O Brasil e seus novos "brinquedinhos"
O leitor Vitor Bonavita não concorda com as críticas à compra dos caças Rafale e do usadíssimo porta-aviões São Paulo, ambos da França. Em sua opinião, os Rafale são superiores aos Grippen suecos e podem ser mais eficientes que os F-18, dependendo do armamento que vier com os supersônicos americanos; e lembra que foi preciso comprar um porta-aviões usado porque construir um novo pode levar dez anos, e até lá a Marinha ficaria sem aviação embarcada.
Outro argumento do leitor é que os Rafale vêm no bojo de um amplo acordo
armamentista com a França, que inclui submarinos e corvetas. OK; só que a Aeronáutica brasileira colocou o Rafale em terceiro lugar numa lista de três. Nenhuma outra Força Aérea do mundo, até hoje, apostou nos caças franceses. E até os submarinos Skorpene (o Brasil comprou quatro, mais o casco de um quinto, a ser equipado com motor nuclear) estão em debate: a Malásia, que já os recebeu, não consegue fazê-los cumprir a tarefa básica de um submarino, submergir.
Mas o contrato foi bem feito: os franceses vincularam o negócio à contratação da empreiteira Odebrecht, sem concorrência, para montar o estaleiro.
Por Carlos Brickman.
Carnaval em Pirenópolis
Aproveitamos o feriado e ficamos por lá, hospedados na excelente Pousada Gold, próximo ao aeroporto.
Confira as fotos.
Fotos de Val-André/Lúcia Helena/Eduardo Sobreira/Tuca Ivaniscka
Ladeiras históricas da cidade, tomadas por turistas.
No casario do Centro Histórico há dezenas de lojas com o melhor do artesanato da região.
Figuras em barro pintadas a mão, é a atração do artesanato local.
Os antigos casarões estão impecavelmente conservados e todos foram restaurados. A Unesco tombou o lugar como Patrimônio Histórico da Humanidade.
A Igreja Matriz, que aparece ao fundo, foi completamente destruída por um incêndio e um pool de grandes empresas patrocinaram a sua completa restauração.
Fomos almoçar, ontem, numa fazenda de amigos próximo a cidade. Delícia!
Lá embaixo, no Vale, a cidade de Pirenópolis, em foto tirada do alto do Parque Nacional dos Perineus.
Arruda é suspeito de espionar MP
O Globo
Como governador, ele teria usado policiais civis de Brasília para a arapongagem
Depois da denúncia por obstrução da Justiça e corrupção de testemunha, o Ministério Público prepara uma nova acusação que pode complicar ainda mais a situação do governador afastado do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Documento em poder de investigadores da Operação Caixa de Pandora contém indícios de que setores da inteligência da Polícia Civil foram usados para espionar o Ministério Público do Distrito Federal, base de onde partiram as primeiras investigações sobre o suposto pagamento de propina a Arruda, ao governador em exercício, Paulo Octávio, e a parlamentares da base governista.
O documento, apreendido entre os pertences do governador afastado, é um relatório sobre cinco importantes investigações preliminares que promotores do Distrito Federal estavam fazendo em sigilo sobre fraudes em diversos setores do governo Arruda. Para um dos investigadores, não há dúvidas de que o governo local estava informado sobre cada passo dos promotores.
Sem o elemento surpresa, as investigações dificilmente produziriam os resultados esperados.
— Pelo menos cinco investigações foram “vendidas”, vazadas — disse um dos investigadores do caso.
No relatório, o autor informa que os promotores estão investigando uma licitação direcionada para beneficiar uma empresa ligada ao ex-secretário de Comunicação Weligton Moraes. A suspeita é a de que os preços estariam superfaturados 20% em relação aos valores de mercado.
Servidores foram grampeados
Numa outra frente, Weligton é citado como beneficiário de supostas remessas do exterior. O texto diz que o exsecretário é suspeito de estar arrecadando recursos para a campanha do ex-governador Joaquim Roriz, principal adversário político de Arruda.
O relatório, numa página sem carimbo e sem assinatura, revela que servidores do alto escalão da Secretaria de Desenvolvimento Social estão sendo alvos de escutas telefônicas. As escutas captaram conversas de algumas autoridades e até do governador.
