Leitor levanta a tese sobre trapaças aos aposentados
Vale ressaltar, ainda, que o pensamento externado pelo leitor, deve valer para todos os políticos que embromaram os aposentados até o presente momento.
Diz o leitor:
É Paim agora você está num mato sem cachorro com seus eleitores. Nada de aprovarem os seus projetos. 2009 se foi e nós nos f... Os esbirros de Lula, Como Michel Temer e Cia não só barraram os projetos, como o apelidaram de Kit Paim. Que papel de palhaço eles fizeram o senhor passar. Só faltou lhe colocarem à força um nariz postiço bem vermelho, assim eles escolhambariam de vez com a causa dos descamisados do RGPS. Defender Dilma Rossef, Lula, ou os traíras Petistas, nem um milhão de anos de convivência e “amizade”, justifica. Lula é um Larápio, ele e sua quadrilha quebrarão o Brasil e depois curtirão o botim em uma merecida aposentadoria, de vez enquanto dando uma entrevista aos puxa sacos da vez, para falar, falar, e nada dizer. Que papelão. Nem do meu pai eu aceitaria tamanha traição. A não ser que os projetos tenham sidos criados no palácio do Planalto. O que seria mais lamentável ainda. Seria difícil de acreditar que alguém aceitasse fazer o papel de fantoche a esse grau. Infelizmente votei no PT desde sua fundação até o primeiro mandato desse calhorda. Depois que vi o antro de abutres que é o PT nunca mais me envolvi. Isto chama-se vergonha na cara, caráter. Assumi que o ajudei a se eleger, mas hoje depois do que ele nos fez, não merece respeito de ninguém. No seu caso, acreditei demais nos seus projetos. Venho acompanhando-os a mais de um ano. Torci feito um maluco para que os ordinários o aprovassem. Mas o mafioso Michel Temer, o maior bandido depois de Alcapone escamoteou, enfiou naquele lugar. Será que a população brasileira, os beneficiários dos bolsas não conta, perdeu o juízo. São tantas denuncias de corrupção que mesmo não se interessando por política a pessoa teria de se indignar. Será que deixarão este salafrário acabar com o país? Onde estão aqueles que viviam falando em segurança e soberania Nacional? Parece besteira mas mas esse é o termo. Outra coisa, um homem com a vida feita como Vossa Excelência, jamais poderia se curvar aos caprichos de alguém como o Lula, um individuo sem eira nem beira, falso. Talvez um dia lá bem distante o senhor cairá na real.... Ter medo de perder o espaço no PT. Tenha certeza, eu um zé ninguém de marca como sou, jamais me apegaria tanto a ponto de aceitar ingerência, nem as críticas do meu partido num assunto de tamanha importância que afeta à milhares de pessoas. Cargo e dinheiro nenhum pode estar acima da dignidade. Só mesmo um ateu sem escrupulos amigo de comunistas prá fazer isto. Dado a importância desses projetos para a sobrevivência de milhares de pessoas, Lula não poderia intervir contra a aprovação deles. Ele provou o quanto é desumano. Com essa conversa mole de governo do trabalhador, acabou sendo pior que o neoliberal FHC. Eleitores do Brasil acordem, PT,PMDB, nunca mais...
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Comentário do blog: Os leitores do blog sabem muito bem a indignação que tomou conta dos aposentados, pensionistas e aposentados portadores de doenças graves.
São inúmeros projetos em tramitação nas duas Casas do Congresso Nacional que não avançam, sob a desculpa de quebrar a Previdência Social.
O blog gostaria que o Governo Federal abandonasse o subterfúgio de escamotear a verdade aos 18 milhões de aposentados e os outros 3 milhões em vias de aposentar-se nos próximos cinco anos.
Este blogger gostaria de avaliar os números que o governo alega "quebrar" a Previdência Social, caso conceda o aumento previsto no Projeto de Lei do honorável senador Paulo Paim (PT-RS), que estabelece o mesmo índice de aumento do salário mínimo aos aposentados e pensionistas deste país, àqueles que percebem acima de um salário mínimo.
Eu gostaria de ver o nosso país, exilar, através do voto, os políticos que ajoelham-se aos poderosos de plantão.
Cito um exemplo:
- Por quê o Governo, através de sua poderosa Receita Federal, não cobra as dívidas previdênciarias das grandes empresas? São dezenas de bilhões.
- Per quê, esse e os governos pretéritos, ajeitam, sempre, um novo REFIS aos contumazes sonegadores deste país?
O time do coração do presidente, o Corynthias -- nada contra o time --, deve uma fortuna de Previdência Social. Todos os grandes times brasileiros são useiros e vezeiros no calote ao aposentados.
Calote, diga-se, cínicamente praticado pelos maiores empresários do país.
Apenas em recuperação desses "beiços" tributários e obrigatórios, o governante da vez poderia proporcionar uma vida um pouco mais decente, que não é nenhum favor, ressalte-se, aos aposentados e pensionistas deste Brasil.
Basta colocar um fiscal da receita dentro das 100 maiores empresas do Brasil que vai "aparecer" dinheiro pra todo lado. Um Pré-Sal, diria, sem exagero.
As palavras do leitor anônimo são de revolta. Está sem esperanças de dias melhores.
A pior coisa que pode haver na vida de uma pessoa que atingiu a melhor idade, é não ter como se manter e depender de favores alheios, destarte os anos de trabalho e contribuição à Previdência de seu país, que resultou nos avanços que hoje vemos nos veículos de comunicação, os políticos da hora, vangloriarem-se de ter proporcionado.
Mal eles todos figuem que sabem, que contra a teimosa resistência de sua gente sujigada e explorada, há sempre uma arma poderosa na mão: o voto.
Voltando ao senador Paulo Paim. O nobre e respeitável parlamentar gaúcho, fez o que estava ao seu alcance.
Foi enquadrado pelo partido, mas, até onde eu sei, resistiu à pressão e é hoje, junto à não mais do que uns cinquenta colegas no Congresso Nacional, e é a voz mais dissonante dessa vergonha nacional contra os direitos dos aposentados.
É ano eleitoral. 2010 já chegou abrindo a primeira década do século XXI. É hora de mobilizarmo-nos e não mais aceitar qualquer tipo de enrolação dos candidatos à sucessão de Lula.
Encerro com um pedido.
Comentem a vontade. Mas, por favor, com elegância, educação e argumentos.
Um bom final de domingo à todos e que Deus nos abençoe.
