Landim

Dispõe sobre a realização de plebiscito para a criação do Estado do Gurguéia.

Aguardando designação de relator

2

PDC 631/1998

Deputado Gonzaga Patriota

Dispõe sobre a realização de plebiscito para a criação do Estado do Rio São Francisco.

Aguardando designação de relator

3

PDC 606/2000

Deputado Rogério Silva e outros

Dispõe sobre a realização de plebiscito para a criação do Estado do Mato Grosso do Norte.

Aguardando designação de relator

4

PDC 947/2001

Deputado Sebastião Madeira

Dispõe sobre a realização de plebiscito para a criação do Estado do Maranhão do Sul.

Aguardando designação de relator

5

PDC 1.097/2001

Senado Federal

Convoca plebiscito sobre a criação do Território Federal do Oiapoque.

Aguardando designação de relator

6

PDC 1.693/2002

Deputado Wanderval Santos

Convoca plebiscito sobre a criação do Estado de São Paulo do Leste.

Aguardando designação de relator

7

PDC 2.095/2002

Deputado Romeu Queiroz

Convoca plebiscito sobre a criação do Estado “Minas do Norte”.

Aguardando designação de relator

8

PDC 2.419/2002

Deputado Benedito Dias

Dispõe sobre a realização de plebiscito para a criação do Território Federal do Marajó.

Aguardando deliberação

9

PDC 295/2003

Deputado José Divino

Dispõe sobre a realização de plebiscito para a divisão do Estado do Rio de Janeiro.

Aguardando designação de relator

10

PDC 1.027/2003

Deputado Fernando Gabeira e outros

Dispõe sobre a realização de plebiscito para a criação do Território Federal do Pantanal.

Aguardando designação de relator

11

PDC 1.217/2004

Deputado José Roberto Arruda

Dispõe sobre a realização de plebiscitos para a criação dos Estados do Aripuanã, do Araguaia, do Xingu, de Tapajós, de Carajás, do Rio Negro, de Solimões, do Uirapuru, do Madeira e do Juruá.

Aguardando deliberação


Uma ação humanitária: Dividir a pobreza

Carajás e Tapajós: o “bicho papão” dos candidatos

Candidatos ao Governo do Estado, Senado, Câmara dos Deputados e à Assembléia Legislativa, devem expor claramente ao eleitor qual o seu posicionamento em relação à divisão territorial do Pará.

Com a devida ressalva, existe alguma unidade de ações entre os comitês pró-criação de Carajás e Tapajós, entretanto, o que poderia ser muito mais do que a empatia embalada na possibilidade da independência políico-administrativa das duas regiões, digamos, insatisfeitas, o sonhos vira pesadelo no mesmo sono, graças a realidade de que tudo o que se fez, até agora, não passa de muita energia empreendida e pouco resultado.

Cada um dos comitês, olha para seu próprio umbigo, facilitando o trabalho do grupo que não quer nem ouvir falar em separação do Pará.

A maneira desarticulada de atuação dos dois comitês, cria pouco trabalho aos oposicionistas para desmobilizar o ímpeto separatista.

Para uma mudança do quadro, seria necessário, dentre outras providências, uma ampla articulação conjunta dos atores interessados no processo emancipionista, uma boa dose de respaldo financeiro do empresariado, eternamente refém do establishment quando o tema vem ao palco, e, o componente mais importante: a adesão popular para uma empreitada de tamanha monta; no entanto, o contrário vem ocorrendo. Outros interesses afastam a coalizão de ações dos dois organismos que defendem a criação dos dois novos estados, mas, fundamentalmente, o processo ressente-se de um líder ou líderes para a necessária articulação das ações.

Aspectos interessantes unem os separatistas, como o leitor pode constatar nesta matéria.

Entidades do sul do Pará defendem voto regional - 21/07/2006

Local: Belém - PA

Fonte: O Liberal

Link: http://www.oliberal.com.br/index.htm

É grande nas regiões sul e sudeste do Pará a mobilização em torno do voto regional. À distância e as diferenças culturais e sociais levaram ao crescimento dessa bandeira, que vem conquistando adeptos a cada dia. O movimento que nasceu nas entidades representativas de classes tem se multiplicado e alcançado a periferia das cidades. No município de Redenção a Associação Comercial e Industrial de Redenção (Acir), que tem à frente o presidente Adilson da Silva, vem há vários meses trabalhando com presidentes de associações de bairros para orientar a população da importância do voto regional.

As palestras sobre o assunto acontecem nas reuniões que são realizadas na sede da entidade e também nos bairros, três vezes na semana. Os lideres do movimento, tecem comentários referentes às grandes necessidades que existem na região e principalmente no município.

A falta de representantes políticos como deputados estaduais e federais da região que atuem nas Assembléias Legislativas e na Câmara dos Deputados e que lutem e defesa os interesses da população são assuntos abordados e enfatizados nas palestras.

Segundo comentário do morador Luís Antônio Marinho, que esteve recentemente participando de uma reunião no seu bairro, se o município tivesse representantes em Belém e Brasília para falar em nome do povo que vive na região do sul do Pará, não haveria o descaso que ocorre em muitos municípios.

O movimento pelo voto regionalizado tem sido difundido em muitos municípios da região e, segundo o presidente da Associação das Associações de Bairros, Antônio Oliveira, o objetivo das reuniões com a comunidade é tentar neutralizar a entrada de candidatos que não são da região e que só aparecem na época de eleição, fazem as promessas e acordos com alguns políticos e depois que ganham os votos e só são vistos quatro anos depois.

Mas o cerne da questão perdura fora de foco. A população ainda não consegue compreender o que é a divisão de um estado, por uma série de fatores que tentaremos entabular neste espaço.

Os esforços até então consolidados, têm a força da amenidade da brisa marítima em pleno verão de “rachar a cuca” de quem reside quase na linha do Equador.

Divisão do Pará: você sabe o que é isso?


















O caminho que separa a vontade da decisão esbarra num processo fraudulento, quase sempre.
Em tempos passados um idiota anônimo, estabeleceu que, para ser menos idiota, certamente num surto que paira sobre a cabeça dos imbecis, porpôs a idéia megalômana da transferência decisória. Era a tal democracia emergindo de um ambiente até então, impositivo. E não é que o conto pegou?

Carajás, Tapajós, Território do Marajó, Estado da Gurgéia, Araguaia...São muitos estados, outros territórios, e o povo perguntando: Mas, afinal, o que diabos é isso!

Se o blog soubesse, não seria este esforço jornalístico, a intenção para facilitar a vida dos nobres candidatos, nossa intenção vai além. Entretanto, a postura assumida e esquecida, tudo ao mesmo tempo, dos candidatos à cargos eletivos, estimulou o blog ao debate, sugigar mesmo!!

Partimos então da premissa: Você é contra ou a favor da divisão do Pará?

Senhore(a)s. Tirem as suas próprias conclusões com a leitura dos textos a seguir.

O blog defende uma idéia primordial: Ao contrário da divisão da riqueza, que tal, dividir-mos a pobreza!?

Promessa é dívida

Tive uma sexta-feira absolutamente tumultuada aqui em Brasília, o que obrigou-me a atrasar a publicação da matéria sobre divisão territorial do Pará e outros.
Sai daqui a pouco.
Até lá!

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