“Mas nada de comprometedor”, avisa o espião. Nesse caso, o único dissabor para Arruda era que um grupo de servidores da secretaria estaria trabalhando para ajudar na volta de Roriz ao Palácio do Buriti. O Ministério Público não diz se as denúncias citadas no relatório foram confirmadas.
Os promotores não costumam fazer comentários sobre apurações em andamento.
Mas, para eles, não há dúvida de que as investigações, aparentemente sigilosas, foram devassadas em prejuízo do trabalho do Ministério Público. O documento está sendo reexaminado e deverá reforçar a lista de acusações que, para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, indica a disseminação da corrupção no Executivo local e justificaria a intervenção federal no Distrito Federal.
A Polícia Federal e o Ministério Público estão analisando os documentos apreendidos quinta-feira em Águas Claras, residência oficial do governador; no Buritinga, sede oficial do governo, e na casa de Arruda, no bairro Park Way. Policiais fizeram as buscas logo após a prisão de Arruda, decretada pelo Superior Tribunal de Justiça.
Arruda e cinco colaboradores, entre eles Weligton, estão presos.
Depois de visitar Arruda ontem, o secretário de Segurança Pública do DF, Valmir Lemos, disse não ter conhecimento da acusação: — A Polícia Civil tem vinculação formal com a Secretaria de Segurança, mas tem autonomia. Tudo que tiver de ser apurado, tem que ser apurado com tranquilidade.
Na sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello rejeitou o pedido de habeas corpus para Arruda. O mérito só deve ser julgado pelo STF após o carnaval.
ONGs vão tentar deter Belo Monte na Justiça
Grupos buscam saída após derrota com decisão do Ibama de liberar obra
Vinte anos depois de iniciarem os protestos contra a construção da Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu (PA), movimentos sociais e de defesa do meio ambiente se organizam, individualmente, para entrar pela primeira vez na Justiça, como última tentativa de barrar as obras da terceira maior usina do mundo. Enfraquecidos depois que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu, há duas semanas, a primeira de três licenças ambientais, eles tentam se reestruturar.
"Nossa esperança é tentar barrar o projeto no campo jurídico", disse a diretora do Movimento Xingu Vivo, Antônia Miranda. As ONGs pretendem entrar na Justiça com ações individuais, questionando principalmente um parecer técnico do Ibama, de novembro de 2009, em que os técnicos relatam que "algumas questões não puderam ser analisadas na profundidade apropriada".
A equipe diz que o laudo "não pode ser concluído a contento" por causa do prazo estipulado pela Presidência da República. O documento apontava também falhas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA). Naquela ocasião, segundo os próprios técnicos do Ibama, a análise não garantia a manutenção da biodiversidade, da navegabilidade e das condições de vida da população que vive na região.
Belo Monte será construída em três locais diferentes e vai atingir cinco municípios: Brasil Novo, Altamira, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio e Anapu. No total, a barragem vai alagar 516 quilômetros quadrados, bem abaixo dos 1.200 km² previstos no projeto original da década de 80. Para atenuar os impactos ambientais, o Ibama determinou que os investidores atendam a 40 condicionantes, no valor de R$ 1,5 bilhão. "Essas medidas não deixam claro o impacto da explosão populacional que vai haver aqui", diz Antônia. "Não temos essa infraestrutura e nem vamos ter." Os movimentos estimam um aumento populacional de 100 mil pessoas na região.
Pesquisadora do Instituto Sócio Ambiental, Renata Pinheiro questiona ainda o custo social e ambiental de uma usina cuja geração de energia pode cair a zero nos períodos do ano em que a vazão do Rio Xingu diminui bastante por causa da seca. A potência nominal da hidrelétrica será de 11.233 MW, mas a média ficará em 4,5 mil MW por conta do período de estiagem. "Se for como está previsto no projeto, vão produzir energia apenas três vezes no ano."
Isso traz outra insegurança aos moradores e ambientalistas: a de que o projeto seja alterado para valer a pena. Em 1979, quando a usina foi projetada, estavam previstas cinco barragens. O projeto atual prevê apenas uma. "Mas não temos garantia jurídica de que essa quantidade de barragens será mantida", diz Renata.
