Governadora determina que desocupação da Fazenda Maria Bonita (PA) será feita a partir de acertos com o MST. Sem prazo de conclusão, estado arcará com prejuízo diário de R$ 1 mil por descumprir decisão judicialO governo do estado do Pará decidiu usar a “diplomacia” como forma de cumprir a determinação judicial de reintegração de posse da Fazenda Maria Bonita, invadida na semana passada por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (
MST) sob o pretexto de que a propriedade seria do banqueiro Daniel
Dantas. Por orientação da governadora Ana Júlia
Carepa (PT), a retirada dos invasores da propriedade rural localizada em Eldorado dos
Carajás (
PA) será negociada e sem força policial. Não há prazo para conclusão dos acertos com os manifestantes. Cada dia de descumprimento da decisão acarreta uma multa de R$ 1 mil ao governo
petista.
Na última sexta-feira, a juíza Maria
Aldecy de
Souza Pissolati, da Comarca de
Marabá (
PA), concedeu liminar em
ação de reintegração ajuizada pela
Agropecuária Santa Bárbara
Xinguara, proprietária da área. Cerca de 200 representantes do
MST participaram da invasão. De acordo com o despacho da juíza, a Polícia Militar do Pará deverá enviar contingente de policiais necessário para garantir a desocupação da fazenda. A
PM, no entanto, afirma aguardar uma ordem superior para agir.
Segundo a assessoria da secretaria de Segurança Pública do estado do Pará, a decisão judicial já está sendo cumprida, na base do diálogo. “Estamos cumprindo a decisão judicial, mas não haverá operação com riscos. Estamos falando de pessoas”, explicou
Emanoel Vilaça, assessor de imprensa da secretaria de Segurança. “Queremos uma retirada pacífica. É conversando que a gente se entende”, acrescentou. De acordo com o assessor, as negociações estão sendo mantidas sob sigilo, para que não haja prejuízo no processo de convencimento dos invasores.
Serenidade
A
direção da
Agropecuária Santa Bárbara
Xinguara disse acreditar na
ação diplomática do governo do Pará para o fim da invasão nas terras da fazenda Maria Bonita, e ressalta que em nenhum momento utilizou violência contra os cerca de 200 invasores que ocupam 50 hectares da área, e que continuam acampados às margens da
PA-150, desde o último dia 25. Por intermédio de um comunicado enviado ao Correio, o grupo afirma que vai aguardar, pacificamente, a reintegração da posse e a retirada dos integrantes do
MST. “A Santa Barbara não contesta as declarações da governadora do Pará. A empresa confia nas autoridades judiciarias e aguarda a
reintegracão de posse ciente de estar na luta por seus direitos.”
Apesar de assegurar que a
ação não trouxe danos ao
patrimônio da Maria Bonita — os manifestantes ficaram acampados distantes da sede e do rebanho da fazenda que tem 7.200
ha —, a assessoria de comunicação da Santa Bárbara afirma que a invasão trouxe danos morais e emocionais para os trabalhadores da propriedade. “Como os invasores ficaram em uma área isolada, sem
contato com os rebanhos, com as
benfeitorias nem com o
maquinário, não houve qualquer problema de perdas ou depredações. Até porque como administradora de um
pool temos seguro patrimonial. Mas houve prejuízo na medida em que a empresa gera mais de 1.600 empregos
diretos e mais de 10.000
indiretos e uma situação como essa interfere
diretamente no estado de espírito das pessoas que ficam obviamente preocupadas e sem poder desempenhar satisfatoriamente as suas funções, inclusive temendo perda de benefícios oferecidos pela empresa”, explicou
Altair Albuquerque, assessor de imprensa do grupo.
A
diretoria da Santa Bárbara
acionou a justiça para a reintegração da posse da propriedade imediatamente após a invasão, alegando que a fazenda é produtiva e a posse da terra legal. “A produtividade do nosso rebanho nesta propriedade, inclusive, é cinco vezes superior à média nacional: enquanto se costuma ter 0,8 por hectares nosso percentual é de 4,3 na mesma área”, explicou o assessor.
Apesar das promessas do governo, a administração do
pool está preocupada com as invasões e conflitos de terras na região. No fim da semana passada, integrantes do
MST invadiram a Fazenda Rio Cristalino, em Santana do
Araguaia, onde Santa Bárbara aluga pastagens para seus animais. Segundo o assessor do grupo, neste caso há ameaça de confronto por parte dos invasores, que estão armados.
Fonte: Correio Braziliense