Governo fecha acordo com centrais para reajuste de aposentadorias

Em 2010, benefícios acima de R$ 465 podem ter reajuste de mais de 6%.

O acordo ainda precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional.

O governo fechou acordo na noite desta terça-feira (25) com as principais centrais sindicais para uma política de reajuste das aposentadorias com valor superior a um salário mínimo (R$ 465) em 2010 e 2011. O novo cálculo ainda terá que passar pelo Congresso Nacional.

Pelo acordo, os benefícios acima do salário mínimo serão reajustados a partir do ano que vem considerando o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), mais 50% do PIB de dois anos anteriores. Ou seja, em janeiro de 2010, se a proposta for aprovada ainda neste ano no Congresso, os aposentandos que ganham mais de R$ 465 podem receber um reajuste de mais de 6%.



















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O percentual leva em conta a projeção do INPC para esse ano, de 3,49%, mais a previsão do crescimento do PIB em 2008, estimado em 5,5%. Segundo o ministro da Previdência, José Pimentel, o impacto para as contas da previdência em 2010 deve ser de aproximadamente R$ 3 bilhões.

Esse mesmo cálculo será aplicado em 2011, considerando os valores do PIB de 2009 e o INPC de 2010.

O acordo fechado pelo governo com as centrais prevê ainda que os trabalhadores poderão contar como tempo de contribuição o período em que estão desempregados, mas recebendo o seguro-desemprego. Para isso, terão que contribuir sobre a parcela do seguro para a Previdência Social. Não está definido ainda se essa contribuição para o INSS será compulsória ou não.

Os trabalhadores que estão a um ano de se aposentar terão o emprego garantido por lei. Segundo os sindicalistas, isso representa um avanço porque muitos empregados perdiam o emprego próximo de se aposentarem e não conseguiam o tempo mínimo de serviço para parar de trabalhar.

Segundo os sindicalistas, grande parte dos acordos trabalhistas já previa essa garantia de emprego e o governo está assumindo o compromisso de formalizar a situação para beneficiar todos os trabalhadores.

Outro ponto acordado entre as partes permite aos trabalhadores expurgar até 30% dos seus piores rendimentos ao longo dos anos trabalhados para fazer o cálculo do benefício de aposentadoria. Hoje, esse percentual é de 20%.
Segundo os sindicalistas, grande parte dos acordos trabalhistas já previa essa garantia de emprego e o governo está assumindo o compromisso de formalizar a situação para beneficiar todos os trabalhadores.

Apenas a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) ficou contra a proposta. Segundo o presidente da entidade, Wagner Gomes, não aceita as mudanças propostas para o fator previdenciário que consta do acordo fechado com o governo e prefere apoiar outros projetos no Congresso.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henriques, comemorou o acordo e disse “que é um passo muito importante para os aposentados do país” que sejam criadas as bases de uma política permanente de reajuste dos benefícios de quem ganha mais de um salário mínimo.

Antes do acordo ser anunciado, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Dulci, consultou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que concordou com os pontos e disse que “era o que o governo podia fazer pelos aposentados”, considerando o momento de crise internacional. Segundo o ministro, cerca de 8,2 milhões de aposentados serão beneficiados com o acordo.

O deputado Pepe Vargas (PT-RS), que será o relator do projeto que tratará do acordo no Congresso, disse que pretende apresentar o substitutivo o mais rápido possível, mas que ainda não há data. “O mais importante é que temos um acordo. Agora vamos sentar e redigir as propostas que têm que ser aprovadas até o final do ano”, comentou.

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Morre o último Kennedy influente da política americana



O senador democrata americano Edward (Ted) Kennedy morreu aos 77 anos, em sua casa, em Hyannis Port, no estado de Massachusetts, vítima de câncer, informou por comunicado a família Kennedy, na noite de terça-feira (25), início da madrugada desta quarta (26) no Brasil.

O líder democrata foi um dos principais apoiadores da campanha vitoriosa de Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos

STJ confirma condenação de policiais no Massacre de Eldorado do Carajás

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve hoje a condenação dos policiais militares envolvidos nas mortes de 19 trabalhadores sem-terra em 1996, em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará. A defesa pedia a anulação do julgamento, ocorrido em 2002, por questionar as perguntas sobre o crime feitas no dia do julgamento, mas a Quinta Turma do STJ negou o recurso e manteve a decisão imposta ao coronel Mário Colares Pantoja, condenado a 228 anos, e ao major José Maria Pereira de Oliveira, condenado a 158 anos e quatro meses.

Cabe recurso da decisão.

Relembrando
Os trabalhadores sem-terra foram mortos durante uma operação de desocupação da rodovia PA-150, no acesso à cidade de Marabá. À época o Governador era o tucano Almir Gabriel que ordenou a desocupação de qualquer jeito ao seu Secretário de Segurança Pública. Os manifestantes chegaram a bloquear a via por três dias. Eles protestavam contra a demora na desapropriação de terras para reforma agrária. Na época, o coronel Pantoja era o comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar de Marabá e o major Oliveira era o comandante da Companhia de Policiamento Militar de Parauapebas (PA). Os condenados estão respondendo ao processo em liberdade por força de um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Fonte: Último Segundo.

Suplicy dá "cartãozaço" vermelho para Sarney

Observem o tamanho do cartão!

Não é um cartão e uma "cartolina encarnada" ou um "cartãozaço vermelho".

BRASÍLIA - O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) utilizou nesta terça-feira à noite em discurso no Plenário uma linguagem próxima à grande maioria do povo brasileiro: a do futebol. O parlamentar tirou do paletó e mostrou aos parlamentares um cartão vermelho para pedir a renúncia do presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP).

Suplicy e seu super cartão vermelho

“No meu entender, o arquivamento das representações não foram suficientemente esclarecidas. Para voltarmos à normalidade, o melhor caminho é que Sua Excelência renuncie ao cargo no Senado", pediu Suplicy.

Em defesa de Sarney, o senador democrata Heráclito Fortes (PI) fez uma série de intervenções durante o discurso do senador petista que, de forma inesperada, recebeu de Suplicy um cartão vermelho também.