Blogueiro: tire suas dúvidas
Visite-o aqui (linkado) e aproveite.
Um abraço para o Fernando e equipe.
Jornalista revela o motivo da renúncia de Jânio Quadros e critica burocratas da imprensa
Presidente Jânio Quadros renuncia à presidência da República, deixando população surpresa
VOCÊ CONHECE UMA DOENÇA CHAMADA “SÍNDROME DA FRIGIDEZ EDITORIAL”? EIS UM EXEMPLO ESCANDALOSO: JÂNIO QUADROS FINALMENTE REVELOU O MOTIVO DA RENÚNCIA. MAS A IMPRENSA NÃO PUBLICOU NADA,NADA,NADA
Por Geneton Moraes Neto, jornalista
Se fosse feito um ranking dos gestos mais surpreendentes já cometidos por um presidente da República no Palácio do Planalto, a renúncia de Jânio Quadros seria forte candidata a ocupar o primeiro posto. Sob todo e qualquer critério, a renúncia é, até hoje, tema de interesse histórico e jornalístico. Mas…nossa querida imprensa é capaz de barbeiragens monumentais.
(Quando digo que o maior inimigo do Jornalismo é o jornalista, não estou cometendo frase de efeito. Estou constatando uma verdade límpida, cristalina, indiscutível – e facilmente demonstrável. Não nasci ontem. Ao longo de anos, anos & anos, fui testemunha ocular e auditiva de uma coleção de absurdos indefensáveis. Por falta de vocação para exercer tarefas realmente importantes na vida, como a medicina ou o futebol, comecei a trabalhar em redação aos 16 anos de idade. Tenho 53. Façam as contas. Ao longo dessas quase quatro décadas, perdi a conta das vezes em que vi notícias e histórias interessantes serem sistematicamente jogadas no lixo nas redações por burocratas travestidos de jornalistas. Especialistas fizeram um exercício de leitura labial para tentar descobrir o que Jaqueline Kennedy disse no exato momento em que o balaço disparado por Lee Harvey Oswald explodiu a cabeça do presidente Kennedy naquela praça em Dallas. Disse o seguinte: “Oh,no!”. Se pudessem se manifestar, as multidões de leitores, ouvintes e telespectadores que deixam de tomar conhecimento das histórias jogadas no lixo pelos burocratas do jornalismo certamente diriam em coro : “Oh,no! Oh,no! Oh,no!” ).
Vasculho meus arquivos implacáveis. Eis um registro que fiz sobre uma cochilada monumental dos nossos bravos jornalões e revistonas (o problema,neste caso, não é Jânio.É a imprensa. Os motivos que ele confessou para explicar a renúncia apenas confirmam o que já se suspeitava: o homem cometeu o gesto teatral porque queria voltar ao poder nos braços do povo.Não voltou. O indefensável é a absoluta indiferença da imprensa sobre a confissão de Jânio. O caso mereceria manchete: Jânio dá no leito de morte a explicação final sobre a renúncia. Duvido que um leitor minimamente interessado deixasse de ler. Cito o caso porque ele envolve um ex-presidente da República. É escandaloso. Mas, qualquer legume que frequente uma redação será capaz de contabilizar,em pouco tempo, um inacreditável inventário de casos, histórias, reportagens e notícias que foram jogadas fora religiosamente, sistematicamente,ardorosamente pelo exército de burocratas entediados que passam anos,anos e anos dedicados à tarefa de destruir tudo o que poderia ser vívido, interessante e empolgante no Jornalismo. Ainda assim, declaro solenemente aos leigos que esta pode ser uma profissão divertida.Que outro ofício daria a um terráqueo a chance de morrer de rir intimamente com a descabida pretensão de gente que se tranca numa sala para “decidir” o que é que o público deve ou não deve saber? Nem preciso falar da vaidade patética de quem se julga um milhão de vezes mais importante do que é. Quá-quá-quá. Seja lá quem for, quem inventou a Internet merece uma estátua de tamanho gigante em praça pública, porque, entre outras maravilhas, a rede mundial de computadores destruiu,na prática, a onipotência risível dos jornalistas. Hoje, qualquer legume (ou seja: alguém que em nada é inferior ao jornalista) pode testemunhar e reportar o que quiser.É só criar um blog, apertar um botão e o texto estará disponível, em tese, para todo o planeta).
O caso Jânio:
A mais sincera confissão já feita por Jânio Quadros sobre os reais motivos que o levaram a renunciar à Presidência da Republica no dia 25 de agosto de 1961 somente foi publicada em 1995,em escassas sete páginas de uma calhamaço lancado por uma editora desconhecida de São Paulo em louvor ao ex-presidente.
Organizado por Jânio Quadros Neto e Eduardo Lobo Botelho Gualazzi,o livro ‘’Jânio Quadros : Memorial à Historia do Brasil’’ é, na verdade, um bem nutrido album de recortes sobre o homem. Grande parte das 340 páginas do livro,publicado pela Editora Rideel, é ocupada pela republicação de reportagens originalmente aparecidas em jornais e revistas sobre a figura esquisita de JQ.
A porção laudatória do livro é leitura recomendável apenas a janistas de carteirinha. O ‘’Memorial’’ traz, no entanto, um capítulo importante : a confissão que Jânio, já doente,fez ao neto,num quarto do Hospital Israelita Albert Einstein,no dia 25 de agosto de 1991, no trigésimo aniversário da renúncia.
Jânio morreria no dia 16 de fevereiro de 1992, aos 75 anos de idade. O neto fez segredo sobre o que ouviu. Somente publicou as palavras do avô quatro anos depois. Ao contrário do que fazia diante dos jornalistas – a quem respondia com frases grandiloquentes mas pouco objetivas sobre a renúncia – Jânio Quadros disse ao neto, sem rodeios e sem meias palavras, que renunciou simplesmente porque tinha certeza de que o povo,os militares e os governadores o levariam de volta ao poder. Nâo levaram.
Talvez porque já pressentisse o fim próximo,Jânio admite,diante do neto,pela primeira vez,que a renúncia foi ‘’o maior fracasso político da história republicana do Pais,o maior erro que cometi’’.
A já vasta bibliografia sobre a renúncia ganhou, assim, um acréscimo fundamental, feito pelo proprio Jânio – a única pessoa que poderia explicar o enigma. Desta vez, a explicação parece clara.
Um detalhe inacreditável – que revela como as redações brasileiras são povoadas por uma incrível quantidade de burocratas que vivem assassinando o jornalismo : a confissão final de Jânio mereceu destaque zero nas páginas da imprensa brasileira,o que é estranho, além de lamentável.
