Novas do meu amigo Sidnei Liberal

1. A revista Veja vai à justiça e questiona ato protegido por seu próprio conceito de liberdade de imprensa. O princípio da pimenta nos olhos dos outros.

2. “Pra que serve o Senado? Pra nada”. Esse é o título do artigo que venho tentando escrever há algum tempo. Cada vez que tento voltar ao assunto, vem à minha mente a figura de Incitatus.

3. Na Venezuela descobriu-se que não existe o chamado 4º poder. Lá a mídia já não é mais poder. O mundo precisa aprender que a mídia é uma concessão de Estado para atender ao principio do direito do cidadão à informação, à cultura, ao entretenimento.

4. A "Teoria Kamel" posta em prática: "testando hipóteses"... Que a Associated Press chama, com propriedade, de lorotas. Velha prática golpista da Globo. Agora contra a Bolívia.

5. O Che, pelos 40 anos da sua morte, foi matéria de capa da última Veja. O que esperar de Veja? Melhor as palavras do poeta Pablo Milanês: “Não porque caístes/ Tua luz é menos alta./ Um cavalo de fogo/ Sustenta a tua escultura guerrilheira...”

1. Veja e FHC: vínculos sorrateiros. A revista Veja, perdeu em primeira instância a ação indenizatória por danos morais movida contra o professor Emir Sader e a Carta Maior. Em março de 2006, referindo-se à resenha do livro “A arte da política: a História que vivi”, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, feita pelo Redator-chefe de Veja, Mário Sabino, o professor Emir Sader fez severas restrições ao livro, que traz calorosa defesa de todo o ideário conservador, com críticas sempre ácidas de qualquer pensamento à esquerda no espectro brasileiro, latino-americano e mundial. O autor da resenha se sentiu ofendido em sua honra.

Na justificativa, seus advogados destacaram a seguinte passagem do artigo como particularmente ofensiva: “Se você quiser saber dos vínculos sorrateiros de Veja com o ex-presidente, que deram – na única resenha na imprensa – capa do seu livro, apresentado por um escriba de plantão (...)”. O artigo, além de usar a palavra “sorrateira”, considerava a resenha “parcial” e “mentirosa”. Também considerada ofensiva a expressão “escriba de plantão”, que o situaria o redator de Veja como um “jornalista menor”. Em sua sentença, o juiz acolheu a tese da defesa, de “improcedência da ação”, não reconhecendo intenção de ofensa no artigo do professor.

Leia íntegra do texto do jornalista Flávio Aguiar(*) para Carta Maior.

2. Um ovo na boca do senador nada filósofo. A Veja poderia investigar uma porção de políticos e ver que muitos deles cometeram os mesmos pecados de Renan. ...(menos o) de ser da base aliada de Lula e presidir uma casa importante como o Senado... Lançou um factódide com o Freud Godoy, não deu em nada. Tentou criar uma crise com o Vavá, não deu em nada, e ainda inventará o Vevé, o Vivi, a Vovó e o Vuvú... Quando os canibais brancos estavam com a faca e o queijo na mão, Renan usou a tática de morrer atirando e disse que abriria o bico contra os seus imaculados colegas. E aí? Aí que melou o voto e deixou a mídia a lamber os garfos.

O blog do Lelê Teles(*) fala, ainda, do dia em que a mídia esteve ao lado de Fidel Castro.

3. “Não se preocupem. Não queremos controlar o mundo. Só queremos um pedaço dele”(Rupert Murdoch, dono do império midiático News Corporation, presente em 133 países). “Sim, eu uso o poder, mas eu sempre faço isso patrioticamente” (Roberto Marinho, ex-proprietário do maior conglomerado midiático do Brasil). A mídia hegemônica vive um paradoxo. Ela nunca foi tão poderosa no mundo e no Brasil, em decorrência dos avanços tecnológicos, do intenso processo de concentração e monopolização nas últimas décadas e da criminosa desregulamentação do mercado que a deixou livre de qualquer controle público.