O bate-boca entre os dois parlamentares se transformou em gritaria. O senador da oposição pedia ao petista que mostrasse o cartão vermelho ao Presidente Lula, que “deu cartão amarelo” ao líder do Partido no Senado, Aloizio Mercadante. “O Presidente Lula foi quem invadiu as dependências do Senado, ele é o responsável pela crise”, bradou Fortes. “Use a palavra e não o cartão”, pediu.

"Não estou afirmando que tenham relações, mas que cabe a investigação, no mínimo", voltou a defender Suplicy.

O senador Mão Santa (PMDB-PI), que presidia a mesa no momento da discussão, aproveitou o tom da conversa e soltou: “Quem está com o apito aqui sou eu?” e pediu que a discussão se encerrasse para dar continuidade aos discursos dos demais senadores inscritos.

Leia mais sobre: Conselho de Ética.

Blog do Vic publica pesquisa Ibope/ Eleições 2010 no Pará

O mais novo afiliado da blogosfera paraense fez sua avant-premiére ontem, ao início da noite.

Fiz uma crítica colaborativa na caixa de comentários no meu outro blog sobre a proposta capitaneada pelo Deputado Federal Vic Pires Franco (DEM-PA) em seu Blog do Vic.

Sob o ponto de vista de informação, o blog estréia alvissareiro, publicando uma pesquisa a pedido do DEM, entre os dias 13 e 17 deste mês.
Ouviu 700 pessoas, em todas as regiões do Pará.
A margem de erro, de 4%, dá uma visão precisa do atual cenário político paraense. Duvido que 700 entrevistados seja um número ao menos convincente para alguma análise, porém, não deixa de ser interessante o que a pesquisa apresenta.

E ao Ibope pelo partido ao qual o novo blogueiro é presidente estadual no Pará: o Democratas, vejam os números da pesquisa aqui para o Senado.

Confira a aprovação do Governo de Ana Júlia Carepa.

E eis os números apurados pelo Ibope para Presidente da República em Belém.

Seja bem-vindo ao cyberespaço deputado.

Em defesa dos aposentados: “é preciso quebrar é a cara de alguns que ficam falando bobagem por aí”

Todas as vezes que chegamos perto de encontrar uma solução para a questão dos aposentados, vem a mesma ladainha: a Previdência está com déficit. Eu quero deixar claro que se não pode fazer conta de caixa de Previdência. O que vale é seguridade social.

Na seguridade social, há recursos que compensam todo o tamanho desse déficit que estão vendendo. Vende-se a história do déficit, para depois não se dar o reajuste para o aposentado e pensionista.

É preciso acabar com essa ladainha de uma vez por todas. Eu escuto que a Previdência vai quebrar desde 1989, e até agora ela não quebrou. É preciso quebrar é a cara de alguns que ficam falando bobagem por aí. Essa éa grande verdade.Os aposentados têm de ter seu reajuste digno, decente e honrado.

Essa história de que a Previdência vai quebrar é insustentável, porque o orçamento da seguridade social garante o reajuste de todos os aposentados e pensionistas. Portanto, reafirmo que vamos defender essa questão. Já saiu a Marina Silva, já salvaram o Sarney, e cuidado com o que vai acontecer com vocês politicamente.

Arnaldo Farias de Sá (PTB-SP), agora há pouco na Câmara dos Deputados

Stephanes fala dos exageros da legislação ambiental

Pela flexibilização

por Theo Saad*

Ministro da Agricultura analisa os excessos do código florestal que penaliza produtores e defende que a legislação seja aplicada levando em conta a realidade

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes, economista de formação, catarinense de Porto União, às vésperas de completar 70 anos (no dia 13 de agosto), tem a agricultura no sangue, como filho de pequenos produtores rurais.

Deles herdou a fala mansa, porém direta e que muitas vezes foge do convencional.

Foto: Anderson T. Ferreira
Reinhold Stephanes, Ministro da Agricultura: "A falta de infraestrutura dificulta da capacidade de competição e joga em cima do produto esse custo. É um limitador, então temos que nos preocupar com isso"

Deputado federal eleito pelo PMDB do Paraná, Stephanes assumiu a pasta da Agricultura em março de 2007 atirando contra a Rodada Doha de negociações internacionais e hoje, pouco mais de dois anos depois, acirrou ainda mais sua posição. Para ele, o setor agrícola brasileiro nada tem a ganhar perante organismos internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC). O subsídio agrícola nos Estados Unidos e na União Europeia, na opinião dele, “não é um assunto para a diplomacia”.

Stephanes ataca ainda os ambientalistas, que, segundo ele, radicalizaram o código florestal brasileiro, análise que também fez quando esteve na Fiesp em debate sobre o tema organizado pelo Conselho Superior de Agronegócio, no dia 15 de junho. Na entrevista, cujos principais trechos podem ser lidos a seguir, o ministro defende mudanças na legislação atual, em defesa do pequeno e médio agricultor e do agronegócio brasileiro.

Revista da Indústria – O código florestal brasileiro é antigo e tem sido objeto de mudanças recentes e mais estão por vir. Como estão as negociações? O que o senhor acredita que tem de ser alterado. 

Reinhold Stephanes – A legislação ambiental que atinge, de uma forma ou de outra, o setor agrícola, vem sendo construída ao longo de 40 anos. Desde o código de 1964, mais de 80% dos itens já foram mudados, alguns até por cinco vezes. Decorrente do código, tivemos muitos decretos, portarias, resoluções de conselhos de meio ambiente, em esferas estadual e federal, e isso gerou um conjunto complexo de 16 mil itens. O que nos traz, como primeira consequência, a incapacidade de o agricultor compreender o que efetivamente está acontecendo, porque ele não lê o Diário Oficial. E até os advogados especialistas em meio ambiente não conseguem mais interpretar as várias questões.

RI – E o teor das alterações, faziam sentido?
RS – Na construção dessa legislação, conceitos foram mudando, até de forma muito radical. Outra questão importante é que essa legislação vem sendo construída apenas por ambientalistas, pessoas que defendem uma posição  e isso é elogiável –, mas que não necessariamente entendem de meio ambiente e muito menos entendem de produção. Quem entende de produção e de meio ambiente, que é a Embrapa, do Ministério da Agricultura, onde nós temos o maior número de doutorados em meio ambiente, não foi chamado a participar das mudanças. O próprio ministro da Agricultura historicamente toma conhecimento de legislações que atingem diretamente o seu setor por meio do Diário Oficial. Nesse contexto, é evidente que muitos erros e exageros foram praticados. Existem virtudes, sim. Mas existem muitos erros.

