Na Folha
Artigo - Enquanto a TV não vem
ELIANE CANTANHÊDE
BRASÍLIA - Serra fez uma aposta arriscada ao empurrar até o último minuto o lançamento de sua candidatura à Presidência, para desespero e/ou irritação de tucanos, demos e do pessoal do PPS. Mas, aparentemente, sua estratégia estava correta. Foi na hora certa.
Depois do susto da oposição em fevereiro, quando Dilma encostou em Serra, com apenas quatro pontos de diferença, a sensação entre os serristas é a de que o pior já passou. Ao menos nesta fase da campanha.
Com tempestades, alagamentos e mortes em São Paulo e a consequente perda de pontos de Serra, Planalto, PT e Dilma imaginavam -na mesma proporção que PSDB e Serra temiam- um cruzamento nas curvas das pesquisas, com a petista avançando para a dianteira e o tucano escorregando para o segundo lugar em março ou abril.
Já imaginou o clima de enterro na festa de Serra se ele tivesse caído do patamar de 30% e ficado atrás da adversária? Mas isso não se concretizou, e o novo Datafolha de certa forma cristaliza a posição dos dois favoritos, que disputam pau a pau.
Mudanças, se houver, só depois da Copa e com o início da TV.
O pessoal da Dilma não deve estar dando pulos de alegria, mas a situação deve estar feia mesmo é numa outra seara: na de Ciro Gomes, que vai sendo sugado para a vaga de lanterninha, enquanto Marina Silva vai caminhando muito devagar, mas devagar e sempre.
Não erra, distingue-se dos opositores com elegância, provoca na hora certa. Deixa um rastro de possibilidades: no final, quem não engole Serra ou Dilma, mas não chegar a se encantar com o adversário direto de um ou da outra, sempre terá essa saída, digamos, honrosa.
Desde o início, parece claro que Marina não é para ganhar, mas para ocupar um vácuo, fazer bonito. E o que está cada vez mais evidente é que Ciro não tem vez: nem no governo, nem na oposição, nem no próprio partido. Quis ser tudo, corre o risco de não ser nada.
elianec@uol.com.br
Eleições 2010: Ainda é cedo
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Opinião
Acompanho fatos relevantes a partir de abordagem jornalística, isenta e independente
Declaração de amor à Brasília
Artigo - Condenada à revelia
Ana Dubeux - anadubeux.df@dabr.com.br - No Correio
Nunca fui acusada formalmente, mas devo confessar a minha condição de ré absoluta numa pendenga que parece não ter fim. Arrasta-se desde 1987, quando cheguei a Brasília, um processo que me conduz a um sentimento cada vez mais forte por esta cidade. Para cada forasteiro que aqui se estabelece, a sentença tarda, embora se confirme sempre. Quem vai ficando por este cerradão tão árido e tão verde e tão monumentalmente belo está irremediavelmente fadado a um amor perpétuo. Quem chegou aqui ainda de calças curtas e cresceu à medida que as superquadras ganhavam vida tem como cupido a memória daqueles tempos. Muitos outros, que já aterrissaram de diploma na mão, à procura de emprego, tiveram a sorte e a oportunidade de encontrar um terreno fértil para o sustento, para constituir uma família e fazer muitos amigos.
No meu caso, não posso negar que o acaso pesou demais na minha relação próspera com a capital. Desembarquei de mala e cuia movida por uma vontade incontrolável de cobrir a Constituinte — ou seja, testemunhar e contar aos leitores de um jornal um momento histórico importantíssimo no processo de redemocratização do país. Mas quis o destino que a minha trajetória no jornalismo aqui em Brasília começasse na editoria de Cidades. Ainda bem. Iniciei, então, uma crescente e duradoura paixão que me move até hoje. Conheci dos meandros da política local aos primeiros assentamentos, passando pelo assombro dos crimes bárbaros, e tive a sorte de continuar acompanhando, muitas vezes com alegria, outras com tristeza, todos os acontecimentos. Devo isso, em grande parte, ao meu trabalho no Correio Braziliense.
O Correio e Brasília são, não há como negar, crias de um mesmo tempo, de um mesmo sonho, de uma só história. Muitos dos que aqui trabalham são pioneiros, filhos de pioneiros ou pessoas que viveram suas infâncias embaixo dos blocos. Não há meios de dissociar o jornal da cidade. Os leitores, como testemunham dia a dia por e-mails, cartas e telefonemas, esperam ver no jornal um prolongamento de seu olhar sobre a capital. Páginas e mais páginas, que devem servir ao propósito de conversar com eles sobre Brasília, sintetizar seus pensamentos, oferecer outros pontos de vista, retratar as novidades, informá-los e, por que não, homenageá-los, como temos feito em várias publicações, especialmente neste ano do seu cinquentenária — e que se estenderão ao longo desta semana.
Sinto orgulho de ter filhos e amigos brasilienses, da mesma forma como sou orgulhosa de ter feito da minha carreira jornalística um caminho próspero para a adoção de uma cidade que hoje enche meu coração. Podem dizer tudo de Brasília e podem até querer matá-la a cada dia, ferindo seus brios e seu propósitos, mas jamais conseguirão tirar das pessoas essa sensação de aconchego, de intimidade, de pertencimento. Com todos os problemas, aqui é nossa casa.
Ana Dubeux - anadubeux.df@dabr.com.br - No Correio
Nunca fui acusada formalmente, mas devo confessar a minha condição de ré absoluta numa pendenga que parece não ter fim. Arrasta-se desde 1987, quando cheguei a Brasília, um processo que me conduz a um sentimento cada vez mais forte por esta cidade. Para cada forasteiro que aqui se estabelece, a sentença tarda, embora se confirme sempre. Quem vai ficando por este cerradão tão árido e tão verde e tão monumentalmente belo está irremediavelmente fadado a um amor perpétuo. Quem chegou aqui ainda de calças curtas e cresceu à medida que as superquadras ganhavam vida tem como cupido a memória daqueles tempos. Muitos outros, que já aterrissaram de diploma na mão, à procura de emprego, tiveram a sorte e a oportunidade de encontrar um terreno fértil para o sustento, para constituir uma família e fazer muitos amigos.
No meu caso, não posso negar que o acaso pesou demais na minha relação próspera com a capital. Desembarquei de mala e cuia movida por uma vontade incontrolável de cobrir a Constituinte — ou seja, testemunhar e contar aos leitores de um jornal um momento histórico importantíssimo no processo de redemocratização do país. Mas quis o destino que a minha trajetória no jornalismo aqui em Brasília começasse na editoria de Cidades. Ainda bem. Iniciei, então, uma crescente e duradoura paixão que me move até hoje. Conheci dos meandros da política local aos primeiros assentamentos, passando pelo assombro dos crimes bárbaros, e tive a sorte de continuar acompanhando, muitas vezes com alegria, outras com tristeza, todos os acontecimentos. Devo isso, em grande parte, ao meu trabalho no Correio Braziliense.
O Correio e Brasília são, não há como negar, crias de um mesmo tempo, de um mesmo sonho, de uma só história. Muitos dos que aqui trabalham são pioneiros, filhos de pioneiros ou pessoas que viveram suas infâncias embaixo dos blocos. Não há meios de dissociar o jornal da cidade. Os leitores, como testemunham dia a dia por e-mails, cartas e telefonemas, esperam ver no jornal um prolongamento de seu olhar sobre a capital. Páginas e mais páginas, que devem servir ao propósito de conversar com eles sobre Brasília, sintetizar seus pensamentos, oferecer outros pontos de vista, retratar as novidades, informá-los e, por que não, homenageá-los, como temos feito em várias publicações, especialmente neste ano do seu cinquentenária — e que se estenderão ao longo desta semana.
Sinto orgulho de ter filhos e amigos brasilienses, da mesma forma como sou orgulhosa de ter feito da minha carreira jornalística um caminho próspero para a adoção de uma cidade que hoje enche meu coração. Podem dizer tudo de Brasília e podem até querer matá-la a cada dia, ferindo seus brios e seu propósitos, mas jamais conseguirão tirar das pessoas essa sensação de aconchego, de intimidade, de pertencimento. Com todos os problemas, aqui é nossa casa.
