Governo perde apoio no PDT




Rosa Costa e Isabel Sobral Brasília

Para líder do partido, foi engano aumentar os impostos

Além de enfrentar a resistência dos partidos de oposição ao pacote de medidas, o governo poderá perder o apoio do PDT no Congresso. Os pedetistas, que hoje controlam o Ministério do Trabalho, além de outros cargos na máquina federal, tendem a se alinhar com a oposição na hora de votação das medidas.

O líder do PDT no Senado, Jefferson Péres (AM), afirma que não fechará a questão na bancada, mas ressalva: ele mesmo votará contra as medidas. “Foi um engano aumentar esses impostos”, diz o senador. “Em vez de aumentos, o Planalto deveria fazer outras duas coisas que nunca fez: cortar gastos e adotar um mecanismo de contenção permanente.”

O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força, acredita que outros parlamentares de seu partido deverão se opor às medidas. Ele afirma que, por falta de esclarecimentos adequados do governo, prevalece entre os deputados a impressão de que a elevação dos impostos será repassada pelos bancos aos clientes. “Sou favorável à taxação dos bancos, mas o governo está tão mal articulado que ninguém acredita que os bancos não vão repassar esse aumento.” Ele assegura que outros deputados do PDT pensam a mesma coisa.

Paulinho diz que desde 2 de janeiro, dia do anúncio do pacote, vem tentando, sem sucesso, falar com o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, encarregado de fazer a ponte entre o Executivo e o Legislativo. “Quem tem a obrigação de falar com os parlamentares é ele e quando o procuro não consigo falar. Como isso é possível?”, indaga.

EDUCAÇÃO

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também admite que o partido poderá não votar a favor do pacote se não for respeitado o acordo fechado com o governo durante as negociações para a votação da CPMF. Na ocasião, o PDT apoiou a proposta no Senado após receber a garantia de que os recursos destinados à educação seriam gradativamente poupados pelo governo dentro da Desvinculação das Receitas da União (DRU).

Como a CPMF não passou, no governo há quem defenda que o acordo perdeu a validade. Mas o senador insiste: se o governo não cumpri-lo, há risco de “ruptura” com a bancada.

Ao defender os cortes dos gastos da máquina pública, o senador Jefferson Péres lembra que o Congresso e o Judiciário deveriam adotar procedimento semelhante e não apenas cobrar. “Eu me sinto até meio incomodado em falar porque Câmara e Senado deveriam dar o exemplo”, diz ele, citando como possíveis cortes o fim do pagamento da verba indenizatória (R$15 mil por mês para custear o exercício do cargo no Estado), a redução de viagens ao exterior e o adiamento de novas obras.

Giovanni Queiroz apresenta denúncia de sobrepreço em obras do Poder Judiciário




Sede de conselho custará R$ 52 mi

Lúcio Vaz - Da equipe do Correio

JUDICIÁRIO

Órgão responsável pela supervisão orçamentária e administrativa da Justiça Federal de 1º e 2º graus, o CJF terá espaço próprio com auditório, biblioteca, estúdio de rádio e TV no Setor de Clubes Sul

A nova sede do Conselho da Justiça Federal, com 24 mil m² de área construída, num lote do Projeto Orla, no Setor de Clubes Sul, custará pelo menos R$ 52 milhões aos cofres públicos. Terá auditório para 260 lugares, biblioteca para 17 mil livros e estúdio de rádio e TV com 100 m². A presidência ocupará área de 125 m², e a sala de sessões para as reuniões do conselho terá 112 m². Detalhe: os 10 conselheiros se reúnem ordinariamente apenas uma vez por mês.

A sede do CJF integra um grupo de cinco grandes obras do Poder Judiciário com orçamento total de R$ 1,12 bilhão. A maior delas, a construção do edifício sede do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região, tem orçamento inicial de R$ 498 milhões. Os edifícios sedes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), da Procuradoria Geral do Trabalho e do Instituto Serzedello Corrêa do Tribunal de Contas da União (TCU) completam o grupo de obras milionárias.

O Conselho da Justiça Federal argumenta que está mal instalado nas dependências do Superior Tribunal de Justiça (STJ), com salas espalhadas em dois pisos e até no subsolo. Os cerca de 250 funcionários estão acomodados em escassos 2,7 mil m², sem contar as áreas de uso comum. Na nova sede, eles contarão com uma área total nove vezes maior, ou 98 m² para cada funcionário. Só a garagem terá 1,5 mil m².

O projeto original, elaborado pelo escritório de arquitetura de Oscar Niemeyer, foi orçado em R$ 72 milhões. Após alguns cortes, foi licitado pelo preço básico de R$ 54 milhões, mas a empresa vencedora da concorrência pública apresentou custo de R$ 52 milhões. A proposta do governo para o Orçamento de 2008 reservou R$ 15 milhões para essa obra, o suficiente para 25% da sua execução física. Isso levaria o custo total para R$ 60 milhões. A proposta sofreu um corte de 50% na Comissão Mista de Orçamento, mas poderá ser refeita no plenário do Congresso.

Multiuso

O Conselho da Justiça Federal faz a supervisão orçamentária e administrativa da Justiça Federal de 1º e 2º graus. É integrado pelo presidente, vice-presidente e três ministros do STJ e pelos presidentes dos cinco tribunais regionais federais. Apenas o presidente do TRF da 1ª Região mora em Brasília. O colegiado se reúne uma vez por mês ordinariamente, ou extraordinariamente sempre que necessário. Também integram o conselho o Centro de Estudos Judiciários e a Turma Nacional de Uniformização dos Juizados Especiais Federais, que faz a uniformização de interpretação da lei federal.