RI – O senhor pode citar alguns?
RE –
Como consequência da execução integral de todo esse conjunto de normas, nós teríamos 3 milhões de agricultores brasileiros (num universo de menos de 6 milhões em todo o Brasil) irregulares perante algum item. E um milhão de pequenos e médios agricultores tornarão suas atividades inviáveis se cumprirem efetivamente o que está sendo exigido. Esse é o impacto global. Temos impactos mais específicos. O pequeno e o médio agricultor estão no limite da produção. Eles têm renda média de R$ 1 mil, R$ 1,5 mil por mês e com isso estão vivendo no limite da condição. Em vez de aumentar, reduzo o ganho, obrigando a aplicar parte para recompor áreas. Então você os torna inviáveis economicamente.

RI – Essas mudanças dificultaram a aplicação do código florestal pelo produtor...
RS – Sim, porque não levaram em consideração a existência dele. No Brasil, se planta arroz em várzea há um século, e de repente você proíbe isso. O Brasil planta maçã em topos de morro e em encostas. E agora produtores de São Joaquim, capital mundial da maçã, estão sendo obrigados pelo Ministério Público a arrancar macieiras. Um só produtor está arrancando 4 mil macieiras. Assim como o café de Minas Gerais, que é plantado em encostas e em topos de morro... Ou seja, o código cometeu erros.

RI – Qual deve ser o caminho?
RS – O que estamos discutindo. Já que o Brasil tem, de uma forma ou de outra, 70% da sua área com restrições à produção, porque é reserva indígena ou estadual, não há porque não flexibilizar ou corrigir os erros de utilização nas áreas já consolidadas. Quando se trata de grãos, por exemplo, o Brasil produz essa enormidade, para seu sustento e para gerar divisas na exportação (é o segundo maior exportador mundial de produtos agrícolas), em apenas 7% do seu território. A soja, que demonizaram, é plantada em apenas 2,5% do território nacional. A cana-de-açúcar está em 0,9%. Eu prego que haja racionalidade, equilíbrio e fundamentação técnica nas discussões. A discussão não pode ser nem ideológica nem, muito menos, ser induzida de fora para dentro por meio das milhares de ONGs financiadas diretamente por países que têm interesses diversos, que não cuidaram e que não cuidam das suas questões, e financiadas também por empresas petrolíferas.

RI – O ministério já tem um arcabouço de sugestões para as alterações no código?
RS -- Já estudamos isso, com uma fundamentação técnica muito forte. O primeiro item é permitir que se continue produzindo em várzeas, topos de morros, encostas, onde já são consolidadas. Segundo, que a propriedade que recupere as beiras de rios e nascentes fique liberada da reserva legal. Até porque o Brasil é o único país do mundo que mantém grandes reservas estaduais e federais e a reserva legal na propriedade. Temos mais parques nacionais do que os Estados Unidos porque temos as reservas indígenas, que funcionam como verdadeiros parques nacionais. Só de reserva indígena, temos cinco parques do tamanho do estado do Paraná.

RI – Mas, como conceito, o ministério é contra a reserva legal?
RS –
Somos contra reserva legal em área consolidada. Você pega um estado como o Paraná, que é o maior produtor agrícola do País, consolidado há quase 50 anos, assim como São Paulo, onde não se derruba mais nada para agricultura, que tem um balanço positivo em relação ao efeito-estufa. Então, porque ele precisa pagar pelo efeito-estufa de outros países? Quando planto soja, já que ela é plantada de forma sustentável, uma vez que capta mais dióxido do que emite (o mesmo acontece com o milho), não há nenhuma razão para que eu crie uma reserva dentro de uma propriedade. Até porque uma reserva dentro de uma propriedade é estéril. Se ela não estiver na beira do rio, nem passarinho vai lá. Consideramos sagrado recuperar beira de rio e as nascentes, mas não manter uma reserva estéril.

RI – No código, a questão mais complexa é justamente a da reserva legal. O senhor vê chance de mudar isso?
RS –
Eu não vejo chance, vejo necessidade.

RI – O senhor vê um horizonte para essas questões estarem resolvidas?
RS –
Elas terão de estar resolvidas até 14 de dezembro. Porque, a partir daí, o decreto que estabelece as punições estará valendo em sua plenitude. Evidentemente, dali em diante, vamos passar a ter questões muito fortes. E o ano que vem é eleitoral. E essa questão vai ter impactos eleitorais, não tenho dúvida disso.

RI – Como o senhor está vendo o agronegócio hoje?
RS –
O movimento de industrialização do agronegócio continua, e é forte. A agroindústria desenvolveu-se extraordinariamente, tanto em relação à empresa privada quanto em relação às cooperativas. Na área de carnes, essa industrialização é muito forte. As tendências do mercado mundial para o setor são muito positivas. Mesmo durante a crise, o Brasil continuou exportando na área agrícola, o impacto foi mínimo na pauta de exportação. De janeiro a maio, dos oito produtos com saldo positivo na balança comercial, sete são agrícolas. Continuamos a exportar mais frango, mais suíno, mais do complexo soja... Em geral, o mercado se manteve muito positivo e as indicações são de que vai retornar mais forte assim que a crise diminuir.

RI – O agronegócio brasileiro está se expandindo também por causa da internacionalização de empresas brasileiras. Como o senhor vê isso? É um movimento que deve continuar?
RS –
Com certeza. E devemos incentivar e dar condições para outras que ainda não entraram no mercado chegarem lá. Você tem 21 frigoríficos que já estão no mercado externo, alguns estão crescendo e isso é muito bom. Mas você tem mais uns 50, de tamanho médio, que estão fora e querendo entrar.

RI – Como a infraestrutura de transportes afeta o setor? O que fazer para melhorar?
RS –
Uma das questões que nós havíamos pedido ao presidente Lula antes do lançamento do Plano de Safra era diminuir o custo do diesel, uma vez que o preço havia sido aumentado em determinado momento e não havia razão para se manter, já que o preço internacional havia caído. Isso foi importante. Mas temos um problema sério de estradas, principalmente no Centro-Oeste. Ali temos uma questão grave, que novamente bate no meio ambiente, porque há uma demora na liberação das licenças para as obras.