Atualmente, ela exerce uma brutal ditadura, manipulando informações e deturpando comportamentos. Na crise de hegemonia dos partidos, a mídia hegemônica confirma uma tese do revolucionário Antonio Gramsci e transforma-se num verdadeiro “partido do capital”. Por outro lado, ela nunca esteve tão vulnerável e sofreu tantos questionamentos da sociedade. No mundo todo, cresce a resistência ao enorme poder manipulador da mídia, expresso nas mentiras ditadas pela CNN e Fox para justificar a invasão dos EUA no Iraque, ou na sua ação golpista na Venezuela ou na cobertura imparcial dos processos eleitorais.

Leia inteiro teor do didático artigo de Altamiro Borges publicado no Portal Vermelho(*)

4. Tentativa de golpe também contra a Evo Morales. "O Globo, um dos maiores jornais do Brasil, deu credibilidade à lorota mais assustadora do ano. Citou uma autoridade estadual anônima de Santa Cruz dizendo que uma milícia anti-Morales, de 12 mil homens, estava escondida na floresta, esperando o momento certo. O repórter do jornal nunca viu a milícia e não apareceu nenhuma prova para confirmar a fofoca", escreveu um repórter da Associated Press (AP). A reportagem foi distribuída no mundo inteiro no último domingo (30/09) e reproduzida por veículos conceituados como a MSNBC (aqui).

Leia aqui(*) matéria da redação do Comunique-se que tenta tirar a bronca da Globo.

5. Che, além da imagem, nos 40 anos de sua morte Mas como definir o humanismo de Che diante de alguém que, ao mesmo tempo, defende a “morte impiedosa do opressor”? Essa aparente contradição é feita reiteradas vezes principalmente por políticos ligados à direita que, em geral, vêem sentido em ditaduras alinhadas a sua postura política mas tratam do revolucionário como “terrorista”. Löwy não vê tal contradição já que, para o humanismo revolucionário, a guerra empreendida pelo povo é a única resposta necessária e a única possível dos oprimidos contra os opressores que patrocinam a violência institucionalizada.

“Na atual conjuntura latino-americana, a luta armada só interessa aos fabricantes de armas e à extrema direita. No entanto, como princípio, defendido por Santo Tomás de Aquino e o papa Paulo VI na encíclica Populorum Progresio, ela é legítima, desde que não reste ao povo outro recurso para demover o tirano senão a legítima defesa das armas. Essa é uma interpretação humanista da tradição judaico-cristã, incorporada pelo marxismo”, entende Frei Betto. Um olhar além do mito de Che Guevara, nos 40 anos de sua morte. A violência extrutural, a revolucionária e a reacionária. A capa da edição 55 da revista Fórum e dez páginas discutem o tema.

Leia mais aqui(*). Na edição impressa da revista Fórum, a matéria completa de Glauco Faria.

(*) Clicando em Boletim HSLiberal você terá acesso a todos os links das fontes envolvidas nesta postagem.

BRINDE: BELO DISCURSO DE CHE GUEVARA NA ONU EM 1964. JUSTA HOMENAGEM PELOS 40 ANOS DE SUA MORTE.


* Sidnei Liberal é médico, intelectual, membro atuante do Diretório Nacional do PC do B e casado com a extraordinária fotógrafa paraense e líder política Leila Jinkings.