Com as novas atribuições previstas pelo Projeto de Lei nº 284/07, em tramitação na Câmara, o CJF terá o poder de corregedoria, podendo fiscalizar e aplicar penas disciplinares. A Corregedoria Geral vai promover sindicâncias e inspeções para apurar reclamações e denúncias contra magistrados e serviços da Justiça Federal. Segundo informa a assessoria de imprensa do conselho, o projeto que amplia as suas funções também prevê o aumento do número de funcionários. “O conselho funciona inadequadamente, em espaços insuficientes para abrigar seus funcionários, e com unidades espalhadas em três prédios diferentes do STJ. Além disso, tramita no Congresso o projeto de lei que regulamenta os poderes correicionais conferidos ao conselho pela Emenda constitucional 45/2005. Com uma série de novas funções e estrutura ampliada, faz-se necessário planejar o dimensionamento de espaços capazes de abrigar essa estrutura”, diz nota da assessoria.

O auditório de 260 lugares e as seis salas de aula multiuso, num total de 224 m², serão utilizadas pelo Centro de Estudos Judiciários, que deverá reunir juízes de todo o país, acrescenta a assessoria do conselho. Uma das idéia é oferecer cursos de pós-graduação em parceria com universidades de Brasília. A sala de sessões dos conselheiros será utilizada também pela Turma Nacional de Uniformização dos Juizados. O estúdio de televisão vai produzir programas para a TV Justiça e outras emissoras de televisão públicas.

Obras e custos

Após apresentar denúncia de sobrepreço nas obras de grande porte do Poder Judiciário, o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) conseguiu aprovar na Comissão Mista de Orçamento um corte total de R$ 106 milhões nos projetos desses prédios. O deputado levantou os indícios de sobrepreço a partir dos dados do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (Sinapi), que fixou em R$ 624 o custo do m². Como não estão computadas nesse valor as despesas relativas a terreno, equipamentos mecânicos como elevadores, compactadores e exaustores, equipamentos de segurança, máquinas, ferramentas e fundações especiais, o deputado elevou em 100% o valor apurado pelo Sinapi.

Com base no valor estimado da construção da sede do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região (R$ 498 milhões), para uma área de 168 mil m², o custo unitário do m² ficaria em R$ 2,96 mil. Pelo custo calculado por Queiroz (R$ 1,24 mil), o orçamento total da obra ficaria em R$ 209 milhões. No caso da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o mesmo custo unitário, o orçamento calculado pelo deputado ficaria em R$ 144 milhões, contra R$ 342 milhões do custo oficial.

As assessorias do TRF da 1ª Região e do TSE argumentaram que o Sinapi calcula o preço de obras mais simples, como casas populares. Só as fundações das grandes obras consumiriam quase 30% do seu orçamento. Os equipamentos mecânicos, sistema de ar condicionado, áreas de uso comum, estacionamentos, jardins e garagem teriam um custo bem maior do que os 100% sobre o valor fixado pelo Sinapi, como previu o deputado. Prédios habitacionais construídos pela iniciativa privada em Brasília teriam custo unitário de R$ 5 mil o m², afirmaram os assessores. Por fim, os tribunais consultados alegaram que seus projetos já foram auditados, tendo os custos aprovados pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Um crime anunciado. A Polícia Civil de Marabá sabia de tudo e nada fez

O blogger está de férias e não podia deixar de relatar uma história estarrecedora direto de uma fonte com fé pública: um deputado federal, depois mais um que, por enquanto, preferem não ter os seus nomes revelados.

Foto: Correio do Tocantins

















Odair Pereira Barro morto. O último abraço

Odair Pereira Barros era um líder comunitário em Marabá (PA). Foi assassinado e os delegados, inclusive o Geral do Interior nada fez para evitar a morte do que, teroricamente, seria "um companheiro da história política da governadora".

Odair Pereira Barros organizava a nada fácil vida de sem tetos que perambulam pela região.

Inicialmente, o trabalho de Barros foi em bairros da periferia de Marabá. Mas foi numa invasão próximo à do aeroporto da maior cidade do sul do Pará que sua vida desaguou em seu assinato, graves ferimentos em sua mulher e filho.

As coisas não andavam. A regularização da área da invasão próximo ao aeroprote de Marabá passa por domínio constituicional do arco da Infraero (empresa estatal que administra os aeroportos brasileiros) que por questões de segurança de vôo não podem abrigar no perímetro qualquer concentração de moradias ou comércios. Portanto, era quase impossível manter o contigente de sem-tetos lá.

Barros atreveu-se a buscar uma solução de própria iniciativa. Um pistoleiro o aguardava no lugar.

Resolveu com seu grupo invadir a área próxima à Fábrica da engarrafadora local do refrigerantes Coca-Cola, do Grupo Simões do Amazonas e que fora adquirido do remanescente de uma das fazendas do ex-deputado estadual Vavá Mutran.

No embalo, o grupo de Barros adentrou outra área privada que pertence a uma propriedade de um dos herdeiros de um dos pioneiros da pecuária marabaense Almir Moraes: a Fazenda Bandeira. A fazenda ficou como herança para um de seus filhos: Manoel Moraes.

Articulado, o líder comunitário dos sem-tetos erigiu rapidamente a sede da associação a qual presidia e tocou o trabalho, aumentou o número de postulantes à terrenos na área e foi ficando.

O jornal Correio do Tocantins diz que a morte de Odair Pereira Barros foi anunciada há pouco mais de um mês, quando Genildo Galdino da Silva e outros sem-teto ocupantes da então Fazenda Bandeira, hoje bairro Nossa Senhora Aparecida, também conhecido como “Invasão da Coca-Cola”, em Marabá, avisaram que iriam matá-lo caso ele colocasse os pés mais uma vez na área. A ameaça velada foi cumprida à risca.

Esse grupo dissidente tocou fôgo na sede construída por Odair Pereira Barros e expulsou-o do lugar. Juntos, perderam o teto a mulher do ativista e seu filho menor de idade.

Na reportagem publicada pelo jornal marabaense, o repórter Ulisses Pompeu apurou que por volta de meio dia desta quarta-feira (2), Odair voltou à invasão, onde era presidente destituído da Associação de Moradores, em companhia da mulher dele, Devanira Júlia de Paula e de um filho de 16 anos de idade, de iniciais F.R.F. Em menos de meia hora no local, ele foi surpreendido por um dos moradores, que disparou três tiros contra ele, um na perna de Devanira e outro na mão direita do filho do casal.