RI – Essa falta de infraestrutura vai impedir o crescimento do setor?
RS –
Ela dificulta a capacidade de competição e joga em cima do produtor esse custo. Se eu produzo milho no Paraná, consigo alcançar R$ 22 a saca, porque o transporte está fácil e está mais perto do mercado. Se produzo no Mato Grosso, essa saca cai para R$ 12. Ou seja, joguei o custo para o produtor. É um limitador, então temos de nos preocupar com isso.

RI – Quanto deveria ser investido em infraestrutura de transportes? As obras necessárias estão no PAC?
RS –
Nem todas estão. A tese que coloquei para o presidente é que, se hoje gasto R$ 1 bilhão para escoar a produção do Mato Grosso, com certeza, se investíssemos R$ 5 bilhões lá, não precisaríamos mais gastar R$ 1 bilhão por ano para escoar a safra. Ou seja, perco em cinco anos para escoar o que seria investimento suficiente para melhorar muito a infraestrutura de transportes para o agronegócio.

RI – Mudando de assunto. Como o senhor está vendo as disputas de países como a Irlanda e a Inglaterra na OMC sobre a carne?
RS –
São dois países que têm pressionado muito. E é evidente que pressionam porque têm uma impossibilidade de competir com a carne brasileira, cujo custo de produção é de um terço do custo da carne europeia. Aí entra a questão dos subsídios, de quanto os países ricos prejudicam os em desenvolvimento. Essa é uma briga econômica que, evidentemente, temos de saber enfrentar.

RI – O senhor vê um contencioso na OMC?
RS –
Não acredito muito em algumas questões, como na Rodada Doha. Desde que entrei no Ministério, sempre me pronunciei contra. E estou cada vez mais convencido disso. Acabei de vir de uma reunião na Rússia, em que estavam presentes todos os ministros da agricultura da União Europeia, e eles colocaram que teriam de manter o incentivo aos seus produtores, manter o preço, para que continuassem produzindo. Essa questão só mudará se um dia o mercado demandar. Caso contrário, eles não abrirão mão dos subsídios e das suas políticas. O Brasil tem uma boa capacidade de competição. Geneticamente a nossa carne é muito boa, porque é de pasto, uma carne verde. Não acredito em Doha, assim como não acredito na OMC. O Brasil ganhou um contencioso contra os Estados Unidos na OMC em relação ao algodão. Os Estados Unidos são membro da OMC e estavam agindo errado. Era um erro ético. O Brasil venceu, eles continuaram fazendo o mesmo. Recorreram para ganhar tempo. Agora o Brasil ganhou em caráter definitivo, mas eles continuam fazendo o mesmo.

RI – São Paulo é o maior produtor no setor da cana e derivados. Como o senhor vê o crescimento desse mercado, a briga com os Estados Unidos, vender mais para o Japão, vender tecnologia para países africanos etc.?
RS –
É claro que o Brasil tomou a dianteira no mundo, tanto em termos de tecnologia do processo industrial quanto da produção da matéria-prima. E continua num processo evolutivo. O Brasil, por razões climáticas, teve condições de usar aquela matéria-prima que, até o momento, é a melhor para se produzir álcool no mundo. E daqui a pouco até para produzir diesel, porque as pesquisas estão avançando. E vamos melhorar a capacidade de produção pela mudança do processo para hidrólise enzimática (por meio do bagaço). Estamos na liderança e devemos continuar a investir para aumentar essa liderança. Temos margens para crescer. É possível que, nos próximos dez ou 15 anos, não surjam tecnologias no mundo que possam substituir, de modo economicamente viável, essa energia limpa.
*Colaborador

Distrito Federal: O Faraó contra seu pupilo

En­tre o mo­der­no e o ar­cai­co

Mais uma vez, Jo­a­quim Ro­riz quer vol­tar ao go­ver­no do Dis­tri­to Fe­de­ral

AFON­SO LO­PES

Joaquim Roriz é o retrato de uma forma mumificada de fazer política

O go­ver­na­dor Jo­sé Ro­ber­to Ar­ru­da, do DEM, é fa­vo­ri­to à re­e­lei­ção pa­ra o Go­ver­no do Dis­tri­to Fe­de­ral. Mas sua si­tu­a­ção não é to­tal­men­te con­for­tá­vel. O ex-go­ver­na­dor e ex-se­na­dor Jo­a­quim Ro­riz quer vol­tar ao po­der. O pe­e­me­de­bis­ta não se can­sou da vi­da pa­la­cia­na. Há pro­ble­mas sé­rios na sua pre­ten­são: o PMDB, seu par­ti­do, ma­jo­ri­ta­ria­men­te pre­fe­re se ali­ar a Ar­ru­da, que tem re­a­li­za­do um go­ver­no bem es­tru­tu­ra­do, pla­ne­ja­do e que vem re­cu­pe­ran­do aos pou­cos o enor­me es­tra­go cau­sa­do pe­las po­pu­lis­tas ad­mi­nis­tra­ções de Ro­riz.
A bri­ga é feia. Jo­a­quim Ro­riz tem tra­ba­lha­do nos bas­ti­do­res pa­ra le­var a di­re­ção na­ci­o­nal do PMDB a in­ter­vir na fi­li­al do DF, ti­ran­do o de­pu­ta­do Ta­deu Fi­li­pel­li do co­man­do da si­gla. Os dois eram ali­a­dos an­ti­ga­men­te, mas ago­ra Fi­li­pel­li en­ten­de que Ar­ru­da de­ve con­ti­nu­ar no co­man­do do Pa­lá­cio das Águas Cla­ras. O pre­si­den­te do PMDB do DF de­vol­veu ao par­ti­do sua an­ti­ga im­por­tân­cia po­lí­ti­ca, e tal­vez se­ja is­so que in­co­mo­da tan­to os ro­ri­zis­tas.

Pres­tí­gio — Fi­li­pel­li é ar­ro­ja­do e tem cres­ci­do na Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos, on­de pre­si­de a CCJ, Co­mis­são de Cons­ti­tu­i­ção e Jus­ti­ça, a mais im­por­tan­te co­mis­são te­má­ti­ca do par­la­men­to. Além dis­so, tem li­vre trân­si­to jun­to ao co­man­do do PMDB, em ní­vel na­ci­o­nal, e com os de­mais par­ti­dos bem si­tu­a­dos no ta­bu­lei­ro bra­si­li­en­se, co­mo o DEM e o PT. Sua si­tu­a­ção é tão con­for­tá­vel que po­de­rá es­co­lher o car­go nu­ma even­tual co­li­ga­ção com Ar­ru­da, de vi­ce-go­ver­na­dor ou se­na­dor.