Além das ONGs, o Ministério Público Federal também deve tentar embargar a obra. Desde 2001, os procuradores já impetraram oito ações contra Belo Monte. A última delas, do ano passado, chegou a render uma liminar que durou exatos 20 minutos até ser cassada. Além de ser a ação mais recente, é também a única que teria o poder de anular a licença prévia concedida no início do mês. "Questionamos, por exemplo, a realização das audiências públicas, que obrigavam os ribeirinhos a se deslocarem mais de 200 km até o local", disse o procurador Ubiratan Cazetta. "Um erro como esse pode anular a licença."
As diversas tentativas do MPF de barrar a obra da usina culminaram com uma ameaça da Advocacia-Geral da União (AGU) de processar por improbidade administrativa os procuradores responsáveis por essas ações. Cazetta garante que isso não vai impedir o ministério de tentar derrubar a licença.
Cronologia
1975: começam os estudos de viabilidade da construção de barragens no Rio Xingu
1980: são previstas sete barragens que gerariam 19 mil MW. Seria necessário alagar 18 mil km²
1989: primeiro protesto contra o complexo, no encontro dos Povos Indígenas do Xingu
1990: Banco Mundial nega financiamento para a obra e o projeto é arquivado
1994: projeto é reformulado com a redução do reservatório de 1.225 km² para 400 km²
2004: o empreendimento passa a integrar o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC)
Há duas semanas: a primeira licença ambiental é concedida pelo Ibama
Fonte: Estadão.
'Espero que seja um marco na luta contra corrupção'
Estadão
Há 11 dias no cargo, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, acredita que a prisão do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, pode desencadear no País uma "cruzada" contra a corrupção. E isso, diz ele, depende basicamente da atuação do Judiciário e da pressão da sociedade.
"Espero que seja um marco na luta contra a corrupção no Brasil. Precisávamos de uma atitude firme e corajosa do Superior Tribunal de Justiça, como precisamos de outros tribunais, porque o Judiciário, neste momento, é o grande aliado da sociedade brasileira", afirmou.
Ophir se alia ao Ministério Público Federal quanto à necessidade de decretação de intervenção federal no DF, para solucionar o que chama de "caos" dos Poderes Executivo e Legislativo. "O que se quer, na verdade, é dar segurança à sociedade e fazer com que as instituições funcionem", defendeu.
Mesmo temendo que o caso Arruda ainda acabe se transformando em mais um exemplo de impunidade, ele diz que os fatos são tão fortes e importantes que podem se transformar em "uma reviravolta no resgate da cidadania do País".
Ophir ainda cobrou o ressarcimento dos cofres públicos. "O Estado tem de ser competente na cobrança do dinheiro público desviado. E há de haver, sim, uma sanção penal para que essas pessoas sintam que a lei é igual para todos. Há de haver a penalidade em relação aos direitos políticos que hoje é limitada", completou.
Escândalo embaralhou cenário eleitoral
Estadão
Disputa entre Arruda e Roriz abriu brecha para novos e velhos atores
O caso de corrupção mais documentado da história política do País zerou o jogo sucessório na capital federal. Antes polarizada entre o DEM do governador José Roberto Arruda, favorito para a reeleição, e o antecessor Joaquim Roriz (PSC), a disputa pelo governo do Distrito Federal ganhou dimensão com a crise que deu fôlego a novos e velhos personagens da política local. Além do confronto aberto no PT, pela vaga de governador, também ameaçam entrar na briga o PTB do senador Gim Argello, o PMDB do deputado Tadeu Filippelli e o PDT do senador Cristovam Buarque e do deputado distrital José Antônio Reguffe.
Até setores do PSB, que já fechou aliança com o PT, independentemente de o escolhido ser Agnelo Queiroz ou Geraldo Magela, movimentam-se sonhando com a possibilidade de o presidente da regional do DF e líder do partido na Câmara, Rodrigo Rollemberg, disputar o governo local. Isso sem falar no DEM, que amargou a aposentadoria precoce de Arruda e do vice em exercício Paulo Octávio, e agora cogita lançar outro nome, como o secretário de Transportes Alberto Fraga.
SENADO
Em qualquer cenário, a disputa pelo Senado também ficará mais acirrada. Antes da crise, Cristovam e o PT haviam acertado um pré-acordo com Magela para fechar as duas vagas ao Senado, ambos na chapa de Agnelo para o governo.
