Artigo
Marcos Coimbra - A saúde de Dilma
Todos desejamos que ela possa ser julgada pelos eleitores, em 2010, pelo que é e pelo que tem a propor ao país
O fato político mais importante da semana não foi político. Mas foi cheio de consequências políticas.
Quando tomou a decisão de falar claramente a respeito de seus problemas de saúde, Dilma não tinha escolha, pelo que se sabe do que aconteceu nos dias que antecederam o anúncio. A imprensa de São Paulo estava prestes a noticiar sua internação e cirurgia. Elas seriam tornadas públicas a qualquer momento.
Como ela só convocou a coletiva na última hora, o que se deduz é que, para ela e seus conselheiros, a opção preferida era nada dizer. Se tivessem conseguido manter em sigilo o que estava acontecendo, era isso que teriam feito.
Não há nada de estranho nisso. Pessoas conhecidas costumam preferir que, de sua vida privada, o distinto público só conheça aquilo que as engrandece. Toda celebridade é assim.
Políticos são especialmente avessos à divulgação de detalhes sobre seu estado de saúde, em particular os que ocupam funções executivas. Em qualquer lugar, os cidadãos ficam inquietos quando sabem que o chefe de governo não governa na plenitude, por um impedimento ou uma limitação dessa natureza. Suas doenças só são reveladas quando já foram superadas ou quando não interferem com suas atividades.
Assim, Dilma e o presidente, junto com os assessores que consultaram, escolheram a linha de ação mais comum nessas situações: manter a doença em segredo, rezar para que ninguém a descubra e só admitir que existe se for inevitável. Se dependesse deles, ninguém conheceria o diagnóstico, a cirurgia ou o tratamento a que a ministra se submeterá.
O oposto não faria mesmo nenhum sentido, pois está para nascer o político que acha bom que todos saibam de seus problemas. Que toma a iniciativa de chamar a imprensa para comunicar que tem uma doença grave.
Desde quando Dilma deu as declarações, o que mais vimos, nos meios políticos e na imprensa, foram especulações sobre suas consequências. O tom geral foi de que a doença poderia ter um “lado bom”, tese que empolgou alguns governistas e encheu de cautelas a oposição. Nela, houve até quem desconfiasse de um maquiavelismo tão sinuoso que, quem sabe, não fosse a própria doença um ardil, uma armação para turbinar a candidatura da ministra.
Tentar tornar positivo o negativo é uma das coisas mais naturais na política. Nada há, portanto, de inusitado em que o governo procure “fazer do limão uma limonada”. Perante o choque de saber que sua candidata enfrenta um sério problema de saúde, o estado-maior governista reagiu insinuando que, ao contrário de ser prejudicial, a doença poderia não ser de todo negativa.
A verdade é que, se a versão oficial sobre ela estiver certa (detecção precoce, cirurgia bem-sucedida e tratamento que não obriga à mudança da rotina de trabalho), a doença de Dilma será coisa do passado quando chegarmos à eleição. Ela não será nem boa, nem má. Pouca gente sequer vai se lembrar dela.
E ninguém vai correr o risco de fazer com que ela volte à memória do eleitor. Quem, nas oposições, quiser explorar a fraqueza de uma “candidata doente”, ou quem, no governo, quiser enaltecer a “coragem e a humanidade” de quem a enfrentou, será rejeitado pela imensa maioria das pessoas.
Ninguém vai deixar de votar em Dilma por ela ter tido, um dia, um problema de saúde, por mais grave que seja. E também ninguém vai votar nela por tê-lo encarado.
Todos desejamos que ela possa ser julgada pelos eleitores, em 2010, pelo que é e pelo que tem a propor ao país. Quem achar que pode torná-la uma “coitadinha”, seja para o lado negativo, seja para o positivo, será punido pelo eleitorado.