É es­sa tran­qui­li­da­de den­tro do PMDB que Ro­riz vem ame­a­çan­do ao ten­tar que­brar a apa­ren­te har­mo­nia exis­ten­te no ce­ná­rio prin­ci­pal da po­lí­ti­ca do DF. Sua ten­ta­ti­va de re­tor­no ao Pa­lá­cio, mes­mo con­tra as li­de­ran­ças pe­e­me­de­bis­tas, não tem gran­des sim­pa­ti­as fo­ra do seu pró­prio ei­xo de atu­a­ção. Por in­crí­vel que pos­sa pa­re­cer, Jo­a­quim Ro­riz pre­ci­sou do apoio do PMDB de Go­i­ás, que so­nha com o apoio de­le a Iris Re­zen­de na Re­gi­ão do En­tor­no nas elei­ções do ano que vem, até pa­ra pe­dir a in­ter­ven­ção na­ci­o­nal no PMDB do DF. Ou se­ja, Ro­riz vi­ve um iso­la­men­to qua­se to­tal in­ter­na­men­te.

De Go­i­ás, Adib Eli­as, pre­si­den­te em exer­cí­cio do PMDB re­gi­o­nal, aten­deu ao pe­di­do de Ro­riz, mas é pou­co pro­vá­vel que a di­re­ção na­ci­o­nal op­te pe­la in­ter­ven­ção e afas­ta­men­to de sua prin­ci­pal es­tre­la em as­cen­são, que é Fi­li­pel­li. O cli­ma en­tre as du­as fi­li­ais do PMDB, no en­tan­to, não an­da na­da bom.
Pa­ra Ar­ru­da e os de­mais par­ti­dos que lhe ga­ran­te go­ver­na­bi­li­da­de, o pe­di­do de in­ter­ven­ção re­pre­sen­ta tu­do aqui­lo que se ima­gi­na­va de­fi­ni­ti­va­men­te afas­ta­do da prá­ti­ca po­lí­ti­ca na ca­pi­tal do Bra­sil: o mo­de­lo an­ti­go e au­to­ri­tá­rio de agir po­li­ti­ca­men­te. E es­se é exa­ta­men­te o ris­co de se ter mais uma vez Jo­a­quim Ro­riz no co­man­do do GDF.

Nas ou­tras ve­zes em que co­man­dou o Pa­lá­cio, Jo­a­quim Ro­riz im­plan­tou o mai­or pó­lo de atra­ção de po­pu­la­ções mi­gran­tes do Bra­sil, do­an­do lo­tes ur­ba­nos aos mi­lha­res. O re­sul­ta­do des­sa po­lí­ti­ca é a que se ob­ser­va ho­je nas ci­da­des sa­té­li­tes de Bra­sí­lia e na re­gi­ão go­i­a­na do En­tor­no: po­pu­la­ções imen­sas, de­man­das in­con­tá­veis e in­ca­pa­ci­da­de de o Es­ta­do ban­car a fes­ta da mi­gra­ção des­con­tro­la­da pro­mo­vi­da pe­lo pe­e­me­de­bis­ta.

Já Ar­ru­da é uma das gran­des es­tre­las na­ci­o­nais do DEM pe­la for­ma ar­ro­ja­da e pla­ne­ja­da com que mon­tou sua equi­pe ad­mi­nis­tra­ti­va. O GDF, com ele, va­lo­ri­zou a mo­der­ni­za­ção das re­la­ções ins­ti­tu­ci­o­nais, ao con­trá­rio do que ocor­ria nos tem­pos de Ro­riz. Uma de su­as pri­mei­ras me­di­das, por exem­plo, foi ado­tar o am­bi­en­te co­le­ti­vo pa­ra as se­cre­ta­rias. An­tes, era ca­da um no seu ga­lho, sem qual­quer pos­si­bi­li­da­de de co­ne­xão ad­mi­nis­tra­ti­va.

Mas é exa­ta­men­te pe­la in­fle­xi­bi­li­da­de no cam­po do po­pu­lis­mo que tor­na a dis­pu­ta en­tre Ro­riz e Ar­ru­da tão aper­ta­da. O de­mo­cra­ta so­bra na dis­pu­ta con­tra o pe­e­me­de­bis­ta nas ci­da­des e no Pla­no Pi­lo­to, mas per­de quan­do o con­fron­to ocor­re nos bair­ros re­sul­tan­tes da mi­gra­ção dos anos 90, co­mo o Sa­mam­baia, ou nas ci­da­des go­i­a­nas do En­tor­no, on­de Ro­riz per­ma­ne­ce mui­to for­te por con­tro­lar to­dos os par­ti­dos de sua in­flu­ên­cia sob ré­de­as cur­tas.

Nem as inú­me­ras de­nún­cias con­tra Jo­a­quim Ro­riz afe­ta­ram sua po­pu­la­ri­da­de en­tre os mais ca­ren­tes. Pa­ra se ter uma idéia, Ro­riz de­ve ter si­do o se­na­dor da Re­pú­bli­ca de man­da­to mais cur­to de to­da a his­tó­ria, ao re­nun­ci­ar após de­nún­cias apu­ra­das atra­vés de gram­pos te­le­fô­ni­cos so­bre frau­des no BRB, o ban­co es­ta­tal do GDF, em ju­lho de 2007, pou­co mais de cin­co mes­es após to­mar pos­se no car­go. O pre­si­den­te do BRB du­ran­te oi­to anos de sua ad­mi­nis­tra­ção che­gou a ser pre­so.

En­quan­to as ad­mi­nis­tra­ções de Ro­riz fa­ve­li­za­ram o DF, Ar­ru­da cor­tou 22 Se­cre­ta­rias de Es­ta­do, de­mi­tiu 16 mil fun­cio­ná­rios co­mis­sio­na­dos e co­lo­cou as con­tas em dia. Des­de o pri­mei­ro ano de ad­mi­nis­tra­ção, Ar­ru­da es­ta­be­le­ceu al­gu­mas me­tas, co­mo a der­ru­ba­da de edi­fí­ci­os cons­tru­í­dos de for­ma ir­re­gu­lar, e o iní­cio da le­ga­li­za­ção de con­do­mí­nios.