Segundo uma testemunha ocular do crime, Aline Santos Silva, ao receber os três tiros, Odair disse apenas “me apóia, me apóia, não consigo me mexer”. Caiu e desfaleceu nas mãos do filho, que gritava “meu pai, meu pai! Mãe, vamos tirar ele daqui, mãe”.

Levado para o Hospital Municipal de Marabá, Odair chegou morto e os médicos se concentraram em atender Devanira e F.R.F., que estavam baleados. À reportagem do CORREIO DO TOCANTINS, a mulher de Odair justificou que ela e o marido tinham voltado à invasão para fazer fotos dos escombros do prédio da Associação de Moradores, que havia sido destruída há cerca de um mês por outros invasores que não queriam mais seu marido na direção da entidade.

“O Odair fez de tudo por esse lugar. Foi a Brasília pedir apoio para desapropriação da fazenda Bandeira, conseguiu verba de R$ 10 milhões para urbanização e agora eles retribuíram tudo acabando com a vida dele”, protestou a viúva.

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Odair com ajuda de amigos veio à Brasília. Procurou alguns deputados. Um o recebeu e ouviu sua história.

Explicou toda a situação e relatou de maneira dramática que a partir dali sua vida não valia mais um real furado.

O deputado disse que gerou a imediata indignação de sua parte fora o fato que, há semanas atrás, o líder dos sem-teto do Aeroporto e agora da Coca-Cola, logo após ser expulso do lugar e o prédio da associação havia sido incendiado e totalmente destruído, não fora-lhe permitido prestar queixa do fato.

Odair Pereira Barros relatou ao deputado que lhe atendeu uma seqüências de fatos que comprovam o retrato que pode colocar a região mais uma vez em meio de processos internacionais da maior gravidade nos Tribunais Internacionais de Direitos Humanos ao qual o Estado brasileiro é signatário.

O que o deputado ouviu diante de várias testemunhas foi que a Delegada de prenome Fernanda, simplesmente não podia fazer o Boletim de Ocorrência do fato devido à ausência do escrivão da delegacia.

Barros voltou, telefonou e desesperadamente apelou para que pelo menos a queixa fosse registrada.

A delegada Fernanda disse que um parente do escrivão tinha morrido e que ele não tinha hora para voltar e que nada de registro de coisa nenhuma.

Nesse ponto do relato. Odair Pereira Barros ouviu as primeiras providências.

O deputado telefonou de seu gabinete, na frente de Barros e ligou para o delegado do Interior, Miguel Cunha.

- Delegado estou aqui com o Odair Pereira Barros na minha frente e quero saber como vamos registrar as ocorrências que resultaram na ameaça de morte dele.

O deputado continua:

- Ele está embarcando no próximo vôo daqui e para o senhor atendê-lo, certo?


- Certo deputado. Manda o homem. (Miguel Cunha. Delegado do Interior)

Quando Odair Pereira Barros chegou à sede da Superintendência de Polícia Civil no Estado, novamente não foi recebido. O deputado, porém acompanhava-o.

- O delago não está e vou encaminhá-lo para resolver o assunto.

Era a delegada Fernanda. Que novamente nada fez.

Passaram-se alguns dias.

Ao ser questionada sobre quem matou o marido e atirou nela e no filho, Devanira disse sem titubear que o assassino de seu marido foi Genildo Galdino da Silva, um dos invasores, que há pouco mais de um mês ameaçou que iria matar Odair caso ele aparecesse mais uma vez no local. “Ele matou, mas o mandante foi João da Madeireira”, denunciou, referindo-se a João Vanderlan Souza Albuquerque.

Acusado de mandante preso
Uma equipe da Polícia Civil, chefiada pela delegada Nilde Rosa da Silva, conseguiu prender João da Madeireira, que comercializa tábuas e caibros para construção dentro da invasão, mas Galdino já havia fugido da área. Ainda na tarde de ontem, o filho de Odair e Aline Silva, foram ouvidos pela polícia, assim como João da Madeireira e reafirmaram as declarações.
Inicialmente, a advogada do acusado de mandante era Vilma Leal, mas antes de meia noite quem passou a defender João foi a jovem advogada Brenda Guimarães Santis. Ontem, em contato com a Redação, Brenda criticou o fato de a delegada Nilde Rosa ter lavrado flagrante contra João da Madeireira, alegando que não há fundamentos jurídicos para flagrante de mandante de assassinato contra o seu cliente.

Embora tenha dito em depoimento à delegada e também para repórter deste jornal que viu João da Madeireira mandando Galdino atirar em Odair, Aline Silva veio ontem no final da manhã à Redação do CT para mudar sua declaração, não se sabe para beneficiar quem. Ressaltou inicialmente que estava nervosa no dia do crime e depois alegou que “foi forçada a dizer que tinha visto João da Madeireira mandar matar seu Odair”.

Em contato por telefone com a redação, meia hora depois, a advogada Brenda Santis queixava-se do fato de Aline ter voltado à delegacia para “dar seu verdadeiro depoimento, mas nenhum delegado quis tomar sua nova versão”.

Sou inocente
Em seu depoimento à delegada Nilde, João da Madeireira alega inocência e diz que havia pedido que Odair não fosse mais à sua casa quando fosse àquela invasão, na quarta-feira, porque várias pessoas daquela comunidade ameaçavam queimar o depósito de madeira caso ele mantivesse algum tipo de relacionamento amistoso com o ex-presidente da associação.
Alegou que na hora do crime estava conversando com outra pessoa, de prenome Romário, quando ouviu os disparos, mas percebeu que o autor dos tiros foi Galdino. “Quando o matador for preso, vai confirmar que não mandei matar ninguém”, prevê.