Deputados que permanecem com a corda no pescoço

APÓS A DECISÃO DO SUPREMO, VEJA ABAIXO OS

DEPUTADOS SUJEITOS A PERDA DO MANDATO

Parlamentar

Quando (*)

Manoel Salviano

(**)

Paulo Rubem Santiago

03/10/2007 (**)

Carlos Souza

27/9/2007

Clodovil Hernandes

25/9/2007

Sérgio Brito

24/09/2007

Davi Alves Silva Júnior

21/9/2007

Dr. Paulo César

12/09/2007

Gervásio Silva

21/8/2007

Geraldo Resende

7/8/2007

Takayama

11/7/2007 (***)

Cleber Verde

5/7/2007

Marcos Antonio

4/7/2007 (***)

Silas Câmara

3/7/2007 (***)

Damião Feliciano

28/6/2007

Jackson Barreto

2/5/2007

Jusmari Oliveira

2/4/2007 (****)

(*) Data em que o parlamentar informou a entrada no partido à Câmara dos Deputados.

(**) Mudança ainda não foi oficializada no site da Câmara dos Deputados.

(***) Data da entrada no último partido.

(****) No caso da Deputada Jusmari, se não fosse pela falta de diligência de sua defesa (presentação do ofício, pelo qual informa a data da desfiliação partidária), ela não teria que fazer sua defesa no TSE.

De toda sorte, não acredito que o TSE irá declarar a vacância do cargo, pois ela tem prova material que o pedido da desfiliação foi feito antes da publicação da decisão da Consulta do PFL (DEM), 27/2/2007.



Em relação aos outros parlamentares, acredito que muitos não conseguirão provar que houve, de fato, perseguição odioso do partido que abandonou e/ou existência de mudança significativa de orientação programática do partido (de oposição para gorverno).

PROCRASTINAÇÃO:

Há informação de que a Câmara dos Deputados está trabalhando num forma de alterar o regimento interno a fim de criar um “outro tribunal”. Este tribunal, seria uma uma nova instância, com propósito de ampliar mais ainda a ampla defesa dos parlamentares, além daquele, TSE.



Sabedores que a justiça é de uma tamanha lentidão, e não é por acaso que o pronome de tratamento dos doutos é: ESSE LENTÍSSIMO JUIZ. Dessa forma, fica mais fácil de burlar as decisões judiciais.

Somos brasileiros e adeptos à lei de Murphy...

A lei dos mais espertos.

Ou,

Lei de Mencken

"Para cada problema na humanidade existe uma solução simples e clara, e esta será sempre a solução errada"

Enquete

Na sua opinião o que é trabalho escravo? É crime ou um êrro de quem tem fazenda? Há outras perguntas na enquete que você pode votar ai ao lado, na coluna da direita. Ficarei honrado com seu voto.

Os paraenses indecisos perdoados

Zequinha Marinho e Lucio Vale podem dormir em paz hoje.

Desde 76

Quando já era gente e primeiro aluno de minha turma. Meu pai, num certo dia, disse-me que eu não tinha o direito de recusar a comer todo o ôvo, dado minha recusa a comer a gema, separada da clara - que era o que queria -, isso ocorreu num dia logo após ele ter voltado da Europa e presenteando-me com um LP Branco (meu primeiro disco), em que se destacava uma família almoçando em harmonia. Era uma disco do Led Zeppelin (Presence).

Comi a tal coisa amarela e hoje como a gema crua, e adoro. Neste dia passei a ser fã de rock.

Não fica um meu irmão!

A rigor da legislação não fica um, meu irmão, sem uma autuação das regras trabalhistas impostas nesse país.

Não fica tú, não se safa o teu vizinho. Não fica nem mesmo o Palácio do Planalto imune!

O país de faz de conta

Trabalho escravo. Desmatamento. Assassinatos no Campo. Fazenda Bamerindus, Serra Pelada, Macaxeira. Curva do "S".
O quê o leitor pode me dizer que mudou na era FHC ou Lulista no Sul do Pará?
Vamos reler uma matéria?
NEWSWEEK INTERNACIONAL
* O seu próprio pedaço de terra
A doação de terras deveria libertar milhões de camponeses. Mas não foi isso
que aconteceu. O que o mundo - e bilhões de sem-terra pobres - pode
aprender com um sonho que virou pesadelo.
Por: Mac Margolis