As di­fe­ren­ças en­tre Ro­riz e Ar­ru­da são imen­sas. Am­bos re­nun­ci­a­ram a man­da­tos de se­na­dor. Ro­riz, por cau­sa de de­nún­cias de frau­des no BRB. Ar­ru­da, por ter vis­to uma lis­ta de vo­ta­ção de se­na­do­res. A mo­ti­va­ção da sa­í­da dos dois do Se­na­do foi to­tal­men­te di­fe­ren­te. Ro­riz re­nun­ciou e se ca­lou so­bre as de­nún­cias con­tra ele. Ar­ru­da não ape­nas ad­mi­tiu ter ti­do aces­so à lis­ta de vo­ta­ção co­mo re­co­nhe­ceu ter er­ra­do. Re­nun­ciou ao man­da­to, foi elei­to de­pu­ta­do fe­de­ral mais bem vo­ta­do de Bra­sí­lia dois anos de­pois, e dis­pu­tou o go­ver­no do DF em 2006, sen­do elei­to com mais de 50 por cen­to dos vo­tos.

Na po­lí­ti­ca de Bra­sí­lia, Jo­sé Ro­ber­to Ar­ru­da vem re­pre­sen­tan­do o no­vo, o mo­der­no. Jo­a­quim Ro­riz, ao con­trá­rio, não emi­te qual­quer de­mons­tra­ção de que se re­ci­clou po­li­ti­ca­men­te. O DF, por­tan­to, vi­ve pre­vi­a­men­te um dra­ma: man­ter o pla­ne­ja­men­to es­tra­té­gi­co do go­ver­no ou re­tor­nar ao mo­do im­pro­vi­sa­do de ad­mi­nis­trar so­bre ações po­pu­lis­tas. O pi­or nis­so tu­do é que o re­tor­no de Ro­riz im­pli­ca di­re­ta­men­te ris­cos de mais pro­ble­mas até pa­ra as ci­da­des go­i­a­nas do En­tor­no, vi­ti­mi­za­das ao lon­go dos três man­da­tos de­le pe­la cres­cen­te fa­ve­li­za­ção, que trans­for­mou a re­gi­ão num bar­ril lo­ta­do de pól­vo­ra so­ci­al pres­tes a ex­plo­dir de vez.

Fonte: Opção.

Larry Rother não mora mais no Brasil

O gringo colocou o dedo na ferida

Larry Rother, ex-correspondente do “New York Times”, foi embora, mas ainda é um dos mais argutos observadores das mazelas brasileiras

Bruno Veiga













Larry Rother, jornalista: "Não sinto falta da bagunça e das carteiradas"

O jor­na­lis­ta Larry Ro­ther vol­tou a vi­ver nos Es­ta­dos Uni­dos no ano pas­sa­do, de­pois de tem­po­ra­das no Bra­sil que so­mam qua­se du­as dé­ca­das. Co­mo cor­res­pon­den­te do “New York Ti­mes” se­di­a­do no Rio de Ja­nei­ro (des­de o fi­nal dos anos 70) e ca­sa­do com uma bra­si­lei­ra, Ro­ther vi­veu mo­men­tos im­por­tan­tes da his­tó­ria do pa­ís (co­mo a di­ta­du­ra mi­li­tar e a re­de­mo­cra­ti­za­ção), man­ten­do um ar­gu­to sen­so de ob­ser­va­ção dos even­tos e dos cos­tu­mes bra­zu­cas. A re­vis­ta “Po­der — Joyce Pas­cowitch” (re­vis­ta­po­der.uol.com.br) des­te mês traz uma en­tre­vis­ta in­te­res­san­te com o re­pór­ter grin­go. So­bre Ro­ther, a mí­dia lo­cal gos­ta de abrir man­che­tes com o ca­so de sua qua­se ex­pul­são, em 2004, quan­do es­cre­veu so­bre os há­bi­tos etí­li­cos do pre­si­den­te Lu­la da Sil­va. É uma bo­ba­gem.
O ame­ri­ca­no tem coi­sas mui­to mais re­le­van­tes a fa­lar so­bre es­se es­tra­nho mun­do ver­de-ama­re­lo.

Uma des­sas coi­sas in­te­res­san­tes vem lo­go no co­me­ço da en­tre­vis­ta (fei­ta por Dé­bo­ra Mam­ber e Ro­dri­go Le­vi­no, di­re­to de No­va York). Per­gun­tam do que ele sen­te fal­ta do Bra­sil, após um ano vi­ven­do na Big Ap­ple. Ro­ther não ti­tu­beia e ci­ta pra­ze­res sim­ples: quei­jo mi­nas, go­i­a­ba­da e água de co­co (do sa­bo­ne­te Phe­bo, diz que ain­da não sen­te fal­ta por­que le­vou um es­to­que). E do que dá gra­ças a Deus por ter se li­vra­do: “Não sin­to fal­ta da ba­gun­ça de mo­do ge­ral.
Es­pe­ci­fi­ca­men­te de pes­so­as que fu­ram fi­la, que é al­go im­pen­sá­vel nos Es­ta­dos Uni­dos. Tam­bém não sin­to fal­ta do ´sa­be com quem vo­cê es­tá fa­lan­do?´. Acho que a vi­da nos EUA é um pou­co mais de­mo­crá­ti­ca”. De le­ve e tal­vez sem que­rer, o grin­go foi na veia, re­vol­veu os mais pro­fun­dos pro­ble­mas na­ci­o­nais.
Qua­se tri­vi­al, co­mo se es­ti­ves­se co­men­tan­do so­bre o mo­vi­men­to do Cen­tral Park, Ro­ther ex­pli­cou o Bra­sil em pou­quís­si­mas pa­la­vras.