Agora, no entanto, o PSB lançou Rollemberg para senador. Já são três candidatos do mesmo grupo a apenas duas vagas, o que anima pedetistas a insistirem na candidatura Cristovam para governador.
O senador prefere a reeleição. Por isso, aproveita-se da parceria nacional do PDT com o PT da ministra da Casa Civil e candidata a presidente, Dilma Rousseff, para enfrentar as pressões dos que o querem de volta ao governo. Argumenta, com o mesmo discurso da direção partidária, em favor da repetição da aliança entre os dois partidos no plano local.
No cenário pós-crise, porém, ficou mais difícil resistir aos apelos dos correligionários e do eleitorado, que o colocam nas pesquisas de intenção de voto como o mais forte candidato para enfrentar Roriz.
Além disso, Cristovam veste o figurino do candidato de conduta moral impecável para resgatar a autoestima do eleitor candango e tirar Brasília do noticiário policial.
Mesmo assim, ainda a candidatura pode sobrar para o jovem deputado Reguffe. Pupilo de Cristovam na Universidade de Brasília (UnB) e na política local, ele se elegeu com o discurso da ética, tem identidade com Brasília e, a despeito de o PDT integrar o bloco de apoio ao governo, sempre manteve postura independente e crítica em relação a Arruda.
Entenda como foi o mensalão do DEM
Deflagração
PF deflagra a operação Caixa de Pandora. Escutas flagram o governador do DF, José Roberto Arruda, orientando seu secretário, Durval Barbosa, sobre a distribuição de propina a parlamentares e integrantes do governo
28/11
Panetones
Vídeo de 2006 mostra Arruda recebendo R$ 50 mil de Barbosa. Aliados dizem que o dinheiro era para a compra de panetones
29/11
Dinheiro na meia
Gravação mostra o presidente da Câmara, Leonardo Prudente, guardando dinheiro na meia
30/11
Oração da propina
Em vídeo divulgado, o deputado Rubens Brunelli (PSC), Barbosa e Prudente oram depois de receber dinheiro
1º/12
Dinheiro na cueca
Em novo vídeo divulgado, empresário Alcyr Collaço põe dinheiro na cueca
3/12
Crise atinge PMDB
Collaço fala a Barbosa, em conversa gravada em vídeo, sobre propina a membros do PMDB, incluindo o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP)
4/12
Caixa 2
Estado revela suposta planilha de caixa 2 da campanha de Arruda. Câmara do DF aceita dois pedidos de impeachment contra Arruda
6/12
Fortuna
Estado revela que o patrimônio de Arruda cresceu mais de 1.000% em sete anos
11/12
Sem partido
Arruda se antecipa a possível expulsão do partido e resolve se desfiliar do DEM. Sem legenda, não poderá se candidatar nas eleições deste ano
24/12
Sem partido 2
O presidente da Câmara Legislativa do DF também decide se desfiliar do DEM
11/1/2010
Câmara Distrital
Câmara retorna do recesso e Prudente reassume a presidência
12/1/2010
CPI
CPI da Corrupção é formada e o governador Arruda consegue garantir maioria de aliados nas três comissões formadas para investigar o ""mensalão do DEM"" e analisar os pedidos de impeachment contra ele
13/1/2010
Quebra de sigilo
STJ autoriza quebra de sigilo de Arruda e outros 7 envolvidos no esquema
19/1/2010
Câmara Distrital
Justiça afasta Leonardo Prudente da presidência da Câmara Legislativa do DF. Deputado recorre ao STF para tentar retomar o cargo
21/1/2010
Impeachment
Juiz determina que envolvidos no esquema não poderão votar os pedidos de impeachment contra o governador
26/1/2010
Renúncia de Prudente
Prudente renuncia à Presidência da Câmara Legislativa do DF para tentar atrasar CPI da Corrupção
3/2/2010
Novo presidente
Câmara elege o deputado Wilson Lima, da base aliada de Arruda, para assumir a presidência da Casa
11/2/2010
Pedido de prisão
Os ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concordam com a decisão do ministro Fernando Gonçalves de mandar prender preventivamente Arruda, por tentativa de coação de testemunhas e obstrução da Justiça. STJ decreta prisão de outros cinco envolvidos no caso. Arruda se entrega à PF
Anteontem
Prisão
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, nega pedido dos advogados de Arruda para conceder habeas corpus ao governador, que permanece preso. Os outros acusados se entregam e também são presos.