A imprensa – que passou três décadas perguntando a Jânio Quadros por que é que ele renunciou – resolve deixar passar em brancas nuvens a confissão final do ex-presidente sobre a renúncia, acontecimento fundamental na historia recente do Brasil.
Tamanha desatenção parece ser um subproduto típico de uma doença facilmente detectável nas redações – a Síndrome da Frigidez Editorial .Joga-se notícia no lixo como quem se descarta de um copo de papel sujo de café . Leigos na profissão podem estranhar, mas a verdade é que há notícias que precisam enfrentar uma corrida de obstáculos dentro das próprias redações, antes de merecerem a graça suprema de serem publicadas.! Isto não tem absolutamente nada a ver com disponibilidade de espaço, mas com competência, faro jornalístico.
Se a última palavra do um presidente sobre um fato importantíssimo não merece uma linha sequer em jornais e revistas que passaram anos e anos falando sobre a renúncia, então há qualquer coisa de podre no Reino de Gutemberg. Quem paga a conta, obviamente, é o leitor, a quem se sonegam informações.
O caso da confissão de Jânio sobre a renúncia é exemplar : a informação fica restrita aos magros três mil exemplares do livro do neto. E os milhares,milhares e milhares de leitores de jornais e revistas, onde ficam ? A ver navios. É como dizia o velho Paulo Francis: “Nossa imprensa: previsível, empolada, chata. Como é chata, meu Deus!”.
Eis trechos do diálogo entre o ex-presidente e o neto,no hospital.As palavras de Jânio não deixam margem de dúvidas sobre a renúncia :
-‘’Quando assumi a presidência, eu não sabia da verdadeira situação político-econômica do País. A minha renúncia era para ter sido uma articulação : nunca imaginei que ela seria de fato aceita e executada. Renunciei à minha candidatura à presidencia, em 1960. A renúncia não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força. Meu ato de 25 de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade. Também foi o maior fracasso político da história republicana do país, o maior erro que cometi(…)Tudo foi muito bem planejado e organizado. Eu mandei João Goulart (N:vice-presidente) em missão oficial à China, no lugar mais longe possível. Assim,ele não estaria no Brasil para assumir ou fazer articulações políticas. Escrevi a carta da renúncia no dia 19 de agosto e entreguei ao ministro da Justica, Oscar Pedroso Horta,no dia 22. Eu acreditava que não haveria ninguém para assumir a presidência. Pensei que os militares,os governadores e,principalmente,o povo nunca aceitariam a minha renúncia e exigiriam que eu ficasse no poder. Jango era,na época,semelhante a Lula : completamente inaceitável para a elite. Achei que era impossével que ele assumisse, porque todos iriam implorar para que eu ficasse(…) Renunciei no dia do soldado porque quis senbilizar os militares e conseguir o apoio das Forças Armadas. Era para ter criado um certo clima político. Imaginei que,em primeiro lugar,o povo iria às ruas, seguido pelos militares. Os dois me chamariam de volta. Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26. Achei que voltaria de Santos para Brasília na glória. Ao renunciar, pedi um voto de confianca à minha permanencia no poder. Isso é feito frequentemente pelos primeiros-ministros na Inglaterra.Fui reprovado.O País pagou um preço muito alto. Deu tudo errado’’.
SOY LATINOAMERICANO
Foto: Altino Machado
Os debatedores: Bessa Freire e o poeta Thiago de M
Por José Ribamar Bessa Freire
O tema era a solidariedade entre os povos da América. O lugar: o Teatro Banzeiros, em Porto Velho (RO), lotado por universitários, professores, ambientalistas, gente da comunidade e, sobretudo, estudantes secundaristas. Os debatedores: o poeta Thiago de Mello, o engenheiro florestal peruano Jhon Yuri e esse locutor que vos fala, os três participantes de uma mesa coordenada anteontem pelo historiador Marco Teixeira, autor de pesquisas sobre os quilombolas.
Pensei em fazer um discurso paletó-e-gravata, com direito à definição prévia do conceito de solidariedade. Ainda bem que desisti. Ninguém deu conferência. O tom foi coloquial, de bate-papo, quase saudosista. Aproveitamos para jogar conversa fora diante de uma platéia que reverenciou o poeta da floresta, o grande homenageado. Lembrei que foi com ele, Thiago, que aprendi a conhecer e a amar a América Latina, depois de juntos atravessarmos a pé a fronteira do Uruguai, em 1969, fugindo da polícia.
Los hermanos
Recordamos algumas histórias vividas no exílio. Do Uruguai, pátria do cantor Viglietti, passamos correndinho pela Argentina, onde os militares sufocavam o tango. No Chile, testemunhamos a vitória de Allende, embriagados pela música de Violeta Parra. No Peru, os huainitos, la flor de la canela e um cavalheiro de fina estampa. Quando entrei na Bolívia, levava carta de Thiago para seu amigo Augusto Céspedes, autor de ‘Metal del Diablo’.
Estão vivos sons, cheiros e cores dessas pátrias por onde andamos e que solidariamente nos abrigaram. Música, poesia, literatura, política, y por supuesto, culinária. Nesse tempo de exílio com Thiago – um maravilhoso narrador – ouvi suas histórias do convívio com escritores, intelectuais e músicos de cada país. Vivenciei outras. Contamos algumas delas ao público.
Quando chegamos ao Chile, no final de 1969, Thiago me levou à Peña de los Parra, onde Angel e Isabel Parra se apresentavam todas as noites. O último encontro do poeta amazonense com os dois chilenos havia sido anterior ao suicídio de Violeta, a mãe deles. Precisavam acertar os ponteiros da memória. No camarim, antes do espetáculo, o poeta apontou pra mim e disse aos seus amigos: - Esse caboco gosta muito da música de vocês.
Foi então que Isabel me pediu para acompanhá-la até a bilheteria. Lá, disse para uma gordinha charmosa que vendia as entradas:
- Olha bem pra cara dele. Gravou? Ele pode entrar aqui, sem pagar, todas as vezes que quiser.
A gordinha gravou. Não preciso dizer que usei e abusei do passe livre. O repertório dos irmãos Parra incluía música de diferentes países. Aprendi todas. Cantei muitas delas, recentemente, nas noitadas musicais realizadas durante um curso que dei em Santa Cruz de la Sierra para funcionários bolivianos da Petrobrás. Um engenheiro que tocava violão me fez um elogio:
- Nascer em um país da América Latina não basta para ser latinoamericano. É preciso se impregnar deles. Você conseguiu.