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Novo governador do DF é especialista em marketing
Perfil Rogério Rosso - Um político de várias alianças
Eleição indireta
Novo chefe do Executivo, que é cria política de Joaquim Roriz e teve importante papel no governo Arruda, adora rock, foi diretor de empresa, secretário de Estado, presidente da Codeplan e administrador de Ceilândia. E sempre alimentou o sonho de comandar o Buriti
Ele é especialista em Marketing. Venceu as eleições indiretas com o discurso de que seria uma alternativa política para evitar a intervenção federal, cuja tese levantada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, poderia ganhar força em caso de vitória de um deputado distrital em um momento de suspeição na Câmara Legislativa. Aos 41 anos, Rogério Rosso foi escolhido candidato do PMDB como uma das raras opções não chamuscadas no partido com a crise deflagrada no Distrito Federal por causa da Operação Caixa de Pandora. Seu nome não apareceu em qualquer gravação até agora, tampouco nos depoimentos de Durval Barbosa, o delator do suposto esquema de corrupção no GDF.
Rosso virou candidato nas eleições indiretas como resposta a Joaquim Roriz, que pediu votos para Wilson Lima (PR) e incomodou quem deseja fazer oposição ao ex-governador na campanha de outubro. O novo governador-tampão pertence a um grupo que já foi aliado de Roriz, mas se afastou e hoje é visto pela base rorizista como um adversário a combater, situação que tem como principal expoente o presidente do PMDB-DF, Tadeu Filippelli, seu aliado e idealizador de sua candidatura. Rosso surgiu por acaso na política, justamente pelas mãos do ex-governador do Distrito Federal, com quem hoje mantém relação distante. Roriz viu nele um político promissor.
A aproximação aconteceu em 2002 porque a mulher de Rosso, Karina Curi Rosso, com quem tem quatro filhos, é a melhor amiga da caçula de Roriz, Liliane. Na campanha de 2002, quando o então governador do PMDB, atolado numa crise de imagem, concorria à reeleição e precisava de munição para superar as denúncias de grilagem de terras, Rosso apareceu como um conselheiro na área de estratégia de comunicação. Até então, formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB), ele era diretor de uma empresa do ramo de automóveis e nunca tinha pensado em largar a carreira corporativa para mergulhar na vida pública. Foi na campanha de Roriz, no entanto, que se inclinou pela política. Passou a trabalhar com a meta de se transformar em um futuro candidato ao Palácio do Buriti.
Nascido no Rio, veio para Brasília com um ano. De família de classe média, viveu durante a infância na Asa Sul, estudou em escola pública e privada, e começou a trabalhar cedo, aos 14 anos. Fazia bicos no comércio local, para conseguir comprar as coisas. Depois de formado, montou um escritório de advocacia, até descobrir interesse pelo setor automotivo. Trabalhou na Caterpillar, indústria americana de tratores, e depois foi para a Mercedez, antes de trabalhar na Fiat. No governo Roriz, exerceu cargos que lhe deram projeção. Foi secretário de Desenvolvimento Econômico e depois, já de olho na corrida ao eleitor, foi nomeado administrador regional da Ceilândia. Inventou o Ceilambódromo e transferiu o Carnaval para a cidade.
Casado com a filha de um dos empresários mais ricos de Brasília, Roberto Curi, dono da rede Curinga dos Pneus, Rosso alugou um pequeno apartamento em Ceilândia e divulgou que morava por lá. Karina o acompanhava em eventos públicos, visitava famílias pobres e distribuía brinquedos e comida. Na passagem pela Ceilândia, Rosso se aproximou de um morador da cidade, o ex-deputado distrital Chico Vigilante (PT), com quem fez parcerias políticas na região que abriga o maior eleitorado do DF. A vitória de Rosso ontem só foi possível justamente pelo apoio de petistas.
Projeto de poder
O projeto da família sempre foi ver Rosso governador. Em 2006, embalado pelo incentivo de Roriz, ele se candidatou a uma vaga de deputado federal. Na prestação de contas à Justiça Eleitoral, o sogro é registrado como seu grande financiador. Rosso declarou ter arrecadado R$ 1,4 milhão, dos quais R$ 1,2 milhão tiveram como origem as empresas de Roberto Curi. Com 51 mil votos — 10 mil a menos que Laerte Bessa (PMDB) —, ficou como primeiro suplente. Foi uma frustração para a família, que apostou no projeto. Depois da campanha de 2006, já na fase de transição, Rosso recebeu convite de José Roberto Arruda, eleito no primeiro turno, para assumir o cargo de presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).
No governo Arruda, Rogério Rosso foi o responsável pelas políticas para as cidades do Entorno do DF e pelas parcerias público-privadas (PPPs). Foi o grande defensor do projeto de construção do complexo que abrigaria o novo centro administrativo do governo, em Taguatinga, um empreendimento que nunca teve a pedra fundamental, apesar de o contrato ter sido assinado pelo GDF com o consórcio formado pela Via Engenharia e Odebrecht. A ideia da PPP é que as empreiteiras arcassem com as obras civis e pudessem explorar por 22 anos a administração e a prestação de serviços, como vigilância, manutenção e conservação.
A expectativa de Rosso era se candidatar novamente a uma vaga de deputado federal em outubro e tentar concorrer em 2014 ao Governo do DF, projeto antecipado pelas circunstâncias provocadas pela Caixa de Pandora. No governo Roriz, seu plano mais controverso foi a construção do trem de alta velocidade que ligaria Brasília a Goiânia, um empreendimento concebido para desenvolver o Entorno do DF. A ideia foi abraçada por Roriz que, em 2005, chegou a visitar várias fábricas de trens na Europa, ao lado de Rosso, para tentar viabilizar o projeto na capital do país. Não deu certo, mas a peregrinação de Roriz pela Espanha, França e Alemanha acabou desviando na época a imagem do Executivo dos processos que Roriz respondia na Justiça Eleitoral por suposto uso da máquina — que depois acabaram sendo julgados improcedentes.
Rock pesado
No cargo de governador pelos próximos oito meses em um um momento de tamanha turbulência política, Rogério Rosso terá pouco tempo para a diversão e relaxar na chácara que mantém em Cidade Ocidental, município do Entorno onde ajudou a eleger um vereador. Também terá menos chance de se dedicar à música. Com nome artístico R. Schumann (sobrenome do meio), Rosso é baixista e tem preferência por rock pesado, influenciado por bandas como Whitesnake.
Antes de pensar em ser governador no mandato-tampão, se dedicava ao projeto de produção de um vídeo em homenagem ao aniversário de Brasília, com música heavy de sua autoria tocada por artistas da cidade. Ele também é tecladista e toca guitarra, mantém um estúdio na chácara que gosta de frequentar com os filhos. Montou a primeira banda de rock aos 16 anos. No governo, agora, Rogério Rosso terá muita pauleira pela frente para tentar tirar o Distrito Federal do inferno astral.
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Entrevista Rogério Rosso - 'Brasília é maior que a crise'
Novo governador diz querer imprimir a sua marca no governo do DF e que assumirá com o desafio de não deixar a máquina paralisar
Em oito meses de governo, Rogério Rosso pretende criar a própria marca. Até o fim da semana, o novo governador terá a própria equipe a ser formada com pessoas da sua confiança, escolhidas depois de ouvir os aliados da Câmara Legislativa. Ele não nega que vai administrar a capital do país com os eleitores que o levaram ao poder, muitos dos quais sob investigação na Operação Caixa de Pandora. Mas terá de ser um equilibrista para agradar aos deputados distritais sem alimentar a força do pedido de intervenção federal no Distrito Federal, feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para dar a sua cara à gestão, a reforma administrativa vai começar pela assessoria mais próxima. As mudanças vão longe e devem envolver todo o secretariado. Com uma ampla casa no Lago Sul, Rosso não deverá se mudar para a residência oficial de Águas Claras. Usará a estrutura para reuniões e vai montar o gabinete no anexo do Palácio do Buriti. O centro administrativo de Taguatinga (Buritinga), um dos símbolos da passagem de José Roberto Arruda pelo GDF, será desativado, segundo Rosso revelou ao Correio. Nenhum integrante do primeiro escalão que deixou o cargo em decorrência da crise retornará ao cargo. Em entrevista, Rosso admite que sempre trabalhou para ser, um dia, governador. Mas garante que não vai concorrer à reeleição.
O senhor assume o GDF num momento de turbulência. Que medidas adotar para evitar intervenção?
É um conjunto de medidas que vai desde uma auditoria no governo, divulgação dos gastos e receitas, corte de despesas. Tenho o desafio de não deixar a máquina paralisada, mantendo os serviços, as obras e os programas sociais, desde que regularmente contratados. De procurar mostrar para as instituições que o governo voltará a funcionar normalmente, como o cidadão deseja, e com austeridade.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não acredita nas eleições indiretas. O senhor vai procurá-lo?
Essas eleições foram legitimadas pelo Poder Judiciário, pelo Tribunal de Justiça do DF. Pretendo, sim, me encontrar com o procurador-geral e chefes de todas as instituições para mostrar o que vamos fazer. É importante esse diálogo, para mostrar que Brasília é maior que a crise.