Após DEM, gravações assombram também PT
Estadão
Visita de pré-candidato a pivô do caso Arruda deixou sigla em alerta
Vão muito além da prisão do governador afastado de Brasília, José Roberto Arruda, as implicações do caso do "mensalão do DEM" do Distrito Federal. Com o DEM do DF dizimado, Arruda atrás das grades e seu principal adversário, Joaquim Roriz (PSC), ameaçado pela proximidade do autor das denúncias e ex-colaborador Durval Barbosa, a lógica política apontava o PT como beneficiário imediato da crise. Seria simples assim, não fosse um passo em falso do candidato petista e ex-ministro dos Esportes Agnelo Queiroz.
Os aliados do PT entraram em polvorosa desde que tomaram conhecimento de uma visita de Agnelo a Barbosa. O algoz de Arruda convidou o petista para um encontro reservado em que exibiu, em primeira mão, as fitas que foram entregues à Polícia Federal e a emissoras de TV, fazendo eclodir o escândalo. A partir daí, começaram os rumores de que Agnelo também teria sido gravado e instalou-se um clima de insegurança sobre sua candidatura.
Até no PT, em que a indicação de Agnelo era dada como certa, reabriu-se a discussão sobre novos nomes para a disputa pelo Palácio do Buriti. Diante da possibilidade concreta de vitória, que parecia remota antes do escândalo, o PT já rachou. Agora, o deputado Geraldo Magela (DF) também é candidato.
Agnelo tem procurado vários aliados para sustentar que está tranquilo e nada tem a temer. Revelou a interlocutores que o encontro no gabinete de Barbosa foi "frio" - não falou nada que possa ser comprometedor. Disse que não foi o único a ter primazia na exibição das cenas de corrupção, também levadas ao conhecimento de outras pessoas, inclusive membros do Ministério Público. Quem o ouviu diz que ele foi "firme e convincente" e estaria disposto a enfrentar a candidatura.
Hoje, petistas e aliados têm a certeza de que ele foi gravado e temem que fique sujeito a questionamentos de natureza jurídica. O maior temor é de que o episódio seja explorado pelo adversário Joaquim Roriz (PSC), levantando dúvidas sobre sua conduta no eleitorado. A preocupação é tamanha que foi objeto de uma pesquisa que já rodou pelas mãos de petistas e aliados. O levantamento mostra que 70% dos consultados "deixariam de votar ou poderiam deixar de votar" em um candidato, se soubessem que ele tinha se encontrado com Barbosa.
Nesse novo cenário, Magela e seus aliados do PT avaliam que o melhor perfil para enfrentar Roriz é o dele. Afinal, os dois já se enfrentaram oito anos atrás, quando Roriz venceu por uma diferença de apenas 1% dos votos.
ENTREVISTA - ''Podíamos ter expulsado no primeiro minuto''
Estadão
Demóstenes Torres: senador (DEM-GO) - Parlamentar abre guerra contra direção do DEM, defende ampla punição no partido e apoia, também, intervenção no DF
Inconformado com a vinculação do DEM ao escândalo de corrupção no governo do Distrito Federal, primeiro com o governador José Roberto Arruda e agora com o vice em exercício, Paulo Octávio, o senador Demóstenes Torres (GO) abriu guerra contra a direção nacional do partido, comandada pelo deputado Rodrigo Maia (RJ). "Enquanto o DEM se desgasta, ele faz ouvidos de mercador e só cuida do futuro, da aliança com o PSDB de José Serra para presidente", reclama Demóstenes.
Em entrevista ao Estado, ele adiantou que, como membro da Executiva Nacional da legenda, apresentará pedido de expulsão de Paulo Octávio na quinta-feira, caso o vice não tome a iniciativa de se desligar do partido até lá. "Espero sinceramente que o partido aja. Não há mais o que esperar."
A cautela do DEM em aguardar medidas judiciais para tomar decisões é equivocada?