Com seu cliente ainda preso, a advogada Brenda Santis vai esperar que a delegada envie o inquérito à justiça após dez dias do crime para pedir o relaxamento da prisão de João da Madeireira. “Ele não tinha nenhum interesse na morte de Odair. É apenas um comerciante”, ressalta. (Ulisses Pompeu)

Após a morte de Odair, clima agora é de eleição
O assassinato de Odair Barros aumentou o clima de disputa interna para a presidência da Associação de Moradores do bairro Nossa Senhora Aparecida, antiga fazenda Bandeira. No próximo dia 20, os moradores vão às urnas para escolher um novo presidente da entidade.
Odair Barros foi assassinado nesta quarta-feira, 2, depois de receber ameaças de morte provocadas por denúncias de que estaria prejudicando toda a comunidade com cobrança ilegal de dinheiro, corte de energia elétrica dos moradores inadimplentes com a associação e venda de um mesmo lote para várias pessoas.

Agora, não faltam candidatos ao cargo. Pelo menos três já se inscreveram para encabeçar chapa para disputar a presidência da entidade, onde há cerca de 600 famílias cadastradas. Moisés Soares Filho, Paulo Sérgio do Rosário Varella (Badeco) e José Ribamar (Ferrugem) estão no páreo, segundo os moradores.

Badeco é o único que não mora na invasão. Ele reside no bairro Santa Rosa, na Marabá Pioneira, e tem como trunfo o fato de já ter sido vereador por três mandatos em Marabá. Contudo, alguns moradores temem que ele tenha apenas interesse eleitoral na área.
Na mesma tarde em que ocorreu o homicídio de Odair, a reportagem percorreu várias ruas da invasão, mas ninguém se mostrava triste com a morte do antigo líder e só falavam em “novos tempos”. Para defender o “matador”, tinha gente que dizia que ele não era morador do bairro e que fora para a área como pistoleiro apenas para executar Odair. “Vamos escolher novo presidente, isso é o que importa”, comemorava Arnaldo Pereira, um dos moradores. Desde quando foram instaladas as primeiras moradias na antiga Fazenda Bandeira, o local tem sido palco de violência, com inúmeros assassinatos. A maioria fruto de desavença entre os próprios ocupantes da área, ainda desprovida de posto policial e de entidades capazes de serenar e doutrinar o espírito daqueles mais exaltados. (U.P.)

Desabafo > “Esse bairro está marcado pela maldição da invasão”
A morte de Odair foi prova de que naquela invasão reina a lei do gatilho e da “peixeira”. Embora tenha pouco tempo de existência, o bairro “Nossa Senhora Aparecida” precisa mesmo de reza forte. Vários assassinatos já foram registrados no local e o isolamento geográfico em relação a outros bairros produz a sensação de impunidade para algumas pessoas.

Dona Maria Adelaide, que está na invasão há vários anos, disse que se desiludiu com a área, que ela pensava que iria crescer com tranqüilidade. “Esse bairro está marcado pela maldição da invasão”, avaliou.

Dezenas de moradores da invasão da Coca-Coca fecharam a entrada do bairro no dia 28 de novembro do ano passado, porque estavam sem energia elétrica há dez dias. Eles se diziam enfurecidos contra Odair Barros, que seria o responsável pelo desligamento da energia para todo o bairro, que funciona em sistema de “gato”, clandestinamente.

Os moradores acusavam o presidente da associação de vender um lote várias vezes para pessoas diferentes, gerando intriga e com o intuito único de se beneficiar financeiramente. Genildo Galdino da Silva havia dito ao CORREIO DO TOCANTINS, na época, que a comunidade daquela invasão não aceitava mais a presença de Odair Pereira naquele bairro e que estavam preparados para linchá-lo caso ele aparecesse por lá. “A gente vai matar ele, a mulher dele ou os capangas, se aparecerem aqui. Nem a polícia vai impedir isso”, avisou.
As invasões têm se multiplicado em Marabá nos últimos anos, tanto na área urbana quanto na rural, enquanto as autoridades não apresentam um plano de desenvolvimento urbano para a cidade. Também no ritmo das invasões vem uma enxurrada de problemas, como falta de saneamento, segurança e ausência de escolas. (U.P.)

Outro deputado participou da articulação.

O caso deve ir às últimas conseqüências promete outras fontes ouvidas pelo blog.

Nada será feito contra Zé Dirceu?

Para Gustavo Fruet, as declarações justificam até a abertura de nova investigação parlamentar sobre o caso, pois põem em dúvida o argumento de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sabia do esquema do mensalão. 'Era o braço direito do presidente da República', observa nesta entrevista concedida à Agência Estado.

As declarações dadas pelo ex-ministro José Dirceu servem para a abertura de uma nova CPI?
Sou favorável a outra CPI, até porque muitas coisas não acabaram de ser investigadas. Existem informações enviadas à CPI dos Correios que até hoje não foram abertas, porque estão sob sigilo. Esse material está todo parado e só pode ser aberto se for criada uma comissão de inquérito sobre o mensalão. Mas, acho muito difícil porque não temos maioria na Câmara para instalar uma CPI. Veja o caso da CPI da Crise Aérea, que só começou a funcionar por decisão do Supremo Tribunal Federal.

Nada será feito com a confissão do ex-ministro?
Primeiro, eu acredito que o advogado do ex-ministro José Dirceu não foi consultado sobre essas declarações. Acho que procurador-geral da República deve juntar essa entrevista ao inquérito do mensalão, que está em andamento no Supremo Tribunal Federal. O Zé Dirceu sempre negou que soubesse do esquema montado pelo ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. Essa confissão do ex-ministro reforça também o fato que o Delúbio não agia sem o respaldo do partido.

As declarações do ex-ministro atingem o presidente Lula?
Isso coloca em dúvida o argumento de que o presidente Lula não sabia de nada. O Zé Dirceu fez uma confissão e era o ministro da Casa Civil de Lula. Era o braço direito do presidente da República.