O senhor tem uma formação na iniciativa privada e surgiu no mundo político no governo Roriz. Também participou da gestão Arruda. O senhor é ligado a eles?
Tenho um perfil técnico. De nenhuma forma fico constrangido em dizer que trabalhei no governo Roriz. Muito pelo contrário, a minha vida pública começou lá.
O que levou o senhor à vitória? Muita gente apostava em Wilson Lima.
Foi um conjunto de forças partidárias. Primeiro, o desejável era que houvesse mais entendimento antes dos registros das chapas. No decorrer da semana, começaram os entendimentos partidários, de parlamentares. Tinha impressão de que o resultado seria diferente. Acreditava na vitória e torcia por ela, mas em segundo turno mais combativo.
Houve um movimento do DEM de oferecer apoio ao PT para barrar a sua candidatura. A que o senhor deve isso?
Não tive essa informação. Teria dificuldade até em entender essa movimentação.
Não é uma questão política entre Alberto Fraga e Tadeu Filippelli?
Pode ser. Mas Brasília, nesse momento, sei que é difícil, precisa unir as forças para sair desse momento.
A eleição de outubro influenciou essa vitória?
O compromisso nosso, do PMDB e de outros partidos, é que o vencedor nesse momento não pode concorrer à reeleição, até para que as instituições percebam que não vai haver utilização da máquina para fins eleitorais. Da nossa parte, há uma firme convicção de que não iremos para qualquer eleição. Nem a Ivelise nem eu.
O PMDB foi muito atingido pela Caixa de Pandora. O senhor teve votos de três pessoas do seu partido que estão sob investigação. O senhor vai proteger essas pessoas?
A Justiça, durante essa semana, legitimou a participação de todos os deputados distritais. Todos eles já ofereceram as suas defesas. Essa é uma questão que, honestamente, para mim... Nós precisamos da Câmara como um todo. Fico muito tranquilo, a própria Justiça legitimou a participação de todos os deputados.
Pretende se mudar para a Residência oficial, em Águas Claras, usar o Buritinga?
Honestamente, nem parei para pensar sobre isso. Usar Águas claras? Eu tenho quatro filhos, super bagunceiros, sapecas, ia acabar com a tranquilidade do governo. Então, o seguinte: é melhor a gente ficar em casa. Usar o Buritinga? Uma coisa é o centro administrativo novo, outra coisa é Buritinga. Se não reformar já…
Vai desativá-lo?
Essa é a nossa ideia. Mas isso é uma discussão com todos do governo.
O senhor garante que não será candidato?
Garanto.
Acredita em uma aliança do PT com o PMDB em outubro?
Nacionalmente, isso está consolidado. E eu sei que essa aliança vai ser tentada nos estados. O Filippelli, como presidente do partido, está à frente dessas negociações. Vamos conversar com ele. Mas o que eu puder fazer para a gente trabalhar sem pensar muito nisso, em eleições... Esse momento, agora, é de focar no nosso trabalho.
Oito meses é pouco para tantos planos?
Muito pouco. Oito meses é priorizar. E vamos priorizar em investimento e infraestrutura em baixa renda. E vamos priorizar saúde, educação e segurança.
O senhor vai mudar equipe, botar sua cara no governo?
Vou. Acho que tem que ser colocada. Não a minha cara, eu diria, vou colocar várias caras.
Vai fazer o governo Rogério Rosso?
Vamos fazer o governo Rogério, Ivelise, o governo do servidor público, tentar maximizar a utilização do servidor público em cargos de chefia.
O senhor vai consultar a Câmara para formar esse governo?
Precisamos até de autorização da Câmara para algumas mudanças.
Quem não votou no senhor terá algum tipo de represália?
No que depender da gente, esse é um governo sem ódio, sem revanchismo, sem perseguição. Tem que ser um governo de paz. Brasília precisa de paz, não de ódio agora.
Protesto termina em confronto. Sete ficam feridos
Deco Bancillon
Yale Gontijo
O clima na frente da Câmara Legislativa do Distrito Federal começou tranquilo na tarde de ontem durante a votação dos deputados distritais. Impedidos de entrar, manifestantes do movimento Fora Arruda empunhavam cartazes e gritavam palavras de ordem que pediam a eleição direta. Por volta das 16h, um grupo de 40 pessoas que fazia o protesto tentou invadir a Casa e foi violentamente reprimido por cerca de 250 policiais militares, que usaram cassetetes. Ao fim do confronto, quatro estudantes, um segurança da Câmara e dois policiais ficaram feridos, mas sem gravidade. Três manifestantes foram encaminhados para a 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). Eles foram liberados ontem à noite.
Os policiais estavam sob o comando do coronel Silva Filho, o mesmo que coordenou a operação no Eixo Monumental contra a corrupção no DF, no começo de dezembro, que acabou com manifestantes feridos. O estudante de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Gabriel Soares, 25 anos, foi atingido na cabeça e na perna. Ele teve de ser levado para o Hospital Santa Helena, na Asa Norte, onde foi atendido e liberado em seguida. “Foi muito confuso, me jogaram no chão e fui chutado”, descreveu.
Mais três estudantes feridos foram levados para o Hospital de Base. Segundo o comando do movimento, eles passam bem. Após o confronto, os policiais apresentaram dois estilingues e pacotes de bolas de gude como prova da agressão que teriam sofrido por parte dos manifestantes. “Eu não estava com estilingue. Não vi ninguém com estilingue. Mas tinha muita gente aqui. Não dá para saber”, afirmou o estudante de antropologia. Segundo oficiais da PM, os policiais que se feriram foram socorridos e passam bem. Ao final da votação, por volta das 19h30, manifestantes cercaram a saída de carros da Câmara. Novamente, o clima voltou a ficar tenso. Um policial chegou a sacar uma arma, mas não disparou. “O trabalho foi executado pela Polícia Militar para a preservação da segurança, do patrimônio e da ordem pública”, ressaltou Silva Filho.
Os manifestantes fizeram vigília da noite de sexta para sábado em frente à Câmara. Durante a votação, eles gritavam palavras de ordem contra o pleito. Bonecos de candidatos falsos — Toni Panettone e Bezerra de Ouro —também participavam do movimento. Com irreverência, o protesto teve até a repartição de uma pizza de verdade. Além dos estudantes, houve a participação de membros do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT) e cerca de 30 deficientes visuais, que protestavam contra o fechamento da sede da associação que os representa — a ABDV. O contingente destacado para fazer a segurança na Câmara foi de 700 PMs, segundo o coronel Silva Filho.
Fonte: Correio Braziliense.
Eleição indireta
Novo chefe do Executivo, que é cria política de Joaquim Roriz e teve importante papel no governo Arruda, adora rock, foi diretor de empresa, secretário de Estado, presidente da Codeplan e administrador de Ceilândia. E sempre alimentou o sonho de comandar o Buriti
Ele é especialista em Marketing. Venceu as eleições indiretas com o discurso de que seria uma alternativa política para evitar a intervenção federal, cuja tese levantada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, poderia ganhar força em caso de vitória de um deputado distrital em um momento de suspeição na Câmara Legislativa. Aos 41 anos, Rogério Rosso foi escolhido candidato do PMDB como uma das raras opções não chamuscadas no partido com a crise deflagrada no Distrito Federal por causa da Operação Caixa de Pandora. Seu nome não apareceu em qualquer gravação até agora, tampouco nos depoimentos de Durval Barbosa, o delator do suposto esquema de corrupção no GDF.
Rosso virou candidato nas eleições indiretas como resposta a Joaquim Roriz, que pediu votos para Wilson Lima (PR) e incomodou quem deseja fazer oposição ao ex-governador na campanha de outubro. O novo governador-tampão pertence a um grupo que já foi aliado de Roriz, mas se afastou e hoje é visto pela base rorizista como um adversário a combater, situação que tem como principal expoente o presidente do PMDB-DF, Tadeu Filippelli, seu aliado e idealizador de sua candidatura. Rosso surgiu por acaso na política, justamente pelas mãos do ex-governador do Distrito Federal, com quem hoje mantém relação distante. Roriz viu nele um político promissor.
A aproximação aconteceu em 2002 porque a mulher de Rosso, Karina Curi Rosso, com quem tem quatro filhos, é a melhor amiga da caçula de Roriz, Liliane. Na campanha de 2002, quando o então governador do PMDB, atolado numa crise de imagem, concorria à reeleição e precisava de munição para superar as denúncias de grilagem de terras, Rosso apareceu como um conselheiro na área de estratégia de comunicação. Até então, formado em direito pela Universidade de Brasília (UnB), ele era diretor de uma empresa do ramo de automóveis e nunca tinha pensado em largar a carreira corporativa para mergulhar na vida pública. Foi na campanha de Roriz, no entanto, que se inclinou pela política. Passou a trabalhar com a meta de se transformar em um futuro candidato ao Palácio do Buriti.