No debate, lembramos Darcy Ribeiro, que deplorava o fato de o Brasil viver sempre de costas para os seus vizinhos, situação que, no dizer de Darcy, foi mudada – quanta ironia da história! - pelo golpe militar de 1964, responsável pelo exílio de milhares de brasileiros nos países hermanos. A mesa redonda se encerrou com Thiago declamando os Estatutos do Homem, por solicitação do jornalista Altino Machado.
O Festival
O debate aqui relatado ocorreu dentro da programação do FestCineAmazônia – a sétima edição do Festival de Cinema e Vídeo Ambiental da Amazônia, realizada de 7 a 12 de dezembro, quando foi exibido o documentário “Uma só América – um caminho feito de muitos caminhos”, de Jurandir Costa, Fernanda Kopanakis e Carlos Lévi, criadores e organizadores do Festival.
O documentário revela os problemas enfrentados pela Pan-Amazônia na visão de um agrônomo boliviano, Abraham Imopoco Oni, que acompanhou a equipe do FestCineAmazônia por Rondônia, Peru, Bolívia e Colômbia. “Os rios que nos separam são os mesmos rios que nos unem” – declarou Abraham. O evento cumpre uma função social relevante, como assinalam seus organizadores:
- O Festival é, antes de tudo, um instrumento de discussão ambiental e da formação de uma nova consciência para reduzir os impactos da natureza. Viver sem agredir a natureza deixou de ser uma plataforma ambientalista e se tornou uma necessidade geral do Planeta. Em Rondônia, são sete anos de debates sobre a preservação do meio ambiente através da arte cinematográfica. É como se a terra fosse uma grande sala de cinema e a nossa região fosse a tela de projeção.
Dessa forma, Rondônia indica caminhos alternativos para esse tipo de evento. O eterno Secretário de Cultura do Amazonas, Berinho Braga, que promove a caricatura de um tal de Amazon Film Festival, levando para Manaus as “celebridades” do Big Brother Brasil, teria muito a aprender com o evento de Rondônia, que além de fazer parte do circuito nacional de festivais, promove o acesso ao cinema, pela primeira vez, de muitas comunidades carentes.
Consagrado como uma bandeira em defesa da natureza, o FestCineAmazônia desenvolveu um projeto inovador na inclusão cinematográfica, invertendo o conceito de público. Não se limita aos expectadores habituais, mas leva o cinema às pessoas que não tem acesso. Através da Mostra Paralela, filmes e vídeos são vistos por milhares de adultos, jovens e crianças, que lotam as salas alternativas em vários espaços: nos bairros periféricos, no circo, nos terreiros, nas escolas, no beiradão às margens do rio Madeira e em biroscas como o Bar do Chicão na comunidade Cachoeira do Teotônio.
Silêncio total
Tive a oportunidade de assistir duas projeções dessas. Uma no Centro de Umbanda de Mãe Marli, que exibiu o filme “Pierre Verger: Mensageiro entre dois mundos”, de Lula Buarque, com Gilberto Gil percorrendo os caminhos do fotógrafo francês. A outra, no loteamento Ayrton Sena, em lona armada num campinho de futebol. Lá se apresentou o palhaço Xuxu, personagem do ator Luiz Carlos Vasconcellos, que interpretou o médico Dráuzio Varela no filme Carandiru.
Durante a apresentação do palhaço Xuxu, que levou o público ao delírio, eu disse a Thiago, sentado ao meu lado:
- Isso é poesia pura. As fronteiras se esfumaçaram. O Xuxu, concorrente seu, é um grande poeta e você um grande palhaço.
Luiz Carlos deu também uma das três oficinas do Festival, intitulada “Técnicas de Palhaço”. As outras duas foram Curso Prático de Roteiro, ministrada por Humberto Oliveira, e Processo de Realização Cinematográfica, a cargo do cineasta Marcus Villar.
O júri assistiu a mais de 250 filmes e vídeos inscritos de vários estados do Brasil, selecionando 46 finalistas que concorreram à premiação do Festival. Foram exibidos ainda vários filmes, como Corumbiara, de Vincent Carelli, que documenta o massacre de índios por fazendeiros no sul de Rondônia, em 1980, e o filme Hotxuá, registro poético sobre os índios Krahô, dirigido por Leticia Sabatella e Gringo Cardia, projetado na cerimônia de encerramento.
Vincent Carelli, Letícia Sabatella, Stepan Nercessian e Chico Diaz foram os homenageados deste ano do FestCineAmazônia. Na sexta-feira, Thiago de Mello entregou o troféu a Stepan e ontem, sábado, no fechamento do Festival, o índio Krahô Ismael entregou o de Leticia Sabatella.
O Festival terminou, mas fiquei na minha cabeça com a música do chileno Paco Grondona, que – acreditem, há testemunhas – Thiago e eu cantamos a duas vozes na sexta feira, em pleno palco de um teatro de Porto Velho:
- Anda, preparándote a vivir, en América, tu América. Las riquezas, una nomás. La opresión, una nomás. Y la lengua, una nomás.
Fonte: Patria Latina.
Correspondente americano tucano?
O neoliberal anti-Lula da “Newsweek”
Mac Margolis, correspondente de Newsweek no Brasil há mais de 25 anos, é tido como competente mas seu trabalho talvez seja afetado por ligações próximas com a oposição do PSDB. Mesmo com o mérito de nunca ter descido ao nível de um Larry Rohter, deixou-se conquistar pela rendição do governo FHC ao neoliberalismo econômico, ainda hoje a referência maior do jornalismo dele.
Como profissional experiente da mídia corporativa, Margolis frequenta nossa elite branca e teve acesso privilegiado ao governo anterior e seus ministros. Um destes, Roberto Muylaert, à época em que deixou a secretaria de comunicação da presidência passou a tê-lo como colaborador fixo em publicação largamente contemplada pela publicidade oficial. Além dessas relações, identificava-se com a política de privatizações e seu patrocinador FHC.
Agora, no entanto, um ativo crítico de mídia dos EUA – Peter Hart, da revista Extra!, publicada pela organização FAIR (Fairness & Accuracy in Media, Honestidade e Precisão na Mídia) – submeteu o trabalho de Margolis, tão prodigamente premiado aqui pelo alinhamento ao neoliberalismo e até ao Consenso de Washington, a análise séria e rigorosa. E com uma visão de esquerda.