Qual o objetivo de José Dirceu em confessar a existência de caixa 2 para construir sede do PT no Rio Grande do Sul?
O Zé Dirceu retomou um tema que estava adormecido. Acho que ele fez isso para enfraquecer o ministro Tarso Genro. Além disso, o ex-ministro está contradizendo toda sua defesa, que afirma que ele não sabia de nada. Para mim, essas declarações são um recado interno. Existe uma briga interna no PT. E o Zé Dirceu se diz vítima do que chamou de falso moralismo de integrantes do partido, principalmente dos gaúchos.

O que a oposição pode fazer com essa denúncia?
Pela Câmara, nós podemos fazer um pedido de informação ao ministro Tarso Genro sobre as declarações de Zé Dirceu. Para mim, o mais grave é contra o Tarso Genro, porque ele é o ministro da Justiça. Ele tem de se explicar. O Zé Dirceu pode ter bala na agulha e pode estar querendo acuar o Tarso Genro. O ministro tem de vir a público esclarecer isso. Também vamos pedir para que essas denúncias sejam incluídas e investigadas no inquérito ainda em andamento na Polícia Federal sobre o mensalão.

É o caso de convocar o ministro Tarso Genro?
É claro. Mas onde isso tem chances de acontecer é no Senado. Na Câmara é pouco provável porque o governo tem maioria para derrubar nossos pedidos. Já no Senado é mais fácil, porque a oposição é mais forte. Como tem relação com o mensalão, acredito que o ministro poderia ser convocado para se explicar na Comissão de Fiscalização do Senado. Qualquer dos envolvidos pode ser convocado por uma comissão permanente da Câmara ou do Senado para dar explicações.

CPI para apurar confissão de Zé Dirceu

Filho de político com nome limpo (já falecido), doutor em direito o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) que ganhou espaço na mídia nacional como uma equilibrada atuação como sub-relator de movimentação financeira da CPI dos Correios, em conversa com a Agência Estado, considerou uma confissão de crime as declarações do ex-ministro José Dirceu de que recursos provenientes de caixa 2 financiaram a construção da sede do PT em Porto Alegre - segundo entrevista à revista 'Piauí', 'era com mala de dinheiro' que os recursos para pagar a obra chegavam. Para o tucano, o objetivo de Dirceu é enfraquecer o ministro da Justiça, Tarso Genro, petista gaúcho que nos últimos anos foi um crítico contundente dos métodos usados pelo ex-ministro da Casa Civil no comando do PT.

O deputado vê gravidade nas declarações e defende a abertura de uma CPI para apurar o caso.

A Agência Estado diz ainda que a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal (PF) vão analisar na próxima semana se cabe abrir investigação para apurar a denúncia do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, de que o PT gaúcho teria usado recursos de caixa dois para financiar a construção de sua sede em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Os dirigentes das duas instituições só retornam segunda-feira do recesso de fim de ano e alegaram, por meio da assessoria, desconhecer o teor e as circunstâncias da entrevista, publicada na última edição da revista Piauí.

Em princípio, a PF não vê na entrevista, isoladamente, fato suficiente para reabrir o inquérito do mensalão, pois não traz fatos novos e trata de um caso já investigado e rejeitado pela justiça em 2001. Por outro lado, o inquérito saiu da esfera policial e, para iniciar nova investigação, a PF dependeria de ter fatos novos relevantes ou de determinação expressa nesse sentido do Supremo Tribunal Federal (STF) ou do Ministério Público (MP).


Parlamentares de oposição pretendem mover uma representação no MP para que o caso seja investigado, no âmbito do processo do mensalão ou em novo inquérito, por considerarem a entrevista de Dirceu uma confissão de crime. Um procurador da república que acompanha o processo no STF, que pediu para não revelar o nome, explicou que a denúncia pode ser investigada só se Dirceu reafirmar perante a Justiça o teor da entrevista.

O maior reflorestamento do mundo

Não tenho conhecimento de qualquer empresa no mundo ter um conograma de reflorestamento como o da Vale, em curso, no estado Pará.

Eucalipto (Mauro Bonna - Diário do Pará)
A Vale conseguiu atingir a velocidade de 150 hectares de plantio de eucalipto em um único dia no Pará. Uma média de 1 hectare a cada dez minutos. A meta é plantar 150 mil hectares, além de replantar outros 150 mil nos próximos anos.

Dica da semana: Sébastien Tellier

Em todos os finais de semana de 2008 o blog apresentará novos artistas e alguns já consagrados.

Quem estréia a Coluna que batizei de new music é o francês Sábastian Tellier, dono do hit “La Ritournelle” que fecha o filme One Way (Quebra de Pacto na versão brasileira) que assisti ontem e também recomendo.

Tellier é um artista associado à turma houseira de Paris e após o lançamento do seu novo single, Sexual Sportswear, a música tá no topo da parada européia. O single faz parte do novo álbum do produtor, Sexuality, que chega ao mercado em fevereiro de 2008 pelo selo Record Makers e está sendo produzido por Guy-Manuel de Homem-Christo, da dupla Daft Punk - um dos queridinhos da cena pop francesa e é muito boa.












Arte do novo single do artista


A faixa já pode ser conferida no MySpace de Tellier e é guiada de ponta a ponta por pads celestiais, texturas etéreas e um sintetizador hipnótico em arpejo. O disco inclui um remix do também francês SebastiAn - nome forte da turma Ed Banger e remixer de mão cheia -, que não deixa de fora cortes bruscos e tem os dois pés cravados nas pistas de dança.

Recentemente, Tellier participou da trilha sonora do filme Steak, dirigido por Quentin Dupieux (ou Mr. Oizo, para os chegados). O disco foi produzido em parceria com SebastiAn e o próprio Oizo.

Clique aqui para um preview em baixa qualidade do remix feito por SebastiAn, extraído do blog Good Weather For Airstrikes.

Vídeo de “La Ritournelle”, dirigido por Mr. Oizo.