Nascido no Rio, veio para Brasília com um ano. De família de classe média, viveu durante a infância na Asa Sul, estudou em escola pública e privada, e começou a trabalhar cedo, aos 14 anos. Fazia bicos no comércio local, para conseguir comprar as coisas. Depois de formado, montou um escritório de advocacia, até descobrir interesse pelo setor automotivo. Trabalhou na Caterpillar, indústria americana de tratores, e depois foi para a Mercedez, antes de trabalhar na Fiat. No governo Roriz, exerceu cargos que lhe deram projeção. Foi secretário de Desenvolvimento Econômico e depois, já de olho na corrida ao eleitor, foi nomeado administrador regional da Ceilândia. Inventou o Ceilambódromo e transferiu o Carnaval para a cidade.
Casado com a filha de um dos empresários mais ricos de Brasília, Roberto Curi, dono da rede Curinga dos Pneus, Rosso alugou um pequeno apartamento em Ceilândia e divulgou que morava por lá. Karina o acompanhava em eventos públicos, visitava famílias pobres e distribuía brinquedos e comida. Na passagem pela Ceilândia, Rosso se aproximou de um morador da cidade, o ex-deputado distrital Chico Vigilante (PT), com quem fez parcerias políticas na região que abriga o maior eleitorado do DF. A vitória de Rosso ontem só foi possível justamente pelo apoio de petistas.
Projeto de poder
O projeto da família sempre foi ver Rosso governador. Em 2006, embalado pelo incentivo de Roriz, ele se candidatou a uma vaga de deputado federal. Na prestação de contas à Justiça Eleitoral, o sogro é registrado como seu grande financiador. Rosso declarou ter arrecadado R$ 1,4 milhão, dos quais R$ 1,2 milhão tiveram como origem as empresas de Roberto Curi. Com 51 mil votos — 10 mil a menos que Laerte Bessa (PMDB) —, ficou como primeiro suplente. Foi uma frustração para a família, que apostou no projeto. Depois da campanha de 2006, já na fase de transição, Rosso recebeu convite de José Roberto Arruda, eleito no primeiro turno, para assumir o cargo de presidente da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan).
No governo Arruda, Rogério Rosso foi o responsável pelas políticas para as cidades do Entorno do DF e pelas parcerias público-privadas (PPPs). Foi o grande defensor do projeto de construção do complexo que abrigaria o novo centro administrativo do governo, em Taguatinga, um empreendimento que nunca teve a pedra fundamental, apesar de o contrato ter sido assinado pelo GDF com o consórcio formado pela Via Engenharia e Odebrecht. A ideia da PPP é que as empreiteiras arcassem com as obras civis e pudessem explorar por 22 anos a administração e a prestação de serviços, como vigilância, manutenção e conservação.
A expectativa de Rosso era se candidatar novamente a uma vaga de deputado federal em outubro e tentar concorrer em 2014 ao Governo do DF, projeto antecipado pelas circunstâncias provocadas pela Caixa de Pandora. No governo Roriz, seu plano mais controverso foi a construção do trem de alta velocidade que ligaria Brasília a Goiânia, um empreendimento concebido para desenvolver o Entorno do DF. A ideia foi abraçada por Roriz que, em 2005, chegou a visitar várias fábricas de trens na Europa, ao lado de Rosso, para tentar viabilizar o projeto na capital do país. Não deu certo, mas a peregrinação de Roriz pela Espanha, França e Alemanha acabou desviando na época a imagem do Executivo dos processos que Roriz respondia na Justiça Eleitoral por suposto uso da máquina — que depois acabaram sendo julgados improcedentes.
Rock pesado
No cargo de governador pelos próximos oito meses em um um momento de tamanha turbulência política, Rogério Rosso terá pouco tempo para a diversão e relaxar na chácara que mantém em Cidade Ocidental, município do Entorno onde ajudou a eleger um vereador. Também terá menos chance de se dedicar à música. Com nome artístico R. Schumann (sobrenome do meio), Rosso é baixista e tem preferência por rock pesado, influenciado por bandas como Whitesnake.
Antes de pensar em ser governador no mandato-tampão, se dedicava ao projeto de produção de um vídeo em homenagem ao aniversário de Brasília, com música heavy de sua autoria tocada por artistas da cidade. Ele também é tecladista e toca guitarra, mantém um estúdio na chácara que gosta de frequentar com os filhos. Montou a primeira banda de rock aos 16 anos. No governo, agora, Rogério Rosso terá muita pauleira pela frente para tentar tirar o Distrito Federal do inferno astral.
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Entrevista Rogério Rosso - 'Brasília é maior que a crise'
Novo governador diz querer imprimir a sua marca no governo do DF e que assumirá com o desafio de não deixar a máquina paralisar
Em oito meses de governo, Rogério Rosso pretende criar a própria marca. Até o fim da semana, o novo governador terá a própria equipe a ser formada com pessoas da sua confiança, escolhidas depois de ouvir os aliados da Câmara Legislativa. Ele não nega que vai administrar a capital do país com os eleitores que o levaram ao poder, muitos dos quais sob investigação na Operação Caixa de Pandora. Mas terá de ser um equilibrista para agradar aos deputados distritais sem alimentar a força do pedido de intervenção federal no Distrito Federal, feito pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em discussão no Supremo Tribunal Federal (STF).
Para dar a sua cara à gestão, a reforma administrativa vai começar pela assessoria mais próxima. As mudanças vão longe e devem envolver todo o secretariado. Com uma ampla casa no Lago Sul, Rosso não deverá se mudar para a residência oficial de Águas Claras. Usará a estrutura para reuniões e vai montar o gabinete no anexo do Palácio do Buriti. O centro administrativo de Taguatinga (Buritinga), um dos símbolos da passagem de José Roberto Arruda pelo GDF, será desativado, segundo Rosso revelou ao Correio. Nenhum integrante do primeiro escalão que deixou o cargo em decorrência da crise retornará ao cargo. Em entrevista, Rosso admite que sempre trabalhou para ser, um dia, governador. Mas garante que não vai concorrer à reeleição.
O senhor assume o GDF num momento de turbulência. Que medidas adotar para evitar intervenção?
É um conjunto de medidas que vai desde uma auditoria no governo, divulgação dos gastos e receitas, corte de despesas. Tenho o desafio de não deixar a máquina paralisada, mantendo os serviços, as obras e os programas sociais, desde que regularmente contratados. De procurar mostrar para as instituições que o governo voltará a funcionar normalmente, como o cidadão deseja, e com austeridade.
O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, não acredita nas eleições indiretas. O senhor vai procurá-lo?
Essas eleições foram legitimadas pelo Poder Judiciário, pelo Tribunal de Justiça do DF. Pretendo, sim, me encontrar com o procurador-geral e chefes de todas as instituições para mostrar o que vamos fazer. É importante esse diálogo, para mostrar que Brasília é maior que a crise.
O senhor tem uma formação na iniciativa privada e surgiu no mundo político no governo Roriz. Também participou da gestão Arruda. O senhor é ligado a eles?
Tenho um perfil técnico. De nenhuma forma fico constrangido em dizer que trabalhei no governo Roriz. Muito pelo contrário, a minha vida pública começou lá.
O que levou o senhor à vitória? Muita gente apostava em Wilson Lima.
Foi um conjunto de forças partidárias. Primeiro, o desejável era que houvesse mais entendimento antes dos registros das chapas. No decorrer da semana, começaram os entendimentos partidários, de parlamentares. Tinha impressão de que o resultado seria diferente. Acreditava na vitória e torcia por ela, mas em segundo turno mais combativo.
Houve um movimento do DEM de oferecer apoio ao PT para barrar a sua candidatura. A que o senhor deve isso?
Não tive essa informação. Teria dificuldade até em entender essa movimentação.
Não é uma questão política entre Alberto Fraga e Tadeu Filippelli?
Pode ser. Mas Brasília, nesse momento, sei que é difícil, precisa unir as forças para sair desse momento.
A eleição de outubro influenciou essa vitória?
O compromisso nosso, do PMDB e de outros partidos, é que o vencedor nesse momento não pode concorrer à reeleição, até para que as instituições percebam que não vai haver utilização da máquina para fins eleitorais. Da nossa parte, há uma firme convicção de que não iremos para qualquer eleição. Nem a Ivelise nem eu.
O PMDB foi muito atingido pela Caixa de Pandora. O senhor teve votos de três pessoas do seu partido que estão sob investigação. O senhor vai proteger essas pessoas?