Edição de 21 de Janeiro/2002
- Grossa como um caminhão na sua base, a árvore da castanha do pará se eleva pelo equivalente a 10 andares até uma copa opulenta, a senhora da selva amazônica. A árvore leva um século para chegar à maturidade; um homem com uma motosserra leva uma hora para cortá-la. "É uma coisa linda", concorda Acelino Cardoso da Silva, um fazendeiro de 57
anos de idade. "Mas eu tenho seis pessoas com fome lá em casa. Se o madeireiro aparecer, eu vendo". Há seis anos, seu Silva juntou-se a camponeses sem-terra e invadiram uma das propriedades improdutivas existentes no Brasil. Após anos de aflição e incontáveis marchas de protesto, ele ganhou o direito de ficar com 26 hectares. Mas fazer a vida nos assentamentos significou lutar contra doenças, implorar por empréstimos e cultivar uma das terras mais ingratas do planeta. A derrubada em massa da castanheira real é apenas um dos custos embutidos. Existem muitos mais.
A história do seu Silva devia ser uma história de sucesso - parte do que o Presidente Fernando Henrique Cardoso chama de uma "verdadeira revolução pacífica da região rural". Num dos programas de reforma agrária mais ambiciosos que existiu, Brasília parcelou 18 milhões de hectares para 542.000 famílias (quase 2 milhões de pessoas). Desde 1995, o Presidente Fernando Henrique assentou mais pessoas em mais terra do que todos os monarcas, populistas e generais nos 500 anos de história do Brasil. A rápida expansão de assentamentos deu um lar para os sem-terra e restaurou um mínimo de justiça e paz a lugares conhecidos por não ter nenhum dos dois.
Mesmo assim, o Presidente Fernando Henrique tinha planos mais grandiosos.
Os camponeses deveriam se tornar fazendeiros familiares modernos. Semeando a zona rural com suas colheitas e sua coragem, eles deveriam ser transformados em "cidadãos socioeconomicamente plenos", trazendo nova vida para a democracia brasileira. O problema é que eles não se tornaram nada
disso. Milhares de camponeses pobres e fracassados abandonaram seus pedaços de terra, enquanto a maioria dos restantes mal consegue se manter. "O Brasil produziu o maior e o pior programa de reforma agrária do mundo", diz Francisco Graziano, um dos principais assessores do Presidente Fernando Henrique no assunto. E ele não será contestado por Gilmar Mauro, um líder
do faiscante Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST): "O governo só quer amenizar as tensões sociais com as doações de terra. Nós ficamos órfãos".
Meia década e 6,5 bilhões de dólares mais tarde, a grande reforma agrária brasileira é mais uma triste fábula do mundo em desenvolvimento.
Por toda a América Latina, África e Ásia, incontáveis camponeses anseiam pelo seu próprio pedaço de terra. Mas a luta pela terra inflamou especialmente a imaginação da América Latina - dos camponeses desafiadores dos quadros de Diego Rivera aos rebeldes Zapatistas mascarados do México. A posse da terra pode fazer a diferença entre ser um escravo e um cidadão, como argumenta eloqüentemente o economista peruano Hernando de Soto, em seu
clamor por direitos de propriedade para os pobres. E qual a grande nação que não trouxe a democracia primeiro para a sua zona rural? Se existisse um caso para uma reforma radical, seria o do desequilibrado Brasil. Desde os dias coloniais, suas terras vastas têm sido revestidas de privilégio, onde um punhado de barões governavam sobre esparramadas possessões do tamanho de
um país, enquanto milhões de camponeses improvisavam o seu sustento em pequenos pedaços de terra. Na última contagem, em 1996, cerca de 11 por cento de proprietários rurais controlavam 68 por cento da terra arável.