Pa­ra en­ten­der es­te pa­ís e seus gran­des di­le­mas, nem é pre­ci­so pros­se­guir na re­vis­ta e ler os dois tex­tos (de De­mé­trio Mag­no­li e Rai­mun­do Car­re­ro) acer­ca da cri­se Jo­sé Sar­ney, sen­do o pri­mei­ro um pe­tar­do qua­se de­mo­li­dor so­bre o pre­si­den­te do Se­na­do. Pa­re­ce, por exem­plo, que to­dos os even­tos po­lí­ti­cos re­le­van­tes da se­ma­na pas­sa­da es­tão con­ti­dos nes­sa aná­li­se fru­gal de Ro­ther: ba­gun­ça e fal­ta de de­mo­cra­cia. O Se­na­do (su­as ins­tân­cias se­cre­tas e nem tão se­cre­tas, co­mo o seu Con­se­lho de Éti­ca), o con­cla­ve es­pú­rio Lu­la-Sar­ney-Re­nan-Col­lor, fal­si­da­des da mi­nis­tra-can­di­da­ta, a cri­se no PT e o que mais sur­gir no meio do la­ma­çal. Tu­do po­de ser de­co­di­fi­ca­do pe­la his­tó­ri­ca ca­rên­cia de um mí­ni­mo de or­to­do­xia e re­pu­bli­ca­nis­mo nas re­la­ções de po­der. No meio des­sa zo­na, a im­pres­são é a de que na­da do es­pa­ço po­lí­ti­co no Bra­sil exis­te mes­mo en­quan­to coi­sa co­le­ti­va. É “de­les” e não do po­vo.

Fu­rar fi­las e dar car­tei­ra­das po­dem, in­fe­liz­men­te, ser fe­nô­me­nos tí­pi­cos do co­ti­dia­no do Pa­ís. No li­vro “A ca­be­ça do bra­si­lei­ro”, o so­ci­ó­lo­go Al­ber­to Car­los Al­mei­da ex­pli­ca (com pes­qui­sas) co­mo a cul­tu­ra da ma­lan­dra­gem e do jei­ti­nho es­tá en­fro­nha­da na so­ci­e­da­de bra­si­lei­ra (e co­mo is­so se re­fle­te no “efei­to te­flon”, que pro­te­ge a ima­gem de Lu­la dos es­cân­da­los de sua ad­mi­nis­tra­ção). Por es­se ra­ci­o­cí­nio, se­ria pos­sí­vel abra­çar aque­la des­gas­ta­da te­se de que a clas­se po­lí­ti­ca é ape­nas um re­fle­xo do que é a co­le­ti­vi­da­de. Mas não é is­so que se pro­põe aqui. Es­sa te­se ten­ta ape­nas jus­ti­fi­car ou ame­ni­zar a ação e a cul­pa­bi­li­da­de dos man­da­tá­rios. É ló­gi­co que exis­tem ex­ce­ções em to­das as es­fe­ras — e elas de­vem ser enal­te­ci­das, pois são a úni­ca es­pe­ran­ça de uma sa­í­da de­mo­crá­ti­ca pa­ra o pa­ís. Mas o que se quer di­zer aqui é que es­sas al­mas di­fe­ren­tes for­mam uma pe­que­na mi­no­ria.

A po­lí­ti­ca no Bra­sil (in­clu­in­do exe­cu­ti­vo e le­gis­la­ti­vo) dá mos­tras de es­tar qua­se in­tei­ra­men­te to­ma­da pe­lo re­gi­me do in­te­res­se pró­prio. Co­mo diz Ro­ther em ou­tro tre­cho da en­tre­vis­ta, fal­ta ao Bra­sil um pro­je­to de lon­go pra­zo. É is­so mes­mo e tem a ver com a ba­gun­ça e a fal­ta de de­mo­cra­cia. Os pro­je­tos po­lí­ti­cos pa­re­cem ser in­te­gral­men­te pes­so­ais: pro­je­tos de po­der, e não “pro­je­tos de pa­ís”. Mai­or pro­va des­se fe­nô­me­no é a re­la­ção de Lu­la com o seu PT. Al­guns ci­en­tis­tas po­lí­ti­cos já co­me­çam a clas­si­fi­car es­sa re­la­ção co­mo vam­pi­res­ca: o pre­si­den­te usa a le­gen­da (e a de de­mais ali­a­dos) a seu bel pra­zer (ig­no­ran­do ide­o­lo­gi­as e pro­gra­mas) pa­ra ga­ran­tir a exe­cu­ção de seu pro­je­to pes­so­al. Pro­je­to es­se que, no mo­men­to, é se per­pe­tu­ar no po­der, ele­gen­do uma can­di­da­ta que (sem a po­pu­la­ri­da­de de seu men­tor) não ga­nha­ria nem uma elei­ção de sín­di­co.

In­te­gri­da­de, co­e­rên­cia, dig­ni­da­de, bem co­mum, organização — con­cei­tos pu­e­ris de­mais pa­ra os an­tros nos qua­is a re­al po­lí­ti­ca vem sen­do ope­ra­da em Bra­sí­lia. Al­go pre­ci­sa ser fei­to e se al­guém pen­sar que es­sa mu­dan­ça só acon­te­ce­rá por meio do vo­to, é por­que os bra­si­lei­ros não apren­de­ram a prin­ci­pal das li­ções. Es­sa li­ção é tão sim­pló­ria quan­to a go­i­a­ba­da de Larry Ro­ther: a ori­gem de to­dos os ma­les é jus­ta­men­te o ob­scu­ran­tis­mo. É a fal­ta de de­mo­cra­cia. De­mo­cra­cia de ver­da­de.

Fonte: Opção.

Agricultura x ideologia

A moderna agropecuária brasileira é um caso inegável de sucesso. Apesar disso, há quem diga que nosso modelo está errado.

AS IDEIAS nascem com a finalidade de interpretar a nossa existência e guiar os nossos comportamentos. Com muita frequência na história humana, as condições de nossa existência mudam, mas ideias antigas, mesmo tendo perdido sua relação com o mundo real e se tornado imprestáveis para interpretá-lo e compreendê-lo, conseguem uma sobrevida na mente de algumas pessoas ou grupos sociais. Esse pensamento surge a propósito de alguns discursos políticos que, mesmo confinados a territórios ideológicos restritos, podem eventualmente produzir alguma confusão, apesar de serem irremediavelmente anacrônicos.

A moderna agropecuária brasileira é um caso inegável de sucesso. Parece impossível contestar seriamente esse fato se nos valermos exclusivamente dos dados da realidade.

Enquanto a economia brasileira nos últimos 40 anos experimentou muitos altos e baixos, passando longos períodos de baixo crescimento, a produção rural do Brasil cresceu forte e regularmente durante todo esse tempo.