Veja o vídeo do novo hit de Tellier:Sexual Sportswear
Sexual Sportswear

O pacote de maldades

Brasil


Pacote de maldades

O governo anuncia aumento de impostos para
compensar as perdas provocadas pelo fim da CPMF,
ao mesmo tempo em que amplia os gastos públicos

Alexandre Oltramari

Andre Dusek/AE
O presidente Lula garantiu publicamente que não aumentaria tributos: era o contrário

Dias antes dos feriados de fim de ano, o presidente Lula garantiu que não haveria aumento de impostos para compensar os 40 bilhões de reais que deixarão de ser arrecadados com o fim da cobrança da CPMF. Avalizadas pelas lideranças políticas do governo no Congresso, as afirmações do presidente foram elogiadas pela racionalidade política e sensatez econômica. "Tenho ojeriza à palavra ‘pacote’ ", disse Lula. "Não há razão para que se faça a loucura de tentar aumentar a carga tributária." Na semana passada, no primeiro dia útil do ano, o governo anunciou um pacote que aumenta o imposto sobre o lucro dos bancos e dobra as alíquotas para quem solicitar financiamento para comprar, por exemplo, um automóvel ou uma televisão. As medidas arrecadatórias, já em vigor, vieram acompanhadas do anúncio oficial de que o governo também pretende cortar despesas – 20 bilhões, segundo as estimativas oficiais –, embora os detalhes de como isso ocorrerá ainda não tenham sido divulgados. É bastante provável, aliás, que nem sejam. O governo brasileiro tem mostrado a vocação de sempre – não existe exemplo na história recente mundial de um governo federal que tenha reduzido seus gastos – para prodigalizar.

Antes de anunciar o pacote de aumento de impostos e supostos cortes de despesas, o governo editou duas medidas para proteger alguns interesses imediatos: adiou a entrada em vigor de uma série de restrições que impediriam repasses de dinheiro público às organizações não-governamentais (ONGs) e estendeu os benefícios do programa Bolsa Família aos jovens de 16 e 17 anos. As medidas, além de ampliar os gastos, revelam uma faceta administrativa que mistura ingredientes que vão da esperteza ao desprezo das leis. O Bolsa Família, âncora da popularidade do presidente Lula e trunfo do PT para as eleições municipais do fim do ano, vai receber uma injeção extra de 2 bilhões de reais com a inclusão dos jovens acima de 16 anos, também estreantes como eleitores. Para tentar evitar a contaminação dos votos pelo dinheiro público, o Tribunal Superior Eleitoral proibiu a criação ou a ampliação de programas sociais em ano de eleição. Quatro dias antes de a norma entrar em vigor, o governo estendeu os benefícios aos jovens eleitores. "Se havia a necessidade de conceder um aumento, por que não fizeram isso antes? Não há justificativa socialmente aceitável para se adotar a prática em ano eleitoral", disse o presidente do TSE, Marco Aurélio Mello. A questão vai ser decidida pela Justiça, que pode considerar ilegal o benefício. A esperteza de quem planejou a medida está no fato de poder culpar alguém pelo aumento da marginalidade e da violência entre os jovens mais pobres, caso eles fiquem sem a bolsa de 30 reais por mês. Tem excelente apelo eleitoral, embora agregue um tremendo embuste.

Jamil Bittar/Reuters
Os ministros Paulo Bernardo, do Planejamento, e Guido Mantega, da Fazenda: o aumento de impostos é real, mas os cortes, por enquanto, são só promessa

O segundo sinal de que o governo não pretende se empenhar em economizar dinheiro também demonstra a falta de apreço pela moralidade. Um decreto editado em julho passado pelo presidente Lula aumentava o controle sobre o destino final dos 3 bilhões de reais que o governo federal despacha anualmente para estados, municípios e ONGs na forma de convênios. A medida exige que todos os beneficiários das verbas públicas sejam identificados, proíbe que entidades ligadas a parentes de servidores públicos recebam recursos e determina que o governo faça uma cotação prévia antes de contratar um serviço. O decreto foi sugerido pelo Tribunal de Contas da União, depois que auditorias constataram irregularidades. Numa estimativa módica, acredita-se que, no mínimo, 300 milhões de reais desses recursos se percam em corrupção e desvios. O governo sabe que muitas entidades são usadas como fachada para desviar dinheiro de projetos sociais. As medidas moralizadoras deveriam entrar em vigor na semana passada. No finzinho do ano, porém, o presidente adiou a implantação das novas regras, que agora começam a valer apenas a partir de julho. "O adiamento tem o objetivo claro de deixar tudo como está em pleno ano eleitoral", lamenta o senador Raimundo Colombo (DEM-SC), presidente da CPI das ONGs. Funcionando há três meses, a CPI já descobriu que algumas ONGs são verdadeiros sumidouros de dinheiro público, inclusive funcionando como agentes financeiros de alguns políticos – e sem pagar nada de imposto sobre operações financeiras (IOF).

O pacote de ano-novo também revelou a maneira debochada como o governo trata a oposição. Em dezembro, depois de perder a batalha da CPMF no Senado, Lula encarregou seus líderes políticos de promover um acordo com os partidos de oposição. Em troca da aprovação da Desvinculação das Receitas da União (DRU), um mecanismo que permite ao governo gastar livremente até 20% do que arrecada, Lula se comprometeu a não aumentar impostos nem criar novos tributos para compensar a perda de arrecadação. O ministro de Relações Institucionais, José Múcio, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá, selaram o acordo em nome do presidente. Na semana passada, o ministro Guido Mantega, numa frase que beirou a molecagem, disse que a promessa de não aumentar impostos valia apenas para 2007. O mesmo Mantega que chegou a ser desautorizado em público pelo presidente ao falar de aumento de impostos logo após a derrubada da CPMF. É possível depreender que as divergências entre o presidente e o ministro não passavam de encenação e o acordo com a oposição nada mais era que uma pegadinha de fim de ano. "Eu não esperava tanta audácia. O governo conseguiu a proeza de colocar em jogo a credibilidade da palavra de um presidente da República. Vamos abrir barricadas contra esses aumentos", promete o senador José Agripino, líder dos democratas no Senado. "Fiquei triste por não ter ficado surpreso com as mentiras", ironizou o senador Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado. Agastada, a oposição – ora, veja só – afirma que fará oposição ao governo de agora em diante.