A Justiça, durante essa semana, legitimou a participação de todos os deputados distritais. Todos eles já ofereceram as suas defesas. Essa é uma questão que, honestamente, para mim... Nós precisamos da Câmara como um todo. Fico muito tranquilo, a própria Justiça legitimou a participação de todos os deputados.
Pretende se mudar para a Residência oficial, em Águas Claras, usar o Buritinga?
Honestamente, nem parei para pensar sobre isso. Usar Águas claras? Eu tenho quatro filhos, super bagunceiros, sapecas, ia acabar com a tranquilidade do governo. Então, o seguinte: é melhor a gente ficar em casa. Usar o Buritinga? Uma coisa é o centro administrativo novo, outra coisa é Buritinga. Se não reformar já…
Vai desativá-lo?
Essa é a nossa ideia. Mas isso é uma discussão com todos do governo.
O senhor garante que não será candidato?
Garanto.
Acredita em uma aliança do PT com o PMDB em outubro?
Nacionalmente, isso está consolidado. E eu sei que essa aliança vai ser tentada nos estados. O Filippelli, como presidente do partido, está à frente dessas negociações. Vamos conversar com ele. Mas o que eu puder fazer para a gente trabalhar sem pensar muito nisso, em eleições... Esse momento, agora, é de focar no nosso trabalho.
Oito meses é pouco para tantos planos?
Muito pouco. Oito meses é priorizar. E vamos priorizar em investimento e infraestrutura em baixa renda. E vamos priorizar saúde, educação e segurança.
O senhor vai mudar equipe, botar sua cara no governo?
Vou. Acho que tem que ser colocada. Não a minha cara, eu diria, vou colocar várias caras.
Vai fazer o governo Rogério Rosso?
Vamos fazer o governo Rogério, Ivelise, o governo do servidor público, tentar maximizar a utilização do servidor público em cargos de chefia.
O senhor vai consultar a Câmara para formar esse governo?
Precisamos até de autorização da Câmara para algumas mudanças.
Quem não votou no senhor terá algum tipo de represália?
No que depender da gente, esse é um governo sem ódio, sem revanchismo, sem perseguição. Tem que ser um governo de paz. Brasília precisa de paz, não de ódio agora.
Protesto termina em confronto. Sete ficam feridos
Deco Bancillon
Yale Gontijo
O clima na frente da Câmara Legislativa do Distrito Federal começou tranquilo na tarde de ontem durante a votação dos deputados distritais. Impedidos de entrar, manifestantes do movimento Fora Arruda empunhavam cartazes e gritavam palavras de ordem que pediam a eleição direta. Por volta das 16h, um grupo de 40 pessoas que fazia o protesto tentou invadir a Casa e foi violentamente reprimido por cerca de 250 policiais militares, que usaram cassetetes. Ao fim do confronto, quatro estudantes, um segurança da Câmara e dois policiais ficaram feridos, mas sem gravidade. Três manifestantes foram encaminhados para a 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte). Eles foram liberados ontem à noite.
Os policiais estavam sob o comando do coronel Silva Filho, o mesmo que coordenou a operação no Eixo Monumental contra a corrupção no DF, no começo de dezembro, que acabou com manifestantes feridos. O estudante de antropologia da Universidade de Brasília (UnB) Gabriel Soares, 25 anos, foi atingido na cabeça e na perna. Ele teve de ser levado para o Hospital Santa Helena, na Asa Norte, onde foi atendido e liberado em seguida. “Foi muito confuso, me jogaram no chão e fui chutado”, descreveu.
Mais três estudantes feridos foram levados para o Hospital de Base. Segundo o comando do movimento, eles passam bem. Após o confronto, os policiais apresentaram dois estilingues e pacotes de bolas de gude como prova da agressão que teriam sofrido por parte dos manifestantes. “Eu não estava com estilingue. Não vi ninguém com estilingue. Mas tinha muita gente aqui. Não dá para saber”, afirmou o estudante de antropologia. Segundo oficiais da PM, os policiais que se feriram foram socorridos e passam bem. Ao final da votação, por volta das 19h30, manifestantes cercaram a saída de carros da Câmara. Novamente, o clima voltou a ficar tenso. Um policial chegou a sacar uma arma, mas não disparou. “O trabalho foi executado pela Polícia Militar para a preservação da segurança, do patrimônio e da ordem pública”, ressaltou Silva Filho.
Os manifestantes fizeram vigília da noite de sexta para sábado em frente à Câmara. Durante a votação, eles gritavam palavras de ordem contra o pleito. Bonecos de candidatos falsos — Toni Panettone e Bezerra de Ouro —também participavam do movimento. Com irreverência, o protesto teve até a repartição de uma pizza de verdade. Além dos estudantes, houve a participação de membros do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT) e cerca de 30 deficientes visuais, que protestavam contra o fechamento da sede da associação que os representa — a ABDV. O contingente destacado para fazer a segurança na Câmara foi de 700 PMs, segundo o coronel Silva Filho.
Fonte: Correio Braziliense.
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Acompanho fatos relevantes a partir de abordagem jornalística, isenta e independente
Articulação de bastidor elege novo governador do DF
Rosso surpreende e é eleito no 1º turno
Com o apoio de um grupo anti-Roriz que se uniu para derrotar Wilson Lima, peemedebista recebe 13 votos e vai governar o Distrito Federal pelos próximos oito meses. Entre seus eleitores estão oito distritais suspeitos de envolvimento na Caixa de Pandora
Com um favoritismo conquistado na véspera da eleição e mantido em segredo até o início da votação, o advogado Rogério Rosso, do PMDB, tornou-se o governador-tampão do Distrito Federal. Levou 13 votos, o mínimo necessário para a vitória em primeiro turno, e conquistou o direito de comandar o Buriti até 31 de dezembro. Terá a ex-administradora de Brasília Ivelise Longhi como vice. O peemedebista se elegeu com a ajuda de parte do grupo que até a última quinta-feira trabalhava em prol da candidatura do governador em exercício, Wilson Lima. Mas, na última hora, o PMDB conseguiu reverter a preferência dos distritais para a chapa liderada por Rosso. O candidato do PT, Antônio Ibañez, reuniu seis eleitores, placar insuficiente para levar a decisão ao segundo turno. Wilson Lima manteve apenas quatro deputados ao seu lado e agora volta à Presidência da Câmara Legislativa, sem a chance de tentar se reeleger deputado distrital em outubro.
Eram 15h, o horário marcado para o início da eleição indireta, e a maioria dos distritais ainda estava fora do plenário, reunida nos gabinetes e negociando adesões. A decisão de parte do grupo de Wilson de migrar os votos para Rosso foi tomada ainda na sexta-feira. Mas como nem todos os deputados aderiram, o PMDB fez boca de urna. Alguns dos parlamentares foram convencidos nos últimos minutos a se aliar ao peemedebista. Dos 13 votos de Rosso, oito vieram de distritais suspeitos de participação na Caixa de Pandora — Eurides Brito (PMDB), Rôney Nemer (PMDB), Benício Tavares (PMDB), Aylton Gomes (PR), Benedito Domingos (PP), Rogério Ulysses (sem partido), Pedro do Ovo (PRP) e Geraldo Naves (sem partido).
O PT foi um dos partidos cuja participação era considerada fundamental. Mesmo com um candidato em plenário, a direção do partido havia fechado acordo com o PMDB de Rosso. Chegou a se comprometer em votar em primeiro turno se houvesse risco de ele ser derrotado por Lima na primeira rodada. Mas os petistas não precisaram se expor. Rosso venceu no limite dos votos, sem se valer da parceria costurada com o PT, que, ao se aliar ao PMDB, tomou a decisão de derrotar Wilson Lima a qualquer custo. O governador em exercício chegou a cogitar deixar o governo temporariamente para participar da votação e evitar que Pedro do Ovo, seu suplente, impulsionasse Rosso. Foi impedido por força da legislação.
Pedro do Ovo, Geraldo Naves e Aylton Gomes só decidiram seus votos em cima da hora. Aylton anunciou sua preferência ao peemedebista após receber o aval da direção nacional do PR liberando o distrital de votar em Wilson, seu colega de partido. Ao optar por Rogério Rosso, Pedro do Ovo confirmou sua despedida do cargo de deputado. Como Wilson Lima perdeu, retomará seu mandato na Câmara. Mas Pedro do Ovo não ficará desamparado. Sempre foi um aliado de Rosso, de quem recebeu apoio na campanha de 2006, quando o candidato distrital chegou à suplência.