O Presidente Fernando Henrique almejou mudar isso. Os críticos dizem que ele foi forçado a fazer a reforma devido à crescente violência rural e ao aumento de invasões de terras, e agora toma para si o crédito por ter ajudado camponeses que já tinham ajudado a si mesmos. Ganhar um pedaço de terra ainda é uma bênção para os sem-teto, mas uma bênção duvidosa, para ser otimista. Apesar de incontáveis estudos, ninguém pode dizer ao certo como os cerca de 4.200 assentamentos de reforma agrária estão se saindo, quanto produzem ou mesmo quantos novos donos de terra desiludidos estão desistindo de seus pedaços de terra. Os escassos dados existentes não são encorajadores: pesquisas parciais mostram que pelo menos um em cada quatro assentados em todo o país desiste de seu pedaço de terra após dois anos, e em algumas regiões até metade dos assentados desistem.
O verdadeiro milagre da reforma agrária brasileira pode ser quantos
assentados ainda restam. O transporte no interior não é confiável,
eletricidade é um luxo. Doenças como malária e dengue são comuns; somente uma em cada duas famílias já viu um médico. Perto de 95 por cento não têm água potável encanada. E suas finanças não são mais saudáveis que isso. Os assentados brasileiros devem aos bancos e ao governo cerca de 450 milhões de dólares. Menos de 5 por cento dos assentamentos são financeiramente independentes. Para ser justo, muitos assentamentos são estáveis e alguns se tornaram modelos de eficiência, especialmente onde os assentados formaram cooperativas. Um desses é a Fazenda Anoni, um antigo campo de posseiros no sul do Brasil que faz um comércio animado com suas marcas caseiras, como mate, café orgânico e carne de gado de pasto. Mas a Fazenda Anoni é uma das exceções. Embora Brasília aumente muito uma robusta nova classe de empresários rurais, a maioria dos assentados parece mais um bando de necessitados. A grande maioria mal consegue se alimentar. A sua produção coletiva nem é registrada na produção agrícola brasileira, que é de 80 bilhões de dólares. Se não fossem os benefícios do seguro social, que são responsáveis por um quinto da renda rural, muitos mais teriam ido embora.
Aqueles que ainda ficam muitas vezes abusam da terra. No Estado do Pará, lar de Acelino da Silva, os assentados derrubam faixas de floresta para plantar feijão, arroz e milho. Mas após algumas colheitas, o frágil solo amazônico se alquebranta, forçando os fazendeiros a cortar o seu caminho mais fundo na floresta. Pela lei, cada assentado pode derrubar somente três hectares por dia. Mas ninguém respeita a lei. "A nossa maior dor de cabeça é controlar o desmatamento e as queimadas nos assentamentos da reforma agrária," disse Edson Cruz, um inspetor da polícia federal lotado na
autoridade ambiental brasileira, o IBAMA. "As multas nunca são pagas... Nós estamos impotentes." O que é pior para a castanha do pará. As estradas no Pará estão lotadas de caminhões de madeireiras, cheios de contrabando.
As árvores não são as únicas a sofrer na reforma fracassada do Brasil.
Pergunte aos ocupantes de 17 de Abril, um assentamento que leva o nome de um dia de infâmia. Em 17 de abril de 1996, 3.000 invasores marcharam pelos direitos de posse da terra no Pará, leste da floresta amazônica. Eles se depararam com uma barricada policial. Quando o tiroteio terminou, 19 camponeses estavam mortos, muitos com tiros à queima-roupa e um pelas costas. Os policiais envolvidos ainda estão aguardando julgamento. O incidente sangrento e a falha do Brasil em fazer justiça com os culpados desencadeou uma fúria de protestos internacionais. Brasília acelerou a reforma agrária, assentando 74.600 famílias por ano, cinco vezes mais do que nos governos anteriores. Por direito, o 17 de Abril devia ser o centro da nova democracia do Presidente Fernando Henrique. Nada podia estar mais longe da verdade.
O assentamento é uma favela rural, onde porcos patrulham ruas de sujeira flanqueadas por valas de esgoto a céu aberto. Três de cada 10 residentes pegaram dengue. A lepra prevalece. Um médico visita o acampamento a cada três meses, "e ele foge no fim do dia, porque as filas são tão grandes", dizEliene da Silva, uma líder do assentamento (sem parentesco com seu Acelino).