Lula Marques/Folha Imagem
Andre Dusek/AE
Raimundo Colombo (à esq.), da CPI das ONGs, apura desvios para campanhas políticas. José Agripino e Arthur Virgílio, ludibriados pelo governo, prometem guerra: "Vamos erguer barricadas"

Politicamente, o pacote teria ingredientes suficientes para acirrar os debates no Congresso. O aumento da contribuição sobre o lucro dos bancos, por exemplo, precisa ser aprovado pelos deputados e senadores. Um Congresso com os brios atingidos poderia, portanto, criar dificuldades. Mas nem isso deve ocorrer. O governo já se preparou para evitar futuras surpresas. Sem detalhes, anunciou vagamente que uma das alternativas para reduzir as despesas é cortar as emendas parlamentares – uma bolada de 15 bilhões de reais que deputados e senadores enviam para obras em seus currais eleitorais. A estratégia governista no Parlamento é argumentar que o equilíbrio das contas depende da aprovação do aumento dos impostos ou do corte de algumas despesas – não necessariamente as duas coisas ao mesmo tempo. Ou seja, instados a optar entre o aumento de receita via tributos e o corte de despesas via emendas, não há dúvida do que vai prevalecer entre os parlamentares. "Governos são gastadores por natureza. Mas o fazem de maneira envergonhada. O atual é diferente. Ao aumentar os impostos sem dizer onde nem quando pretende fazer cortes, o governo deixa cada vez mais evidente o seu ímpeto gastador", diz a economista Ana Carla Abrão Costa, da Tendências Consultoria.

No momento em que a economia apresenta os melhores indicadores das últimas décadas, o novo pacote surge como um torniquete contra os consumidores, muito mais potente do que a velha CPMF. Além de aumentarem o custo dos financiamentos, as medidas devem provocar um reajuste nas taxas de juro cobradas pelos bancos. Os maiores prejudicados, como sempre, são os consumidores de menor poder aquisitivo, que recorrem aos financiamentos de longo prazo para comprar roupas e eletrodomésticos (veja quadro). "A alta das alíquotas deverá resultar em aumento das taxas de juro aos tomadores finais de empréstimos, pois vai aumentar a cunha fiscal e o spread bancário", disse Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria. As medidas, embora já estejam valendo desde a semana passada, poderão acabar sendo discutidas na Justiça. A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) não descarta a possibilidade de recorrer aos tribunais para tentar impedir o aumento das alíquotas. O setor, que contabilizou os maiores lucros da história no governo Lula, acha que está sendo tratado de maneira desigual. "Fomos surpreendidos pela decisão do governo de dar tratamento diferenciado de alíquota ao sistema financeiro. O entendimento comum é que você paga mais se lucra mais", reagiu Fábio Barbosa, presidente da Febraban.

Celso Junior/AE
O presidente do TSE, Marco Aurélio Mello, sentiu o cheiro de manobra eleitoreira na ampliação dos gastos com o Bolsa Família


Tecnicamente, o pacote anunciado pelo governo é totalmente descartável sob o ponto de vista do equilíbrio das finanças públicas. Além de punir os consumidores, ele não mexe em problemas estruturais graves. Raras vezes o país esteve diante de indicadores econômicos tão vigorosos. O aquecimento da economia, por si só, faz crescer a arrecadação de impostos sem a necessidade de sufocar a sociedade com mais carga tributária. Os números oficiais mostram que a receita em 2007, descontados os 40 bilhões arrecadados com a CPMF, ultrapassou em 15 bilhões de reais o valor registrado no ano anterior. É dinheiro extra que veio de lucros corporativos espetaculares e da contratação recorde de trabalhadores formais – fatos sobre os quais incidem tributos, gerando caixa para o governo. As entradas, segundo os especialistas, serão ainda maiores neste ano. As estimativas apontam uma receita de 50 bilhões de reais em impostos adicionais até dezembro. É mais do que se obtinha com a CPMF. Em tese, portanto, não haveria necessidade de aumentar os impostos, como se fez agora. Ocorre que os ganhos extras de arrecadação têm sido usados para aumentar gastos existentes e criar outras despesas. Num ambiente de tranqüilidade, isso pode até funcionar como um catalisador para a economia. Porém, existem sinais inquietantes de turbulências, tanto no exterior como no Brasil. A inflação volta a preocupar, e não são boas as perspectivas da economia americana, o que pode provocar uma recessão mundial. Os ventos da prosperidade, portanto, podem arrefecer.

Em vez de apenas aumentar tributos, há alternativas mais simples que poderiam ajudar a desemperrar a economia e acelerar o processo de crescimento previsto para os próximos anos. Um levantamento feito pelo jornal O Globo mostrou na semana passada que existem nove projetos de lei parados no Congresso capazes de proporcionar um crescimento ainda mais vigoroso do PIB, o conjunto de riquezas produzidas pelo país. Um deles mexe nas regras que defendem a livre concorrência e torna mais ágil o julgamento de fusões e incorporações de empresas. Outra medida que está parada é a criação do cadastro positivo, um banco de dados que reúne informações abonadoras dos clientes bancários. O cadastro permitiria que os bons pagadores conseguissem negociar taxas de juro menores do que as cobradas pelo mercado. A polêmica sobre as atribuições de alguns órgãos reguladores, cujo resultado mais ruinoso é espantar os investidores, teria fim com a Lei Geral das Agências Reguladoras, paralisada desde julho na Câmara dos Deputados, onde o governo tem maioria folgada, por falta de "acordo político". Alguém se lembra da reforma tributária que o governo, embalado pelo clima natalino, prometeu encaminhar ao Congresso no início do ano? Lula já mandou dizer que não vai mais propor emendas à Constituição, único instrumento capaz de frear o ímpeto gastador do governo.




