Artigo – Uma aventura na fronteira da Amazônia brasileira

Cadê os caras-pintadas, que não são índios?


Essa celeuma sobre os índios me fez lembrar anos passados, final de 1965. Eu servia no Recife, tenente do glorioso Exército Brasileiro, em plena "Revolução".

Naquela época na escala de valores dos puxa - sacos de plantão nos quartéis, um tenente valia mais que seis deputados e dois senadores. Viviam me convidando para festas em belas casas e apartamentos da doce burguesia pernambucana. Às vezes eu era centro de atração, queriam saber historias de presos políticos que há pouco tempo governavam o Estado e Capital.

Eu estudava à noite Engenharia, mas sobrava tempo para namoros e incursões nas boates, na boemia do Recife. Era uma vida gostosa para um jovem de 25 anos.

Certo dia foi publicada no Noticiário do Exército minha transferência para a fronteira da Amazônia, ainda hoje não sei se por castigo. Solteiro, não tive pressa, o jeito era relaxar e gozar, como diria a perua-mor da República, Marta Suplicy.

Preferi viajar de navio. Peguei um Ita no Recife, paquete Princesa Isabel, naveguei até os mares do Pará em um camarote confortável, confortado pelas belas camareiras. Passei mais de uma semana em Belém, terra das mangueiras, da chuva diária depois das cinco da tarde e das morenas fogosas, esperando um navio.


Até que um dia embarquei. Atravessei o esplendoroso Rio Amazonas no navio Lobo Dalmada. Na parte de baixo um amontoado de gente, famílias inteiras, aventureiros, armavam suas redes, faziam suas necessidades em um apertado banheiro ou quando o navio aportava em um pequeno povoado, alguns corriam para meio do mato outros mergulhavam no rio. Na parte de cima havia certo conforto, 12 camarotes bem equipados, com mosquiteiros. Viagem inesquecível, aportamos em várias cidades e povoados, Óbidos, Santarém, Parintins.


Afinal depois de alguns dias de viagem deslumbrante avistamos Manaus. Fui designado para comandar a 9ª Companhia de Fronteiras de Roraima com sede na pequena Boa Vista. Tive ótima impressão com o trabalho na fronteira, mais da metade dos soldados eram índios ou descendentes. No linguajar diário falavam normalmente o "macuxi" a língua dos índios na região. Chamavam menino de curumim, menina de cunhatã.


Nos primeiros dias solicitei ao governador, Coronel Rocha da Aeronáutica, irmão do ator, diretor de teatro Aurimar Rocha, um avião para vistoriar toda fronteira da Guiana Inglesa e da Venezuela. Passei três dias com o piloto pousando até em campo de futebol. Impressionei- me com a imensidão e riquezas da região de Roraima. Em Tepe-kén havia uma estrutura montada de garimpeiros. Daqueles riachos saíram fortunas em diamantes.


Foram dois anos de Roraima, vivi em Boa Vista com incursões na selva entre índios. Consegui terminar o dificílimo curso de Guerra na Selva em Manaus, hoje considerado o mais perfeito curso de guerrilha do mundo. Senti o respeito dos países vizinhos pelos brasileiros. Eu me orgulhava do país, de meu trabalho de vigilante das fronteiras, convivendo com aqueles soldados índios de olhos amendoados, retratos do Brasil.


Certa vez recebi uma informação. Uma missão de padres americanos que dava assistência religiosa e médica a um lazarento, não permitia brasileiros entrar em sua sede, na casa onde dormiam, onde viviam. Numa manhã peguei um jipe com mais três sargentos, bem armados, fui conhecer a missão, era distante, estrada carroçável.

Ao chegar, os padres americanos me receberam apreensivos. Sem mandato, sem autorização disse que ia verificar denúncia de contrabando, entrei na casa olhando de um lado e do outro. Tive receio em levar alguns papéis, não tinha mandato de busca, poderia ser criado um caso internacional. Constatei uma possante estação de rádio, os caridosos missionários americanos falavam diretamente com os USA e o mundo. E outros aparelhos, deviam ser detectores para pesquisar presença de minério. Fiz essa investigação por conta própria, o Comando da Amazônia soube do fato por mim confidencialmente.

Contei essa história para fazer entender o que está acontecendo por trás da questão indígena em Roraima. Naquelas terras existem muitos minerais, a maior mina de urânio do mundo. Nossos amigos americanos sempre de olho, cobiçando a riqueza alheia. Cuidado Lula para não entregar o ouro ao bandido em nome do direito das "nações indígenas". Nós já somos essas nações indígenas.

CARLITO LIMA ESCREVE NA GAZETA DE ALAGOAS TODOS OS DOMINGOS. www.gazetaweb. com

fonte: www.carlitolima. com.br - REVISTA ESPIA Nº 147, EM 02/05/2008

DIVULGAÇÃO DO MATERIAL POR LAGO NETO, EM 02/05/2008

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