A polícia, por razões óbvias, não é bem vinda, então o 17 de Abril se tornou um covil de ladrões, prostitutas e traficantes de maconha. Os vigilantes mantêm a paz. "Se um bandido assassina alguém, nós levamos ele para a floresta e o matamos", diz o seu Acelino. "Nós temos que tomar conta de nós mesmos." Somente as crianças não parecem ligar. Como pequenos milicianos, eles patrulham descalços na terra, empunhando armas de brinquedo feitas de madeira. Ainda assim, os ocupantes do 17 de Abril - como os assentados em qualquer lugar - falam com orgulho dos frutos do seu trabalho: campos de arroz, treliças pesadas de vinhas de pimenta-do-reino, um lago fervilhando de peixes e uma plantação de 36.000 coqueiros. Através de um empréstimo, a cooperativa comprou o que há de mais moderno em equipamentos agrícolas: uma nova empacotadora de arroz, uma pequena leiteria, um moinho de farinha de mandioca e um viveiro climatizado para as galinhas. Isso foi há um ano atrás. As máquinas ainda estão juntando poeira. "Nós não temos eletricidade", diz Waldomiro Costa pereira, tesoureiro da comunidade.
"Nossos projetos estão suspensos."Falta de luz? "De jeito nenhum," diz Pereira, apontando para o céu, cruzado por grossas linhas de transmissão da hidrelétrica de Tucurui, uma das maiores centrais geradoras da América Latina. Sem um transformador, a corrente de 500 volts é inútil para as casas e lojas abaixo.
O pouco que o povo do 17 de Abril de fato tem, eles devem em grande parte ao MST. O movimento de trabalhadores se tornou uma parte familiar da paisagem brasileira: colunas de homens, mulheres e crianças, marchando em formação ao longo de uma estrada do interior ou reunidos em um grupo raivoso em praça pública. Com suas sandálias e bermudas, levantando bandeiras vermelhas e um
monte de enxadas, eles formam uma legião da ralé, em parte camponês insurgente, em parte Brancaleone. Na verdade, o MST é uma máquina política sofisticada. Seu ícone favorito pode ser Che Guevara, mas a Internet é a sua arma mais poderosa; o site do MST está traduzido para 6 idiomas.
Altamente organizados e disciplinados como soldados, o Movimento se vangloria de ter fileiras por todo o país. Mal se passa uma semana sem que haja notícias de legiões do MST armando seus acampamentos em alguma fazenda, muitas vezes com as bênçãos de clérigos da Igreja Católica. Embora o MST e o governo geralmente se debatam na imprensa, na verdade eles têm um pacto incômodo. Com as legiões de camponeses nas barricadas, o Presidente Fernando Henrique foi capaz de transformar o medo das invasões de terra em apoio para a reforma agrária, uma política que a elite rural brasileira nunca teria engolido.
Hoje em dia há muito mais camponeses em assentamentos do que sem-terra amontoados sob barracas de plástico preto. Mas o MST não cedeu. Eles alegam falar em nome de 4,8 milhões de brasileiros "deserdados", tanto urbanos quanto rurais. Como uma máquina política em moto perpétuo, os militantes procuram incansavelmente por novos recrutas nas favelas da cidade, nos campi universitários, até no exterior entre os brasileiros que imigraram para encontrar trabalho no Paraguai. "Nesses dias, os brasileiros sem-terra são fabricados," afirma Graziano.
Cada vez mais os especialistas discutem que a reforma agrária no estilo antigo, baseada em doações de terras, é uma questão secundária - ou deveria ser. De que adianta mandar mais assentados para campos onde tantos falharam? Eles apontam para a crescente urbanização do país: 82 por cento de brasileiros vivem em áreas urbanas hoje, comparados a menos de 45 por cento em 1960. (Muitos acadêmicos contestam a demografia oficial; de acordo
com suas medições, 30 por cento de brasileiros ainda estão enraizados no interior.) Mas quaisquer que sejam os números, muitos acreditam que existe uma tensão fundamental entre a reforma agrária no Brasil e as demandas da economia emergente de um país. Nas últimas três décadas, o Brasil se tornou uma potência agrícola. A colheita de 2001 de soja, algodão e outras plantações passou de 100 milhões de toneladas e alcançou cerca de 80 bilhões de dólares. A agricultura comercial de larga escala produziu essa bonança, sendo responsável por 61 por cento dos produtos agrícolas brasileiros negociados internacionalmente. A economia já está transbordando de produtores agrícolas em dificuldades. A maioria dos economistas prevêem que os grandes agribusiness vão tirar o trabalho de agricultores de subsistência e de trabalhadores do campo, à medida que continuam a se mecanizarem.