O resultado foi uma crítica demolidora – apesar de Hart, aparentemente, nada saber sobre a intimidade promíscua de Margolis com os ressentidos ex-detentores do poder no Brasil, alijados pelo voto popular depois da compra de votos no Congresso que permitiu a reeleição em 1998. A análise na Extra! (veja a capa acima, à esquerda) deu-se ao trabalho de cotejar os textos do correspondente nos últimos anos.
Consenso de Washington salvou o Brasil?
Se a crítica ao menos tornar o jornalista de Newsweek mais cuidadoso já terá valido a pena: ele estava acostumado demais aos encômios ouvidos dos tucanos. Ao contrário de Merval Pereira, que recebeu o prêmio Moors Cabot em 2009 (a pretexto de ter “combatido valentemente a ditadura militar”, coisa que seu jornal na verdade nunca fez), Margolis pode até ter merecido o mesmo prêmio em 2003 por razões mais sólidas.
O correspondente tiraria proveito das críticas se tentasse distanciar-se mais dos aduladores tucanos – sempre à procura de jornalistas estrangeiros para convencê-los (em inglês: odeiam falar português) sobre méritos do governo FHC, que encaram como injustiçado. Ao exaltarem, por exemplo, a onda de privatizações selvagens, só teriam um ponto: foi ruim para o país, mas as comissões eram polpudas.
Na reportagem de capa de Extra!, Hart é minucioso na análise dos textos de Margolis no período dos dois mandatos do presidente Lula. Expõe seu caráter tendencioso e preconceituoso – sempre na linha neoliberal que certamente soava como música aos ouvidos dos editores em Nova York. Chega ao extremo de afirmar, com todas as letras, que o Brasil foi salvo pelo Consenso de Washington.
O antetítulo do texto (“Meet Mac Margolis, their man in Latin America”, Conheça Mac Margolis, o homem deles na América Latina), é seguído pelo título em corpo maior, “Newsweek’s Name-Calling Neoliberal”, O neoliberal desbocado da Newsweek. A ilustração principal é uma capa-paródia da revista com a caricatura de Hugo Chávez à frente dos três que seriam seus inspiradores: Hitler, Mussolini e Stalin. Título: “Difamando a esquerda da América Latina”.
Será Oliver Stone a Riefenstahl de Chávez?
Quem comparou Chávez (na foto acima com o cineasta Oliver Stone no Festival de Veneza) aos três ditadores de uma vez foi Margolis, induzido pela própria inclinação ideológica, numa reportagem leviana publicada a 2 de novembro. Ali fazia piadas sobre a criação na Venezuela de uma produtora pública de cinema, com estúdio e tudo: “Como Mussolini e Stalin antes, o presidente Chávez criou seu próprio estúdio de cinema”. O objetivo, sugeriu, é a propaganda deslavada.
Escreveu ainda o corresponente em novembro: “Como os autocratas do século 20 que procura imitar, Chávez é fascinado pelo poder do cinema. Desde que Hitler voltou-se para Leni Riefenstahl os ditadores têm sonhado em ganhar a força épica da tela grande para seu script político. Com a Villa del Cine, posicionou-se, conscientemente ou não, como herdeiro dos totalitários maiores do século 20”.
Para Hart, não há muitas evidências de que as instalações de edição e os estúdios da Villa del Cine são passos iniciais rumo ao fascismo. Se fossem, observou ainda, o National Film Board do Canadá já teria há muito tempo empurrado esse país vizinho dos EUA para o Gulag. Mas Margolis prefere carregar nas tintas contra Chávez, crítico feroz do neoliberalismo e da retórica submissa ao poder das corporações.
Em plena crise financeira que golpeou o mundo graças à irresponsabilidade de Wall Street e dos bancos que criaram a bolha imobiliária, Margolis continuava fiel, em julho de 2009, ao desastroso rumo neoliberal. Escreveu: “Apesar do Consenso de Washington ter salvado sua economia, o Brasil hoje tenta enterrar a agenda ‘neoliberal’ das reformas de mercado, que nos anos 1990 impulsionaram os países em desenvolvimento.”
A afirmação é ainda mais insólita se for levado em conta o sucesso do governo Lula naqueles dias, a ponto de tornar o Brasil o primeiro país a sair da crise. Mas Margolis reclama mais privatizações. E acrescenta: “Não é a América Latina que precisa ser resgatada nos destroços das reformas de mercado. São as reformas que precisam ser resgatadas na América Latina”.
“Esses latinos contra o livre comércio?”
Hart registra com sarcasmo a enorme arrogância do comentário, que beira a desfaçatez. E sugere o que passa pela cabeça de Margolis – “Esses latinos babacas acham que vão desacreditar o livre mercado?” Na tentativa de explicar que o Consenso de Washington funcionou, disse Hart, não eram as reformas de mercado que tinham precisado de socorro. Assim o próprio Margolis escrevera em junho:
“Uma das explicações (…) para a atual trapalhada na América Latina tem como alvo o evangelho das reformas de livre mercado pregadas na década de 1990 pelos ‘pundits’ em Washington e ‘magos’ em Wall Street. Críticos do chamado Consenso de Washington argumentam que os frutos da estabilidade deixaram de alcançar as massas. Ao arranharem a superfície, o quadro pareceu mais complexo.
Através da América Latina, a mortalidade infantil tinha caído drasticamente, enquanto a alfabetização e a expectativa de vida tinham chegado às alturas, até na empobrecida Bolívia. Matrículas em escolas primárias e acesso à água potável e à eletricidade estão subindo. Mais cidadãos envolvem-se na política agora do que em qualquer época: indígenas já constituem 30% do Congresso boliviano”.
Para Hart, Margolis não viu necessidade de explicar a relação de causa e efeito entre as políticas econômicas neoliberais que ele apóia e a melhoria das condições de vida. Isso por achar a conexão auto-explicativa. Um sociólogo que tinha trabalhado na Bolívia discordou e disse em carta à revista que muitos avanços resultaram de intervenções do governo – o oposto do que prega o “Consenso”, que exige austeridade nos orçamentos e mais privatizações. E a Bolívia de Evo Morales, é outro alvo prioritário de Margolis, pelas razões óbvias.
Um populismo de talão de cheque?