Última hora
O gabinete do deputado Milton Barbosa (PSDB) tornou-se o principal ponto de negociações enquanto prosseguia a sessão da eleição indireta no plenário da Câmara. O grupo contrário à candidatura de Rogério Rosso e Ivelise Longhi se revezou dentro do gabinete com os parlamentares que ficaram em cima do muro. A costura de um acordo de última hora contou com a presença dos próprios candidatos. Wilson Lima e o petebista Luiz Filipe Coelho defenderam a manutenção de suas chapas. Nenhum deles quis abrir mão de tentar concorrer ao Palácio do Buriti, mesmo correndo o risco de dividir os votos e facilitar a vitória do PMDB.
Os distritais do PSDB, Raimundo Ribeiro e Milson Barbosa, mantiveram o apoio a Wilson Lima. Jaqueline Roriz (PMN) também votou com o governador em exercício, que nos bastidores era apoiado por seu pai, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC). O quarto voto dele veio de Paulo Roriz (DEM), que saiu do controle do deputado federal Alberto Fraga, o principal articulador do partido no processo de sucessão. O combinado era votar em Wilson Lima. Raad Massouh se absteve — foi o único. Eliana Pedrosa (DEM) surpreendeu até ao PT ao escolher Antônio Ibañez.
Um sinal de que o grupo de Lima começava a ruir veio de uma das chapas concorrentes. Menos de 24 horas antes da eleição, o presidente do PRB no Distrito Federal, Roberto Wagner, e vice na coligação do deputado Aguinaldo de Jesus antecipou ao Correio que o distrital desistiria do embate em prol de uma aliança fechada entre nove partidos que tinham a princípio seis votos na Câmara. Os dois distritais do PTB, Dr. Charles e Cristiano Araújo, se somaram à atitude de Aguinaldo. Com a diferença de que, nesse último caso, a chapa não anunciou oficialmente sua desistência. No discurso anterior à votação, o concorrente petebista, Luiz Filipe, anunciou que manteria a candidatura. Mas não teve sequer os votos do partido.
Jatinho
Para evitar a pressão que começou tão logo o grupo em defesa de Wilson Lima percebeu a movimentação de desembarque do governador em exercício, os deputados fizeram as malas, desligaram os celulares e se refugiaram em Goiânia. Viajaram em jatinho emprestado pela família de Cristiano Araújo. Ao oferecer o avião, o distrital do PTB já havia desembarcado da candidatura do correligionário Luiz Filipe. Onze deputados se hospedaram no Castro’s Park Hotel, de onde saíram apenas na manhã de ontem, direto para a Câmara Legislativa.
O grupo se valeu da mesma prática utilizada pela deputada Eliana Pedrosa quando derrotou a base de Joaquim Roriz em 2004 e conseguiu fazer de Fábio Barcellos, hoje no PDT, o presidente da Câmara. Eliana trabalhava nos bastidores pela vitória de Wilson Lima. Ao perceber que seu candidato seria derrotado, optou por uma saída intermediária. Ao dar seu voto para Ibañez, pode até ter ficado mal com Lima, mas nem tanto com o novo governador.
O ex-governador Roriz foi um dos principais cabos eleitorais de Wilson Lima. Chegou a declarar a preferência publicamente, o que foi considerado por vários deputados um erro decisivo para a ruína da chapa do governador em exercício. Horas antes do início da votação, Roriz ainda telefonava para deputados na esperança de convencê-los a eleger Wilson Lima.
Placar
Veja como votaram os 24 deputados distritais na eleição indireta de ontem à tarde
Rogério Rosso (PMDB) - 13 votos
Aguinaldo de Jesus (PRB)
Alírio Neto (PPS)
Aylton Gomes (PR)
Batista das Cooperativas (PRP)
Benedito Domingos (PP)
Benício Tavares (PMDB)
Cristiano Araújo (PTB)
Dr. Charles (PTB)
Geraldo Naves (sem partido)
Eurides Brito (PMDB)
Pedro do Ovo (PRB)
Rogério Ulysses (PSB)
Rôney Nemer (PMDB)
Antônio Ibañez (PT) - 6 votos
Chico Leite (PT)
Érika Kokay (PT)
Paulo Tadeu (PT)
Cabo Patrício (PT)
Antônio Reguffe (PDT)
Eliana Pedrosa (DEM)
Wilson Lima (PR) - 4 votos
Jaqueline Roriz (PMN)
Raimundo Ribeiro (PSDB)
Milton Barbosa (PSDB)
Paulo Roriz (DEM)
Abstenção
Raad Massouh (DEM)
Fonte: Correio Braziliense.
Com o apoio de um grupo anti-Roriz que se uniu para derrotar Wilson Lima, peemedebista recebe 13 votos e vai governar o Distrito Federal pelos próximos oito meses. Entre seus eleitores estão oito distritais suspeitos de envolvimento na Caixa de Pandora
Com um favoritismo conquistado na véspera da eleição e mantido em segredo até o início da votação, o advogado Rogério Rosso, do PMDB, tornou-se o governador-tampão do Distrito Federal. Levou 13 votos, o mínimo necessário para a vitória em primeiro turno, e conquistou o direito de comandar o Buriti até 31 de dezembro. Terá a ex-administradora de Brasília Ivelise Longhi como vice. O peemedebista se elegeu com a ajuda de parte do grupo que até a última quinta-feira trabalhava em prol da candidatura do governador em exercício, Wilson Lima. Mas, na última hora, o PMDB conseguiu reverter a preferência dos distritais para a chapa liderada por Rosso. O candidato do PT, Antônio Ibañez, reuniu seis eleitores, placar insuficiente para levar a decisão ao segundo turno. Wilson Lima manteve apenas quatro deputados ao seu lado e agora volta à Presidência da Câmara Legislativa, sem a chance de tentar se reeleger deputado distrital em outubro.
Eram 15h, o horário marcado para o início da eleição indireta, e a maioria dos distritais ainda estava fora do plenário, reunida nos gabinetes e negociando adesões. A decisão de parte do grupo de Wilson de migrar os votos para Rosso foi tomada ainda na sexta-feira. Mas como nem todos os deputados aderiram, o PMDB fez boca de urna. Alguns dos parlamentares foram convencidos nos últimos minutos a se aliar ao peemedebista. Dos 13 votos de Rosso, oito vieram de distritais suspeitos de participação na Caixa de Pandora — Eurides Brito (PMDB), Rôney Nemer (PMDB), Benício Tavares (PMDB), Aylton Gomes (PR), Benedito Domingos (PP), Rogério Ulysses (sem partido), Pedro do Ovo (PRP) e Geraldo Naves (sem partido).
O PT foi um dos partidos cuja participação era considerada fundamental. Mesmo com um candidato em plenário, a direção do partido havia fechado acordo com o PMDB de Rosso. Chegou a se comprometer em votar em primeiro turno se houvesse risco de ele ser derrotado por Lima na primeira rodada. Mas os petistas não precisaram se expor. Rosso venceu no limite dos votos, sem se valer da parceria costurada com o PT, que, ao se aliar ao PMDB, tomou a decisão de derrotar Wilson Lima a qualquer custo. O governador em exercício chegou a cogitar deixar o governo temporariamente para participar da votação e evitar que Pedro do Ovo, seu suplente, impulsionasse Rosso. Foi impedido por força da legislação.
Pedro do Ovo, Geraldo Naves e Aylton Gomes só decidiram seus votos em cima da hora. Aylton anunciou sua preferência ao peemedebista após receber o aval da direção nacional do PR liberando o distrital de votar em Wilson, seu colega de partido. Ao optar por Rogério Rosso, Pedro do Ovo confirmou sua despedida do cargo de deputado. Como Wilson Lima perdeu, retomará seu mandato na Câmara. Mas Pedro do Ovo não ficará desamparado. Sempre foi um aliado de Rosso, de quem recebeu apoio na campanha de 2006, quando o candidato distrital chegou à suplência.
Última hora
O gabinete do deputado Milton Barbosa (PSDB) tornou-se o principal ponto de negociações enquanto prosseguia a sessão da eleição indireta no plenário da Câmara. O grupo contrário à candidatura de Rogério Rosso e Ivelise Longhi se revezou dentro do gabinete com os parlamentares que ficaram em cima do muro. A costura de um acordo de última hora contou com a presença dos próprios candidatos. Wilson Lima e o petebista Luiz Filipe Coelho defenderam a manutenção de suas chapas. Nenhum deles quis abrir mão de tentar concorrer ao Palácio do Buriti, mesmo correndo o risco de dividir os votos e facilitar a vitória do PMDB.