O caro "barato" das drogas

Cinema

"Não na nossa família"

O drama do rapaz de classe média que vira traficante
de cocaína em Meu Nome Não É Johnny


Jerônimo Teixeira

Divulgação

Selton Mello, como João Estrella: um traficante que nunca pisou no morro


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Trailer do filme

A mãe de um traficante que acaba de ser preso procura um advogado para o filho. O advogado pergunta há quanto tempo ela tinha conhecimento das atividades ilícitas do filho. A mãe responde que não sabia de nada, que nunca imaginou que isso pudesse acontecer. "Não na nossa família", completa. A cena, logo no início de Meu Nome Não É Johnny (Brasil, 2006), é a consumação extremada de um pesadelo dos pais da classe média brasileira (e, em particular, carioca): o filho perdido para a droga. Personagem real, João Guilherme Estrella não foi apenas mais um viciado. Para sustentar o consumo pessoal, tornou-se ele mesmo um traficante, vendendo a cocaína mais pura do Rio em festas da Zona Sul, até ser preso em 1995 e condenado a dois anos em um manicômio judicial. Baseado no livro homônimo, publicado pela editora Record, em que o jornalista Guilherme Fiuza narra a história de Estrella, o filme dá uma dimensão entre cômica e trágica ao drama do vício. O Estrella interpretado por Selton Mello parece não entender a gravidade de seus atos – tampouco tem a esperteza de tirar o melhor proveito deles. Na forma de pó branco, uma proverbial fortuna circula por suas mãos, mas ele não enriquece. Torra tudo em festas com a namorada maluquete interpretada por Cleo Pires. E em mais droga.

Sob a direção ágil de Mauro Lima – cujo filme mais conhecido até agora era o infantil Tainá 2 –, Meu Nome Não É Johnny às vezes parece tão leve e inconseqüente quanto seu personagem. Muito bem-humorado, não tem a violência dos filmes que focam o tráfico pelo lado da favela – ou dos fornecedores –, como Cidade de Deus e Tropa de Elite. Filho de pais permissivos que fechavam os olhos para suas farras cada vez mais desregradas, Estrella nunca pisou em um morro. Tinha fornecedores para fazer esse caminho por ele. Começou a vender pequenas quantidades, no início dos anos 80. Quando a polícia finalmente o pegou, em 1995, ele estava com 6 quilos em seu poder.

É no presídio, enquanto aguarda julgamento, e no manicômio judicial onde depois cumpre pena que Estrella começa a se dar conta da profundidade de seu erro. Inclusive porque passa a conviver com uma turma da pesada – um de seus companheiros de manicômio é um traficante que tinha por hábito dilacerar seus inimigos com uma serra elétrica. O filme não torna explícita a conexão entre a sórdida realidade das prisões e a vida dissoluta que o traficante playboy levava até então. Mas ela fica bem evidente no silêncio perplexo que Selton Mello imprime ao personagem durante sua dolorosa redenção. Estrella percebe, então, como sua festa custava caro.

Revista Veja

O fastio do poder

O milionário abaixo é realmente a cara do Senado.

A cara do Senado (antes da CPMF)


Celso Junior/AE

Com sua vasta cabeleira em desalinho, a voz rouca e o estilo histriônico, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) encarnou melhor do que ninguém o espírito da pantomima encenada no Congresso ao longo do interminável escândalo Renan Calheiros. Salgado nunca apresentou nenhum projeto de lei relevante nem jamais foi agraciado com um mísero voto (era suplente do hoje ministro Hélio Costa, cuja campanha para o Senado foi quase toda financiada pela sua família). Mesmo assim, ganhou os holofotes e dominou os debates no plenário na qualidade de um dos mais ardorosos defensores de Renan na sua luta contra o decoro e a ética. Ao longo dessa atuação, criou, além de muitos constrangimentos, também uma expressão. Graças a Salgado, a palavra "chinelinho" doravante poderá ser usada para se referir aos "presentinhos", "agradinhos" e outras indecenciazinhas que, na opinião do senador, o governo deve oferecer aos parlamentares em troca de votos quando o assunto o interessa. Não fosse pela votação redentora que extinguiu a CPMF, o Senado teria chegado ao fim de 2007 com a cara de Wellington Salgado.

Edição de Veja na Retrospectiva 2007. Cruz, credo!

Se ela dança eu canto...

...A revista Veja em sua edição restrospectiva coloca a governadora Ana Júlia Carepa numa calça mais justa do que a publicada na ilustração da matéria.

Uma pororoca de escândalos


Ed Ferreira/AE

Catorze novos governadores assumiram o cargo em 2007. Muitos ganharam o noticiário nacional ao implementar boas medidas administrativas. A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, foi uma das que mais marcaram presença na imprensa. Mas por outros motivos. Não houve um mês sequer em que ela não figurasse em algum escândalo – de maior ou menor magnitude. Ao tomar posse, ela empregou os irmãos e um primo no governo. Flagrada, teve de demiti-los. Depois, nomeou sua cabeleireira como assessora. Ana Júlia usou um jatinho do estado para ir à formatura do filho em Minas Gerais. Descansou na Semana Santa com os assessores mais chegados na casa de praia do governo e pagou diárias de trabalho para todo mundo. Incansável, beneficiou seu namorado, presidente do aeroclube do Pará, com um contrato de 3,7 milhões de reais para treinamento de pilotos de helicóptero. Gastaria três vezes menos se treinasse todos em São Paulo. Suas estripulias deveriam ficar apenas no folclore que tanto preza – a governadora adora saracotear ao som do carimbó. Mas, em novembro, o país estarrecido tomou conhecimento de que as coisas no seu estado andam piores do que se imaginava. Descobriu-se que uma menina de 15 anos havia sido presa com trinta homens em uma delegacia do interior. Durante 24 dias, ela foi estuprada e torturada. Depois que o caso veio à tona, soube-se que, no Pará, tão comum quanto o carimbó é prender menores e trancafiar mulheres junto com homens. Enquanto Ana Júlia requebra, os paraenses dançam em mais de um sentido.

A vida pessoal de alguém é uma coisa. A de pessoas públicas outra coisa! Essas, devem ter mais discrição nos atos, postura e vestimenta. Nossa governadora precisa ficar mais esperta.

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