A globalização também está trabalhando implacavelmente contra os pequenos donos de terra. Em um esforço para se integrar à economia da América do Sul, o Brasil derrubou as barreiras aos produtos agrícolas importados. Isso significa que os consumidores estão aproveitando os preços mais baixos dos alimentos, mas os fazendeiros familiares que se encontram em dificuldades estão sendo empurrados ainda mais para trás dos barões da agricultura, que compensam os preços mais baixos vendendo em maiores quantidades. "Nós acrescentamos colheradas de gente à zona rural, enquanto as políticas econômicas as tiram pela enxada," diz Gilmar Mauro do MST.
Não faz muito tempo, os brasileiros mais especuladores previam que os mercados iriam absorver o "excesso" de mão-de-obra, à medida que os antigos trabalhadores agrícolas fluíam para a cidade para construir fábricas, moradias e torres de escritórios. Então veio a crise da dívida externa nos anos 80, a Década Perdida da América Latina, seguida do desemprego provocado pelo capitalismo nos anos 90. O motor do Brasil simplesmente afogou. Os campos do MSG estão cheios de trabalhadores agrícolas, mas também de ex-assentadores de tijolos, mercadores em dificuldades, vendedores de rua e funcionários de supermercados de meio-período.
Um quadro tão horrível sugere que a reforma agrária é mais um socorro à pobreza do que economia saudável. É claro que para os camponeses desesperados qualquer ajuda é bem-vinda. "A pobreza rural é inacreditável e precisamos fazer alguma coisa," afirma Luiz Hafers, que chefia a Sociedade Rural Brasileira, uma associação de plantadores. "A reforma agrária não deve ser medida de acordo com uma medição econômica." Mas usar a terra para pagar uma dívida social pode Ter o seu preço também. Há meio século, o sucesso na agricultura significava possuir uma expansão generosa e muitos filhos com costas fortes para trabalhá-la. Não mais. "O Brasil é uma economia de mercado. Precisamos de um suprimento confiável de alimentos de agricultores eficientes que conhecem agronomia e usam biotecnologia", diz Fernando Homem de Mello, economista agrícola da Universidade de São Paulo.
Se você divide terra produtiva e doa para a reforma agrária, podemos ver um colapso no suprimento de comida".
Os enigmas da agricultura contemporânea não foram perdidos em Brasília. Mas o governo Fernando Henrique não cede. As autoridades apontam para uma grande safra de acadêmicos que afirmam que as fazendas familiares fazem uso muito mais eficiente dos seus parcos créditos agrícolas concedidos pelo governo do que os homens privilegiados em suas ceifadoras com ar-condicionado. Com orientação apropriada e uma mão amiga, insistem os que crêem, essa classe "órfã" de trabalhadores pode não apenas se erguer da miséria, mas se tornar um agente da verdadeira democracia.
Talvez. Ninguém nega que o Brasil tem uma enorme dívida social para com as vítimas da nova economia agrícola, os incontáveis trabalhadores desempregados que precisam de um salário, um teto, treinamento profissional e uma chance para recomeçar. Mas a verdadeira reforma agrária requer muito mais que boas ações e o auxílio-desemprego. Significa almejar a ajuda para os fazendeiros capazes mas em dificuldades, grandes ou pequenos, que ainda têm uma chance de competir no mundo moderno - através de serviços de
extensão rural, créditos agrícolas prudentes, acesso a biotecnologia e
estradas e escolas melhores. Há muita coisa em jogo. Transformar a zona rural pode ainda significar transformar o próprio país. "A ausência de uma classe de pequenos donos de terra inteligentes", declarou uma vez o historiador britânico James Bryce, "é um infortúnio grave para a América Central e a América do Sul". Bryce escreveu isso em 1912. Ele poderia estar escrevendo hoje.