No caso particular do Brasil, as avaliações equivocadas de Margolis parecem até tradução para o inglês daquilo que nossa grande mídia obstina-se em repetir em português. Às vezes Lula ganha elogio dele – mas só quando suas políticas parecem, por exemplo, favorecer os investidores de petróleo e o capitalismo global. “Lula não é Hugo Chávez”, chegou a dizer. Mas, de repente, ele volta ao ataque: “Lula dá guinada à esquerda”.
A grave suspeita de “populismo”, tão cara a FHC e seu Cebrap, sempre reaparece. “Com um olho na posteridade e outro na urna”, provocou. “Exatamente o tipo de armadilha populista que Lula tinha evitado até agora”, escreveu. O repúdio aos programas sociais que o neoliberalismo odeia também é recorrente. “Populismo de talão de cheque”, sentenciou. Hart estranha, lembrando como o Brasil saiu bem da crise.
Números e dados de Margolis nem sempre são confiáveis. “Quase 63% de jovens latinos dizem agora que o livre mercado beneficia todas as pessoas”, escreveu ele. Mas Hart explicou e corrigiu: “a pesquisa foi pela internet, a que só tinham acesso 31% da população; e mesmo assim Margolis não notou que nela sua tese fora contestada por 90% – favoráveis a que os governos façam mais para ajudar os pobres”.
E mais um escorregão de Margolis ficou exposto quando afirmou que o continente está às vésperas de uma virada à direita, devido às eleições dos 17 meses seguintes no Brasil, Uruguai e Chile: “Em nenhum dos três países o partido de esquerda no poder é cotado para ganhar”. A realidade já o desmentiu. A esquerda ganhou no Uruguai e foi para o segundo turno no Chile, enquanto no Brasil José Serra hesita em ser candidato, com medo de perder outra vez para a esquerda.
Restaria, enfim, lembrar que Newsweek incluiu Lula, há um ano, no 18° lugar da lista (encabeçada por Barack Obama) das 50 pessoas mais poderosas do mundo, o que chamou de “Elite Global”. Só não entendo porque os editores encomendam a Margolis textos sobre Lula: ele sempre dá um jeito de enfiar FHC (veja os dois juntos acima, numa foto dos anos 1970), que quebrou o Brasil três vezes, como “o grande reformista”.
Quanto à revista Extra!, esse número de janeiro está à venda há apenas dois dias. O website da FAIR inclui algumas matérias, mas não a da capa, escrita por Peter Hart. Para ler a íntegra é preciso fazer a assinatura anual (12 números de 16 páginas) da edição eletrônica em pdf, ao custo de US$15.
Fonte: Blog do Argemiro.
Lula prometeu aos aposentados dignidade
Segundo a Wikipédia, o dicionário gratuito da Wibe, uma promessa pode ser equiparado a um juramento. Contudo, é geralmente associada como uma tradição religiosa, nomeadamente cristã, que consiste em prestar o culto a uma entidade específica (um santo, Deus etc.) em agradecimento.
As promessas foram feitas para se transmitir segurança, pois, diz-se que ela será cumprida. Usa-se folcloricamente o ato de cruzar os dedos para se prometer algo falsamente.
Promessa também acontece em grupos escoteiros. Quando um escoteiro faz a promessa ("Prometo pela minha honra fazer o melhor possível para cumprir meus deveres para com deus, com a pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer a lei escoteira") ele será mais responsável, e será mais cobrado por seus monitores.
A verdade da comissão
Por Helio Schwartsman*
Só há um campo onde não pode haver nenhuma espécie de prescrição e é o da História. Nenhum governo tem o direito de privar a sociedade de descobrir o que aconteceu consigo própria ao longo do tempo, por piores que tenham sido os crimes cometidos pelas instituições do Estado.
Originalmente publicado na Folha Online em 07/01/10
Criar uma comissão do governo (de qualquer governo) para apurar a verdade é meio caminho para o engodo. Ainda assim, considero oportuna e necessária a Comissão da Verdade proposta pela atual administração com o objetivo de passar a limpo os crimes cometidos por representantes do Estado durante a ditadura militar. Existem famílias que ainda não sabem o que ocorreu com seus parentes desaparecidos. De resto, a população como um todo não pode ser privada do que podemos chamar de direito à verdade histórica.
Se o ministro da Defesa e os comandantes das Forças Armadas não gostam, é um direito deles. Numa democracia, ninguém é obrigado a concordar com o chefe ou exercer cargo que não queira. Eles podem perfeitamente deixar seus postos e passar para a reserva. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá dificuldades para achar substitutos. É até risível imaginar que exista hoje o perigo de quartelada ou golpe.
Pelo que pude acompanhar das discussões, o debate já surge marcado por um vício de origem, que é o de igualar as partes. Lamento decepcionar alguns, mas nem tudo é um Flá X Flu. Os que se insurgem contra a comissão falam em revanchismo e protestam contra uma suposta parcialidade, pois o comitê teria a incumbência de investigar só os crimes cometidos pelas forças de segurança, deixando de lado os delitos perpetrados pelos que participavam dos grupos de esquerda.
A queixa não procede. Já passei da idade de acreditar em maniqueísmos. Não me parece que a maior parte dos que combatiam em movimentos de resistência ao golpe militar o fizesse por amor à democracia. É público e notório que a meta de nove entre dez dos grupos clandestinos era instituir no Brasil alguma das versões daquilo que Marx chamou de ditadura do proletariado. Mas daí não decorre que estivéssemos em uma guerra civil na qual dois lados se enfrentavam em igualdade de condições e, mais importante, de obrigações jurídicas.
Embora combatentes de esquerda se acreditassem legitimados por uma "moral superior" até a matar para lograr seus objetivos, eles eram, sob o prisma da lei, criminosos comuns protegidos pelas garantias fundamentais declaradas nas Constituições de 1946 e, depois, de 1967, nenhuma das quais autoriza a tortura.
Os agentes da repressão, na qualidade de funcionários do poder público, tinham o dever legal de respeitar os direitos civis dos presos e assegurar-lhes a integridade física. O que se constatou, porém, é que houve uma verdadeira política de Estado, autorizada senão organizada pelos mais altos escalões da República, de violação desses direitos. Cabe ainda lembrar que as vítimas dos desmandos não se limitaram aos que pegaram armas para combater o governo, mas incluíram simples simpatizantes de partidos de esquerda e até familiares e amigos de guerrilheiros.