Os distritais do PSDB, Raimundo Ribeiro e Milson Barbosa, mantiveram o apoio a Wilson Lima. Jaqueline Roriz (PMN) também votou com o governador em exercício, que nos bastidores era apoiado por seu pai, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC). O quarto voto dele veio de Paulo Roriz (DEM), que saiu do controle do deputado federal Alberto Fraga, o principal articulador do partido no processo de sucessão. O combinado era votar em Wilson Lima. Raad Massouh se absteve — foi o único. Eliana Pedrosa (DEM) surpreendeu até ao PT ao escolher Antônio Ibañez.
Um sinal de que o grupo de Lima começava a ruir veio de uma das chapas concorrentes. Menos de 24 horas antes da eleição, o presidente do PRB no Distrito Federal, Roberto Wagner, e vice na coligação do deputado Aguinaldo de Jesus antecipou ao Correio que o distrital desistiria do embate em prol de uma aliança fechada entre nove partidos que tinham a princípio seis votos na Câmara. Os dois distritais do PTB, Dr. Charles e Cristiano Araújo, se somaram à atitude de Aguinaldo. Com a diferença de que, nesse último caso, a chapa não anunciou oficialmente sua desistência. No discurso anterior à votação, o concorrente petebista, Luiz Filipe, anunciou que manteria a candidatura. Mas não teve sequer os votos do partido.
Jatinho
Para evitar a pressão que começou tão logo o grupo em defesa de Wilson Lima percebeu a movimentação de desembarque do governador em exercício, os deputados fizeram as malas, desligaram os celulares e se refugiaram em Goiânia. Viajaram em jatinho emprestado pela família de Cristiano Araújo. Ao oferecer o avião, o distrital do PTB já havia desembarcado da candidatura do correligionário Luiz Filipe. Onze deputados se hospedaram no Castro’s Park Hotel, de onde saíram apenas na manhã de ontem, direto para a Câmara Legislativa.
O grupo se valeu da mesma prática utilizada pela deputada Eliana Pedrosa quando derrotou a base de Joaquim Roriz em 2004 e conseguiu fazer de Fábio Barcellos, hoje no PDT, o presidente da Câmara. Eliana trabalhava nos bastidores pela vitória de Wilson Lima. Ao perceber que seu candidato seria derrotado, optou por uma saída intermediária. Ao dar seu voto para Ibañez, pode até ter ficado mal com Lima, mas nem tanto com o novo governador.
O ex-governador Roriz foi um dos principais cabos eleitorais de Wilson Lima. Chegou a declarar a preferência publicamente, o que foi considerado por vários deputados um erro decisivo para a ruína da chapa do governador em exercício. Horas antes do início da votação, Roriz ainda telefonava para deputados na esperança de convencê-los a eleger Wilson Lima.
Placar
Veja como votaram os 24 deputados distritais na eleição indireta de ontem à tarde
Rogério Rosso (PMDB) - 13 votos
Aguinaldo de Jesus (PRB)
Alírio Neto (PPS)
Aylton Gomes (PR)
Batista das Cooperativas (PRP)
Benedito Domingos (PP)
Benício Tavares (PMDB)
Cristiano Araújo (PTB)
Dr. Charles (PTB)
Geraldo Naves (sem partido)
Eurides Brito (PMDB)
Pedro do Ovo (PRB)
Rogério Ulysses (PSB)
Rôney Nemer (PMDB)
Antônio Ibañez (PT) - 6 votos
Chico Leite (PT)
Érika Kokay (PT)
Paulo Tadeu (PT)
Cabo Patrício (PT)
Antônio Reguffe (PDT)
Eliana Pedrosa (DEM)
Wilson Lima (PR) - 4 votos
Jaqueline Roriz (PMN)
Raimundo Ribeiro (PSDB)
Milton Barbosa (PSDB)
Paulo Roriz (DEM)
Abstenção
Raad Massouh (DEM)
Fonte: Correio Braziliense.
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Acompanho fatos relevantes a partir de abordagem jornalística, isenta e independente
Eleições 2010 - PT e PMDB mantém impasse me vários estados
Comprovando a máxima de que o PMDB é um partido consciente da Federação, não da União, a legenda segue rachada pelo país. A coligação com o PT só está definida em Sergipe, Alagoas, Rio, Espírito Santo, Rondônia, Mato Grosso, Paraíba e Rio Grande do Norte. No Ceará e na Bahia, ainda há ruídos. No Piauí, no Maranhão e no Pará, a situação segue confusa. “Minas é uma incógnita”, avalia o deputado Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE). Em São Paulo, pode ter acordo, mas no Acre e no Mato Grosso do Sul, o PT deve ficar sem o apoio dos peemedebistas.
No Correio Braziliense.
No Correio Braziliense.
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Eleições 2010
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Eleições 2010 - Marcos Coimbra discorre sobre os tipos de eleitor
É verdade que uma parcela grande do eleitorado brasileiro não se identifica com nenhum partido. Mas é fato que quase 50% tem sua preferência
Às vezes, por trás de uma conjetura simples, esconde-se algo complicado. Isso pode acontecer em tudo que fazemos e, a toda hora, ocorre no debate político. Como agora, que estamos discutindo a sucessão de Lula.
Existe pergunta mais inofensiva que “o que o eleitor brasileiro quer da eleição de 2010?”. Parece que não, que qualquer pessoa que acompanha o processo eleitoral seria capaz de solucioná-la. Um pesquisador, então, teria obrigação de ter a resposta na ponta da língua.
Dá-se o caso que é uma pergunta que pode ser tudo, menos simples. De um lado, ela talvez não tenha qualquer significado. De outro, pode ser muito reveladora, permitindo que pensemos o país que somos e a sociedade que constituímos.
Faz algum sentido falar de “o eleitor brasileiro”? O que seria esse ente, indiviso e singular? Onde está esse eleitor?
Qualquer um sabe que, no mundo real, não existe “o eleitor”, mas “os eleitores”, um conjunto formado por seres muito diferentes. São do sul e do norte, pobres e ricos, que foram à escola e que não foram, mulheres e homens, jovens e velhos. A pergunta sobre o que quer “o eleitor” só faz sentido se a reformularmos para “o que querem da eleição de 2010 os diferentes eleitores do país?”.
Basta refazê-la para perceber que só há uma forma de respondê-la: coisas diferentes, que decorrem das várias necessidades que diferentes tipos de pessoa têm no momento pelo qual o Brasil passa.
Estamos prontos a admitir nossas diferenças socioeconômicas. Todos conhecemos as clivagens que nos separam e ninguém espera que um camponês miserável do Nordeste seja igual a um modelo que desfila nos Jardins, região nobre de São Paulo. Nem que ambos queiram as mesmas coisas da eleição de 2010.
Mas nem sempre nos lembramos que os eleitores não diferem apenas naquilo que a sociologia chama de diferenças objetivas. Além delas (com sua evidente importância), existem outras, que pertencem a outros domínios da vida social. À política, por exemplo.
Quando a imprensa, nos Estados Unidos, se refere aos eleitores, a primeira coisa que faz é dizer se está falando de eleitores democratas ou republicanos. Muito raramente (se é que alguma vez) fala de eleitores abstratos, por isso mesmo indiferenciados. Ninguém entenderia uma eleição naquele país se não tivesse em mente as diferentes visões e os desejos que cada categoria de eleitor, pensando em termos partidários, possui.
Sem que tenhamos, no Brasil, uma história de vida partidária sequer parecida com a deles, algo de semelhante existe por aqui. Engana-se quem analisa o comportamento de nossos eleitores subestimando as diferenças políticas que os distinguem.
É verdade que uma parcela grande do eleitorado brasileiro não se identifica com nenhum partido. Mas é fato que quase 50% tem sua preferência. Ou seja, considerando que o sufrágio é universal aqui, que talvez tenhamos, proporcionalmente, tantas pessoas “partidarizadas” no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Não estamos indo para a eleição deste ano com um eleitorado formado por iguais, mas por diferentes. Pessoas que viveram de maneiras diferentes os últimos oito anos, que sentiram de maneiras diferentes o que foi o governo Lula em comparação com o de FHC. Que chegam a esta eleição com identidades políticas diferentes, formadas ao longo da vida.
A velha história de que 30% vota com Lula, 30% contra ele e os restantes variam em função do contexto, tem nova aritmética. As pesquisas mostram que os primeiros cresceram e encurtaram a proporção dos segundos. O piso subiu de um lado e desceu do outro.
Em outras palavras: com os 30% que as atuais pesquisas lhe dão, Dilma ainda não chegou nem perto de seu “patamar”. (O que não quer dizer que vai ganhar as eleições, pois isso depende de muitas coisas).
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Artigo publicado no Correio Braziliense e no Estado de Minas
Às vezes, por trás de uma conjetura simples, esconde-se algo complicado. Isso pode acontecer em tudo que fazemos e, a toda hora, ocorre no debate político. Como agora, que estamos discutindo a sucessão de Lula.