Totalmente equivocada. Podíamos ter expulsado o Arruda no primeiro minuto, demos uma semana e foi só piorando. A exigência de todos os filiados saírem dos cargos também deveria ter sido feita há muito tempo. O partido está sempre atrasado, correndo atrás do prejuízo. Isso é inconcebível.
Mas o DEM não agiu assim para preservar o governo nas mãos do partido, com o vice Paulo Octávio?
É outro equivoco extraordinário. Não há nenhuma possibilidade de qualquer personagem envolvido nesse caso se sair bem e qualquer proximidade do partido com eles vai reforçar essa história de "mensalão do DEM". Precisamos virar essa página.
Como é possível virar a página se o governador em exercício é vice-presidente nacional do DEM e preside o diretório do DF?
A única pessoa que pode tomar qualquer providência ad referendum da Executiva é o presidente do partido, nenhuma outra. Aliás, foi essa sugestão que fiz a ele na terça-feira. Ele disse que ia analisar com outros membros da Executiva e acabou viajando sem dar resposta. E o partido vai cada vez mais chafurdando nessa lama.
Para virar a página, deve haver intervenção federal no Distrito Federal?
É o que venho defendendo, e as pessoas pedindo calma, alegando que partido vai tomar providências. Já esgotei a capacidade de aguentar calado e a paciência se esvaiu. Já combinei com o (Ronaldo) Caiado e vamos pedir todas as providências à Executiva até a semana que vem.
O prazo é quinta-feira?
Vou à reunião e vou apresentar pedido de intervenção no diretório do DF e o desligamento dos membros do DEM que estão no governo. Ou saem do governo, ou do partido.
ENTREVISTA - ''Situação pode acontecer em qualquer partido''
Estadão
Rodrigo Maia: presidente nacional do DEM - Maia admite desgaste, mas pretende destacar diferença em relação ao caso do mensalão: "PT não puniu ninguém"
O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), reconhece que o partido continuará sofrendo desgaste por causa do escândalo envolvendo José Roberto Arruda. Amigo pessoal do governador, ele nega que a legenda tenha hesitado sobre a decisão de expulsá-lo ou não - Arruda acabou se desfiliando. "É injusto e um equívoco completo achar que é um prazo longo levar apenas oito dias para expulsar o único governador do partido", afirma.
Qual é o impacto político da prisão do governador José Roberto Arruda sobre o DEM?
Sem dúvida, existe um processo desgastante, porque ele era o único governador do partido. E, mesmo depois de ele deixar o Democratas, continua na mídia a caracterização da participação do partido no caso, que continua sendo chamado de "mensalão do DEM".
Como o partido planeja amenizar esse impacto na campanha?
Cabe aos integrantes do partido mostrar em seus Estados que o DEM tomou as providências necessárias para investigar e punir os responsáveis, assim que ficou sabendo. Situações como essa podem acontecer em qualquer partido. Mas nenhum partido teve esse mesmo procedimento. O PT teve vários de seus dirigentes investigados por conta do pagamento de mensalão e não puniu ninguém. Pior, já tem gente voltando a ser dirigente. É essa diferença que precisamos mostrar.
O sr. acha que o DEM demorou a agir até se decidir pela expulsão de Arruda? O sr. e outros dirigentes do DEM são amigos do governador. Isso pesou?
Minha relação pessoal com Arruda não tem nada que ver com esse caso. O DEM tomou uma decisão rápida e corajosa ao caminhar para expulsar seu único governador, que acabou se antecipando e se desfiliou porque sabia que seria afastado. É injusto e um equívoco completo achar que é um prazo longo levar apenas oito dias para expulsar o único governador do partido.
O vice-governador Paulo Octávio, também citado no escândalo, permanece na legenda sem problemas. Ele será poupado?
Ninguém do partido apresentou qualquer pedido de investigação contra ele.
Mas a direção do partido precisa dessa provocação?
Estamos analisando o caso do vice-governador, mas me parece ser completamente diferente da situação de Arruda. O DEM agiu de forma correta e está punindo todos os filiados que consideramos envolvidos no caso. Deve acontecer o mesmo com o suplente de deputado distrital Geraldo Naves. O pedido de expulsão será analisado na próxima reunião e a tendência é que seja aceito.