É justamente aí que reside a importância da Comissão da Verdade (ainda que tenhamos motivos de sobre para permanecer céticos em relação a seus êxitos). Enquanto as ações cometidas pelos grupos de esquerda são história antiga, no máximo do interesse de acadêmicos, há, nos desmandos cometidos por representantes do Estado, também um interesse institucional. O tal do "Direito à Memória e à Verdade" que consta do documento do governo e que tanto irritou os militares é uma forma de expiar as culpas oficiais e sensibilizar a população e a burocracia para que erros análogos não venham a ser cometidos no futuro.
Outro ponto sobre o qual os opositores da comissão insistem é o da Lei de Anistia. Eles afirmam que a mera existência do comitê vai ferir essa legislação. Receio informar que o referido diploma, promulgado em 1979, sob o governo do general João Batista Figueiredo, já não tem muita importância.
Originalmente, ele serviu para garantir que os exilados durante a ditadura pudessem retornar ao Brasil e reassumir suas funções. Numa segunda fase, com base em pareceres jurídicos de variadas origens, foi usado para evitar que agentes da repressão fossem processados. De toda maneira, a norma tornou-se uma peça de museu, pois ela extinguia a punibilidade de "crimes políticos ou conexo com estes" cometidos entre 1961 e 1979. Ora, mesmo que nenhuma anistia jamais tivesse sido aprovada nem estendida aos torturadores, os mais graves dos delitos em questão prescreveram em 1999.
Uma turma ligada aos direitos humanos sustenta que o crime de tortura é imprescritível, pois o Brasil é signatário de tratados internacionais que assim a qualificam. Eu até gostaria de abraçar essa interpretação, mas precisamos nos ater ao que diz o "livrinho" (Constituição). E a Carta elenca apenas duas categorias de delitos imprescritíveis: o racismo (art. 5º, XLII) e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (5º, XLIV). Já a tortura figura no inciso XLIII como crime inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RHC 79.785) reafirma a lógica: a Carta prevalece sobre quaisquer convenções internacionais, incluídas as de proteção aos direitos humanos.
É melhor, portanto, que nossa valorosa soldadesca fique longe desse tipo de raciocínio jurídico. Uma interpretação mecânica dos dispositivos constitucionais nos daria argumentos não apenas para afirmar que a Lei de Anistia não vale para torturadores (não há direito adquirido contra norma constitucional, dirão sete de cada dez doutrinadores) como também para abrir um processo penal contra os participantes do golpe de 1964, este sim um delito insofismavelmente imprescritível nos termos do livrinho.
Brincadeiras à parte, não há nenhuma razão ponderável para que o Brasil, seguindo vários outros países que passaram por experiências similares, deixe de criar a sua Comissão da Verdade. O simples fato de a cúpula militar ficar irritada com esse gênero de iniciativa é a prova de que o processo é necessário para a consolidação da normalidade institucional.
Só há um campo onde não pode haver nenhuma espécie de prescrição e é o da História. Nenhum governo tem o direito de privar a sociedade de descobrir o que aconteceu consigo própria ao longo do tempo, por piores que tenham sido os crimes cometidos pelas instituições do Estado.
E, no que diz respeito à história, o governo Lula, apesar da louvável iniciativa da Comissão da Verdade, é devedor. A atual administração, no que imita a gestão do professor e intelectual Fernando Henrique Cardoso, deu ouvidos aos apelos do Itamaraty e dos militares e manteve a absurda figura do sigilo eterno de documentos oficiais, embora tenha tido diversas oportunidades para reparar seu erro. Na mais recente das reincidências, o governo enviou no ano passado ao Congresso o projeto da Lei do Acesso [a papéis do governo], no qual manteve esse verdadeira excrescência democrática, o equivalente gnoseológico de torturar a história.
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*Hélio Schwartsman, 44, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas. E-mail: helio@folhasp.com.br
A desigualdade de forças entre a sólida base governamental, e a fluída e insegura oposição, é digna de registro
"Eleições 2010", por Almir Pazzianotto Pinto*
Se o estado-maior das forças de oposição não despertar para a gravidade do teatro de operações, as eleições presidenciais programadas para 3 de outubro de 2010 estarão liquidadas no primeiro semestre.
A desigualdade de forças entre a sólida base governamental, e a fluída e insegura oposição, é digna de registro. Não bastasse, do lado governista verifica-se inabalável coesão em torno do marechal Lula, cujo mando é disciplinadamente aceito pelos quadros inferiores, de generais a soldados rasos. O paiol, por sua vez, dispõe de artilharia pesada, na qual se sobressai o Bolsa-Família, cujo poder de persuasão não deve ser subestimado.
Neste segundo mandato, consciente da inexistência de nome forte no seio do PT, investido de liderança para sucedê-lo sem tropeços, o presidente, como habilidosa aranha tecedeira, tratou de construir a teia de interesses, para a qual atraiu dirigentes de partidos dispostos a apoiar qualquer nome de sua livre escolha, embora inexperiente e inexpressivo. Cooptou o velho PMDB com ministérios, empresas, diretorias e empregos e, para seduzi-lo, definitivamente, ter-lhe-ia prometido a vice-presidência. Ao PDT concedeu o Ministério do Trabalho e Emprego, e prestigiou a Força Sindical, talvez a central com maior número de filiados.
Enquanto o Presidente Lula dá provas de sagacidade política, a oposição - se é que existe - perde-se no labirinto das vacilações e dúvidas. O PSDB, supostamente a agremiação mais estruturada e forte, pois já ocupou a presidência na era FHC, e detém o governo de São Paulo há vinte anos, deixa claro ao que não veio. Até o momento não dispõe de pré-candidato consolidado. A decisão sobre eventual pretendente ao Palácio do Planalto persiste, na expressão pitoresca de Churchill, como "charada envolvida em mistério, dentro de um enigma".
A renúncia à candidatura, do governador mineiro Aécio Neves, deve ser interpretada como vaga manifestação de propósito, sujeita a confirmação, conforme o andar da carruagem. O presidente francês, Charles De Gaulle, com a experiência política que o converteu num dos grandes estadistas do século XX, advertia que "promessas somente comprometem aqueles que as ouvem". No caso, sequer promessa houve.
Com o PSDB vítima da indefinição interna, o PMDB dividido, e o DEM abalado dos alicerces ao telhado, por denúncias de corrupção que envolvem o governo do Distrito Federal, secretários e deputados distritais, torna-se quase inimaginável impor derrota a quem preside o governo, dispõe da máquina, e revela saber usá-la sem despertar reação da Justiça Eleitoral.