Existe pergunta mais inofensiva que “o que o eleitor brasileiro quer da eleição de 2010?”. Parece que não, que qualquer pessoa que acompanha o processo eleitoral seria capaz de solucioná-la. Um pesquisador, então, teria obrigação de ter a resposta na ponta da língua.
Dá-se o caso que é uma pergunta que pode ser tudo, menos simples. De um lado, ela talvez não tenha qualquer significado. De outro, pode ser muito reveladora, permitindo que pensemos o país que somos e a sociedade que constituímos.
Faz algum sentido falar de “o eleitor brasileiro”? O que seria esse ente, indiviso e singular? Onde está esse eleitor?
Qualquer um sabe que, no mundo real, não existe “o eleitor”, mas “os eleitores”, um conjunto formado por seres muito diferentes. São do sul e do norte, pobres e ricos, que foram à escola e que não foram, mulheres e homens, jovens e velhos. A pergunta sobre o que quer “o eleitor” só faz sentido se a reformularmos para “o que querem da eleição de 2010 os diferentes eleitores do país?”.
Basta refazê-la para perceber que só há uma forma de respondê-la: coisas diferentes, que decorrem das várias necessidades que diferentes tipos de pessoa têm no momento pelo qual o Brasil passa.
Estamos prontos a admitir nossas diferenças socioeconômicas. Todos conhecemos as clivagens que nos separam e ninguém espera que um camponês miserável do Nordeste seja igual a um modelo que desfila nos Jardins, região nobre de São Paulo. Nem que ambos queiram as mesmas coisas da eleição de 2010.
Mas nem sempre nos lembramos que os eleitores não diferem apenas naquilo que a sociologia chama de diferenças objetivas. Além delas (com sua evidente importância), existem outras, que pertencem a outros domínios da vida social. À política, por exemplo.
Quando a imprensa, nos Estados Unidos, se refere aos eleitores, a primeira coisa que faz é dizer se está falando de eleitores democratas ou republicanos. Muito raramente (se é que alguma vez) fala de eleitores abstratos, por isso mesmo indiferenciados. Ninguém entenderia uma eleição naquele país se não tivesse em mente as diferentes visões e os desejos que cada categoria de eleitor, pensando em termos partidários, possui.
Sem que tenhamos, no Brasil, uma história de vida partidária sequer parecida com a deles, algo de semelhante existe por aqui. Engana-se quem analisa o comportamento de nossos eleitores subestimando as diferenças políticas que os distinguem.
É verdade que uma parcela grande do eleitorado brasileiro não se identifica com nenhum partido. Mas é fato que quase 50% tem sua preferência. Ou seja, considerando que o sufrágio é universal aqui, que talvez tenhamos, proporcionalmente, tantas pessoas “partidarizadas” no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Não estamos indo para a eleição deste ano com um eleitorado formado por iguais, mas por diferentes. Pessoas que viveram de maneiras diferentes os últimos oito anos, que sentiram de maneiras diferentes o que foi o governo Lula em comparação com o de FHC. Que chegam a esta eleição com identidades políticas diferentes, formadas ao longo da vida.
A velha história de que 30% vota com Lula, 30% contra ele e os restantes variam em função do contexto, tem nova aritmética. As pesquisas mostram que os primeiros cresceram e encurtaram a proporção dos segundos. O piso subiu de um lado e desceu do outro.
Em outras palavras: com os 30% que as atuais pesquisas lhe dão, Dilma ainda não chegou nem perto de seu “patamar”. (O que não quer dizer que vai ganhar as eleições, pois isso depende de muitas coisas).
Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Artigo publicado no Correio Braziliense e no Estado de Minas
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Após lançamento de candidatura Serra empaca
Pesquisa serena ânimos
Petistas e tucanos respiraram aliviados com a revelação dos dados do Instituto Datafolha. Os dois pré-candidatos à Presidência mantiveram o patamar de intenção de votos da pesquisa anterior. A manutenção do quadro tranquilizou os aliados de Dilma Rousseff (PT). Eles temiam um avanço de José Serra (PSDB) depois do lançamento oficial da pré-candidatura, no último sábado. No ninho tucano, os ânimos serenaram ao perceber que a divulgação da pesquisa Sensus, indicando empate técnico entre os adversários, não teve respaldo na sondagem paulista. Para os petistas, os 38% obtidos por José Serra (PSDB) na simulação estimulada, cinco dias depois da apresentação formal do pré-candidato tucano, foi um resultado positivo, apesar de a ex-ministra petista ficar 10 pontos atrás do ex-governador de São Paulo (28%). “A pesquisa foi boa para nós. Depois de toda essa exposição do Serra, ele não cresceu”, comenta o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Os dados de ontem são semelhantes aos da consulta anterior, feita cinco dias depois do lançamento da pré-candidatura do PT, que registrou 36% de indicações para o tucano e 27% para a petista na pesquisa estimulada. Atento às minúcias, o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) comemora a vantagem de 12% que Serra abre à frente de Dilma quando o deputado Ciro Gomes (PSB) não é considerado. “É um resultado que demonstra a força da candidatura do Serra. No cenário mais provável, que é sem o Ciro, ele chega a 12% de frente”.
A forte influência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha ficou marcada pela resposta dos eleitores na sondagem espontânea. Na função de “cabo eleitoral”, a popularidade do presidente (73% o consideram bom ou ótimo) pode desequilibrar o jogo. A enquete indica que 54% do eleitorado ainda não sabem em quem votar quando a pesquisa não indica os nomes. Nesse recorte, Dilma aparece com 13%, contra 12% de Serra. Pesa a favor da ex-ministra o fato de que outros 10% votariam em Lula ou no escolhido por ele.
“Isso justifica que alguns especialistas atribuam favoritismo a Dilma. Ela está mostrando que é uma candidata viável, mas muitas coisas podem interferir. Por exemplo, o eleitorado feminino, onde ela ainda não chega”, disse o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. (JJ)
OS NÚMEROS
38% - Intenções de voto em Serra, segundo pesquisa do Datafolha
28% - Projeção dos votos em Dilma, de acordo com o mesmo instituto
Fonte: Correio Braziliense.
Petistas e tucanos respiraram aliviados com a revelação dos dados do Instituto Datafolha. Os dois pré-candidatos à Presidência mantiveram o patamar de intenção de votos da pesquisa anterior. A manutenção do quadro tranquilizou os aliados de Dilma Rousseff (PT). Eles temiam um avanço de José Serra (PSDB) depois do lançamento oficial da pré-candidatura, no último sábado. No ninho tucano, os ânimos serenaram ao perceber que a divulgação da pesquisa Sensus, indicando empate técnico entre os adversários, não teve respaldo na sondagem paulista. Para os petistas, os 38% obtidos por José Serra (PSDB) na simulação estimulada, cinco dias depois da apresentação formal do pré-candidato tucano, foi um resultado positivo, apesar de a ex-ministra petista ficar 10 pontos atrás do ex-governador de São Paulo (28%). “A pesquisa foi boa para nós. Depois de toda essa exposição do Serra, ele não cresceu”, comenta o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP).
Os dados de ontem são semelhantes aos da consulta anterior, feita cinco dias depois do lançamento da pré-candidatura do PT, que registrou 36% de indicações para o tucano e 27% para a petista na pesquisa estimulada. Atento às minúcias, o deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) comemora a vantagem de 12% que Serra abre à frente de Dilma quando o deputado Ciro Gomes (PSB) não é considerado. “É um resultado que demonstra a força da candidatura do Serra. No cenário mais provável, que é sem o Ciro, ele chega a 12% de frente”.
A forte influência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha ficou marcada pela resposta dos eleitores na sondagem espontânea. Na função de “cabo eleitoral”, a popularidade do presidente (73% o consideram bom ou ótimo) pode desequilibrar o jogo. A enquete indica que 54% do eleitorado ainda não sabem em quem votar quando a pesquisa não indica os nomes. Nesse recorte, Dilma aparece com 13%, contra 12% de Serra. Pesa a favor da ex-ministra o fato de que outros 10% votariam em Lula ou no escolhido por ele.
“Isso justifica que alguns especialistas atribuam favoritismo a Dilma. Ela está mostrando que é uma candidata viável, mas muitas coisas podem interferir. Por exemplo, o eleitorado feminino, onde ela ainda não chega”, disse o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. (JJ)
OS NÚMEROS
38% - Intenções de voto em Serra, segundo pesquisa do Datafolha
28% - Projeção dos votos em Dilma, de acordo com o mesmo instituto
Fonte: Correio Braziliense.
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