Todos querem distância de Arruda e P.O.
Até DEM apoia intervenção no DF e vice de Arruda já admite renunciar
Estadão
"Nada está descartado" diz Paulo Octávio, diante dos problemas de governabilidade e da ameaça de impeachment
A intervenção no Distrito Federal pedida pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, tem apoio até de dirigentes do DEM, partido ao qual recentemente era filiado o governador José Roberto Arruda (sem partido), preso na quinta-feira acusado de tentar subornar testemunha no inquérito Caixa de Pandora. A medida, defendida pelo grupo do senador Demóstenes Torres (GO) e do deputado Ronaldo Caiado (GO), pode livrar o DEM do constrangimento de ver outro integrante, agora o governador em exercício, Paulo Octávio, ser removido do poder. O próprio Paulo Octávio admitiu ontem que, diante dos problemas de governabilidade, pode renunciar ao cargo.
"Não está descartada (a hipótese de renúncia). Nada está descartado", afirmou o governador em exercício, depois de visita às obras da Linha Verde - reforma de um complexo viário de 13 quilômetros que liga Brasília a Taguatinga e outras cidades satélites. Nos próximos dias ele faz uma reunião com 12 partidos, inclusive os da oposição, para definir politicamente os próximos passos do governo do DF. "Estou colocando toda a minha carreira política em jogo", afirmou.
Apesar de ter renunciado à presidência do DEM-DF, Paulo Octávio é do partido e está ligado à fundação da legenda na capital do País. Em menos de 24 horas no cargo - assumiu na quinta-feira à noite, quando Arruda se entregou à Polícia Federal -, tornou-se alvo de quatro pedidos de impeachment, um deles assinado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já deixou claro que, se a Justiça determinar, ele cumprirá a intervenção.
"Não pode haver um processo de impeachment de quem nem assumiu o governo", reclamou Paulo Octavio ontem. "Se eu cometer algum deslize, no meu governo, aí sim, é possível. Daqui a 15 dias, um mês." Os pedidos, na avaliação dele, foram feitos "com muita pressa".
DESGASTE
O próprio DEM, contudo, está com pressa. "Não há nenhuma possibilidade de qualquer personagem envolvido nesse caso se sair bem e qualquer proximidade do partido com eles vai reforçar essa história de "mensalão do DEM"", afirmou Demóstenes, defensor da intervenção, que abriu guerra (ver abaixo) com o presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), amigo de Arruda. "Vamos pedir todas as providências à Executiva até a semana que vem."
Em nota oficial, a Executiva Nacional do DEM estabeleceu prazo até o primeiro dia útil depois do feriado de carnaval para que os seus filiados deixem os cargos no governo de Brasília, "independentemente de quem esteja respondendo pela chefia do Poder Executivo local".
Antes, porém, Maia telefonou para Paulo Octávio e não deixou dúvida de que o prazo se aplica a ele. Portanto, se quiser continuar no comando de Brasília, terá de deixar o partido.
Como a própria nota destacou, "a eventual inobservância da determinação sujeitará o filiado às sanções disciplinares previstas no estatuto do partido". Leia-se: expulsão.
A ligação de Maia e a nota da Executiva tentaram pôr fim ao racha interno que se criou a partir do escândalo no DEM, que chegou ao ápice com a prisão de Arruda. O grupo de Demóstenes e Caiado não se conforma com a "cautela excessiva e a lentidão do partido" na condução do caso. A própria expressão "mensalão do DEM", avaliam eles, continua causando estrago em escala nacional ao partido.
"BOMBEIRO"
No papel de bombeiro da crise interna, o líder no Senado, José Agripino (RN), foi um dos que argumentaram que alguma medida precisava ser tomada. "Não vou defender o indefensável em circunstância alguma, mas não podemos deixar que a crise de Brasília prejudique a unidade nacional", disse.
A crise também acendeu cobranças da sociedade e de diversas entidades.
"Não podemos dizer que houve um golpe na impunidade. A prisão do governador Arruda é uma decisão cautelar", afirmou Luís Fernando Vidal, da Associação dos Juízes pela Democracia. "Mas sinaliza que o Judiciário não tolera o abuso e a interferência do poder político nas investigações e, nesse sentido, é uma decisão importante."
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