Segundo Maurice Duverger, os partidos políticos são de massa, quando possuem forte apelo popular, ou de quadros, se organizados, como nas Forças Armadas, segundo os princípios de hierarquia e disciplina, conforme se dava com o extinto Partido Comunista. É claro que, na generalidade dos casos, resultam de combinação inteligente entre quadros e massa, dependendo a composição das forças da qualidade dos dirigentes.
Os recentes partidos oposicionistas conseguiram não ser de quadros ou de massas. Funcionam como antigos clubes ingleses, freqüentados por conspícuos e elegantes senhores, que conversam e procedem bem, mas não conseguem sensibilizar o grande colégio eleitoral composto pelas classes BCD, responsáveis pelos resultados finais. Ocasionalmente algum representante dessas agremiações emerge para derrotar alguém oriundo de sigla popular.
Quando tal acontece a responsabilidade recai sobre o candidato derrotado, mas não sucede em função da suposta popularidade do vencedor.
Coube ao talento de Getúlio Vargas descobrir que o proletariado brasileiro existia, mas esquecido pelas elites. O presidente Lula foi quem tomou a iniciativa de dar-lhe organização político-partidária, retirá-lo dos bastidores e trazê-lo ao proscênio, onde já não é mero figurante, ou massa de manobra, pois passou a integrar o elenco principal.
O PSBD corre perigo de se transformar na versão ressurecta da extinta UDN; o DEM poderá voltar a ser o PFL, do qual não consegue desencarnar.
Até as eleições de outubro, dias, semanas, meses, voarão nas asas do vento. Ou a oposição aceita o repto lançado pela situação, e disputa a presidência para valer, ou será fragorosamente batido no próximo semestre.
Quem viver verá.
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*Almir Pazzianotto Pinto é advogado, foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho.
Quebra de safa americana beneficiará produtores brasileiros
Que o MST não ouça, mas, a quebra da safra nos Estados Unidos e Europa com nevascas que não se via há 50 anos, colocará o Brasil como maior produtor mundial em várias comodities.
Em São Paulo, líderes do Sem Terra já estão divulgando seus nomes como candidatos neste ano.
Diolinda, a mulher de José Rainha é candidata à Assembléia Legislativa de São Paulo.
Existe uma cláusula no estatuto –- é, o MST tem estatuto, só não tem CNPJ! – proíbe a candidatura de membros da organização a qualquer cargo eletivo.
Ah! Mas, Diolinda não é mais do MST. Tá certo?
Oposição bem que tentou, mas não afetou a auto-estima brasileira
foto: revista Hitória (Ken)
A quinta economia do mundo?
Kenneth Maxwell é professor do Departamento de História e diretor do Programa de Estudos Brasileiros do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard. Um dos mais importantes brasilianistas da atualidade. Em sua coluna semanal da Folha de S Paulo, em 24/12/2009, o historiador britânico fez um insuspeito balanço da década que se finda. “Um bom momento para refletir sobre o que ocorreu e o que pode vir a ocorrer, especialmente para o Brasil”, avalia Maxwell.
Recorda o professor que ao final de 1999 as perspectivas (para o mundo ocidental) pareciam otimistas: O fim da Guerra Fria. O colapso da União Soviética. A internet triunfando sobre as últimas fronteiras. Os EUA, o protagonista da História.
Em março de 2000, porém, uma surpresa: a explosão da bolha da internet destrói trilhões de dólares em patrimônio. Em setembro de 2001, outra explosão: as torres gêmeas do World Trade Center. Era a evidência do surgimento de um novo mundo ainda mais vulnerável. Os Estados Unidos a patrocinar mais duas guerras, com envolvimento de mais de 200 mil soldados.
Nesse cenário, “a última década presenciou mudanças importantes na distribuição de poder e riqueza”, diz o brasilianista. A China hoje responde por 4 das 25 maiores empresas mundiais. Era nenhuma uma década atrás. O Brasil responde por uma, Petrobras em nono lugar. Hoje estão fora 17 das 25 empresas que formavam o ranking em 1999.
“O Brasil encerra a década bem posicionado para o futuro. A recessão mundial demorou mais a começar e acabou mais rápido no Brasil do que em outros países. Uma gestão prudente da política fiscal, nascida de amargas experiências passadas, (...) O Brasil continua a desenvolver novas parcerias no comércio mundial. O país sustenta uma economia vibrante e uma classe média em expansão. Na véspera do Natal de 2009, os brasileiros deveriam comemorar o fato de que tenham avançado tanto e de que um futuro promissor esteja ao seu alcance”, completou Kenneth Maxwell.
Sua análise é menos entusiasmada que a do ex-presidente Sarney, para quem: “2010 fecha um ciclo para o Brasil, dos 120 anos da República, governado por um operário que encerra a década escolhido o "Homem do Ano" pelos grandes jornais do mundo, pela sua atividade internacional, por ter o Brasil mudado de patamar, ser credor do FMI, com reservas de mais de US$ 200 bilhões, estabilidade interna, diminuição da pobreza e do desemprego, distribuição de renda, além de protagonismo na discussão e na solução dos grandes temas mundiais” (Folha de S Paulo, 1º de janeiro de 2010).
Na última segunda-feira (04/01), o deputado Ricardo Berzoini, também na Folha, lembrou que não somente a expressiva maioria da população brasileira como também da comunidade internacional reconhecem a competência brasileira na superação dos reflexos da crise que abalou o mundo e ainda ronda muitas nações. “Fechando 2009 com a criação de 1,4 milhão de empregos e a adoção de medidas que possibilitaram o Brasil retomar a trilha do crescimento sustentável”.
Diante de incontestes avanços, soa um tanto ultrapassada a postura oposicionista, repercutida e ampliada por conhecidos setores da mídia nacional, que propõe uma atitude de baixa auto-estima. Vã tentativa de revigorar nosso velho complexo de vira-latas. A disseminação de mitos macaqueados pela falta de apuração da imprensa e aceitos pela leitura acrítica e apressada. É como desfilam pelos jornalões os “gastos” do governo, o “deficit” da Previdência, os juros e a carga tributária “mais altos do mundo”.
Preferível discutir, como propõem Kenneth Maxwell e, hoje (8/01/2009), a agencia Reuters* – sempre a imprensa estrangeira superando a nossa –, um rascunho de proposta para colocar o Brasil na posição de quinta economia do mundo. Estamos prontos para isso.
(*) O Boletim do H S Liberal, que é médico e intelectual do PC do B, ocupando alto cargo no Diretório Nacional, vale a pena ser conhecido (linkado).
Estréia hoje!
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