Oiapoque, no Amapá, é uma cidade brasileira de olho nos euros e oportunidades que existem na Guiana Francesa. Com poder de polícia, Exército tenta combater crimes como garimpos ilegais e tráfico de drogas
Oiapoque (AP)— A cidade onde começa o Brasil fica no Amapá, na fronteira com a Guiana Francesa. Oiapoque é terra de garimpeiro e de brasileiro de olho no outro lado da margem do rio, repleta de ouro e euro. É também lugar de garimpos ilegais, transporte irregular de mantimentos e combustível, prostituição, denúncias de tráfico de crianças e de drogas, índios com pouca assistência e intolerância crescente a brasileiros. No extremo norte do país, sobram problemas. “Parece terra de bangue-bangue”, observa o general Jeannot Jansen da Silva Filho, comandante da 8ª Região Militar da Amazônia.
O Exército mantém cerca de 250 homens na região sob o comando de um capitão de 28 anos, Marcelo Flávio Sartori Aguiar, que divide o tempo administrando a vila militar — onde também vivem civis — e treinando a tropa para proteger a fronteira e combater inimigos na selva amazônica. Apesar de a legislação dar aos militares poder de polícia na faixa de 150 quilômetros até a fronteira, Oiapoque tem problemas demais para o Exército resolver sozinho. “A gente faz o possível. Sempre fazemos operações em conjunto com o Ibama e com a Polícia Federal. Mas, muitas vezes, falta domínio sobre legislação de temas como meio ambiente e tráfico para atuarmos sozinhos”, afirma o capitão.
Enquanto o poder público tenta se organizar, os criminosos aproveitam as águas dos rios da região — território internacional, que não está submetido à legislação brasileira nem à francesa — para tocar os negócios. Às vezes é a polícia francesa, responsável pela patrulha da Guiana Francesa, quem atrapalha os esquemas dos responsáveis por abastecer os garimpos ilegais. O alvo predileto são os barcos que levam mantimentos e combustível até os garimpos ilegais. Sem nota fiscal e muitas vezes carregando mercadorias proibidas, os barqueiros são surpreendidos na ilha chamada La Gran Rochelle, que serve de entreposto para os transportadores. “Já quebraram os barcos, já apreenderam as mercadorias, já nos mandaram embora. Mas temos que comer, não podemos ficar sem trabalhar”, diz Pedro Santana Silva, enquanto auxilia o carregamento de barcos.
De Oiapoque ao garimpo clandestino mais perto é preciso encarar uma viagem de seis horas no nervoso rio que nomeou a cidade, cheio de pedras. Depois, são mais duas horas de caminhada. Diante da dificuldade de acesso, a polícia francesa opta por impedir que mantimentos cheguem até as áreas de extração de ouro, onde trabalham cerca de 10 mil pessoas, explica um garimpeiro que pede o anonimato.
Esse garimpeiro diz que a exploração do ouro nas terras do norte brasileiro acabou. Mas a febre continua na Guiana Francesa, onde brasileiros procuram recuperar o que os franceses tiraram do Brasil. Desde que o presidente Nicolas Sarkozi assumiu o comando da França, a fiscalização foi reforçada nas áreas de garimpo na Guiana, revela a prefeita de Saint Georges de R’Oiapoque, Fabienne Mathurin-Brouard. “O garimpo está incomodando muito, por isso a fiscalização endureceu com os ilegais. Os clandestinos ficam nos arredores dos legalizados e a maioria é brasileiro cometendo crime na Guiana”, diz a prefeita da cidade que fica a 15 minutos de barco de Oiapoque. (CB)
A reportagem viajou a convite do Exército Brasileiro