Foi há exatamente há 13 anos, em 1993. O documentário "Além do Cidadão Kane", da BBC havia sido apresentado em uma única sessão no Museu da Imagem e do Som (MIS). Até aí, tudo bem, e a repercussão do filme não teria nada de extraordinário, não fosse a decisão do então secretário da cultura do estado, Ricardo Ohtake, de demitir o programador do MIS, Geraldo Anhaia Mello, por ordens diretas do então governador Fleury, o "marechal do Carandiru". Para quem não é de São Paulo, o governo Fleury é considerado um dos mais corruptos da história do estado, só perdendo para o de seu padrinho político Orestes Quércia. A justificativa de Ohtake era que o filme estaria sendo exibido sem a autorização de seu diretor, Simon Hartog, mas todos diziam que o motivo real eram as pressões vindas diretamente de Roberto Marinho.

Imediatamente inicia-se violenta polêmica na imprensa, e Geraldo Anhaia Mello, longe de se intimidar, parte para o contra-ataque através do jornal "Folha de São Paulo". Tão logo toma conhecimento do caso, o próprio Simon Hartog envia autorização liberando a veiculação irrestrita do documentário em território nacional, e assim o pretexto para censurar o filme cai por terra. Não resta ao MIS outra alternativa senão realizar sessões gratuitas do filme, que atraem multidões que nunca teriam tomado conhecimento do documentário sem a celeuma em torno de sua censura. Eu fui uma das pessoas que compareceu a uma dessas sessões sempre lotadas, e apesar de ir muito ao cinema, foi o único filme a que assisti até hoje que foi aplaudido de pé no final. Homenagem mais do que merecida, não só ao filme (que dizia o que ninguém no Brasil tinha peito de dizer), mas à coragem e determinação do jornalista Geraldo Anhaia Mello.

Só para finalizar, queria dizer que nunca o Império Globo teria o poder que tem sem o apoio pra lá de camarada da ditadura militar. Se a Globo é hoje essa unanimidade de maquiavelismo e de prejuízo à liberdade de informação do povo brasileiro, devemos essa não só ao Roberto Marinho mas principalmente, ao regime canalha e assassino que a concebeu, regime que entregou em 1985 um país quebrado, arrasado, humilhado, cheio de cadáveres insepultos de estudantes e operários. Hoje, novamente a Globo encontra um parceiro poderoso na pessoa de Rupert Murdoch, o porta-voz de Bush, que faz da parceria Globo/ Time-Life uma mixaria. Nós brasileiros, precisamos estar de olho para não ficarmos à mercê por outros 40 anos da lavagem cerebral e manipulação do monopólio do plim-plim. Que a história não se repita jamais.