O estigma

Um repórter do Congresso em Foco perguntou-me se sou mesmo Mutran!?

Disse-lhe que sim. Perguntou-me se tenho parentesco com os Mutran que figuram na "lista suja do trabalho escravo", editada pelos órgão de controle do governo. Respondi que sim.

O repórter não me perguntou mais nada. Muito menos se sou jornalista!

Será que o repórter acha que sou, no seu foco de investigação, algo que pode revelar um conluiu? Será que o repórter acha que faço parte de um grande esquema de dominação pró-escravagista, como sua matéria insiste em sugerir em relação à Pagrisa?

Quem me conhece acha que eu sou escravagista-jornalista-saudosista do Pelourinho ou algo que o valha?

Aguardo o desdobramento da matéria de meu colega.

Há 12 anos já vi essa e outras pautas. Com uma diferença que ele saberá na hora certa.

Curiosidade jornalísta em relação ao coleguinha. Apenas curiosidade.

O fenômeno ainda está vivo

Faltam exatamente quatro dias para as comemorações da morte de um espírito revolucionário.

Che Guevara - o Ernesto - foi executado covardemente na data próxima.

Ouvi ontem duas frases de duas pessoas importantes em minha vida: meu pai e do deputado o qual presto serviço.

Meu pai é filho de comunista, continua comunista e o político ao qual presto serviço, se não o for, confesso que não sei o que se passa comigo.

Meu disse certa vez: A terra é nossa maior riqueza. Em cima dela construimos o que há de mais primordial para a sobrevivência de nossa civilização.

O político o qual presto serviço: Tenho certeza de que quando optei em ser médico, um a coisa me marcou: É a única atividade humana em que eu, como médico, presto serviço diretamente a meu semelhante.

Qual dos meus dois leitores podem dizer-me onde está o ponto de intersecção entre dois segmentos?

Já que um candidatou-se a Prefeito e foi eleito, e o outro foi o introdutor do conceito cooperativo de exploração da terra?

E ambos, sem se conhecer, fundaram o PDT no Sul do Pará? Um ao Sul, outro no sudeste?

O presidente moderará

Com o anúncio da criação da TV Pública Brasileira. Os impostos escorchantes que me são recolhidos na fonte. Com a garantia de que o presidente da República diz que não há mais censura neste país. Sinto-me a vontade para não moderar mais nada neste espaço.

Entendo que posso publicar o que quiser e os leitores falarem o que também o quiserem.

Como só tenho dois leitores, será divertido a construção do livre pensamento.

A pauta mudou! Liberou geral!!

Tá liberado

A moderação deste blog não mais existe.

Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados

  Veja como foi a sessão solene em Homenagem à Nossa Senhora de Nazaré 2024, na Câmara dos Deputados A imagem peregrina da padroeira dos par...