Na realidade, a produção rural brasileira comportou-se dentro de nossa economia como um mundo à parte. Esse crescimento nos permitiu atender a praticamente toda a demanda interna de alimentos, mesmo com o aumento da população e da renda, e ainda gerar importantes excedentes para exportação, sem o que nossas contas externas teriam sofrido uma dramática inversão, com fortes deficits na balança comercial e as inevitáveis crises cambiais.

A produção agropecuária do Brasil obteve esse desempenho adotando as modernas formas de organização capitalista de produção, empregando as mais novas técnicas e fatores de produção e integrando-se aos mercados e ao processo de globalização.

Apesar disso, há quem continue proclamando que nosso modelo está errado e precisa ser totalmente reformado. Recentemente, por exemplo, o ministro do Desenvolvimento Agrário declarou, referindo-se aos produtores rurais: "(...) esses senhores feudais não podem dispor da terra como quiserem, sem levar em conta a questão da produção de alimentos".

Diante dessas palavras, alguém poderia imaginar que a agricultura brasileira não produz o suficiente para atender a demanda da população, quando a verdade é exatamente o contrário.

O Brasil produz muito mais alimentos do que consome. A prova disso é que os preços agrícolas têm caído sistematicamente em termos reais e ainda produzimos elevados excedentes para exportação. Somos de fato um dos maiores exportadores de alimento do mundo. Será que somos isso, senhores feudais? Essas críticas, na verdade, são fruto de um pensamento puramente ideológico, numa discussão em que o que vale não são os argumentos, mas as identidades políticas.

Essas críticas partem dos que não se conformam com a marcha do mundo, dos que não podem admitir que a agricultura seja principalmente uma atividade produtiva, sensível às leis da economia, orientada para o mercado, o lucro e o crescimento.

Por essa ideologia, com fortes traços de fundamentalismo e nostalgia de um mundo que nunca houve, a unidade natural na agricultura só pode ser a fazenda familiar, que produz segundo métodos tradicionais, sem tecnologia nem insumos modernos, numa escala reduzida que torne desnecessária a contratação de trabalho assalariado.

Seriam formas pré-capitalistas de produção, que trariam de volta as virtudes e as belezas de um passado feliz que o progresso e os mercados estão destruindo. Quem experimentou esse caminho viu-se em sérias dificuldades. A revolução agrária socialista de Mao Tsé-tung matou de fome e privação dezenas de milhões de pessoas, enquanto durou.

Em Cuba, onde estão fielmente cumpridas essas condições idílicas por que lutam certos movimentos agrários, sem propriedade privada da terra, sem insumos modernos, sem fertilizantes e defensivos agrícolas, sem agronegócio e sem capitalismo, 80% do consumo doméstico de alimentos é atendido com importações, e os alimentos mais nobres são racionados ou vendidos no mercado negro.

Será algo assim que devemos querer para nós ou trata-se de algo mais grave -a compulsão para o abismo, que já arrastou tanta gente e tantas nações para os caminhos da insensatez e do desastre?

O mundo e as coisas são como são, e não como os imaginamos em nossa cabeça. Só a economia de mercado pode proporcionar a cada um e a todos a segurança da propriedade e da riqueza adquirida legitimamente e um horizonte de progresso pessoal. As pessoas têm o direito de não ser pobres, inclusive no campo.

* KÁTIA ABREU, 47, psicóloga, é senadora pelo DEM-TO e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
** Artigo publicado no Jornal Folha de S. Paulo em 21/08/2009.

Governo e aposentados ainda discutem reajuste

Impasse para acordo é projeto, em tramitação na Câmara, do fim do fator previdenciário

Houve avanços dos dois lados, mas o impasse continua entre as centrais sindicais e o governo que tentam fechar um acordo para o aumento real dos 8 milhões de aposentados e pensionistas que ganham acima do salário mínimo.


Na reunião da semana passada, governo não formalizou índice para reajuste e condicionou aumento à retirada de projetos em tramitação no Congresso. Foto: Antonio Cruz/ABr

A pedra no caminho é o projeto de lei que extingue o fator previdenciário, aprovado pelo Senado, e que deve ser votado pela Câmara dos Deputados. Na reunião de ontem, em Brasília, o governo manteve a decisão de vetar a proposta. As centrais apresentaram um pacote de medidas alternativas para evitar perdas com a aplicação do redutor. Hoje, a partir das 18h, está marcada nova reunião entre as partes para bater o martelo das negociações.

Na reunião que durou mais de cinco horas, a Confederação Brasileira dos Aposentados e Pensionistas (Cobap) apresentou ao secretário-geral da Presidência Luiz Dulce e ao ministro da Previdência José Pimentel, uma proposta de reajuste de 7% das aposentadorias e pensões em 2010 para os que ganham acima do saláriomínimo. A fórmula inclui a reposição da inflação anual acrescido de 50% do aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 e 2011. Os representantes do governo não se posicionaram sobre índice de reajuste.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) defendeu uma proposta de valorização e recuperação permanente das aposentadorias e pensões nos próximos dois anos. "A nossa proposta inclui uma cesta de benefícios que vai além da reposição das perdas. Inclui uma política de medicamentos, transportes e as garantias do Estatuto dos Idosos", defende o Secretário Geral da CUT, Quintino Severo. Segundo o sindicalista, o governo absorveu as sugestões das centrais.

Em relação ao projeto de lei nº 4.434, que trata da recomposição retroativa dos benefícios dos segurados que ganham acima do mínimo, o governo admite negociar a tramitação da proposta no Congresso. Quanto ao projeto nº 01 que prevê o mesmo índice de reajuste para todos os aposentados e pensionistas, a Cobap compreende que a proposta perde o sentido se houver ganho real a partir de 2010.

Na negociação do fim do fator previdenciário, as centrais encaminharam duas propostas ao governo. A primeira delas prevê a estabilidade no emprego por dois anos dos trabalhadores que estejam prestes a se aposentar com o pagamento das contribuições previdenciárias pelo empregador. A segunda garantiria ao empregado que cumpre aviso prévio ou esteja recebendo o seguro desemprego, o recolhimento do INSS custeado pelo empregador ou pelo governo. A expectativa é que hoje seja fechado o acordo.

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